Confissões e Planos



CAPÍTULO XIV



Confissões e Planos



 


Kristyn manteve a postura indiferente, porém, sentiu um arrepio na espinha ao ouvir o rapaz. Esperava ter mais tempo antes de um ataque direto. Sabia que suas defesas não estavam preparadas para resistir ao charme de Sirius. Mas não desistiria. Trataria de prepará-las bem rapidinho. Afinal, não poria seu plano a perder.



- Ora, Black, estou vendo que está ansioso pra recomeçar nosso joguinho.



- Não imagina o quanto, Donovan. - retrucou, a voz maliciosa, enquanto passeava o indicador pela corrente de prata no pescoço da garota, os olhos fixos nos belos seios delineados pela camiseta justa que ela usava. Desceu o dedo até amuleto, que estava pousado exatamente entre seus seios, contornando-o lentamente. O amuleto possuía suas próprias defesas, e um feitiço ilusório o transformava em um objeto comum para as outras pessoas. Sirius sorriu ao ver a veia pulsando em seu pescoço, denunciando que ele a estava afetando. Ergueu os olhos, encarando-a ardentemente - Sabe, eu realmente me aborreci com seu sumiço.



- Ossos do ofício, Black. - conseguiu fazer a voz soar indiferente, apesar da velocidade com que o sangue corria em suas veias. A temperatura na cabina parecia ter subido vertiginosamente com o calor dos olhos dele. - Devia ter feito algo mais interessante em suas férias. Eu, com certeza, não senti tédio.



- Será? - duvidou ele - Ok, você ficou com todos aqueles caras, mas não creio que estivesse satisfeita com isso. Aposto que não conseguiu me tirar da cabeça nem enquanto estava com eles.



- Black, você é mesmo um...



Soltou uma exclamação de surpresa ao ser puxada de repente para o colo de Sirius, que abraçou-a fortemente pela cintura, fazendo-a colar os seios ao seu peito.



- Por quanto tempo ainda você vai nos torturar, hein? - murmurou, os lábios a milímetros dos dela, que agora já não conseguia disfarçar os sinais evidentes que seu corpo emitia. Sua respiração tornara-se ofegante, o coração batia acelerado contra o dele, e seus olhos enevoados mostravam claramente a intensidade do desejo que sentia. Seria impossível para ela continuar resistindo, e ele sabia disso.



- Que cena mais romântica!



Sirius não acreditou quando ouviu a voz arrastada os interrompendo. De todos os momentos possíveis, Malfoy tinha que escolher justo aquele para importuná-lo.



Olhou para a porta, vendo o loiro aguado escoltado, como sempre, pelos dois gorilas.



- Divertindo-se com a ralé, Black? - debochou Malfoy, que odiava os Donovan tanto quanto aos Marotos. - Está pagando quanto? Ela pode ser uma sangue-ruim, mas é até bem jeitosinha. - acompanhou o insulto com um olhar apreciativo para o corpo da garota, cujas formas a camiseta e a minissaia revelavam.



Sirius, furioso, tentou se levantar para enfrentá-lo, mas sentiu-se preso ao banco, sem conseguir se mexer, e sabia de quem era a culpa por isso. Observou enquanto Kristyn levantou-se, caminhando sedutoramente até o sonserino.



- Estou lisonjeada - começou, com voz falsamente doce - por achar que o rapaz mais disputado de Hogwarts pagaria para ficar comigo. Quanto a você, Malfoy, - passou o dedo, de modo insinuante, pela gola da camisa do rapaz - acho que nem a pior prostituta do mundo teria estômago para te agüentar. - virou-se novamente para Sirius - Sem querer ofender sua família.



- Não se preocupe. - respondeu irônico - Narcisa é mesmo pior que qualquer prostituta.



- Vai se arrepender por isso, Black!



- Pensa que me assusta, Malfoy? Estou é surpreso que tenha tido coragem de rastejar até aqui para me enfrentar.



- Acho que não há nenhum mistério nisso, Black. - comentou Kristyn, que sentara-se novamente, dessa vez no banco em frente ao rapaz - Provavelmente ele conseguiu uma tatuagem no braço, e acha que, por isso, está mais poderoso, pode fazer o que quiser... - riu do espanto do sonserino - Surpreso, Malfoy? Não deveria. Tem muita gente que sabe como o "gado" de Voldemort é marcado, e não é preciso ser um grande gênio para deduzir que você não demoraria a se unir a ele.



- Você é muito tola por se referir assim aos seguidores do lord, e ainda ter o desplante de mencionar seu nome. E quanto a sua acusação, você não poderá prová-la.



- Não preciso. – retrucou calmamente, brincando com sua varinha - Como se diz entre os trouxas, "conhecimento é poder". Basta saber com quem lidamos.



- Aqui você não pode se esconder atrás de uma máscara, Malfoy. Nem seus amiguinhos, - Sirius indicou Crabbe e Goyle com a cabeça - apesar de eu não ter certeza se mesmo Voldemort iria aceitá-los como seguidores. Agora desinfetem daqui. Estão poluindo nosso ar.



Os três fizeram questão de sacar suas varinhas, mas foram arremessados contra a parede atrás deles, no corredor, estatelando-se desacordados no chão. A porta da cabine fechou-se com um estrondo.



Sirius observou a garota, que agora fingia examinar as unhas. Quando ela o encarou, ele sorriu, cumprimentando-a com um gesto de cabeça.



- Bom trabalho.



- Obrigada.



- Agora... - mudou de lugar, sentando-se novamente ao lado dela - ... onde estávamos mesmo?



Antes que um dos dois pudesse fazer qualquer coisa, a porta foi aberta novamente. Kristyn riu ao ouvi-lo resmungar que "assim não há como seduzir ninguém".



- O que disse, Sirius?



- Nada, Ana. Cadê o Remo?



- Foi fazer a ronda. O que aconteceu como as serpentes lá fora?



- Não faço a menor idéia. - respondeu, fingindo inocência.



- Eu também não.



- Tá, vou fingir que acredito.



- Ei, alguém andou jogando lixo em frente a nossa cabine! - Tiago entrou animado, e sentou-se ao lado de Ana.



- É, foi um ato muito ladino, Tiago. Ninguém viu o responsável. - ironizou Kristyn.



- Bom, não importa, já providenciei a limpeza.



- O que você fez, Tiago?



- Ora, Ana, lugar de lixo, é na lixeira. Só cumpri o meu dever de cidadão educado e responsável.



- Muito bem feito, Pontas! Nem eu faria melhor.



- Obrigado, Almofadinhas.



- Potter, estou achando que você está muito satisfeito, para quem saiu daqui tão irritado. - comentou Kristyn, analisando-o.



Sirius estreitou os olhos na direção do amigo.



- Tem razão, Donovan. - concordou, vendo o brilho alegre no olhar de Tiago, e percebendo que o amigo tentava conter o sorriso - E então, Pontas, não vai nos dizer?



- Não.



- Vamos lá, Tiago. - incentivou Sirius - Aposto que é a Evans, não é? Vocês... - deixou a frase no ar, seu olhar malicioso dizendo tudo.



- Almofadinhas, meu amigo, um cavalheiro não fala sobre essas coisas. - respondeu Tiago, arrogante.



- E desde quando você é um cavalheiro?



Tiago ia retrucar, mas foi interrompido por Ana.



- Bom, isso não vem ao caso. O que importa é que, se Tiago está tão feliz, aposto como Lilly deve estar furiosa.



- Ana! Assim você me magoa! - dramatizou Tiago, pondo a mão sobre o peito num gesto teatral.



Estavam todos rindo quando Remo entrou na cabine, seguido por uma Lílian Evans parecendo prestes a explodir de raiva.



- Potter! - irritou-se ainda mais ao vê-lo erguer a sobrancelha, zombeteiro, como a lembrá-la de sua promessa antes de deixá-la. Tentou controlar a raiva, e o tom de voz, fazendo as palavras saírem lentamente, friamente - Faça o favor de devolver minha varinha.



- Claro, Lilly. - respondeu docemente, estendendo a varinha para a garota, que a arrebatou de forma brusca, saindo da cabine em seguida, batendo a porta violentamente.



Quatro pares de olhos cravaram-se nele, indagadores.



- Não perguntem.



 


*******************************



- Muito bem, hora da verdade!



Lílian suspirou, encarando a amiga. Kristyn tentara interrogá-la desde que chegaram ao castelo, mas conseguira evitar qualquer resposta direta durante todo o jantar. Agora, quando as três já estavam no dormitório, sabia que não tinha como escapar. Mas, afinal, precisava mesmo desabafar com alguém.



- Nossa, Lilly, fiquei até com calor! - brincou Kristyn, abanando-se, ao final do seu relato.



- Engraçadinha!



- Sério, Lilly, pelo que disse, as coisas ficaram bem quentes entre vocês. - comentou Ana, divertida, deitada de bruços em sua cama.



- Agora dá para entender a animação do rapaz!



- Ei, vocês são minhas amigas, deveriam me apoiar!



- Olha, Lilly, você pode até lutar contra isso, mas não pode negar que gostou. Ou pode?



- Não, Ana, não posso. - suspirou, parando de andar pelo quarto e jogando-se de costas na cama - E é isso que mais me aborrece.



- Lílian, vamos ser sinceras agora, está bem? - Kristyn sentou-se ao lado da amiga, o tom de voz sério - Você gosta dele, não é?



- Aí está o problema, Kristyn. Eu não gosto dele.



- Mas... - incentivou a amiga, percebendo que ela ainda não acabara.



- Mas... acho que me apaixonei pelo arrogante. - confessou num sussurro.



- Lilly, isso é uma contradição.



- Não é, não, Kristyn. - retrucou Ana, olhando compreensiva para amiga - Você não controla seus sentimentos, portanto não pode determinar por quem vai se apaixonar. Lilly não precisa gostar de Tiago para se apaixonar por ele.



- Obrigada, Ana. Você resumiu muito bem a situação. Eu odeio a maneira como ele se comporta, como se fosse o dono do mundo. Mas não consigo evitar que o meu coração dispare quando estou perto dele.



- Sei bem o que é isso. - comentou Kristyn.



- Black?



- E quem mais?



- Suspeito, porém, que, ao contrário de Lilly, você não tem nada contra o jeito de Sirius, não é, prima?



- Muito pelo contrário, Ana, é o que mais me atrai nele.



- Não entendo. Se pensa assim, por que resiste tanto as investidas dele?



- Porque é assim que vou conseguir o que eu quero. Por que acha que não limitei o prazo de nossa aposta?



- Sabia que você tinha algum motivo. - comentou Ana, divertida - Então, foi tudo de caso pensado?



- Claro, Ana. Quando foi que você me viu dar ponto sem nó? - Kristyn sorriu maliciosamente - Quando fizemos a aposta, eu já tinha reconhecido o que sentia por ele. Mas você me conhece, Ana. Jamais aceitaria que ele agisse comigo do mesmo modo que age com todas. Então, quando ele me propôs a aposta, percebi que era a oportunidade perfeita. Desde então eu tenho feito tudo para colocá-lo onde eu quero: bem aqui. - apontou para a palma de sua mão. - Black pensa que é ele quem está me seduzindo, e nem percebe que a cada dia, eu o seduzo mais.



- Nossa, prima, estou mesmo impressionada!



- Obrigada, Ana.



- Mas você está arriscando demais, Kristyn. E se não conseguir?



- Lilly, minha querida, o que eu tenho a perder? Já estou apaixonada pelo cafajeste, então, o que vier é lucro. Pelo menos vou ter a satisfação de saber que tentei. - sorriu, maliciosa - Além de belas lembranças de momentos bem agradáveis.



- Você não tem jeito. - riu Ana - Se quer saber, eu aposto em você. E quanto a você, Lilly?



- Claro que também aposto na Kristyn.



- Não, quero saber o que vai fazer com o Tiago.



- Eu? Nada!



- Como assim, nada? Você já confessou, que está apaixonada por ele, e agora diz que vai continuar na mesma?



- Kristyn, Potter é como o Black, os dois são farinha do mesmo saco. Se eu ceder, ele vai se cansar de mim num piscar de olhos.



- Como você disse, ele é como o Black. E se eu posso tentar com um, você também pode tentar com o outro.



- Não sei se vale a pena, Kristyn. Você pode gostar do jeito do Black, mas o Potter realmente me irrita.



Kristyn bufou, revirando os olhos para o teto, enquanto Ana se dirigia a amiga.



- Lilly, ouça bem o que eu vou te dizer - começou, séria, olhando bem nos olhos da amiga - Você pode se irritar com ele, mas acredito que está mesmo apaixonada, e esse sentimento não vai passar assim, de uma hora pra outra. Além disse, ele tem seus defeitos, mas também tem muitas qualidades, é um cara legal. Não se esconda atrás desses defeitos, nenhum de vocês dois merece isso. Se acredita que ele precisa de alguns ajustes antes que fiquem juntos, faça como Kristyn, e lute para que isso aconteça. A recompensa vale, sim, a pena.



- Você está certa, Ana! - exclamou Lilly, depois de pensar um pouco sobre as palavras da outra. Levantou-se num repente de energia - Eu nunca fui uma covarde, e não vai ser agora que vou me tornar uma!



- Isso! É assim que se fala, Lilly! - comemorou Kristyn, abraçando a amiga - E então, vamos começar a planejar nossa estratégia de combate?



- Claro, Kristyn!



- Coitados desses pobres Marotos! - exclamou Ana, divertindo-se com a animação das duas. - Sinto que não vão ter a menor chance.



- Pode estar certa disso, Ana. - retrucou Lilly, maldosamente - Tiago Potter, me aguarde! Você nem vai saber o que te atingiu!!!


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