Despedidas



(N/A): Capítulo bethado – e tão bem bethado – pela Sally Owens, que sou obrigada a avisar que, na realidade, este ele é um caso de “co-autoria”. A Sally foi lendo e dando opiniões maravilhosas (que eu não podia deixar de acatar, pois eram simplesmente fantásticas!). Bem... Aviso dado... Vamos ao capítulo.

***

- Esperem, esperem! – Ana pedia no meio da balburdia no quarto do St. Mungus. – Eu tenho uma pergunta muito importante para o Harry!

O silêncio foi imediato. Ana voltou-se para o garoto, na cama ao lado da dela, e perguntou, diante das expressões de expectativa dos demais:

- Por que toda aventura com você sempre acaba em uma ala hospitalar? – sorriu de forma zombeteira.

Vinda de qualquer outra pessoa, a pergunta teria mexido com ele. Mas simplesmente não dava para pensar em desastres e profecias quando Ana fazia piada de tudo, reduzindo o maior dos problemas a um simples obstáculo.

Como em “Voldie”, Harry pensou divertido.

- Ela já está bem, como podem ver... – ele riu, sendo seguido pelos demais.

A família Weasley estava em peso, além de Tia Agatha, Hermione, Tonks e Lupin. Carlinhos estava sentado na beirada da cama, um braço em torno dos ombros de Ana. Harry estaria liberado em dali a pouco. Somente ela ficaria um dia de observação, por causa da costela ferida. A curadeira tinha dito que haviam feito um ótimo trabalho de cura nela.

“O que será que ela diria se eu contasse que o responsável por isso foi um Comensal da Morte?”, ela pensou. “Um comensal com a cara do...”.

- Alan Rickman! - Ana disse, a expressão de quem estava chocada com uma descoberta. - Acho que descobri como eles souberam que Lupin estaria conosco naquele dia do ataque dos lobisomens.

- Quem é Alan Rickman? – Carlinhos perguntou.

- Foi esse tal de Alan... – Rony começou a perguntar.

- Não! Foi o Snape! – Ana o interrompeu.

- Mas o que o Snape tem haver com esse tal de Rickman? – o ruivo questionou.

Ana ia responder quando lembrou de onde estava. Olhou ao redor e abaixou a voz:

- Alan Rickman é o ator, ou melhor, vai ser o ator que interpreta o Snape nos cinemas... E o cara até que lembra ele. Menos pálido, menos narigudo e com o cabelo bem menos ensebado... Mas, sim: souberam escolher muito bem o ator.

- E o que isso tem haver com descobrirem que o Lupin estaria lá? – Carlinhos perguntou.

Ana olhou para o antigo professor de DCAT:

- Snape não era bom em Transfiguração era?

- Bem... – Lupin falou. - Ele era bom em todas as matérias. Mas admito que em Transfiguração ele tinha que se esforçar mais.

Ana pensou no homem loiro e mal humorado do restaurante. É... Nem a própria mãe do Rickman os diferenciaria. Não pôde deixar de rir:

- Ele era o homem que tirou as fotos no restaurante.

- O QUÊ? – todos exclamaram, recebendo um olhar repreensivo das curandeiras.

- Isso mesmo. Era o Snape, disfarçado. Ou tentando se disfarçar. Puxa! Alguma coisa estava gritando dentro de mim que aquele homem não me era estranho. Não sei por que só me dei conta disso agora... – Ana deu de ombros, assombrada. – o Rickman é um dos meus atores favoritos! Deve ter sido porque tinha tanta coisa acontecendo naquele dia! E o Snape... – deu um risinho: - Conseguiu fazer de si mesmo uma versão aloirada, nariguda e mal-humorada do ator!

- Então ele estava espionando... – Lupin falou com seus próprios botões, mas alto o suficiente para ser ouvido pelos demais.

“Viu?”, ela escutou a voz de Harry em sua mente. “Não tenho tanta certeza que Snape seja bom, Ana. Embora não duvide mais das razões pelas quais ele tenha traído Voldemort.”

- Harry, se não fosse ele, seria outro. Seria mais fácil controlar as coisas se ele estivesse lá, não é mesmo? – Ana respondeu em voz alta.

- Ei, isso não é justo! – Rony protestou ao perceber que eles estavam conversando telepaticamente.

- Eu sabia que treinar vocês juntos iria ser útil. – Lupin sorriu.

- É mesmo? – Harry disse torcendo o nariz. – Experimente ter a voz dela dentro da sua mente, dizendo todo o tempo coisas do tipo: “A entrada da Câmara Secreta era... NO BANHEIRO FEMININO? Slytherin... Que pervertido!”.

Uma nova risada provocou mais olhares fulminantes das curandeiras, e desta vez as expressões estavam dizendo que não dariam uma nova chance ao barulhento grupo.

- Então... – Ana, como os demais, estava tentando controlar o riso por causa das curandeiras. Ela olhou para Carlinhos com falso ar de acusação: - Era naquilo em que o senhor estava trabalhando? Dragões... Treináveis? – ela ainda estava surpresa com o que vira.

- É... – ele respondeu um tanto tímido. – Tudo começou quando Hagrid me mandou Norberto. Comecei a notar algumas diferenças nele. Era mais dócil e receptivo ao contato humano. Ainda era perigoso, é claro, mas não atacava primeiro e perguntava depois. Parecia... Curioso com a humanidade. E a causa disso foi ele ter sido criado pelo Hagrid desde que saiu do ovo.

O trio grifinório se entreolhou mal acreditando no que ouviam. Quando iriam imaginar, naquele primeiro ano em Hogwarts, que aquela história do Norberto terminaria assim? Nunca mais duvidariam do Hagrid!

- Assim – continuou Carlinhos. – Fiquei imaginando que, se tinha acontecido com o Norberto que é de uma raça mais agressiva, o que aconteceria se fizéssemos isso com dragões de raças mais dóceis? Achei que valeria a pena tentar. Reuni mais alguns colegas de trabalho em quem eu tinha total confiança, e começamos trabalhar com os dragões... Por sorte, as raças mais dóceis são as que se desenvolvem mais rápido também. Ao final destes seis anos tínhamos conosco um grupo de dragões adultos cooperativo...

Ana estava impressionada. Se dragões eram normalmente perigosos, os em época de nidificação eram mortais. Bem sabia o perigo de roubar um ovo de dragão de seu ninho. Afinal, lera Harry Potter e o Cálice de Fogo!

- É claro que me comuniquei com Hagrid, principalmente nos primeiros anos. Ele tinha umas dicas ótimas!

Ela imaginava... Ana reprimiu o riso, quando se lembrou de Hagrid com o dragãozinho: “Vamos, Norberto, onde está a mamãe?”. Simplesmente não conseguia ver o ruivo corpulento fazendo o mesmo.

- Mas a idéia de usá-los contra dementadores veio naquela conversa pouco antes da primeira tarefa do Torneio Tribuxo. Hagrid levou... – ele hesitou e recomeçou a frase: - Hagrid disse que a visão dos dragões podia alegrar uma amiga dele. Bem, apesar de ter gracejado com ele sobre isso, fiquei pensando que talvez Hagrid não estivesse tão errado. É impossível passar anos estudando os dragões sem ouvir falar das lendas chinesas. Contei isso para a Ordem, porque todos estavam preocupados com uma possível traição dos dementadores. Concordaram que essa era a nossa melhor saída contra eles e me empenhei ao máximo com os dragões. Mas até hoje, nós não tínhamos posto em prática as teorias.

- Isso explica seu estado de exaustão. – Gina comentou.

- É... Eles não são nada fáceis. Especialmente quando tínhamos que manter em segredo o que estávamos fazendo.

- Oh, Merlim! – a senhora Weasley lembrou-se de algo, apavorada. – Criar dragões é contra a lei! E agora todos sabem...

- Não se preocupe. – Carlinhos lançou um olhar tranqüilizador para a mãe. – Frente aos resultados, o Ministério está bem satisfeito e parece que vamos conseguir alterar a legislação para poder continuar com o trabalho.

- Espere aí... – Hermione estreitou os olhos. – Como conseguiram trazer os dragões até aqui? O Ministério, quer dizer, alguém deve ter...

Carlinhos, Gui, Lupin e o senhor Weasley se olharam e ficaram calados. Ana compreendeu aqueles olhares e o silêncio:

- Deus, mais mistérios! – ela revirou os olhos.

- E os trouxas do vilarejo? – Harry perguntou. – Como explicar tudo aquilo?

- Explicar? – Rony sorriu zombeteiro. – Desde quando a gente explica? – ele mostrou um jornal trouxa: - Parece que um tornado atingiu a região de Little Hangleton. Destruiu um casarão que havia por lá...

- Às vezes, as maneiras como os bruxos manipulam os trouxas me dão arrepios... – Ana comentou, fazendo uma expressão cômica de terror.

- Por falar nesse negócio de tornados e trouxas... – Fred começou. – Achamos isso bem interessante...

- É verdade! Por exemplo, o que é um F-5? – Jorge continuou. - Os trouxas parecem bem assustados com isso... Quem sabe poderíamos colocar na secção de terror...

- Fred! Jorge! – censurou a senhora Weasley.

- Mais tarde eu explico para vocês. – Ana deu uma risadinha. As “gemialidades” não tinham jeito mesmo... Depois virou para Carlinhos, preocupada: - Tem certeza que isso não vai te trazer problemas? Quer dizer, a lei ainda é a proibição total, então... – a mente jurídica dela estava a todo o vapor.

- Conseguimos o perdão do Ministério e tudo indica que a Confederação de Bruxos fará o mesmo. – ele sorriu. - As autoridades mal estão contendo a empolgação pela derrota que Voldemort sofreu.

- Meu herói! – ela brincou, recebendo um beijo leve nos lábios.

Rony resmungou um “Ai, tô ficando enjoado!” Em seguida, uma curandeira entrou dizendo que Harry estava liberado. O grupo não demorou a sair, para o alívio das curandeiras. Quando finalmente ficou a sós com Carlinhos, Ana voltou-se para ele, franzindo o cenho:

- Amor... – ele abriu um enorme sorriso com o tratamento carinhoso. – Eu não perguntei antes porque estava machucada demais, depois medicada demais, e finalmente porque tinha gente demais... Mas, o que é essa marca no seu olho?

Carlinhos tinha um arroxeado no olho esquerdo que não passou despercebido por Ana. Ele ficou extremamente embaraçado com a pergunta:

- Bem... Er... – ele desviou o olhar para algum ponto na parede: - Gui teve que me dar um soco para me impedir de ir direito para a Casa dos Riddle quando eu soube...

- Verdade? – Ana arregalou os olhos.

- Sim. – ele a olhou nos olhos. – Nunca tive tanto medo na vida, Ana. Medo de te perder para sempre. E ainda por cima depois de termos brigado... É pior que estar no meio de dez dragões selvagens!

Ana fitou-o emudecida por alguns segundos. Aquele homem a enfurecia, ao mesmo tempo em que a fazia se sentir a melhor das mulheres. Era cabeça-dura e teimoso, mas podia ser o mais sensível e atencioso dos homens. Ela o admirava, o desejava e o respeitava. Às vezes parecia um menino pirracento. Ainda assim, a surpreendia a todo o momento, demonstrando ser um homem determinado, honrado e corajoso. De um tipo que ela jamais acreditou que pudesse existir no mundo inteiro.

- Eu te amo. – Ana não encontrou outra frase mais adequada para traduzir aqueles milhares de emoções que estavam dentro dela.

A resposta dele foi beijá-la apaixonadamente.

Ouviram um pigarrear e deram de cara com uma curandeira idosa informando “gentilmente” que o horário de visita havia acabado.

No dia seguinte, a notícia de capa do Profeta Diário era a batalha perdida por Voldemort. A história dos dragões corria de boca-em-boca no mundo mágico. Nunca ninguém tinha pensado antes em usar dragões contra dementadores. Sequer tinham pensado que as lendas eram reais. Mais ainda: dragões eram considerados indomesticáveis até então. Carlinhos e Hagrid ficaram famosos por isso, virando do dia para a noite autoridades no assunto – e das mais procuradas.

Ana teve permissão para deixar o hospital e voltar para casa. Uma vez que ainda estava proibida pelos medibruxos de se movimentar muito, Carlinhos a carregou no colo para dentro de Smith House. Ela não pôde evitar o comentário bem-humorado de que aquilo estava virando um hábito.

Ele lembrou-se que, realmente, vinha carregando-a nos braços desde o primeiro dia.

- Bem... Eu não ligo que isso vire um hábito. – sorriu malicioso. – Desde que você não esteja machucada, é claro.

Seus amigos estavam lá para recebê-la. Rampell abarrotara seu quarto de flores, e assim que viu isso seus olhos se encheram de lágrimas (bem, o elfo tinha exagerado um pouquinho na quantidade de flores, mas... quem se importa?). Ela o abraçou fortemente:

- Rampell, você é o melhor elfo doméstico que alguém poderia desejar! E um amigo insubstituível! – dando um beijo estalado na criaturinha leal, ela disse: - tia Agatha me disse o que fez. Obrigada.

O elfo exibiu primeiro um sorriso trêmulo. Depois, seus olhos se encheram de lágrimas e seu pequeno corpo foi tomado de tantos espasmos que Ana temeu que ele estivesse passando mal. Finalmente, ele começou a chorar alto e dizer o quanto ele estava orgulhoso por ser o elfo daquela casa.

Carlinhos, envergonhado, desculpou-se pela forma brusca com que o tinha tratado (assim que Rampell diminuiu o volume do choro). Ao que o elfo respondeu, ainda entre lágrimas:

- Rapaz Weasley gostar muito de jovem mestra. Rampell acha isso muito bom! Será bom futuro marido e mestre de Rampell... – e, alheio à vermelhidão que tomara conta do casal, voltou a chorar espalhafatosamente e bendizer a família Smith inteirinha enquanto voltava para a cozinha.

Mudando de assunto rapidamente, Ana pediu para Hermione deixa-la segurar Bichento. Ele estava com a patinha engessada, o que dava uma irresistível vontade de mimá-lo. Ela acariciou o pêlo castanho do o animal, agradecendo. Afinal, ele também tinha sido muito corajoso.

Quando todos já estavam saindo, ainda chamou Tonks para se desculpar por ter estragado a sua Lua de Mel.

- Estragado? – a auror estranhou. – Mas se aquela surra que demos nos comensais foi o melhor presente de casamento que recebi! Sem falar que, a adrenalina da luta pode ser muito... Estimulante, sabia? – riu.

Tonks saiu do quarto se defendendo das almofadas que Ana jogava nela enquanto ria, fingindo indignação.

Alguns dias depois, já totalmente recuperada, ela estava no jardim de Smith House quando ouviu a voz de Harry às suas costas:

- Queria falar comigo?

Ela fitou o rapaz por alguns instantes. Sim, Harry Potter crescera. Os olhos do garoto eram a prova mais marcante disso. Sempre foi mais calado e mais tímido do trio – mas isso era esperado de alguém com a carga que ele carregava. No entanto, aqueles olhos verdes, serenos, porém atentos ao que ela poderia querer falar com ele foram a indicação precisa de que ele ultrapassara aquele limiar que todos temos que cruzar e entrara, definitivamente, na idade adulta.

- Sim, Harry. É sobre o segredo de Sonserina. Eu... Eu não contei tudo aos outros. Mas acho que você deve saber.

Harry assentiu com a cabeça, sem demonstrar grande surpresa:

- Tinha imaginado isso. Para quê tantos testes somente para revelar as origens de Slytherin?

- Isso mesmo. É claro que ela queria que a pessoa que soubesse não o usasse para humilhar, mas para desestabilizar Slytherin ou qualquer um que... Bem, mas isso não era o principal objetivo de Helga. Havia mais, Harry: o medalhão que Voldemort acabou por usar para ser uma de suas horcruxes.

- O medalhão? – Harry estranhou.

- Antes de abrigar uma parte da alma de Voldemort, e antes mesmo de ter pertencido a Salazar Slytherin, ele foi enfeitiçado por um bruxo das trevas. Enfeitiçado para passar conhecimentos. Foi assim que Salazar aprendeu tanto sobre magia negra. E... – ela engoliu em seco. – Acredito que essa magia ainda estivesse funcionando quando chegou às mãos de Voldemort. E, ironicamente, o medalhão estava com Hepzabah Smith: uma descendente de Helga.

- Então... – um brilho de compreensão passou pelos olhos do garoto. – Foi assim que ele retornou tempos depois, buscando uma vaga de professor de DCAT com Dumbledore e sabendo tanto...

- Sim. – ela riu nervosamente: - Palmas para nós: mais um mistério resolvido!

- Está explicada a preocupação de Helga em manter esse segredo no bracelete e enfeitiçá-lo para atravessar gerações também. – Harry comentou.

- Hã-hã. – Ana concordou. – E que... Desse conhecimentos extras.

- Conhecimentos extras? – ele estava confuso.

- Nada excepcional. – Ana deu de ombros. – Mas desde que acordei daquele transe, tenho percebido que sei mais coisas que sabia antes.

- Que coisas?

- Er... Acho que posso fazer um NIEM´s tranquilamente. Venho percebendo que recebi alguns conhecimentos sobre as intenções de Helga junto com outras coisas. É, acho que daria para pular os estudos em Hogwarts. Talvez mais. Não posso afirmar com certeza porque não conheço os padrões bruxos. Mas que sei de coisas que não sabia antes, com certeza. Feitiços, poções, defesa contra as artes das trevas, herbologia... Tudo isso que vocês estudam. Acho que ela queria a pessoa escolhida tivesse como... Defender-se, entende? Mas, ao mesmo tempo, ela era Helga Hufflepuff, a senhora "faça você mesmo". Então, não espere que eu seja uma nova Dumbledore, por que não estou nem aos pés dele.

Harry abriu boca, estupefato. Mas Ana não deu grande importância ao assunto, e resolveu ir direito ao ponto:

- Mas ainda não é por isso que mantive segredo. Harry, um objeto capaz de transmitir tanto poder... Temos quase certeza que o medalhão foi destruído. Pelo menos como horcrux. Mas... E se sobreviveu, no sentido de ainda existir, em algum lugar... Ainda funcionando como um treinador de Slytherins e Voldemorts? Nós não achamos o verdadeiro medalhão, nem sabemos o que Regulus fez com ele.

Harry levantou-se, o olhar perdido no horizonte. Quando voltou a encarar Ana, comentou:

- Um objeto capaz de atrair a cobiça de novos Tom Riddles.

- Exato. E foi ESSE o motivo de Helga guardar tão bem esse segredo. Ao mesmo tempo em que queria que o mundo soubesse das origens de Slytherin, para fazê-lo parar, sabia que o medalhão representava uma ameaça perpétua. E temia que revelar o seu poder fosse atrair a atenção de pessoas indignas. Enfim, que a revelação pudesse trazer outro mal ao invés de um bem. Por isso tantos testes. Queria alguém que prezasse mais o Bem e a Justiça que o Poder. – ela sorriu envergonhada: – E, modéstia a parte eu passei. Mas acredito que qualquer um que o usasse e que apresentasse estas qualidades poderia ser o escolhido – não era um pré-requisito ser descendente de Helga. Nem seria lógico pensar que ela, a mais democrática das pessoas, colocaria uma exigência dessas.

Harry suspirou:

- Tenho que verificar e destruí-lo definitivamente, se for o caso.

- Sim. Iria te pedir isso. – ela estava triste. – Desculpe. É mais um peso sobre seus ombros.

- Já estou acostumado, Ana – ele sorriu.

- Eu sei. Todos nós sabemos. – ela respondeu com um sorriso triste.

Harry sentia um frio na barriga cada vez que ela falava nos “fãs de Harry Potter”. Isso porque, de alguma forma, ele sabia que não era como ter os fãs bruxos do “Menino Que Sobreviveu”. Ou como alguns que, após terem descoberto que ele falava a verdade sobre a volta de Voldermort, começaram a chamá-lo de “Eleito”.

Do jeito que Ana falava, ele entendia que estes fãs sabiam de todos os medos, dúvidas e até mesmo dos ataques de raiva que ele tivera durante aqueles anos e, mesmo assim, gostavam dele. Como alguém normal (tirando o fato que podia fazer magia), com defeitos e qualidades como qualquer um.

Percebendo que ele tinha entendido o significado de “nós”, soube o que teria que dizer a Harry. O que sempre quis dizer, de verdade, mas nunca tinha achado as palavras certas:

- Eles te amam, Harry. – Ana disse. – Você é um herói para eles simplesmente porque enfrentou todas as adversidades que a vida mandou, sem perder a honestidade, e, principalmente... O amor. Não importa se chora, sente raiva, medo ou até que tenha dúvidas se quer ou não seguir adiante. Qualquer pessoa se sentiria assim. O importante... É que você vai em frente. Isso nos comove, nos encanta, e nos faz ter fé.

O frio na barriga de Harry tinha aumentado. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se reconfortado. Pelo menos um pouquinho.

Naquele mesmo dia, Ana decidiu que estava na hora de cumprir sua promessa para com os centauros. Foi até Hogwarts, acompanhada de Carlinhos, Gina, Hermione e Kingsley. Kingsley entendera porque não podia entrar na Floresta Proibida. O difícil foi fazer Carlinhos entender:

- Sozinha? Não mesmo! – ele exclamara resoluto.

- Eu não vou sozinha. Hagrid e as meninas vão comigo.

- Por que só eles?

- Hagrid conhece a Floresta como ninguém e é respeitado pelos centauros. As meninas... Bem, elas também ganharam o respeito deles. E além de tudo são mulheres! Os centauros pegam mais leve com as mulheres.
- Nisso você não pode nos vencer, irmãozinho! – Gina não resistiu provocar o irmão.

- Eu...

- Sabia que iria entender! – Ana disse e o beijou rapidamente. – Até mais. – Voltando-se para as meninas: - Vamos Hadrid! Garotas!

Enquanto o grupo se afastava, deixando Carlinhos sem entender o que tinha acontecido, Kingsley parou ao lado dele e comentou:

- Bonita, com a melhor pontaria que eu já vi, língua afiada e manipuladora. É... Você está bem encrencado, rapaz!

A expressão confusa de Carlinhos deu lugar a um sorriso:

- E eu agradeço todos os dias por isso.

Aquela entrada na Floresta Proibida foi totalmente diferente. Talvez porque não tinha nada a pressionando, ou por causa da companhia alegre de Hagrid, mas a verdade é que se sentia mais leve.

- Groupe está muito melhor. Muito melhor mesmo! – o meio-gigante estava orgulhoso. – Está até conversando normalmente, o danadinho!

Hagrid se interrompeu quando sons de cascos se aproximaram. Uma dezena de centauros se aproximou por todos os lados. Mas desta vez não estavam com aquela expressão feroz.

- Como vai, Magorian? – Hagrid cumprimentou.

- Hagrid. – Magorian devolveu o cumprimento com um aceno de cabeça. – Veio escoltar as fêmeas?

- Isso mesmo. Recebeu a nossa coruja?- o meio-gigante perguntou polidamente.

- Sim. – e olhando para Ana: - Suponho que tenha vindo cumprir sua promessa.

- Exato.

Foram guiados até a aldeia centauriana. No caminho, Ana pensou como aquilo tudo estava sendo diferente. Até mesmo – e para a surpresa de Gina -, Hermione estava conversando com Magorian!

- Sim, mas... – Hermione argumentava. – Se todos somos a soma de nossas qualidades, e se estamos mudando constantemente... Isso implica que nossas qualidades também mudam constantemente...

- O que ela está fazendo? – Gina perguntou.

Ana voltou a cabeça rapidamente para trás e, ao olhar novamente para Gina, disse:

- Discutindo filosofia, ora! – deu de ombros como se a cena fosse vista todos os dias.

Finalmente, chegaram aos limites da aldeia. Foi imediatamente levada até o ancião, que já a aguardava em seu costumeiro lugar.

- Eu sabia que a ordem dos acontecimentos iria trazê-la mais cedo ou mais tarde de volta. – Quíron disse.

Ela sorriu e, com imensa satisfação, puxou o fecho do objeto que se abriu facilmente desta vez. Tirou-o do pulso e o estendeu para o velho centauro, que o pegou quase com reverência.

Ana estava muito curiosa. Porque eles queriam aquele bracelete? Mas perguntar isso seria o mesmo que declarar guerra, pelo que sentiu do último encontro.

Quíron pareceu adivinhar seus pensamentos:

- Não vai querer se certificar não há nada neste bracelete que possamos usar contra a humanidade?

- Às vezes, é preciso somente... Confiar. – sorriu: - Aprendi isso com você, Quíron. Acha que essa lição dada a uma humana vai se voltar contra vocês?

- Pelos deuses, você não desiste! – Quíron resmungou.

- Bem... Vocês ainda estão aí... – e ela acrescentou em um tom mais baixo, olhando para Hogwarts: - Firenze ainda está lá... E isso não me parece justo.

- São nossas leis. – Quíron foi definitivo. Encostou-se mais na parede da cabana, e a observou melhor: - Um passo de cada vez, humana. Já conseguiu muito em pouco tempo, não acha?

- É fácil para vocês dizerem isso. – Ana torceu o nariz, em uma careta cômica: - Vivem mil anos, têm todo o tempo do mundo!

Os cantos da boca de Quíron tremeram um pouco, em uma ameaça de riso. Mas ele se controlou a tempo:

- Acho que é hora de irem.

Ana compreendeu a deixa e despediu-se do velho centauro com um sorriso tímido e um aceno de cabeça. Quando estavam fóra dos limites das terras dos centauros, Hagrid comentou, daquele jeito entusiasmado e simples:

- Minha nossa, isso é bom, realmente muito bom, garotas! Vocês estavam conversando com os centauros! Por Merlim! Dumbledore ficaria contente em ver isso. Ah, sim, ficaria!

Ela sorriu diante da alegria do meio-gigante. Naquele momento, todo aquele carisma que Hagrid lhe despertava apareceu com força total, e Ana sentiu-se novamente apenas uma fã:

- Hagrid? – ela chamou-o.

- Sim? – ele disse distraidamente, ainda sorrindo com os próprios pensamentos.

- Eu te adoro!

Hagrid ficou rubro como o próprio primeiro nome dele sugeria, abrindo um sorriso encabulado.

Saíram dos limites da Floresta Proibida, voltando para os domínios de Hogwarts. O comentário de Hagrid tinha deixado-a com vontade de visitar o túmulo branco de Dumbledore. Pediu para que lhes indicasse o caminho e seguiu sozinha para lá: preferia assim.

Lá estava ele. Nem sempre a imaginação corresponde à realidade, mas parecia que os livros escritos por Rowling eram enfeitiçados porque a imaginação não deixara nada a dever em cada um dos cantos daquela escola descritos pela autora.

- Olá, Dumbledore... – ela começou a falar. – Acho que você nunca me encontrou pessoalmente. A não ser quando eu era muito pequena... Mas eu sinto como se tivesse te conhecido a minha vida inteira. – os seus olhos começaram a brilhar pelas lágrimas.

– Você me mandou aquele livro, e agora eu estou aqui, voltando no tempo, descobrindo que o mundo de Harry Potter realmente existe... Me metendo nas maiores confusões da minha vida... E vivendo os melhores momentos dela também. Eu não podia deixar de estar aqui, e... Te agradecer. E dizer que você foi um grande bruxo, com coração de menino. Bem talvez por isso mesmo tenha sido um grande bruxo, afinal. Os trouxas te adoram. Eu te adoro. Resumindo: você foi incrível, diretor!

Ana tinha uma voz totalmente embargada quando disse:

- Na realidade, eu estou aqui para te fazer uma pergunta que atormenta a Humanidade desde que o primeiro livro foi lançado...

Fez uma pausa tensa. Então sorriu marotamente:

- Quais são, afinal de contas, os doze usos do sangue de dragão?

Ela riu, tendo a impressão que estava sendo acompanhada pelo próprio Diretor na piada, onde quer que ele estivesse.

- Gostaria de ter te conhecido, Dumbie. – murmurou, os olhos se enchendo de lágrimas novamente.

Resolveu que era hora de ir. Caminhou lentamente até o Castelo, sentindo-se... Abençoada.

Encontrou os outros e a Diretora a aguardando. Todos tinham um sorriso satisfeito no rosto e pareciam cheios de expectativa, como se soubessem de algo que ela não sabia.

- Ana, tem alguém querendo vê-la antes que vá embora. – Minerva disse e fez um gesto indicando o caminho: - Venha comigo.

Ela olhou para os demais, a expressão questionadora. Mas eles se limitaram a ficar em silêncio abrindo ainda mais o sorriso. Ana foi conduzida até o Salão Principal, onde o Chapéu Seletor repousava. O enorme rasgo que servia de boca se abriu:

- Não pensou que iria sair daqui sem passar pelo meu teste, pensou?

- Chapéu... – ela sorriu, ao mesmo tempo encantada e um tanto tímida. – Mas eu não sou aluna daqui... E passei da idade, não é?

- Oh, Merlim! - o objeto encantado retrucou. - E quem fez as regras por aqui? Alguma vez alguém disse que a seleção se limita à escolha de alunos? Ou falou algo sobre a idade em que ela ocorre?

- Não, mas...

- Então, sente-se logo, minha cara! Deixe-me ver o que sua linda cabecinha tem para me mostrar!

Sob pressão dos outros, ela acomodou-se no banquinho de madeira. Apesar de tudo o que vivera até então, estar prestes a ser “selecionada” pelo Chapéu Seletor lhe parecia surreal.

- Hum... Vamos ver sua Casa...

- Ora, como se não desse para saber: Lufa-Lufa, é claro! – zombou Gina, sorridente.

- Nada é tão simples quando se trata de determinar em que Casa alguém se encaixa melhor, criança. – o Chapéu respondeu. – Hum... Curiosidade, amor ao conhecimento... Pode ser Corvinal. No entanto, não leva isso às raias da exaustão, não é? Mas, o que vemos aqui? Coragem. Hum... Grifinória? Ah, mas você é perfeitamente capaz de refrear esta coragem para pensar friamente no assunto. Então...

- Lufa-Lufa, é claro! – Carlinhos concluiu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Meu rapaz, que eu saiba existem QUATRO Casas em Hogwarts. Ainda temos a Sonserina...

Ana, até então quieta e passiva, cortou o Chapéu ameaçadoramente:

- Faça isso e eu te mando uma caixa cheia de traças de presente de Natal!

- Viu? Atitude bem sonserina... Mas, o que vejo? Ah, sim... Agora sim! Lealdade acima de qualquer coisa. Um senso de Justiça apurado. Eu acho que você é mesmo da... LUFA-LUFA!!!

Abrindo um sorriso aliviado, Ana levantou-se sob os aplausos dos amigos, professores e até mesmo dos fantasmas. Quando o Frei Gordo veio cumprimentá-la com evidente satisfação, ela murmurou:

- Que os outros fantasmas não nos ouçam, mas você sempre foi meu favorito, Frei!

Ana se despediu de todos, arranjando inclusive um tempinho para ir ver a Murta Que Geme, que chorou e gemeu maravilhosamente, como só ela sabe fazer. Já estavam nos portões quando ela voltou-se para a Diretora. Uma idéia havia passado por sua cabeça, e simplesmente não podia ir embora sem comentar isso com Minerva.

- Professora, preciso fazer um pedido. Ou melhor, uma súplica. Eu pude observar nestes dias em que estive com vocês, o quanto o conhecimento pode fazer a diferença em uma luta contra os Comensais. Isso foi o que me manteve viva naquela noite, Diretora... Os nascidos trouxas não terão chance sem Hogwarts. Por favor... Reabra a escola.

McGonnagal pareceu surpresa por alguns segundos. Então, sabendo quais eram os temores da diretora, Ana concluiu, reforçando o pedido:

- Lembro-me de Dumbledore ter dito, certa vez, que Hogwarts se defende sozinha... Não sei o que ele queria dizer com isso, mas nunca duvidei das opiniões dele.

Minerva abriu um pequeno sorriso. Balançou a cabeça afirmativamente e, com a costumeira dignidade britânica, garantiu a Ana que iria pensar no assunto.

Os dias correram rápidos depois disso. Ana soube que a diretora havia decidido reabrir Hogwarts. Não por causa do Ministério, que a estava pressionando para fazê-lo - com o revés sofrido por Voldemort, achavam-se “no dever” de fornecer proteção à escola e mostrar à Comunidade Bruxa que tinham o controle das coisas. Claro que eles esqueceram “convenientemente” que o maior trabalho havia sido feito pelos membros da Ordem.

Não. Hogwarts seria reaberta por um motivo bem melhor que a popularidade do Ministro: a memória de Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore – ou simplesmente “Dumbie”, como era chamado pelos fãs trouxas. Sim. Dumbledore iria gostar de saber que Hogwarts não se deixou abater.

Neste período, Carlinhos praticamente ignorou tudo que não tivesse relação com Ana. E ela não reclamou, é claro. Tinham muito pouco tempo juntos. Pelos cálculos de Lupin, logo-logo as condições da lua se completariam e ela estaria de volta, no Brasil de 2005. Então, gastavam todo o tempo que dispunham juntos, nos jardins de Smith House, namorando, conversando, ou simplesmente se deixavam ficar nos braços um do outro.

- Carlinhos... Eu realmente preciso conversar com você sobre...

Ela se calara quando ele pôs um dedo em seus lábios, pedindo silêncio.

- Nós já conversamos sobre isso. E eu já tomei minha decisão, Ana. Não vamos perder tempo discutindo, sim?

Uma vozinha lá dentro dela começou a resmungar: “Que inferno de homem!”. Mas tão logo ele a tomou nos braços e a beijou, tudo o que ela conseguia pensar era: “Maravilha de homem!”.

Conforme Lupin explicara, ela devia estar exatamente no mesmo lugar onde aparecera, quando o feitiço se revertesse. Então, no dia em que o evento ocorreria, ela voltou para A Toca. E Ana sabia, intuitivamente, que os cálculos de Lupin estavam corretíssimos: a cada dia sentia um número maior de tonturas, e tinha um campo de visão cada vez mais amplo do futuro.

E todos estavam lá com ela, esperando pela hora fatídica. Em uma das raras ocasiões em que Carlinhos deixara-a sozinha, ela se vira na sala dos Weasleys com os gêmeos. Pela primeira vez desde que os conhecera – tanto nos livros quanto pessoalmente – Jorge e Fred não tinham nenhuma piada para contar, nem nenhum invento mirabolante e engraçado para mostrar.

Ana achou que não havia momento melhor para entregar a lista que estivera preparando para eles. Levantando-se do sofá, caminhou até os dois e estendeu-lhes um pedaço de pergaminho:

- Fiz isso para vocês.

Eles se olharam interrogativamente e desenrolaram o papel. Então, Ana continuou:

- É uma lista de coisas do mundo trouxa que talvez vocês achem úteis para usar na Gemialidades Weasley... – ela ficou subitamente insegura: - Não sei se vai ser de grande utilidade, mas quem sab...

Ela interrompeu a frase porque os gêmeos se levantaram em um pulo e a abraçaram, rindo, cada um de um lado dela:

- Obrigado cunhadinha! – Fred dissera!

- Nós te amamos! – Jorge completara.

- Gente, assim eu vou cair! – Ana riu, agora sim, reconhecendo neles os pestes de sempre.

- É que é bom te abraçar... – Jorge explicara.

- Estamos unindo o útil ao agradável. – Fred disse.

Vindo da cozinha, Rony viu a cena e não resistiu dizer, enquanto mirava algum ponto da porta atrás deles:

- Oi, Carlinhos! Voltou rápido, né?

Os gêmeos a soltaram de súbito, olhando apreensivos para a porta e esperando ver o irmão – o irmão ciumento e BEM MAIOR que eles.

Mas não havia ninguém lá.

Então, com expressões assassinas nos rostos, voltaram-se para Rony:

- Ora seu... – Fred começou.

- Somos nós que pregamos peças nessa casa, ouviu? – Jorge anunciou.

Eles começaram a correr atrás de Rony por toda a casa enquanto Ana assistia a tudo morrendo de rir. A algazarra chamou a atenção de todos, que vieram assistir à perseguição. Para a infelicidade dos garotos Weasley, chamou a atenção de Molly também que, na sua prática de anos controlando sete crianças e adolescentes, deu fim às “hostilidades” (os três já estavam rindo, divertindo-se com a coisa toda tanto quanto os que estavam assistindo).

O sorriso foi sumindo do rosto de Ana, pois ao ver a senhora Weasley se lembrou de algo urgente que precisava fazer. Iria doer muito... Mas, chegara a aquele momento em que se sabe o que é o certo a fazer e... Não se podia adiar.

- Senhora Weasley... – chamou-a discretamente. – Eu preciso falar com a senhora e com a Gina antes que Carlinhos volte.

A bondosa senhora fitou Ana por alguns momentos. Viu a urgência e a agonia na voz da jovem e soube que o assunto era importante. Assentiu com a cabeça e chamou Gina para que as três conversassem na cozinha.

Diante dos olhares de expectativa das duas, Ana engoliu em seco, reunindo coragem para falar. Respirou fundo, rezando para conseguir controlar-se e por tudo o que queria dizer de forma clara e racional:

- Senhora Weasley... Gina... Eu tentei falar com Carlinhos, mas ele simplesmente não quer me ouvir. – uma lágrima teimosa desceu por seu rosto e ela apressou-se a enxugá-la. – Oito anos é muito tempo! Ele vai sofrer, eu... – de repente, não estava mais lutando com uma lágrima somente, mas uma torrente delas. – Por favor... Não deixem que ele pare a vida dele por minha causa... Se ele encontrar alguém... – um soluço escapou de sua garganta e desistiu de enfrentar as lágrimas: era uma luta perdida.

A senhora Weasley correu até ela e a abraçou, ela mesma cedendo às lágrimas. Gina seguiu a mãe e logo as três estavam em um abraço consolador.

Ana deixou sua tristeza ser escoada, amparando-se no conforto das amigas. Quando tudo o que sobrou foi um suspiro exausto, ela desvencilhou-se do abraço e completou:

- Façam-no entender que eu jamais o culparia... E que tudo o que quero é que ele seja feliz. Lembrem isso a ele, por favor. Vocês são as únicas que diriam isso da forma que ele compreenderia.

As duas assentiram, mas não conseguiram dizer uma só palavra. A senhora Weasley fitava Ana com um sorriso triste. Toda mãe espera que seu filho encontre uma mulher que o ame tanto quanto ela mesma: ou seja, que ponha a felicidade dele acima da sua. Molly Weasley duvidava que Carlinhos encontrasse alguém tão perfeito para ele quanto Ana. Mas entendia os receios da moça, pois eram os mesmos que ela tinha.

- Cuide dele, Gina. – Ana pediu. – Por favor, cuide dele.

A ruiva forçou um sorriso:

- Vou amarrar ele em um poste, se for preciso.

- Você pegou o espírito da coisa. – riu.

Elas voltaram para a sala, forçando fazer expressões tão alegres e despreocupadas quanto podiam. Mas, à medida que o tempo foi passando, ficou cada vez mais difícil fingir que não estava acontecendo nada.

Ninguém achou estranho que Carlinhos e ela resolvessem dar um passeio lá fora, a sós. Ele a beijou desesperadamente, como no dia em que dissera que nenhum deles poderia entrar em contato com outro naqueles oito anos. A diferença é que desta vez, Ana também correspondia da mesma forma. Não saberiam dizer quanto tempo ficaram assim, pois, em um acordo tácito, não gastaram estes preciosos minutos com palavras, explicações ou lamentações. Simplesmente... Deixaram-se estar um com o outro, memorizando tudo o que podiam, cada detalhe.

Então, Lupin apareceu para lhes informar que faltavam poucos minutos, parecendo muito desconfortável por ter que fazer isso. Ela suspirou e sorriu para Carlinhos, acariando-lhe a face antes de começar a caminhar para o local onde estivera a tenda sobre a qual se realizara o casamento de Gui e de Fleur. A mesma tenda em que ela tinha “desabado”.

Foi se despedindo de cada um com um abraço e alguma frase carinhosa: era o jeito brasileiro de fazer as coisas, conforme ela mesma informara. Assim, foi dizendo: “Olho-Tonto Moody... O auror mais legal de todos os tempos”, “Gui, Fleur... Vocês têm formado um casal e tanto desde que trocaram aqueles olhares no Torneio Tribruxo...” “Percy... Er... Não trabalhe tanto” “Fred, Jorge... Deus, sem palavras para agradecer as gargalhadas que me proporcionaram!”, “Senhora Weasley, sua comida é a melhor que já provei”. “Senhor Weasley... Ainda acho que deveria ser o Ministro da Magia”. “Tonks... Ah, minha amiga... Você é a metamorfa mais amada do mundo!” “Lupin... Sem dúvida o professor de DCAT preferido”.

Parou na frente de Hermione e de Rony. A garota apertava fortemente a mão do namorado, como se assim conseguisse segurar as lágrimas que queriam sair a todo o custo. Rony tinha a face contorcida em uma daquelas caretas que só ele conseguia fazer, como se dissesse a si mesmo: “Ah, não, eu não...”.

- Rony, Hermione... – ela começou, sentindo uma enorme ternura por eles. - Oh, Merlim! Vocês são tão... FOFINHOS! – e os abraçou fortemente.

- Ana... – Rony disse, a voz sufocada. – Você andou tendo aulas de abraço com a mamãe?

Ela não pôde deixar de rir entre as lágrimas:

- Rony... Você continua um legume insensível... Mas é um legume adorável. E você, Mione... Racional, corajosa e amiga...

- E você – respondeu Hermione, a voz rouca, tentando não chorar - Finalmente, alguém que não acha o meu vício de leitura esquisito!

Riu, soltando os amigos e abraçou Gina:

- A primeira vez que soube de você, era uma menina de dez anos, indo acompanhar a mãe e os irmãos na Estação King Cross. O tempo foi passando e eu fui te admirando cada vez mais. E aqui está você hoje, esta moça incrível!

Ainda segurando as mãos de Gina, voltou-se para Harry e disse:

- Aliás... – seu tom de voz estava zombeteiro. – Tenho colegas de “fã clube” que não param de comentar: “Ah, se tocou, né, meu filho?”.

Harry trocou um olhar encabulado com Gina, e abriu um pequeno sorriso. Ana lançou um último sorriso para Gina e foi abraçar Harry:

- “Harry Potter”... Esse nome tem mais significado do que nunca para mim. - Um nó formou-se na sua garganta ao pensar no futuro do garoto, e não pôde evitar dizer, olhando-o nos olhos: - Vê se toma cuidado, Cabeça-Rachada!

- Você também. – ele tentou sorrir. – Não é todos os dias que se encontram fãs como você. O que quer dizer: malucas e com mais sorte do que juízo.

Ana sorria, mas, mentalmente, dizia para o garoto: “Destruir as horcruxes não vai ser fácil. Seja cauteloso”.

“Serei. Mas, antes de ir procurar as horcruxes eu tenho que fazer algo que já devia ter feito há muito tempo”, ela ouviu a voz do garoto na sua mente.

“Godric’s Hollow”, ela aquiesceu. Diante da surpresa do garoto, acrescentou: “Não, não virei boa legilimens de uma hora para outra. Estava no número seis, penúltima página, se não me engano...”. Então disse em voz alta:

- Chuta o traseiro do cara-de-cobra por mim, tá? – riu.

- Pode deixar! – Harry gargalhou. Em seguida, tirou uma foto do bolso: - Colin mandou nossas cópias...

Ela pegou a fotografia das mãos de Harry: o dia em que estavam no restaurante... Sorriu.

Voltou-se para Agatha:

- Tia... – abraçou-a fortemente.

- Nos veremos em breve, querida. – a tia disse docemente, enquanto acariciava seus cabelos como quando ela era criança.

Então, preparou-se para a despedida mais difícil que faria: Carlinhos. Apenas deixou-se abraçar por ele, fechando os olhos e sentindo o calor de seus braços. Não precisava falar nada. Nunca precisaram trocar palavras para entender o que sentiam um pelo outro.

- Ana... – Tonks a chamou.

Tonks não precisaria ter chamado. Ela sentira a passagem se abrindo como se o caminho fizesse parte dela mesma. Abriu os olhos e viu aquela mesma luz branca, que saíra do livro “Harry Potter e o Segredo de Sonserina” quando fora transportada para lá. Estava brilhando no chão, como se a terra fosse oca e um holofote abaixo da fina camada que era a superfície estivesse direcionado à noite estrelada. Beijando-o pela última vez, afastou-se rapidamente, temendo que não tivesse coragem de fazê-lo se demorasse mais tempo.

Caminhou decidida para o espaço cilíndrico iluminado, sem se voltar. Sentiu um forte puxão no umbigo, e, novamente, mergulhava na imensidão vazia e escura.

Carlinhos desistiu de se fazer de forte e caiu de joelhos sobre a grama do quintal dos Weasleys, a face em desespero quando a viu desaparecer. Os pais e os irmãos foram prontamente abraça-lo.

Agatha viu a cena comovida e decidiu que deveria ir visitar a sobrinha no Brasil. Daquele encontro, Ana só se lembraria que a tia a abraçara fortemente no aeroporto. A garota de dezesseis anos se comoveu e perguntou se Agatha queria que ela voltasse a morar com ela. Mas Agatha fora firme na opinião que Ana não deveria voltar à Inglaterra. Um comportamento da tia que ela só compreenderia mais tarde.

***

(N/A): Por favor, não me batam! Não, não acaba assim. Ainda temos mais um capítulo – mas que já está escrito, prontinho, só aguardando para ser postado. Inclusive pretendia postar tudo em um capítulo só, mas ele iria ficar absurdamente grande, mesmo para os meus padrões... Então, este “Despedidas” ficou assim.

Desculpem pela demora... Novamente. E, sim... Um hiper-mega-ultra Grawp... De novo. (Eu disse para não me estimularem... Agora agüentem, hehe).

Antes que me perguntem: é, não vou mostrar o Harry procurando as horcruxes. Não vou mostrar a destruição delas ou de Voldemort (“Voldie”, para nós, os íntimos, não é?). Vou deixar isso para a tia J.K.

Ai, eu sei, deve ter gente agora se remexendo na cadeira e me amaldiçoando... Mas, se faz vocês se sentirem melhor, podem ler a fic da Sally Owens, “Harry Potter e o Retorno das Trevas”, e aceitar o “flashback” que ela mostrou lá como sendo a seqüência para o que aconteceu neste capítulo. Na realidade, como vocês já devem saber, elas se encaixam. Vão ver que várias coisas se completam nas fic - algumas por pura sorte ("transmimento de pensação" entre as autoras) e outras bem conversadas e acertadas.

Gente, eu tenho que fazer uma correção aqui: eu falei da Caroline no capítulo passado. O nome dela é CARLINE. Desculpe, sim, Carline?


Passemos ao comentários (eu adoro lê-los!):


Sally Owens: He, he! Será que ainda sobra alguma coisa para comentar depois de tanto conversar pelo MSN? O pior é que sobra, né? São tantas idéias... Tão pouco tempo! A idéia do dicionário para achar palavras elogiosas é muito boa... Especialmente porque daqui a pouco você posta seu novo capítulo e eu vou precisar dele, com toda certeza, para conseguir traduzir tudo o que eu vou querer dizer! Você teve o trabalho de reler? Obrigada! Que bom que gostou da batalha entre o Snape e o Harry. Era uma coisa muito esperada, afinal, depois do livro seis... Uma cena muito delicada por causa das feridas que os dois carregam. Sim... Acho que a Ana é o alter-ego fanático por Harry Potter que todos nós temos, não é? He, he! E se vc acha que vai teve gente desmaiando por causa do Carlinhos, imagina quando lerem o próximo? (Belzinha estimulando a curiosidade).

Eddy: Obrigada pelos elogios! Era tanta coisa acontecendo no capítulo anterior (aliás, neste também) que eu não sabia se iria ficar coerente. Que bom que gostou da "habilidade" escondida dos dragões. A Belzinha aqui adora histórias de dragões e cavaleiros, como já devem ter percebido. E os dementadores estavam me incomodando desde o livro 3. Quando eles se juntaram ao Voldie... Uni o útil ao agradável, como diriam os gêmeos. O Segredo de Sonserina... Vc não sabe quantas vezes eu me perguntei se isso não seria muita viagem minha... Mas era o que eu tinha em mente desde o começo da fic, não tinha como ser outro. E o objetivo foi exatamente este: desestabilizar o Voldie e mostrar que Salazar, que era filho de trouxas, foi um grande bruxo por suas próprias qualidades e não por causa de seu sangue. Mas ele não conseguiu ver as coisas assim. Obrigada pelo comentário, eu fiquei muito contente - eu adoro comentários assim, como o seu, bem analíticos (e eu mesma faço comentários assim nas outras fics).

Trinity Skywalker: Exatamente o que você falou. Eu vi no seu Snape, assim como no da Sally, o Severo Snape que eu imagino na minha fic. Gente, leiam a fic da Trinity! É simplesmente... Maravilhoso! Ela começou outra agora que, quando eu li, praticamente estava conversando com os personagens, de tão bem que ela escreve! Nossa! Amei esta outra tb! Obrigada por ter comentado, tá? Isso foi uma honra para mim.

Carline Potter: Mais uma vez, desculpa por ter errado seu nome, tá? (é isso que dá postar de madrugada...). A propósito, ainda estou com aquele sorriso enorme nos lábios por causa dos seus cometários! Realmente, agora estou ficando preocupada - vou precisar de um cirurgião plástico para tirar ele daqui! Bem... Eu acho que te respondi tudo naquele e-mail, mas ainda me dou ao luxo de comentar, mais uma vez, sobre o título: Coração de Dragão. Vivia falando o título sempre que podia, com a Sally e com a Darla. Era um tal de "Coração de Dragão" para cá, "Coração de Dragão" para lá... Hihi! Eu achei o título muito adequado e estava abobada com a minha própria idéia (patético, né?). Muuuuuuuuuuurio obrigada por ter postado, ainda mais esse comentário tão gostoso de ser lido! Valeu mesmo! Sem palavras!

Darla: Minha querida betha. Eu tenho que agradecer pelo tempo que vem dedicando à fic. Hehe! Pois é, eu também estou achando que a Ana tem que se cuidar, com tanta gente caindo de amores pelo Carlinhos! Que bom que gostou do segredo. Você foi a primeira para quem eu o revelei. Antes mesmo que para a Sally. Antes mesmo da própria Ana, hehe!

Morgana Black: Ahhhhhhhhhhhhh! Como é bom ler seus comentários! Que bom que voltou a se inspirar, porque nós (seus leitores) lucramos com isso! Sim, é claro que assisti o filme! *suspirando* Por que acha que o títul oveio tão fácil? (hehe). Amei o filme. O Rampell foi devidamente recompensado neste, percebeu? Draco ainda tem salvação. Sou como o Dumbie: sempre vejo o melhor lado das pessoas e Draco... Bem, gente, ele abaixou a varinha! Lembrem-se disso! Ai, que bom que gostou das cenas dos duelos! Como assim, não é boa neles? Eu ainda me lembro muito bem de umas cenas suas deles treinando... Maravilhosas! Fantásticas! Ai, ai - O País das Fadas - adoro a sua fic! Só vc tem atração por vilões? Se esqueceu que está falando com a senhorita "eu-amo-Jason-Isaacs-como-Malfoy"? He, he! Ai, meus sais...Outra suspirando pelo ruivo dos dragões... Infelizmente só dá para ver ele nas fics... O jeito é você fazer ele aparecer na sua... Hehe! É... sou eu com meus dragões e você com seus cavalos alados! Obrigada, Morgana!

JimmySJ: Obrigada, Jimmy! *ficando vermelha* Vou ler a sua fic, sim! Claro! Agora que a fic está pronta e aquela agonia de postar está "saciada" - saciada, mas não "curada" - eu vou ter mais tempo de ler um monte de fics que eu estou promentendo para mim mesma que iria ler! A sua é uma delas, com certeza!

Aisha: Falando em fics que eu quero ler! Além já me recomendou a fic de vocês - acho que foi a Sally. Obrigada pelos elogios e por ter postado!

Bernardo: De novo! Obrigada. Como eu disse, agora que a fic acabou (pelo menos, de eu escrever), vou ler *nossa, finalmente!!!* a sua fic.

Carolzinha: Esse coisa da Ana sempre dando jeito em tudo é meio que conseqüência de ter crescido assistindo MacGiver (a maioria nem lembra mais, mas quem foi criança nos anos 80 sabe). Eu até fiz uma homenagem a ele na fic. Coisa de trouxa "sabido", hehe. Nossa *emocionada*. Obrigada pela torcida! Eu tb amo H/G e R/Hr... Pena que não consegui fazer tantas cenas deles quanto gostaria... Quem sabe nas próximas? Merlin... Outra (acho que a Darla tinha razão... a Ana tem que se cuidar, Carlinhos está arrazando corações, hehe!). Príncipe ruivo em um dragão romeno, hahahaaha! Amei sua definição! Ah... Chamar Voldemort de "Voldie" foi o sonho realizado de todos os fãs! A pior lembrança de Snape está tirando o sono de muitos fãs, que querem saber se tem mais coisa aí... E o meu sono tb, é claro! Mestres dos Sonhos foi a minha maneira de homenagear os "bruxos" de nossas américas. Eles aparecem muito pouco, achei que mereciam espaço nesse mundo de HP tb. Meu jeito de "abrasileirar" a coisa, hehe! Se alongar? Menina eu quero mais é que os comentários sejam quilométricos! Hehe! Adorei o seu! Obrigada!


Ah, gente... Não deixem de ler a fic do meu amiguinho, o None. "Harry Potter e o Herdeiro de Grifinória". Ele está começando a escrever e eu estou bethando os capítulos dele.


Ah, Merlim... *esgotada mas feliz* Obrigada pelos comentários! Obrigada por lerem!

Obrigada por existirem!

Quem puder, quem quiser, quem estiver a fim de fazer esta caridade... COMENTE! Obrigada!

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