O Enigma Chamado Quíron



Eles seguiam os centauros em silêncio. Ana estava cada vez mais desconfiada. E a floresta parecia estar se tornando mais densa e escura.

“Será que a pessoa que está nos esperando é a morte?”, pensou, enquanto analisava as expressões nada amistosas dos centauros. Tinha a impressão de que a qualquer momento parariam e Magorian diria: “Este é o local onde aplicamos nossas penas”. Então, virando-se para uma versão centauriana de um carrasco: “Este é o nosso executor”.

Sacudiu a cabeça tentando afastar os pensamentos nefastos. “Um encontro com a morte...”, Ana pensou, uma estranha onda de humor atingindo-a, como sempre acontecia quando precisava de coragem: “Bem, se a morte tiver realmente o rosto do Brad Pitt, como naquele filme, eu não me importo”.

Observou os amigos. O trio grifinório estava estranhamente calado, e ela soube que algo estava errado (além do fato de estarem acompanhados por um grupo de centauros mal-encarados e nervosinhos). Os três se olharam e, após um sinal discreto de Harry, iam tirar as varinhas de seus bolsos. Ela rapidamente tocou de leve o braço de Hermione, mas de forma que fez os demais pararem também.

- Não! – sussurrou.

- Por quê? – Rony questionou.

Ana simplesmente balançou a cabeça, incapaz de explicar em poucas palavras aquela sensação de que atacar os centauros agora não seria uma boa idéia. Primeiro, iriam chamar a atenção para suas varinhas, quando miraculosamente os centauros as haviam esquecido. E para nada, pois não estavam mais sendo ameaçados. “Pelo menos, não abertamente”, Ana pensava preocupada. Seria melhor guardar as varinhas agora e só as usar quando isso fosse inevitável. Além do que, no último confronto com os centauros varinhas não tinham sido de grande utilidade. Umbridge que o diga!

Depois, ataca-los nestas circunstâncias só provocaria raiva. E discursos inflamados de como os humanos são traiçoeiros, desprezíveis, criaturas inferiores, etc. Estava começando a achar que os centauros eram muito chegados a uma oratória.

Finalmente, precisavam deles para buscar os horcruxes. Não seria nada bom que os irritassem se vieram buscar a sua colaboração. Colaboração entre centauros e humanos! Era quase uma piada...

As sombras da floresta foram dando espaço a uma luz visível ao final da trilha que tinham tomado. Assombrada, Ana viu uma clareira onde estavam dispostas diversas cabanas de palha. De algumas delas saíam fumaça, indicando não só que eram habitadas como que aquele lugar estava em plena atividade, vivo. E não era uma aldeia qualquer. Era uma aldeia de centauros.

Um súbito empurrão a lembrou de sua situação como “convidada-prisioneira”. Lançou um olhar mortal para o centauro negro que a havia empurrado. “Bane”, lembrava-se do nome agora. Enquanto retomava a caminhada, pensou que nunca mais se esqueceria do nome daquela “criatura simpática”.

- Por aqui. – disse Magorian, sem olhar para eles, e demonstrando em sua voz o quanto estava contrariado.

Quando os quatro avançaram, ele voltou-se e disse:

- Não! Somente você, humana. – dirigiu-se à Ana.

- Ela não vai a lugar algum sem nós. – Harry declarou com voz tão firme quanto a de Magorian.

Magorian aproximou-se de Harry e falou como se estivesse se controlando para não bater em uma criança desobediente que ultrapassara todos os limites:

- Momentos atrás era exatamente isso que ela estava sugerindo fazer para salvar suas vidas. O que mudou agora?

- Nada. É exatamente por isso que não a deixaremos agora, como não a deixaríamos antes. – Harry respondeu.

O centauro ergueu-se um pouco mais, como que para observar Harry melhor. Era a primeira vez que Ana se lembrava de um centauro ter “realmente” olhado para um deles.

Hermione completou as palavras do amigo, a voz cuidadosa, escolhendo muito bem cada frase antes de dizê-la, mas igualmente firme:

- Nenhuma palavra foi pronunciada desde que nos informou que iríamos morrer por termos entrado em suas terras. Não pode nos culpar por acharmos que nossa situação não é nem um pouco tranqüila. Ficaremos juntos, como sempre.

Magorian voltou-se para Hermione:

- Você... Lembro de você. Sempre fala quando não é convidada?

Hermione pareceu chocada por alguns instantes, mas manteve o queixo erguido.

Foi Rony que respondeu por ela:

- Quase sempre. – pegou a mão da namorada. - Quando coisas realmente importantes tenham que ser ditas.

Ana estava arrepiada com a cena. Seus amigos a defendendo com tanta firmeza diante de centauros, com a dose certa de segurança, mas se contendo, respeitando o oponente... Deus, Rony estava sustentando o olhar de um centauro em defesa de Hermione!

Eram realmente as crianças cujo crescimento ela e outros milhões de pessoas tinham acompanhado?

- Está bem... Venham. Foi previsto que você não viria sozinha. – Magorian respondeu voltando-se e prosseguindo no seu caminho, como se o fato deles a acompanharem não fosse o ideal, mas “tolerável”.

- Magorian! – Bane exclamou furioso. – Vai deixar que façam o que quiserem, quando eles estão em nossas terras?

- A forma como os trataremos não está em nossas mãos. – Magorian respondeu ao companheiro em um tom mais amigável, mas que não deixava dúvidas quanto à liderança do grupo. – Este é um assunto para o ancião agora.

Foram levados até a entrada da cabana que parecia ser a maior. A estrutura mais forte indicava que talvez ali fossem feitas as atividades comunitárias. Talvez as reuniões que os centauros tivessem que fazer para tomar decisões enquanto grupo.

As palavras “oca” e “taba” vieram à mente de Ana devido às semelhanças, embora as estruturas construídas pelos centauros apresentassem algumas diferenças. Tia Agatha iria gostar de saber dessas coisas, embora a sua área fosse a Antropologia, ou seja, o estudo do “homem”. Pena que não poderia contar...

Foi ordenado que eles esperassem do lado de fora. Ouviram Magorian conversando com alguém lá dentro, mas não podiam distinguir as palavras. Momentos depois, um centauro muito velho era ajudado a caminhar até a entrada da cabana, onde foi deixado sentado (à maneira eqüina) sobre um tapete de palha habilmente trançado.

Ele tinha o dorso de um castanho já sem brilho. O corpo frágil demonstrava sinais de já ter sido vigoroso um dia. Os longos cabelos brancos e lisos estavam habilmente dispostos em uma trança simples e amarrados com tiras de algo que parecia couro. Em seu rosto, as linhas do tempo não ofuscavam os olhos de um azul límpido que fascinaram Ana.

O velho centauro respirou fundo várias vezes, demonstrando o quanto o pequeno deslocamento até ali lhe tinha custado. Só então ele olhou para Ana e falou com uma voz cansada:

- Então... Você é a portadora do bracelete...

Ana olhou para o objeto em seu pulso:

- Receio que sim... – sorriu timidamente.

Estava pensando que, apesar de soar poético, “portadora do bracelete” apenas resumia uma situação fática: ele estava em seu braço, e dele o objeto não queria sair.

- Eu sou Quíron. – ele disse simplesmente, como se tivesse decidido que ela era merecedora de tal conhecimento.

Ana prendeu a respiração. Esse nome... Será? O espanto foi tanto que ela virou-se para os amigos, procurando confirmação de que escutara realmente o que achava que tinha escutado. Mas só Hermione demonstrou em seu rosto a mesma surpresa que Ana.

- Ah, não... – o centauro divertiu-se. – Não ESSE Quíron que estão pensando. – voltou-se para Magorian: - Os humanos têm sempre essa reação quando lhes digo meu nome. – riu fracamente, não parecendo ter forças para mais do que isso.

- Do que ele está falando, Hermione? – Harry perguntou.

- Quíron é o nome do centauro que foi tutor de Hércules, Jasão e muitos outros semideuses. – ela explicou.

- Exatamente – Quíron disse. – Mas... Eu precisaria ter cinco mil anos para ser esse Quíron, não é?

Ana e Hermione se olharam e sorriram diante da própria tolice. É claro... Que bobagem.

- Centauros vivem só mil anos, aproximadamente. – Quíron informou, parecendo deliciar-se com o novo assombro deles, que desta vez atingiu Rony e Harry.

Os demais centauros se inquietaram, claramente desaprovando a conversa tão aberta que o ancião estava tendo com os humanos. Revelara mais sobre os centauros em cinco minutos do que toda a humanidade tinha descoberto em sua história inteira. No entanto, pareciam não se atrever a criticar o mais velho.

- Bem, agora que sabem quem eu sou... Não acham que deveriam dizer seus nomes? – Quíron sugeriu.

Eles se apresentaram. Apenas o nome de Harry despertou algum reconhecimento no centauro, mas nada como os costumeiros “Oh! É o Eleito”. Será que eles não faziam a mínima idéia do porquê de estarem ali?

Quíron esboçou um sorriso quando voltou seu olhar para Ana:

- Claro... Pessoas com suas qualidades nunca estão sozinhas.

- M-minhas qualidades? – Ana espantou-se. Ele nem sequer a conhecia! Como poderia saber que qualidades ela tinha?

- Parece confusa, jovem. – Quíron observou. – Mas, se veio até mim é porque sabe que está sendo testada desde que esse bracelete foi posto em seu braço, não?

- Testada? – Ana estava cada vez mais perdida. – Não, eu não... – Como assim testada? E... Como sabe tanto sobre ele?

- Ele foi forjado por meu pai, que o presenteou a Helga Hufflepuff. Ela nos disse que ele seria usado para conter um feitiço de duração prolongada e que sua revelação dependeria das qualidades que o portador demonstrasse.

- Testada... – Ana murmurou para si mesma.

- Parece surpresa. – ele constatou. – Quer dizer que não entrou na floresta em busca de respostas sobre o bracelete? Há mil anos que esperávamos que alguém fizesse isso.

- Não, eu... Nem sabia que centauros eram forjadores!

- Só porque moramos na floresta não quer dizer que não saibamos lidar com metais! – Magorian falou com raiva.

- A velha arrogância humana... – Agouro resmungou, enquanto os demais pareciam loucos que Quíron desse uma ordem para arrastar os impertinentes dali.

Possessa, Ana olhou de Magorian para os amigos. Rony parecia tenso, mas continuava segurando firmemente a mão de Hermione. Harry mantinha os maxilares apertados, a expressão fechada de quem estava se contendo. Mas foi Hermione quem reagiu, a voz surpreendentemente calma e até mesmo gentil para as palavras pronunciadas:

- Não é nossa culpa se o máximo que sabemos sobre centauros seja meia página de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” e alguns mitos gregos nada confiáveis! Não somos nós que recusamos qualquer contato com as outras espécies!

“Bravo!”, Ana pensou. “Hermione acaba de dar o troco pela Humanidade!”

Os centauros agitaram-se novamente. Um Rony apreensivo se pôs na frente de Hermione, e resmungou: “É realmente difícil ser seu namorado”. Não que os centauros ameaçassem fazer algo com ela. Como Ana sabia, eles eram gentis com crianças e com fêmeas. Mas Rony não sabia disso...

- Quietos! – Quíron ordenou aos demais. Assim que os ânimos se acalmaram, dirigiu-se a Ana: – Se a causa de se arriscarem até aqui não é o bracelete... Então, porque vieram?

Ela não sabia exatamente o que dizer. Nunca pensou que os centauros se dirigiriam a ela. Na realidade, esperava que fizessem isso com Harry, “O Menino Que Sobreviveu”. Ainda atordoada em saber que estava sendo testada pelo bracelete, respondeu:

- Recebemos o conselho de procurarmos aqueles a quem os deuses confiam seus filhos...

Quíron exclamou alguma coisa, furioso, e tentou se levantar, mas não conseguiu. Sua respiração tornou-se ainda mais difícil e, quando finalmente se recuperou, disse:

- Então o motivo que os trouxe até aqui deve estar relacionado à Voldemort! Sim, eu sei como chegaram até aqui. Guardamos o que procuram como forma de pagar uma velha dívida a aquele que guiou vocês até nós.

- Que dív... – Ana começou a questionar, mas foi interrompida:

- Isso não é de interesse de vocês! Fizemos isso como forma de quitar uma dívida de honra, pois centauros, ao contrário dos humanos, matem a honra acima de tudo! Mas o acordo foi somente de guardá-lo. Entregá-lo a vocês seria o mesmo que declarar guerra à Voldemort... É isso que esperam? Que sejamos forçados a lutar ao seu lado quando aquele a quem chamam de Lorde das Trevas vier se vingar de nossa intromissão?

Ela suspirou, buscando paz de espírito para poder achar as palavras corretas:

- Mas... Se sabem que estamos em guerra... – disse com cuidado. – Que Voldemort ressurgiu...

- Voldemort é problema dos humanos. – Quíron respondeu. – Ele surgiu entre vocês, trazendo discórdia sobre os próprios humanos. Não é nossa responsabilidade o que os humanos pensam uns dos outros.

Ana balançou a cabeça negativamente, enquanto sentava-se no chão em frente à Quiron:

- Não sei mais do que chama-lo... – ela concluiu com pesar: - Mas Voldemort não é mais humano! Ele abandou sua humanidade há muito tempo ele... – terminou com horror na voz: - Transformou-se em uma coisa que mata sem piedade, que é incapaz de sentir, incapaz de... Amar!

- Continua sendo um problema dos humanos. – Quíron persistiu.

Céus! Como os fazer entender? Estava perdendo tempo... Os horcruxes! Mas... Eles diriam alguma coisa se não compreendessem a urgência em parar Voldemort? Estava claro que não.

Harry sentou-se ao seu lado. Sua expressão já estava relaxada quando falou:

- É isso que Ana quis dizer. A sede de poder de Voldemort vai além de controlar bruxos e exterminar trouxas. Ele tem se unido a lobisomens, gigantes e dementadores para espalhar o terror. Acham que ele iria querer o resto do mundo e deixar a Floresta Proibida para trás? A filosofia dele é “Quem não está comigo está contra mim”. Sua neutralidade não iria ser respeitada. – Após uma pausa, em que Harry percebeu que suas palavras tinham atingido o alvo, acrescentou: - Sabe que é verdade.

Os centauros resolveram se reunir para decidir sobre o assunto. Os quatro foram proibidos de entrar na construção maior que, conforme Ana tinha intuído, era destinado para este tipo de evento.

Cerca de cinqüenta centauros entraram, sendo que somente dois deles permaneceram lá fora com os quatro humanos, vigiando-os. E eles não pareciam nem um pouco satisfeitos de não poderem participar, e lançavam olhares desgostosos para seus “prisioneiros”.

Do lado de fora, conseguia-se perceber as vozes alteradas lá dentro. Uma delas era a de Bane. Conhecendo as opiniões dele, Harry tinha esperança de que isso significasse que o partido dele estava perdendo. Mais meia hora se passou até que os centauros saíram da cabana. Em vez de voltarem para seus afazeres, foram se postando ao redor dos quatro intrusos, as feições sérias e altivas, nem um pouco mais amistosas. Harry estava começando a se preocupar com a decisão que eles teriam tomado.

Quíron foi ajudado a caminhar até o lado de fora novamente e sentar-se no tapete de palha. Seu rosto mostrava dor, uma evidência do que toda aquela agitação estava custando a ele. Fazendo um esforço para ignorá-la, ele encarou os humanos:

- Vamos lhes dizer onde encontrar o que procuram.

O coração de Harry disparou. Finalmente! Era o primeiro passo para acabar com Voldemort.

- Mas queremos algo em troca.

- O quê? – Harry perguntou, pensando que daria qualquer coisa para por a mão nos horcruxes.

- O bracelete. – Quíron respondeu apontando para o pulso de Ana.

Ela arregalou os olhos. Não conseguia entender porque eles se importavam tanto com o bracelete. Tudo bem que era uma obra deles, mas...

- Lamento, senhor Quíron. A verdade é que esse bracelete está preso a mim. Disseram-me que ele não se soltará até que eu cumpra sua missão. Acredite, eu o daria se pudesse.

- Eu sei que não pode dá-lo agora. Depois de cumprida a sua missão, deve entregá-lo a nós.

Ana surpreendeu-se por sentir pena de se separar do bracelete quando naqueles dias todos ela não havia desejado outra coisa. Mas respondeu:

- Assim o farei.

- Sei que sim. O fato de esse bracelete estar preso em seu pulso fala mais sobre seu caráter do que pensa. – Após uma pausa, Quíron perguntou curioso: - Como ele chegou até você?

- É uma jóia de família.

- De família? Então você é... – os olhos do velho centauro apresentaram um brilho diferente.

- Descendente de Helga Hufflepuff, sim.

Quíron desviou o olhar para o vazio, parecendo perdido em seus próprios pensamentos. Então, voltando a si, disse:

- Há uma caverna próxima aos limites de nossas terras. Só os centauros sabem como chegar lá. Agouro e Bane guiarão vocês três.

- Como assim “três”? – Harry perguntou.

- Ela – indicou Ana. – Vai ficar aqui.

- Não vou não! – Ana exclamou. – Você disse que confiava em meu caráter, não precisa...

- Não é nada relacionado com seu caráter, minha jovem. O que procuram, a pedido da mesma pessoa que nos entregou, está guardado com armadilhas mortais. Se você morrer antes do feitiço que está no bracelete se completar nunca o teremos.

“Criaturas interesseiras e materialistas!”, Ana revoltou-se. Ia dizer justamente isto quando Harry interferiu:

- Fique Ana. – ele disse com voz tensa. – Sabe que também precisamos que o feitiço de missão se realize. – tentou brincar: - Não vai ser bom para o nosso lado se acontecer algo com você.

- Ah, e não vai ser tão ruim se acontecer com vocês? – Ana retrucou brava.

- Chega! – Magorian resolveu intervir. Estava impaciente e irritado. – Desta vez não vai ser feito como querem, humanos! Você – voltando-se para Ana – Fica. É isto ou nada.

Angustiada, Ana viu os amigos caminharem floresta adentro com Agouro à frente e Bane logo atrás. Bane... Não confiava nele. Agouro era resmungão, mas não tinha ódio no olhar como o outro. “Bem, pelo menos estão com suas varinhas!”, pensou.

- Deixe-os crescer, mulher. – ouviu a voz cansada de Quíron dizer, em um tom estranhamente amigável e gentil.

Aquela frase praticamente atirou a realidade sobre Ana. “Deixe-os crescer”. Custava-lhe acreditar, mas o menino ruivo desajeitado com sujeira no nariz, a garotinha sabichona de cabelos rebeldes e que não tinha amigos, e o garoto magricela com uma cicatriz em forma de raio e com uma trágica história a persegui-lo... Haviam crescido. E mesmo tendo os conhecido durante todo aquele tempo somente pelos livros, não conseguia livrar-se da vontade de aconselhar, consolar e proteger. Principalmente agora que sabia que eles eram reais. Mas era verdade. Eles cresceram. Todos tinham que crescer e ser responsáveis por si mesmos. E, por Merlim, quantas coisas eles já não tinham enfrentado? Tinham demonstrado há muito tempo que poderiam se cuidar melhor que muitos bruxos adultos, não é?

Ainda assim... Eles eram reais. Podiam se machucar DE VERDADE. Tinha que descontar a sensação de impotência em alguém:

- O que esse bracelete tem de tão importante? Por acaso depois que o feitiço se completar todos que o usarem terão acesso ao que... Ele guarda?

- Não. – Quíron respondeu. – Somente você saberá. É por isso que está passando por testes: para saber se é digna de conhecer o segredo.

- Então... – Ana tentava controlar as lágrimas. – O que lhes interessa? O que justifica eu estar aqui enquanto meus amigos enfrentam tantos perigos?

- Nossos interesses não são da sua conta, humana. – ele respondeu, a voz voltando à frieza. – Já descobriram demais sobre nós por hoje.

***

O caminho até a caverna mostrou-se bem difícil. Era uma trilha, se é que poderia ser chamada assim, pois ela praticamente sumia dentro da vegetação, mostrando que há muito tempo não era usada.

Agouro, apesar de demonstrar não respeitar nem um pouco os humanos, mantinha uma atitude neutra e, às vezes, até mesmo gentil: afastava os galhos mais baixos e pisoteava as plantas que fechavam a trilha para facilitar a caminhada dos três. Já Bane, nas ocasiões que tomou a frente, parecia se divertir com as dificuldades que eles passavam. Um sorriso zombeteiro indicava que ele estava pensando na inferioridade humana. Às vezes ele soltava “sem querer” um galho que vinha a bater dolorosamente contra Harry ou Rony. Hermione era a única com a qual era mais gentil, informando-a das pedras, buracos e desníveis do caminho. E ele não “esquecia” que ela estava atrás dele quando soltava um galho. Rony estava gostando cada vez menos dele, mas como Harry, achou que era melhor deixar Hermione ir logo atrás de Bane nestas ocasiões.

- Aqui estamos. – Agouro informou, quando chegaram ao sopé de uma montanha. Havia uma fenda quase encoberta pela vegetação e...

- Teias de aranhas. – Rony murmurou engolindo em seco.

- Medo de aranhas, humano? – Bane zombou.

- Você também teria se tivesse entrado em um ninho de acromântulas quando criança. – Rony respondeu ainda olhando preocupado para as teias.

- E porque alguém faria algo tão idiota? – Bane arregalou os olhos.

- Pelo de sempre... – Rony deu de ombros, irritado com Bane. – Salvar o mundo... Salvar a Mione...

Bane pareceu surpreso. E impressionado. Agora entendia porque a fêmea tinha escolhido o ruivo e não o outro.

- Espere aí, Ronald Weasley! – Hermione protestou. – “Como sempre”? Será que eu preciso te lembrar que fomos nós três que enfrentamos aquele trasgo no primeiro ano?

- Eu e o Harry, você quer dizer! – Rony rebateu. – Ou esqueceu que quem ficou trancada no banheiro feminino com ele foi você?

- Porque VOCÊS me trancaram com ele! E você nem sabia como fazer um feitiço de levitação. Eu é que te ajudei! E o visgo do diabo? E no terceiro ano...

- Chega! – Agouro interrompeu-os. – Pelos deuses! Vocês são loucos!
Harry, já acostumado com as discussões dos amigos, não se perturbou e foi em direção à entrada da caverna.

- Espera, Harry! – Hermione pediu e lançou um feitiço de limpeza na entrada, fazendo sumir todo o mato e as teias de arranha.

- Ah... Obrigado Hermione. – Harry sorriu, fingindo que não sabia que ela tinha feito aquilo pensando em Rony. O que não se fazia para salvar o orgulho dos amigos?

Os três entraram na caverna, sozinhos. Ao que tudo indicava a responsabilidade dos centauros terminava ali.

- “Lumus”! – Harry fez a ponta de sua varinha se acender, e os demais fizeram o mesmo.

Enquanto caminhavam através da densa escuridão da caverna, Harry pensava que, se havia armadilhas – e mortais, como Quíron falara -, talvez Regulus Black também tivesse deixado pistas de como passar por elas. Quem sabe no livro, ou na mensagem que deixara com os fantasmas... Mas agora era tarde demais. Já estavam ali.

O teto foi ficando cada vez mais alto e agora não precisavam mais se abaixar para caminhar. Quando chegaram a uma parte que tinha o formato de arcadas, pararam sem entender o que estava acontecendo. Não havia saída!

- Será que os centauros nos enganaram? – Hermione verbalizou os temores de Harry.

Mas um grande feixe de luz os atingiu. Não se chocou contra eles, mas os circundou, envolvendo-os como uma serpente enroscando sua presa. Tão logo passou pelo último deles, desapareceu.

- Não estou gostando disso... – avisou Rony com aquela expressão tão “Rony”.

- Alguém sabe o que foi isso? – Harry perguntou e, apesar de ter falado “alguém”, os dois garotos voltaram-se para Hermione.

- Eu não tenho certeza... – Hermione começou. Mas balançou a cabeça negativamente e se corrigiu: - Tá... Eu não faço a mínima idéia!

- Bem... Vamos ver se há alguma passagem secreta por aqui. – Harry sugeriu.

Os três ocuparam-se em bater nas paredes da caverna, procurando uma passagem que estivesse oculta, e evitaram falar e até mesmo pensar sobre a estranha luz.

Harry bateu na rocha e sentiu uma textura diferente. Não era pedra, parecia pano e era cilíndrico. Começou a afastar a poeira e o limo, vendo que se tratava de uma corda.

- Me ajudem aqui! – ele chamou os outros.

Eles começaram a tirar a corda, ou melhor, literalmente “arrancá-la” da parede, já que a poeira e o limo a tinham coberto como um lençol. Quando conseguiram deixa-la solta e somente uma ponta estava presa ao “teto”, a caverna começou a estremecer. Os três agarraram-se ao mesmo tempo à corda para não caírem no chão. Foi então que... o chão sumiu!

- Aaaaah!!! – eles gritaram ao mesmo tempo enquanto escorregavam pela corda, tentando se agarrar.

No lugar do chão, um fosso cujo fim não se via, sendo engolido pelas trevas. Hermione escorregou primeiro, sendo seguida por Rony. Ela se segurou em Rony que, por sua vez, segurou-se em Harry. Este conseguiu agarrar a extremidade da corda no último minuto.

- Acho que essa era uma das armadilhas... – disse Rony, ofegante, mal acreditando que não tinham caído.

- É mesmo, Rony? – Harry respondeu com dificuldade devido ao esforço de se segurar. Não sabia quanto tempo mais ia agüentar o seu peso e o dos amigos.

Um solavanco os fez gritar de novo. Quando a corda se estabilizou, olharam para cima e viram que ela estava se partindo.

- Não vai agüentar o peso de nós três... – Hermione disse ofegante. Ela olhou para baixo, e o movimento a fez deslizar um pouco mais pelas pernas de Rony.

- Hermione! – Rony gritou.

- Tente soltar uma das suas mãos e pegar a varinha! – Harry pediu. – Ela era mais leve e segurava apenas o seu peso. Se conseguisse fazer um feitiço...

- Só dá para levitar há alguns metros do chão, Harry! – Hermione respondeu.

- Hermione... – ofegou, aflito, vendo que estava cada vez mais difícil arcar com o peso. - Pelo amor de Deus, então faça um outro feitiço qualq...

A corda cedeu mais um pouco. Isso pareceu ter encorajado a grifinória a tentar. Ela soltou uma das mãos, escorregando mais um pouco, mas conseguiu se estabilizar. Com o rosto contorcido pelo esforço, pegou a sua varinha e a apontou para a corda:

- “Engorgio”! – os fios da corda aumentaram de tamanho, o que retardou que ela se partisse. Mas o súbito aumento fez as mãos de Harry deslizarem mais e a corda balançou. Com isso, Hermione deixou a varinha cair.

- Oh, não... – ela sussurrou. Olhou para eles e disse, o tom grave: - Alguém tem que se soltar...

- Hermione, não! – Rony ordenou desesperado, percebendo o que a garota tinha em mente. – Nós não vamos te deixar! – as forças de Rony também estavam acabando.

- Rony tem razão! Não vamos deixar você! – Harry procurava uma saída. Se balançassem um pouco a corda...

Mas mal tinha dito as últimas palavras, e aquela estranha luz que os envolvera voltou. Ela aumentou de tal forma que parecia que o próprio dia os envolvia, obrigando-os a fechar os olhos para se proteger. Quando os abriram, o chão estava há apenas cinqüenta centímetros dos pés de Hermione. Sua varinha estava a um canto, e havia uma porta à esquerda.

Exausta, e não tendo mais tempo para pensar que poderia ser outra armadilha, pulou para o bendito chão... E ele era tão sólido quanto ela poderia desejar!

- Eu não acredito! – Hermione exclamou exausta, enquanto os garotos pulavam também. – Era um feitiço desilusório!

- Eu já tinha percebido que esse Regulus Black tinha um humor negro! – Rony disse mexendo os braços doloridos.

Harry abria e fechava as mãos vermelhas e machucadas enquanto olhava a porta à esquerda.

- O que estamos esperando? – disse aos demais.

- Er... Convencer-nos que realmente ainda estamos vivos? – Rony provocou.

***

Ana tinha estado sentada no chão, em um canto qualquer da aldeia, encostada em uma árvore. Mas não agüentou durante muito tempo os olhares dos centauros. Curiosos. Indiferentes. Raivosos. Ela poderia descrever todos eles pelo resto da tarde e ainda assim não se sentiria bem com isso.

Resolveu caminhar um pouco. De tão nervosa, acabou andando de um lado para o outro. Sua imaginação a estava torturando com visões do trio grifinório em perigo. Ou com ela tendo que dar a notícia aos parentes e amigos que, infelizmente, e por irresponsabilidade dela, eles... Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela obrigou-se a interromper a trilha de pensamentos. Balançou energicamente a cabeça. Não! Não iria acontecer nada com eles!

Quando passou pela milionésima vez pelo mesmo lugar, ouviu a voz de Quíron, fraca e impaciente:

- Pelos deuses, humana! Quer ficar parada? Está me enlouquecendo!

Ana bufou, mas parou. Sentou-se novamente no chão, há alguns metros de onde Quíron estava. Encostou-se em uma árvore próxima e fitou lugar nenhum, alheia à presença do velho centauro.

Não entendia porque, mas ele parecia disposto a manter uma conversa:

- Espero que tenham sido bem recebidos na floresta por meus irmãos centauros.

“O quê? Ele sabe perfeitamente a recepção que tivemos”. Ana tentou ficar impassível, mas sua naturalidade impulsiva deixou transparecer algo, porque o outro perguntou:

- Ah, tiveram atritos?

- Ãaa... Nada demais... – Ana fez um gesto com a mão de “não importa” – Só o momento básico de “A Humanidade Fede” que nossa raça está acostumada a ter em seus encontros com as demais...

O ancião sorriu para ela. E isso era estranho. Não sabia por que, mas tinha a intuição que centauros não sorriam. Bem, vira Firenze o fazer, mas, ainda assim, raríssimas vezes. E Firenze parecia ser feito de um material diferente destes centauros. Mais... Humano.

Ouviu uma pequena agitação que parecia vir da direção da entrada da aldeia. Os sons foram aumentando até que Ana pode perceber gritos. Gritos femininos... E furiosos!

Levantou-se, alerta, quando de onde estava conseguiu distinguir a figura de Magorian carregando em um dos braços uma garota. Ana conhecia aqueles cabelos vermelhos...

- Gina! – exclamou enquanto corria até eles. – Gina o que está...

Magorian não parou de andar, continuando a carregar Gina, que se debatia, distribuindo chutes e socos em seu captor. Confusa, ela seguiu-os.

Quando chegaram em frente à Quíron, ele soltou Gina, tendo o cuidado de não machuca-la, mas com o olhar deixando bem claro que a amarraria se fosse preciso.

- Gina, o que está fazendo aqui? – Ana perguntou.

Não se intimidando com o olhar de Magorian, pelo contrário, devolvendo-o, ela simplesmente olhou para Ana e indicou com a cabeça a entrada da aldeia. Ana voltou-se para aquela direção, enquanto Gina dizia:

- Esquecemos do olho mágico do Moody.

Alastor Moody apareceu sendo arrastado por dois centauros de cada lado, cada um segurando um braço seu de forma que o suspendiam do chão.

Após uma exclamação de pesar, ela disse para Gina:

- Ora... Não me olhe assim. Eu não sou infalível! Além do que, a idéia do feitiço ilusório foi do Harry!

Moody chegou (ou melhor: foi arrastado até ali) bem a tempo de ouvir as últimas palavras:

- Eu não esperaria isso de você, Ana! – os centauros o soltaram.

- Moody... Foi preciso... – voltando-se para Gina: - Você não contou tudo?

- Nem sob tortura eu contaria. – Gina respondeu. – Mas os métodos do Moody são muito bons e eu tive que dizer onde vocês foram.

- Será que tem mais amigos seus vindo para a nossa floresta? – Magorian perguntou a Ana, a voz acusatória.

- Desculpe, é que... Bem... Nós não saímos exatamente com o conhecimento dos nossos amigos... – Ana respondeu.

- Não acha que estão bem grandinhos para terem que saírem acompanhados? – Magorian zombou.

- Não quando Você-Sabe-Quem está atrás deles! – Moody se intrometeu. – E você, devolva a minha varinha!

- Moody! Você tentou usa-la contra eles? – Ana acusou.

- Eles estavam apontando flechas para nós! O que queria que fizesse?

- VOCÊ é o invasor aqui, humano! – Magorian retrucou.

- Chega! – Quíron interveio. – Magorian, acalme-se! – voltando-se para Ana: - Posso entender porque ele estaria atrás do garoto. Mas porque te persegue?

- Ele quer o bracelete. Todos querem este maldito bracelete! – Ana exclamou impaciente.

- Onde estão os outros? – Moody finalmente se deu conta da ausência deles e a preocupação substituiu a fúria.

Ana suspirou. Seria uma longa narrativa.

***

Abriram a pesada porta de madeira com certa cautela. Não seria de admirar se houvesse outra armadilha ali. Tudo bem. A porta estava aberta e ao que tudo indicava nada iria acontecer.

Entraram na sala simples, de terra batida e paredes cruas. A única iluminação vinha de um lustre cujo centro estava ardendo com um fogo mágico. Ao centro, uma mesa de madeira com seis pergaminhos.

Harry avançou para eles, mas Hermione o impediu:

- Não Harry! Pode haver feitiços protegendo-os. Deixe-me tentar alguns contra-feitiços antes, só para me certificar.

Ele afastou-se, concordando. Mas, após um minuto de Hermione murmurando contra-feitiços ele se impacientou e, olhando para Rony, que lhe fez um sinal de aprovação, Harry avançou para a mesa e pegou os pergaminhos, ignorando o grito apavorado de Hermione.

Por alguns segundos eles ficaram congelados em seus lugares, olhando ao redor esperando que algo desabasse sobre suas cabeças. Como nada aconteceu, os três suspiraram aliviados.

- Você é muito cautelosa. – Rony disse para Hermione.

- E você é imprudente. – ela retrucou.

- Gente... – Harry murmurou, o olhar fixo sobre um envelope na mesa, que antes estava escondido debaixo dos pergaminhos.

Ele deixou os pergaminhos novamente em cima da mesa e pegou a carta.

- Você acha que é...? – Rony perguntou.

Sem esperar mais, Harry abriu o envelope, quebrando o selo de cera que o lacrava. Uma letra miúda e redonda se apresentou:

“Meu caro visitante:
Minhas congratulações por ter chegado até aqui. Para isto, deve ter encontrado as pistas que deixei antes de partir. Sei que as charadas não estavam excepcionais, mas... Ora, eu sou um bruxo, não um filósofo! De qualquer forma, a verdadeira barreira a ser enfrentada estava não nas pistas, mas na entrada desta caverna.
Se veio sozinho deve ter visto amigos ou familiares em sérios apuros. Ilusões, é claro. Se são dois ou mais... Bem, devem ter passado por maus momentos, não é?”

- Eu disse! Humor negro. – Rony resmungou enquanto torcia o nariz.

“Espero que tenha sido você, Sirius, irmãozão! Daria toda a fortuna da família Black para ver a cara que você deve ter feito!
De qualquer forma, se passou pelo teste – e repito: este era o verdadeiro teste – Significa que você ou vocês são pessoas em quem posso confiar os conteúdos destes pergaminhos. Como deve saber, sentimentos também são um tipo de magia. E magia verdadeiramente poderosa. Arriscar a própria vida ou abrir mão dela por uma outra pessoa é exatamente o tipo que Comensais da Morte não seriam capazes de fazer. Principalmente... “Ele”. Este foi o muro impenetrável que pus entre eles e o caminho para derrotar o Lorde das Trevas.
Não me pergunte como descobri tudo o que está escrito neles. É uma história muito grande para ser posta em poucas páginas. O que importa é o porquê de me voltar contra eles... Contra Ele.
Eu era jovem demais quando fui enredado pelas palavras do Lorde. Estava ansioso por corresponder as expectativas que minha família tinha de mim. Eu não era como você, Sirius. Achava que sem o apoio da família viraria um nada... Que era o que eu me sentia lembra? Sempre buscando saber mais, sempre medindo forças com você e tentando provar a mim mesmo que era o “filho maravilhoso” que todos diziam que eu era. De certa forma achei que tinha roubado o lugar que por direito era seu, Sirius. Fiquei cego com as promessas que o Lorde me fez, com as coisas que ele me ensinava que me faziam achar falsamente que me tornavam mais forte, melhor...
Até o dia em que ouvi uma conversa entre Pedro Pettigrew e o Lorde. Ele trabalhava há um ano para nós. E, naquele dia, ele trouxera uma notícia que ultrapassava qualquer expectativa que pudéssemos ter do patético Pettigrew... Ele, e não você, era o Fiel Segredo dos Potters.”

Harry parou um instante neste trecho, a garganta subitamente seca e um ligeiro frio no estômago o fazendo respirar mais fundo.

- Deus... – Hermione sussurrou. Então, ela percebeu a palidez do amigo: - Harry...?

- Estou bem. – ele respondeu mecanicamente. Continuou a ler:

“Eles formularam um plano. Além deles, somente você e os Potters sabem que Pettigrew é o escolhido. Porque desperdiçar esta oportunidade? Pretendem matar os Potters e o filhinho deles e deixar que a culpa da traição recaia sobre você, Sirius. Assim eles destruirão a criança da profecia e ainda terão um espião que os ajude a acabar com os resistentes que persistirem em enfrentar o Lorde.
Escutar aquela conversa foi como despertar de um longo pesadelo. Um pesadelo que eu não queria mais! Já estava farto há algum tempo. Tantas mortes... E agora a de um bebê!
Tentei te encontrar. Mas você simplesmente sumiu do mapa. Acredito que tenha sido para reforçar a mentira de que você era o Fiel Segredo, acertei? Descobri que até mesmo nisso você é bom, seu filho da... Bem, vamos parar por aqui. Mamãe não iria gostar de saber que ando com estas linguagens, você sabe. Sim, sou hipócrita. Aprendi isso com você.
Vou destruir pelo menos um deles, Sirius. Um dos horcruxes. Sim, é a localização disto que estou escondendo. Os horcruxes de Voldemort. Ele os veio fazendo ao longo de sua vida e, enquanto não forem destruídos, ele será imortal.
Eu queria ter mais vidas para poder destruir os outros, mas não tenho. No entanto, quem sabe, se eu destruir um deles... Tenho esperança que isso o enfraqueça o suficiente para que os Potters possam salvar seu filho. Se Lílian Potter for tão inteligente quanto você disse que era... Então conseguirão.
Bem... Que longo desabafo você deve ter ouvido se não for meu irmão, não é? Mas não me importo. Que embaraço um morto pode sentir?
Despeço-me com os mais sinceros votos de que consiga acabar com a odiosa raça do Lorde das Trevas.
Cordialmente,
R.A.B.”

O silêncio reinou por alguns segundos. Até que Harry disse:

- Pode apostar que vou.

- “Nós” vamos, cara. – Rony emendou. – Você não está sozinho.

- Isso mesmo. – Hermione o apoiou.

Harry sorriu, verdadeiramente grato por ter seus amigos com ele naquele momento.

- Então vamos sair logo daqui.

- Demorou! – Rony respondeu.

***

Ana não contou a Moody sobre os horcruxes. Disse que tinham vindo até a floresta buscar algo muito importante, mas que não poderiam dizer o que era.

Moody bufou, ameaçou e até mesmo gritou, mas nem ela nem Gina disseram uma palavra. Finalmente elas disseram que tinha sido uma ordem de Dumbledore que o assunto permanecesse em segredo e Moody pareceu hesitar. Olhou firmemente para Ana, avaliando as chances dela estar dizendo a verdade.

Alastor Moody, mais conhecido como Olho-Tonto Moody, tinha sido o melhor auror que se conhecia. Sozinho, encheu metade das celas de Azkaban, a prisão dos bruxos. Sua brilhante carreira como auror havia lhe custado uma perna, um olho (que agora era substituído por um olho mágico capaz de ver até através da cabeça dele – muito útil quando ele estava de costas), e também um pedaço de seu nariz, além de várias cicatrizes. Hoje a maioria das pessoas achava que o ex-auror estava louco. Genialidade e loucura são frequentemente confundidas...

Bem... Ele não teria chegado até onde chegou se não fosse pela sua capacidade de julgar o caráter das pessoas. As garotas estavam dizendo a verdade, ele concluiu.

- Não façam mais isso sem falar comigo antes. – ele tinha dito finalmente, já mais calmo.

Agora estavam cada um em um canto, pensativos e preocupados com o que estaria acontecendo com os amigos. Ana tinha reassumido seu lugar perto de Quíron.

- Então... Onde estão seus mais jovens? – Ana havia notado a ausência de crianças, ou melhor... Potros, como eles chamavam.

Quíron pareceu se incomodar com a pergunta. Pela expressão dele, ela logo soube que teria sido melhor ter ficado calada.

- Está vendo alguma fêmea aqui, humana? – ele questionou com rudeza.

- Não. E nem esperaria ver, centauros não tem... – Ana arregalou os olhos, compreendendo a situação.

Os centauros eram, conforme as lendas, uma raça mestiça só de machos. Para se reproduzirem precisavam de fêmeas humanas. E pelo que sabia, os centauros vinham se isolando dos humanos desde o século XIV, quando preferiram serem classificados de “animais”. Reafirmaram esse desejo quando o Ministério fez a classificação definitiva entre “seres” e “animais” em 1811.

Mas, se esse isolamento implicava em obstáculo à própria renovação dos membros de sua comunidade... Isso era extinção consentida! Centauros viviam mil anos, mas e depois desses mil anos? O que aconteceria se não houvesse novas gerações para assumir o lugar das mais antigas?

Ana fixou o olhar no rosto do ancião:

- O que... O que fizemos de tão grave para preferirem isto a uma aproximação com humanos? – Ana estava chocada.

- O que vem fazendo ao longo dos séculos... – Quíron respondeu. – Sabe o seu famoso Hércules? Ele não era filho de um deus, naturalmente... Era um príncipe, cujo pai era um dos reis mais poderosos da época. O primeiro Quíron era um idealista, um sonhador. E, como um dos mais sábios entre os centauros, gozava de respeito entre os seus. Mas cometeu o erro de pensar que centauros e humanos poderiam conviver pacificamente, trocando conhecimentos. Foi pensando nisso que aceitou ser tutor de alguns príncipes, achando que esse seria o primeiro passo para a aproximação das duas raças.

- O que deu errado? – Ana perguntou.

- Como sempre, humanos são imprevisíveis. Os príncipes usaram os conhecimentos ensinados por Quíron em guerras e... Hércules os utilizou contra os próprios centauros. Quíron morreu profundamente decepcionado e em desgraça por ter sido a causa dos sofrimentos de sua raça. E a história vem se repetindo por todos esses séculos. A maioria dos humanos olha para nós como monstros, aberrações...

- Por isso expulsaram Firenze... – Ana concluiu.

- Sim! – Quíron exclamou furioso. – E não ouse dizer o nome do traidor!
- Mas... Firenze é a criatura mais gentil que conheci na minha vida! Digno de todo o meu respeito. Não acredito que mereça ser tratado assim...

- Ninguém sabe o quanto custou decretar o banimento de Firenze quanto eu. No entanto, meu filho, infelizmente, tem as mesmas idéias errôneas que o primeiro Quíron. As mesmas idéias que meu pai tinha...

Firenze era filho de Quíron!

- E ele está ensinado os humanos. – Quíron completou com amargura. – A História tem demonstrado que não importa quanto tempo leve, tudo o que os humanos aprendem logo é usado contra nós. Firenze está traindo a própria raça.

Ana não acreditava que ensinar Adivinhação aos alunos de Hogwarts fosse causar algum dano futuro aos centauros. Especialmente quando na maior parte do tempo, como ela lera no quinto livro, Firenze dizia aos seus alunos para não confiarem nos métodos de adivinhação!

Mas estava sem palavras depois de tudo o que ouviu. Olhou ao redor, vendo os centauros, pensando angustiada em seu futuro. Pesarosa do passado que as duas raças tinham tido. Inconformada com o presente. Uma lágrima correu por seu rosto sem que Ana tivesse percebido que ela estava lá.

Mas Quíron a notou:

- Em toda a minha vida, vi poucos humanos chorarem por nós. – a voz dele tinha se tornado um pouco mais amigável.

- Não sou a única capaz disso, eu lhe garanto. – ela respondeu buscando de alguma forma redimir a humanidade.

- Mas para isso é preciso ouvir. Poucos de vocês são capazes disso. Neste século mesmo, só lembro de você e de... Dumbledore.

- Então... Por Dumbledore, dêem uma chance a Firenze. Afinal, ele está em Hogwarts por ele. Por aquele humano que ouviu.

Ana sabia que algum respeito eles deviam ter por Dumbledore. O antigo diretor tinha sido o único que conseguira resgatar Umbridge dos centauros. E, no funeral dele, eles apareceram para dar sua última homenagem ao grande bruxo, ainda que o tivessem feito de longe.

- Não insista, humana. – Quíron balançou a cabeça, e encerrou o assunto.

Então, Ana resolveu ficar em silêncio. Apesar do jeito rude e bélico, ela sentia certa empatia pelo velho centauro. Agora que soubera quem era o seu filho, entendia porque, pois sentia a mesma coisa com Firenze. Eles tinham algo, que Ana não sabia explicar, que a fazia confiar neles.

Ouviu Gina soltar uma exclamação e caminhar em direção à uma das saídas da aldeia. Os centauros pareceram não se importar e Ana logo descobriu porque: Harry, Hermione e Rony tinham voltado. Agouro e Bane estavam logo atrás deles.

Sem correr, mas com os passos apressados e largos, Gina chegou até Harry. Ele estava surpreso por vê-la ali, mas retribuiu o abraço aliviado que a ruiva lhe dava.

Ana observava a cena de longe, agradecendo a todas as boas energias do universo pelos amigos estarem bem.

- Ela é a fêmea dele? – ouviu Magorian perguntar.

Surpresa, e tentando manter-se séria diante da expressão que Magorian tinha usado, respondeu:

- Sim... É a fêmea dele.

- Faz sentido. – ele disse pensativo.

- O que quer dizer?

- A ruiva tem o espírito guerreiro de uma amazona. Faz sentido que esteja com o Menino-Que-Sobreviveu.

Ela sorriu, analisando as palavras de Magorian. Concordava com ele. Fazia todo o sentido.

- Ah, finalmente apareceram! – Moody se pôs na frente deles.

- M-Moody? – Rony engoliu em seco.

- Mais tarde eu explico. – disse Ana, que já estava ao lado deles. Ela os abraçou: - Graças a Merlim vocês estão bem!

- Nós conseguimos, Ana! – os olhos de Harry estavam brilhando enquanto ele mostrava os pergaminhos.

Ana entendeu o que ele estava sentindo. Agora tinham esperanças de acabar com aquele pesadelo.

- Bem, será que podemos ir agora? – Moody perguntou, impaciente. – Afinal de contas, quanto tempo as mulheres podem ficar nas compras? – ele se referia a tia Agatha e a Tonks, que tinham saído com essa desculpa.

- Você ficaria surpreso, Moody! – Ana respondeu, sorrindo.

- Sim, vocês devem ir agora. – Magorian disse, mais parecendo que estava dando uma ordem.

- Quero minha varinha. – Moody exigiu.

- Quando estiverem fora de nossas terras, humano. – Magorian rebateu.

- Humpf! – Moody bufou. – Vamos, então. Vocês ainda vão ter que dar despedidas de solteiro para os noivos, lembram-se?

Os seis foram “escoltados” pelos centauros até a saída. Ana se lembrou de algo e voltou-se. Acenando para Quíron, despediu-se. O velho centauro devolveu o aceno com um movimento de cabeça.

Ana pensou que ainda teria que voltar àquela aldeia para cumprir a promessa que tinha feito. Claro que teria que resolver vários mistérios antes que tudo aquilo acabasse. Mas, agora, saía dela intrigada com um enigma. Um enigma chamado Quíron.

***
(N/A): Nossa, esse capítulo eu escrevi de teimosia! Apesar de todos os obstáculos, contra-tempos e cansaço, fui escrevendo um pouco de cada vez e consegui! Se vocês soubessem... Mas espero que não tenha saído muito baboseira...

Umlokoaew (ou seria Igor?): Obrigada por ter postado. Fico muito feliz quando comentam. Principalmente quando dizem que estão curiosos. É tão bom! Fique à vontade para dar opinião quando quiser, ta?

Ticia: Bem foi isso o que houve: festas de final de ano (família exigindo atenção, e que eu “saísse da frente desse computador”. Já viu, né?), reformas, detetização e, finalmente, faxina geral (tô moída). Para completar, dar conta dos RPGs que eu participo... Como eu comentei, escrevi este capítulo na teimosia. Mais uma vez, muuuuuuuuuito obrigado por acompanhar a fic.

Agradecimentos e abraços também às demais pessoas que acompanham a fic. Ah, em breve eu vou fazer uma alteraçãozinha no cap. 12 (esclarecer algumas coisas, que a Magia me chamou a atenção e eu acho que tem tudo a ver). Mas só vou fazer isso depois que eu “me recuperar” da maratona deste capítulo... He, he!

Comentem, por favor! Ou eu vou mandar o Barão Sangrento puxar o pé de vocês à noite! Brincadeirinha... Amo todos! Abração!

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