Uma Janela Para o Passado



Bocejos. Risadas. No dia seguinte, a cozinha de Smith House estava repleta de brincadeiras... e de resmungos sonolentos.

As despedidas de solteiro tinham ido até tarde. A de Tonks foi feita em casa. Além das mulheres que já estavam lá, vieram a mãe de Tonks, a Sra. Weasley, Fleur, Minerva McGonnagal (surpreendentemente leve e informal) e, à convite da Sra. Weasley, mais duas amigas de Tonks que também eram do Ministério, embora não fossem aurores.

Os homens foram comemorar o “laçamento” iminente de Lupin no Três Vassouras, regado à muita cerveja amanteigada e firewhisky. Estavam lá Moody, o senhor Weasley, Gui, Rony (todo orgulhoso por ser considerado um “homem” para participar), Harry e os gêmeos. Até Carlinhos viera da Romênia, pois era um dos padrinhos e tinha que participar dos preparativos para o casamento, que ocorreria em três dias. E, como não podia faltar, o amado Hagrid – que estava especialmente saudoso de uma certa diretora francesa...

Os noivos se surpreenderam quando lhes disseram que tinham sido preparadas duas festas de despedida de solteiro. Cada qual achava que aquela movimentação toda na casa era por causa da despedida de solteiro do outro. Ana tinha então levantado os braços e com uma expressão coquete exclamara: “Supreeeeeeeesa!”

O fato das festas terem sido usadas como desculpa para poderem sair de Smith House sozinhos não os impediu de realmente preparar despedidas de solteiros que Lupin e Tonks não esqueceriam facilmente. Ana não sabia o que os garotos tinham arranjado para Lupin (ela nem queria pensar nisso, especialmente se os gêmeos tivessem sugerido algo); mas ela, com a longa experiência do número imbatível de um casamento por ano na família Anhanguera, apresentara atividades para lá de divertidas. Com a ajuda de Gina e Hermione adaptou os desafios pelos quais uma noiva deve passar em um “Chá de Panela” brasileiro.

- Bom dia a todos... – Ana entrou na cozinha tentando inutilmente segurar um bocejo.

Seis pessoas naquela cozinha tinham motivos para estarem mais cansadas do que os outros. Afinal, não se podia dizer que as visitas à Floresta Proibida fossem uma forma de relaxar...

Depois de terem ouvido sermões de Moody durante todo o trajeto (os sermões de Moody eram, digamos, bem amedrontadores), finalmente chegaram em casa. Só então Moody se calou, mesmo que a casa estivesse vazia. Os garotos estavam em dúvida se ele não contou para os demais por que teria intuído a importância do que eles tinham ido buscar, ou se não queria que os outros soubessem que tinha sido enganado por um bando de garotos. Bem, garotos e uma moça da Inteligência, é verdade... Mas era da inteligência trouxa!

Quando se viram livres, os cinco correram para o quarto de Ana e analisaram os pergaminhos. Havia seis deles.

- O diário tinha estado com Bellatrix – Harry comentou surpreso.

- É... – Ana respondeu distraída. – Ela deve ter dado para o cunhado quando viu que iria para Azkaban. Na certa, esperando que isso trouxesse seu mestre de volta.

- Então eles sabem? – Hermione tinha perguntado.

- Bellatrix... Talvez. Mas Malfoy, acho que não. Pelo menos, penso que nem Voldemort confiaria em Lucio Malfoy! Não... Acredito que ele não tinha uma noção exata do que significava aquele diário quando o entregou para Gina, há seis anos; ou seja, que era uma parte da alma de seu Lorde.

Foram descartando as horcruxes já destruídas. Primeiro, a verdadeira que estava na caverna: o medalhão tinha sido destruído por Regulus Black.

Além dela, mais duas também haviam sido destruídas: o diário do então “ainda” Tom Riddle; e o anel de Servolo, que Dumbledore destruiu, custando-lhe a mão.

Então sobravam três delas. Um objeto de cada fundador de Hogwarts, excluindo-se Sonserina, que já possuía o medalhão. O da Lufa-Lufa, conforme Dumbledore havia desconfiado, era o cálice de Hufflepuff. Um dos pergaminhos apontava para um objeto que havia pertencido à Ravenclaw. O sexto e último, porém, estava vazio. Nele, havia apenas um parágrafo:

“Não estranhe este pergaminho não conter mapas e descrições de armadilhas. Porque este é um aviso. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado pretende fazer mais um horcrux. Está esperando matar alguém que represente algo importante para ele para criá-lo. Talvez, quando você encontrar estes pergaminhos já o tenha feito. Infelizmente não posso ajudá-lo com isto. Mas posso afirmar que, se o sexto horcrux tiver sido feito, terá que destruí-lo antes de enfrentar o Lorde das Trevas. Só depois ele se tornará mortal novamente. O máximo que posso lhe dizer é que ele procurava um objeto de Gryffindor. Não tenho conhecimento se o encontrou. ”

- Estava fácil demais. – Harry disse com uma surpreendente resignação.

- Espere um pouco... – Hermione falou. – Então Nagini não é uma horcrux!

- Eu nunca entendi direito que raio de criatura aquela cobra é... – Rony comentou.

- Verdade. – Ana concordou. – Não é um Basilisco. Mas tão pouco é uma cobra comum. Nem no Brasil temos cobras assim!

Harry manteve um braço em torno da cintura de Gina, e ela pousou a cabeça em seu ombro. Ambos fitavam os pergaminhos com expressão de solene gravidade. Eles representavam o início de uma dura caminhada que determinaria o futuro do mundo. E... O futuro deles.

Os outros três perceberam isso e disseram que iriam encaminhar as coisas para as despedidas de solteiro e que Harry e Gina “guardassem” os pergaminhos. Assim pelo menos o casal teria um tempo para ficarem juntos e conversar.

Agora, na manhã seguinte, tudo indicava que eles estavam dispostos a esquecer que Voldemort existia e estavam conseguindo ter uma conversa despreocupada e alegre. Até que Agatha entrou na cozinha, com uma expressão aflita:

- Ana, eu tentei querida, eu realmente tentei. Mas há duas semanas eles estão impossíveis! Desde que os rumores do tribunal se espalharam... Eles não sabem exatamente o que aconteceu, é claro. – fez uma expressão de desgosto. - Mas o feitiço do Mistério foi ruim o suficiente para que soubessem de você!

- Eles quem, tia? – Ana não estava entendendo nada. Olhou para as demais pessoas na cozinha, mas estavam tão confusas quanto ela.

Agatha continuou a falar aflita, ignorando a pergunta da sobrinha, desta vez andando de um lado para o outro com uma agilidade insuspeita para alguém que precisava se apoiar em uma bengala:

- Eu inventei mil desculpas, tentei adiar ao máximo que viessem aqui, mas... Agora é tarde demais! Vi alguns deles descendo na estação de Hogsmeade, quando fui comprar mais coisas para o almoço. Mas sei que eles não serão os únicos! Se ousaram vir até aqui sem me avisar, é porque armaram um complô. Ouça o que estou dizendo: os outros virão! Posso apostar minha vida nisso!

- Tia! – Ana disse mais alto, tentando chamar a atenção da senhora. – “Eles quem”? – frisou cada sílaba para não restar dúvida da pergunta.

Batidas na porta. Agatha soltou um gemido de desgosto. Respirando fundo, como se dissesse “agora não tem mais jeito”, ela foi para a sala, sendo seguida pelo grupo da cozinha, agora curioso.

Antes que chegasse até a porta, esta se abriu e os visitantes entraram sem esperar serem convidados:

- Tia Agatha! – disse espalhafatosamente uma mulher de meia-idade, os cabelos loiros curtos na altura do queixo, baixinha e gordinha. – É tão bom estar de volta!

Enquanto os outros recém-chegados – a maioria também de loiros - soltavam exclamações de apoio ao que a mulher dissera, tia Agatha finalmente respondeu para Ana:

- Eles. – apertou os lábios em sinal de desgosto. – Parentes.

O grupo se aproximou de Agatha, com os braços abertos para abraçá-la, aparentemente indiferentes à demonstração de desagrado da mulher mais velha. Ana olhava boquiaberta para a cena, pensando que a vida no povoadozinho de Hogsmeade poderia guardar mais surpresas do que se supunha inicialmente.

***

Draco estava próximo à janela do segundo andar, tentando pegar um pouco de ar fresco. Estava desesperado por um pouco de liberdade. Mas a janela era o máximo que podia ter.

Não sabia como estava agüentando aqueles meses. Não tinha paz um único minuto. E tinha medo sempre. O Lorde das Trevas sabia como manter seus seguidores tão aterrorizados que nem sequer pensavam em traí-lo. Não era como seus pais tinham descrito para ele. Nada mesmo. Aquilo era um inferno.

Estava até mesmo com saudades do Potter. De IMPLICAR com ele e com aqueles amiguinhos dele, o pobretão e a sangue ruim, é claro. Não pôde evitar um sorriso triste ao pensar isso. Nem pôde evitar o jargão “Eu era feliz e não sabia”.

Ainda pensava deles tudo o que pensava antes. Odiava-os tanto quanto antes. Também tinha a consciência de que o que havia entre Potter e ele passara da simples implicância e rivalismo, principalmente depois da cena do Expresso de Hogwarts. Principalmente depois de... Dumbledore.

Mas sua vida com o Mestre não era melhor como seus pais haviam prometido. Aquilo não era vida: seu pai preso, e a mãe e ele vivendo praticamente como prisioneiros, sentindo medo demais para pensar em qualquer outra coisa que não fosse manterem-se vivos.

- Draco! – era o Lorde.

Draco fechou os olhos, angustiado. Ele nunca ficava muito tempo sem saber onde estavam seus seguidores. Tentando resignar-se e manter-se forte, suspirou. Era melhor descer de uma vez, antes que ele se irritasse.

***

A mulher loira que entrara primeiro revelara ser “prima Ernestine”. Os demais também eram parentes, ou pessoas ligadas a parentes por casamento. E, tia Agatha estava certa. Depois que o grupo de Ernestine ter chegado, mais deles vieram. Todos eles com o mais deslavado fingimento de que sua presença ali era muito natural.

Rampell estava de um lado para outro, trazendo guloseimas e refrescos para os visitantes. Ele estava radiante por poder servir tanta gente, especialmente por serem da família a qual seus antepassados serviam por séculos. O velho elfo havia encontrado mais três ou quatro de sua espécie que eram seus parentes, servos dos recém-chegados. Ana e Hermione trocaram um olhar: teriam um looooooooongo trabalho na F.A.L.E. Talvez, se os Smiths fossem tão justos como pavoneavam por aí, eles aceitassem o papel de serem a primeira família bruxa a libertar todos os seus elfos... Falaria isso mais tarde com Hermione.

Ernestine a estava presenteando com a mais interminável conversa sobre casamentos na família Smith. Isso, depois que Ana comentara que tia Agatha e ela estavam ocupadas com um, na esperança de que ela e os demais compreendessem que deveriam ir embora. O que obviamente não deu certo.

- Ah, lembro-me que sua mãe esteve no meu! – disse Ernestine, elevada com as próprias lembranças. – Ela e eu éramos muito próximas. Como unha e carne, entende?

“Tão próximas que você não só não sabia que ela tinha uma filha, como que eu não tenho idade para ser filha dela”, pensou Ana. “Se não fosse o feitiço do tempo de Dumbledore...”.

Finalmente, um homem alto e magérrimo (loiro, evidentemente), cujo nome Ana acreditava ser “tio Bernard”, chamou Diane para um canto da sala, onde estava o “legipiano”. Tratava-se de um piano mágico que tinha o poder de tocar a música que estava na mente da pessoa que sentava à sua frente.

Parecia que um pequeno sarau estava sendo organizado por seus familiares.

Enquanto olhava as pessoas se aglomerando ao redor do piano, sentiu alguém se aproximar à suas costas. Como sempre, não precisava virar-se para saber quem era. Carlinhos tinha saído com Lupin para ajudar em alguns detalhes do casamento antes que aquela “multidão” tivesse chegado. Voltou e encontrou o dobro de pessoas que tinha deixado.

- O que é isso? – a voz dele estava entre a surpresa e o divertimento.

- “Isso” – respondeu Ana com desagrado. – São os Smiths.

- Ah, sei... Parece que a família Weasley não é a única a sofrer de monocromia capilar, não é? – Carlinhos abafou o riso, enquanto observava o “mar dourado” em volta do piano, de onde vinham sons de canções animadas.

- Engraçadinho.

- Você não parece muito feliz em conhecê-los. – ele comentou.

- Não é isso... – Ana tentou buscar as palavras. – É que... Onde estava toda essa gente nos quarenta anos que tia Agatha praticamente foi banida da família? Como eles se atrevem a aparecer na casa dela como se nada tivesse ocorrido?

- Talvez eles só estejam buscando uma segunda chance, Ana. – Carlinhos disse suavemente. – E, depois, toda família tem seus Percys. – brincou, brindando-a com mais um daqueles seus sorrisos “pára-coração”.

Ana tentou não acha-lo encantador. Mas como fazer isso quando ele era tão atencioso, sempre com as palavras certas para confortá-la... Ou irritá-la, concluiu com certo humor.

- Acho que tem razão. – Ana sorriu. – Até que tem gente bem legal aqui. Como o tio Caius – disse indicando um velhinho que, pela idade, aparentava poder ter sido colega de turma de Dumbledore. – Ele é muito espirituoso.

Ana omitiu que descobrira de quem tinha herdado a língua ferina: tio Caius era tão rápido com as palavras quanto mortal. “Ele compensa o fato de ser parente de Zacharias Smith”, pensou enquanto fitava o rapaz que não tinha parecido nem um pouco feliz por ver Harry.

Bem... Até mesmo tia Agatha parecia ter perdoado os parentes. Só tinha tentado impedi-los de conhecer Ana para não por em risco a “Ana do presente”, cuja localização, no Brasil, deveria permanecer em segredo. Principalmente agora com os comensais mais envolvidos do que nunca. Mas os Smiths eram bem persistentes!

O grupo em torno do piano estava cada vez mais animado. Ana sorriu. Realmente, eles não eram tão ruins assim. Intrometidos e espalhafatosos, mas... Boa gente, no geral. Olhou para Carlinhos com uma expressão divertida que foi correspondida. Eles se compreendiam só com o olhar. A descoberta trouxe um frio na barriga de Ana, como se ela estivesse caindo em uma montanha russa. Deus, como isso era bom!

Sem desviar o olhar, Carlinhos deu um passo em direção a Ana. Parecia que iria dizer alguma coisa, quando Rony se aproximou:

- Ele não está bem. – o garoto disse sem rodeios.

Ana piscou, o encanto do momento quebrado. Olhou para Carlinhos, que estava indignado com a interrupção do irmão. Hermione apareceu logo atrás, também insatisfeita pela falta de desconfiômetro do namorado.

Na busca de entender o que Rony estava falando, seguiu-lhe o olhar: Harry, sentado cabisbaixo em um dos sofás do canto mais isolado da sala.

- Ele leu o trecho sobre o espelho de Ojezed. – Hermione disse.

Harry havia subido para o seu quarto depois que os Smiths finalmente o deixaram em paz. Todos queriam falar com o “Eleito”. Exceto “Zach”, é claro. Ana começou a chamar Zacharias por esse apelido tão logo percebeu que isso o irritava.

Antes que pudesse pensar em algo que alegrasse o amigo, Diane e tio Bernard a puxaram para perto do piano encantado. “Vamos, vamos, querida!” “Toque algo para nós!”

Assim, ela se viu em frente ao legipiano, ainda pensando no que Harry devia ter sentido: ver os pais naquele espelho, sorrindo e acenando para ele... Então, as teclas do instrumento começaram a se mover sozinhas – uma cena que lembrava filmes trouxas sobre fantasmas – e um som suave e melancólico encheu a sala. Ana reconheceu a melodia e não se surpreendeu por ela vir a sua mente naquele momento. Era uma daquelas músicas capazes de marcar a fogo as nossas lembranças e associarem-se eternamente a algo ou alguém.

Quando a última nota ressoou, ela ergueu os olhos e percebeu que as pessoas estavam emocionadas, algumas até mesmo enxugando uma lágrima furtiva. “Isso foi lindo!”, diziam.

Ana sorriu, agradeceu e antes que tivessem a idéia de pedir que tocasse novamente, levantou-se e foi falar com Harry. Carlinhos, Gina, Rony e Hermione já estavam com ele.

- Foi uma canção muito bonita. – Harry comentou. – Como se chama?

- “A Window To The Past” – ela respondeu.

- O título combina… Pareceu que meus sentimentos estavam traduzidos nela.

- Verdade? – Ana arregalou os olhos.

- Porque o espanto?

- É que... – ela hesitou um pouco, avaliando se a informação iria ajudar ou atrapalhar. Disse baixinho: – É uma das músicas-tema do filme “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”.

- Prisioneiro... – Harry começou. – Meu terceiro ano?

- Sim. – não era necessário dizer mais nada. Foi quando Harry havia descoberto que os pais haviam morrido porque um amigo os traíra.

O grupo ficou em solene silêncio por alguns minutos. Até que Ana fez uma careta intrigada e comentou, sussurrando:

- Peraí... Eu consigo falar sobre os filmes? – ela abriu um sorriso travesso. – Será que isso quer dizer que eu posso falar sobre... – ela fez uma pausa cheia de expectativa: - Os sites de Harry Potter? – o sorriso se alargou e ela continuou: - Os fóruns de discussão de HP? As páginas de armazenamento de Fanfics? Uau! – concluiu sorrindo - Eu posso! É claro, não são livros, e o Ministério não tinha como saber!

- Fóruns de discussão? Sites? – Hermione perguntou, também sussurrando, enquanto franzia a testa em sua típica expressão. – Quer dizer... Internet?

- O que é isso? – Rony perguntou.

Hermione tinha nascido trouxa, e os pais dela eram dentistas. Era natural que soubesse da Internet, mas os Weasleys eram uma família de bruxos.

- É. – Ana respondeu. – Comunicação trouxa, como televisão, só que em vez de só ficar recebendo informação, é possível trocá-la também.

- E as pessoas... Discutem sobre a gente? – Hermione disse apreensiva.

- Sim, e fazem banners e desenhos, e até assinaturas com as fotos dos atores que fazem os personagens, digo... Bem, vocês entenderam. – ela deu um risinho baixo: - Uma vez conheci cara muito legal, um tal de Thiago Lupin... Não se preocupem, é só um apelido da Net... Bem, ele pôs como sua assinatura a foto da atriz que faz a McGonnagal, com a frase: “Eu amo essa velhinha!”.

- Ana... – Gina disse com a voz tensa e baixa, para que as pessoas do outro lado da sala não ouvissem: - Você está nos assustando de novo.

- Ah, desculpem... – Ana parou de sorrir, constrangida. – Me empolguei de novo.

A essa altura Harry já estava sorrindo:

- Merlim, é muita informação de uma vez só, Ana! – e então o sorriso foi diminuindo, fitou o chão, a expressão pensativa: - “A Window To The Past”... Uma janela para o passado... – olhou para Ana: - Você voltou ao passado... Se...

Ana balançou a cabeça negativamente de forma enérgica, assustada:

- Não Harry! Mesmo se descobríssemos como Dumbledore fez isso, não poderíamos.

- Porque não? – ele parecia contrariado.

Ela olhou para os visitantes. Estavam entretidos com uma estória que Moody estava contando sobre a época em que era auror.

- Vamos para a biblioteca. Deve estar mais calmo lá.

Ana deixou que todos se acomodassem para começar.

- Vai ser mais fácil se eu usar um exemplo. Vocês conhecem um autor trouxa chamado H.G. Wells? Não? Bem, não me admira. Ele escrevia ficção científica... Há um livro dele chamado “A Máquina do Tempo”.

- Ana... – Carlinhos a interrompeu gentilmente, e pelo tom de voz estava se desculpando antecipadamente pelo que ia dizer: - Em quê a ciência pode ajudar quando se trata de magia?

Pronto. A capacidade dele de irritá-la de novo. E não era uma irritação qualquer: parecia que ele verbalizava as próprias dúvidas de Ana.Realmente, não tinha certeza se era aplicável às coisas feitas com magia.

- Olha, Carlinhos – Rony falou. – Acredite, é melhor não desprezar o conhecimento trouxa. Esses tais escritores deles são muito inteligentes.

Ana sorriu para Rony, enquanto Carlinhos aparentava não entender o súbito respeito por conhecimento trouxa do irmão. Ana continuou:

- A lógica pode ser aplicada a qualquer área do conhecimento. E é ela que eu vou usar. – ela parou, tentando organizar os pensamentos e explicou:

“A história se passa na virada do século XIX para o XX. O personagem principal do livro é um cientista brilhante, um físico com idéias pouco ortodoxas sobre... Viagem no tempo. Os seus colegas costumavam zombar dele, mas ele não se importava. Não ligava para o que as pessoas diziam.”

“Um dia, o jovem cientista se apaixonou. Ele marcou um encontrou com a moça em questão em um parque, onde pretendia pedi-la em casamento. Ele foi para lá empolgado, estava nervoso, mas feliz. Em determinado momento pediu para que fossem conversar em um lugar mais afastado, pois não queria uma platéia para seu pedido. No entanto... Um ladrão os abordou justo no momento em que ele fazia o pedido e dava o anel de noivado à sua amada. A jóia despertou a ganância do malfeitor e... Bem, no final ele acaba matando a moça.”

“O cientista ficou desesperado. Trancou-se em seu laboratório, alheio ao mundo. Tudo que importava a ele era achar um meio de construir uma máquina do tempo, na qual poderia voltar a aquele momento e impedir a morte dela. Após quatro anos, ele conseguiu. Entrou na máquina e voltou ao fatídico dia. Encontrou-a no parque e a tirou de lá, levou-a para longe... Longe do assassino. A salvo. Ou ao menos era o que ele pensava. Porque, enquanto ele entrava em uma loja para comprar flores para ela... Uma carruagem a atropelou, e ela morreu. Novamente.”

“Não importava quantas vezes ele voltava, tudo sempre terminava do mesmo jeito. Sua amada morria. Sem entender porque não podia mudar o passado, resolveu ir ao futuro, onde as pessoas pudessem ter a resposta. Mas houve um acidente, e ele acabou avançando milhares de anos. Encontrou um mundo pós-apocalípse, onde os sobreviventes tinham se dividido em duas raças: a humana, e uma outra, que tinha se modificado geneticamente... Ela era mais frágil, mas tinha poderes mentais incríveis.”

“Então, essa raça lhe disse porque o passado não poderia ser mudado. Ele havia construído a máquina para salvar sua noiva. Ela era o motivo. Se ela não morresse, ele não teria porque voltar ao passado para salva-la... E então, tudo permaneceria igual, em um círculo vicioso.”

- Meus pais seriam o motivo. Ou Sirius. Ou Dumbledore. – Harry concluiu.

- Sim, Harry. Infelizmente. E, se eles não morressem, a nova seqüência de fatos faria com que você não precisasse mais voltar ao passado.

- Mas eu e Hermione...

- Naquela vez, se vocês pensarem bem, tudo já estava ocorrendo como vocês tinham planejado. Só não perceberam da primeira vez que fizeram tudo.

- Hermione e Harry usaram um vira-tempo para salvar Sirius da prisão, em nosso terceiro ano. – Rony explicou para Carlinhos.

Ana fez um sinal de afirmação com a cabeça e continuou:

- Uma pedra jogada fez com que saíssem da casa de Hagrid a tempo. Pedra jogada por vocês mesmos. E Bicuço foi libertado por vocês, mas como não se atreveram a ver a execução, não sabiam disso. E assim por diante, até que só sobraram poucos minutos para apanharem Bicuço e ajudar Sirius a fugir. Mas tudo já estava lá. Nada do que fizeram alterou aquele conselho que Dumbledore fez na enfermaria.

- E quanto a você? – Rony perguntou.

- Eu não estou aqui para alterar nada. – Ana deu de ombros. – Dumbledore não sabia o que aconteceria no futuro. Só... Achou que eu seria útil. Adivinhou, se preferirem o termo. Nada no passado vai impedir que aquele livro chegue às minhas mãos, daqui a oito anos. É uma seqüência contínua de fatos que se originou de uma única decisão de Dumbledore há seis anos, mas que não terão nenhuma ligação comigo até lá.
Hermione olhou para Ana, estupefata:

- Então... Você... Quer dizer... Seu “eu” do presente...

Ana suspirou pesarosa. Hermione havia entendido:

- Sim. Vocês não poderão entrar em contato comigo antes. – ela fitou Carlinhos, a alma doendo ao dizer cada palavra. – Eu cheguei até aquele momento sem conhecer o mundo mágico. Isso me fez ser quem eu sou, tomar as decisões que tomei na vida. Se alterarem isso, poderemos perder algo pequeno, mas de grande significado. Como aqueles minutos que libertaram Sirius.

Carlinhos não pronunciou uma palavra, embora ele e Ana continuassem a se fitar depois que ela terminou. Ele estava apertando as mãos com força, o maxilar também tenso. Finalmente, ainda em silêncio, rompeu o contato visual e deixou a biblioteca.

Seus olhos se encheram de lágrimas e Ana reprimiu um soluço. Gina se aproximou dela, tocando seu braço de forma gentil e disse, suavemente:

- Vá.

- Não. – Ana balançou a cabeça. – Ele está com raiva. Não vai querer falar comigo agora.

- Eu conheço meu irmão. Vá atrás dele.

Ana fitou Gina, agradecida, e foi procurar por Carlinhos. A porta que dava para o jardim estava aberta, e se dirigiu até lá. Encontrou-o perto de uma árvore, de costas para a entrada, a testa apoiada no tronco da planta como se esperasse que ela lhe desse forças. O coração de Ana se apertou. Era isso que queria evitar desde o começo. Com novas lágrimas quentes a correr por seu rosto, chamou, a voz entrecortada pelo nó que estava em sua garganta:

- Carlinhos...

Ele voltou-se, e sua expressão, um misto de dor e fúria, a assustou. Era um rosto transtornado. Mesmo assim, havia algo a mantendo ali. Não podia sair. Tinha que fazer algo, tinha que conforta-lo. Sem desviar por um segundo o olhar do dele, abriu a boca para falar, embora duvidasse que encontrasse as palavras. Mas Carlinhos a surpreendeu quando a puxou para si, beijando-a violentamente. Era um beijo que demonstrava raiva, frustração e desespero. Mesmo quando ele pressionou o corpo dela contra a árvore, mantendo-a junto a si, não protestou. Sabia que era o jeito que ele encontrara de extravasar tudo o que sentia. E se Ana poderia dar aquele alívio a ele, não o negaria.

O beijo foi se suavizando, até que a raiva virou paixão, e esta se transformou em carinho. Quando Carlinhos finalmente separou seus lábios dos dela, disse pesaroso:

- Por que, Ana? Por que fez com que eu te amasse?

Essas palavras fizeram todo o pesadelo de Ana vir à tona. Se ela tivesse sido mais forte, se não o tivesse deixado se aproximar... Sabia desde o começo, devia ter parado a tempo!

- Eu... Não queria... Eu... – as lágrimas brotavam com toda a força de seus olhos. Sem saber o que dizer, concluiu, a voz sumida: - Desculpe...

A palavra mexeu com Carlinhos. Depressa, ele a abraçou, pousando sua cabeça no ombro dele:

- Não, não peça desculpas. A culpa não foi sua. Quem tem que te pedir desculpas sou eu, me perdoe. Não lamento te amar, Ana. Nunca irei.

- Tentei achar uma saída, mas não há. – Ana não conseguiu impedir um soluço. – É...

- Não! Não diga que é impossível. Não posso te perder, entende? – então ele ergueu gentilmente seu rosto, de forma que seus olhares se cruzaram; o dele, demonstrando mais amor que Ana pudesse imaginar existir: - Não me deixe. – Ana fechou os olhos. Não poderia prometer aquilo. Mas ele continuou: - Se não para sempre, pelo menos por esta noite. Não me deixe esta noite, Ana.

Ela abriu os olhos e admirou o rosto do homem que amava. Nada lhe pareceu tão justo, tão natural. E foi com esta certeza que respondeu:

- Não deixarei.

***
(N/A): Xiiiiiiiiiii... Acho que vou ter que alterar a classificação da fic! Desculpem, mas achei que a cena era totalmente necessária. Não tinha como dar sentido para o restante da fic sem ela. Espero que eu não tenha exagerado na dose e tenha ficado muito novela mexicana (nada contra novelas mexicanas, já me viciei em muitas delas na vida...).

E... Desculpem pelo tamanho. Não sei como ainda não desistiram da fic! Valeu por agüentarem, pessoal! É que, como meus amigos dizem, quando “baixa o santo escrevedô” em mim... Comecei conseguindo modestas cinco páginas por cap., e agora já cheguei até a um “mostro” de dezenove páginas! (em Bookman Old Style, 12).

De forma que, classifiquei meus caps. nas seguintes categorias:

Até 5 páginas – Prof. Flitwick.
De 6 a 10 – Normal. “Dursleys” (há, há! Dursleys normais! Piada!).
De 11 a 15 – Hagrid (meio-gigante).
Mais de 15 – Grawp. (gigante mesmo).

Este foi um Hagrid: Buáaaaaa! Não consigo reduzir! Mais uma vez, desculpem!

Bem... Vamos ao comentários:

Sally Owens: Apesar de já ter dito tanta coisa através dos e-mails, ainda vou responder aqui. Obrigada pelos elogios! Desde que descobri a grande escritora que você é - gente, eu recomendo a fic da Sally, ela escreve muito bem – cada elogio seu se transformam em uma grande honra também. E não digo isso só porque você pegou a Ana emprestada (o que, aliás, faz com grande competência), principalmente porque não sou pessoa de gastar elogios à toa! Mas vc realmente merece!
Quanto a Snape... He, he! Aguarde o próximo cap! Tenho muitas idéias na cabeça! Mas, pelo que vc demonstrou na sua fic, parece que a minha idéia vai ao encontro da que você criou na sua (foi como eu disse por e-mail: parece “transmimento de pensação”!).

Magia: Ô amiga! (Sim, porque já te considero assim). Você disse duas vezes que não consegue se expressar tão bem escrevendo mas... Conseguiu me deixar sem palavras! E olha que eu falo pelos cotovelos, como vc já deve ter percebido... Você escreve bem, sim! Pára com essa conversa "Rony". É uma honra para mim que a minha fic seja a primeira que você comentou. E é bem como eu te falei: adoro que comentem ou que me mandem e-mails com dúvidas, sugestões... Quero que esta seja “nossa fic”, não só “minha fic”. E mais uma vez, obrigada por dar toda esta atenção para HP e o Segredo de Sonserina. Vou parar por aqui senão vou chorar! Não deixa de postar, viu? Fico ansiosa esperando os seus comentários.

ChampionBR: Olá, moço! Aqui está o cap. que vc tanto me infernizou pelo MSN para postar (he, he!). Aproveito para agradecer os elogios (tanto os daqui quanto os de lá) e também pelas sugestões que me deu. Ah! E quero explicar que aquela dúvida (aquela, sabe?) sobre o Draco e o Voldie vai ser respondida no próximo cap. Não deu para colocar aqui, senão este iria de Hagrid para Grawp! Obrigada, e volte sempre!

E, meu agradecimento especial ao THIAGO LUPIN, usuário do Fórum Grimmauld Place, por ter deixado eu citar sua assinatura aqui nesta fic! Mais uma vez, obrigada, Thiago.

Queria avisar que a fic está quase no fim. Calculo que vão ter uns três ou quatro capítulos ainda, mais ou menos. Antes que me perguntem, não tenho idéia do tamanho deles! (depende do caboclo escrevedor que baixa em mim).

E... Esse foi sem revisão. Provavelmente vou fazer umas alterações ainda, mas nada demais. Pelo menos eu acho. E também acrescentei dois parágrafos no cap. 12, para esclarecer algumas coisinhas lá.

Bem... Acho que é isso (são duas da manhã, tá difícil pensar).

Beijos para todos e COMENTEM! Por favor, por favor, por favor! (igualzinha à Ana pedindo para o Harry deixar ela abrir o Mapa dos Marotos, he, he!).

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