Descobrindo Agatha



Como todos já tinham tomado café, Ana era a única na mesa agora. Vestia calças jeans, camiseta e tênis, parecendo outra pessoa.

Sentada ali, mais lembrava uma criança na Disney. Sorria sem parar, os olhos brilhando de felicidade enquanto observava tudo ao redor.

- Eu nunca vi alguém tão contente em comer a comida da mamãe só por ser a comida dela! – Rony comentou com os amigos, do outro lado da cozinha. – Bem... Talvez meus irmãos, quando voltam para casa.

Gabrielle tinha voltado para casa de manhã cedo, antes de Ana acordar, através de uma chave de portal. Ana conversava com o senhor Weasley, Lupin, Tonks e Moody. Carlinhos estava fazendo qualquer coisa no jardim, preocupado em não se dar conta da presença dela, sendo que tinha convocado os gêmeos a ajudá-lo.

E Ana não parava de exclamar:

- Eu não acredito que estou na Toca!

A certa altura, Tonks comentou, divertida:

- Do jeito que fala, é como se estivesse na casa do Ministro da Magia.
- Não há um só fã de Harry Potter que não pense que Arthur Weasley merecesse ter este cargo. – Ana respondeu com a simplicidade própria de quem fala com o coração.

- Ora... – o senhor Weasley enrubesceu. – Que é isso...

A senhora Weasley já tinha decidido que gostava imensamente de Ana, não importava de que universo ela vinha. Em poucas horas, ela tinha feito desaparecer todo o estigma que sua família sofrera - especialmente pelos Malfoy. Embora não entrasse no assunto “dinheiro”, ela os havia feito entender como eram amados no lugar de onde vinha, não importando quantos galeões tivessem.

Do outro lado da cozinha, foi a vez de Hermione comentar com os amigos:

- Ela não parou de abraçar Gina e eu lá em cima, falando em como estava feliz em nos conhecer. Ela sabe de cada detalhe... Foi estranho, como se ela nos conhecesse há anos!

- Talvez conheça mesmo. – disse Harry. – Ela falou que os livros contam tudo desde o nosso primeiro ano em Hogwarts.

- Isso me dá arrepios. – Rony fez uma careta. – Saber que alguém escreveu um livro sobre a gente, publicou, milhares de pessoas leram, e não sabemos sequer o que diz nele! Quer dizer... Que coisas as pessoas sabem da gente?

- É... Desconfortável. – Hermione concordou, olhando para Ana.

- Se ela for de um universo paralelo, como acha Tonks, no momento só há uma pessoa que sabe dessas coisas no NOSSO universo. E ela está sentada na mesa da cozinha. – Gina disse.

- Eu confio nela. – Mione comentou. – Não sei por que, mas confio.

Como que sentindo que era alvo das conversas do quarteto, Ana voltou-se para eles, e disse:

- Ah, Harry, eu sei que estou atrasada, mas... FELIZ ANIVERSÁRIO!!!
Isso foi o suficiente para uma multidão correr para ele, exclamando “como pudemos esquecer?”, e “onde estávamos com a cabeça?”. Uma profusão de abraços e de corridas para buscar presentes se seguiu.

- Tudo bem gente, o casamento tomou muito tempo de vocês, eu entendo. – disse Harry, sorrindo. É claro que a aparição de Ana tinha favorecido. – Até eu me esqueci do meu aniversário. Não precisavam se preocupar...

- Nós combinamos de comemorar seu aniversário hoje, para que esse dia fosse só seu. – explicou Rony.

No meio da balbúrdia geral, Ana resolveu sair. Tinha se dado conta que, por mais que se sentisse íntima de todas aquelas pessoas, na realidade não passava de uma estranha para eles. Passada sua euforia, podia ver que devia ser muito desagradável para eles demonstrações de afeto de alguém que nunca tinham visto antes.

Ela não devia ter revelado tanto do que sabia, isso os tinha assustado. Mas tivera que os convencer de que falava a verdade. E, depois, seu entusiasmo de fã a fizera perder os limites.

Tinha dado alguns passos lá fora, quando alguém a chamou:

- Fugindo, senhorita? – era Carlinhos.

Ana voltou-se entre embaraçada e apreensiva. O segundo filho dos Weasleys não tinha demonstrado muita simpatia por ela.

Ela também sentia antagonismo em relação a ele, contrariando a impressão que J.K. Rowling tinha lhe passado nos livros. Mas agora, inexplicavelmente, sabia que ele era a única pessoa com quem seria capaz de desabafar. Hesitante, respondeu:

- Não. Só que... Percebi que eu os conheço, mas vocês não me conhecem. Em minha imaginação, eu acompanhei o crescimento daquelas crianças, estive com eles em cada momento difícil dos últimos seis anos, mas isso não é suficiente. Eu não posso forçar minha presença, não faço parte da vida deles, embora eles façam parte da minha.

Carlinhos a encarou muito sério por alguns instantes, parecendo analisá-la. Então disse:

- Se conhece tanto a família Weasley como diz, deve saber também que sempre há lugar para mais um. Especialmente alguém que goste tanto assim dela.

- Acredite, é fácil gostar de sua família. – Ana sorriu. – Ela é tão... Família! – emocionou-se.

Carlinhos intuiu algo nas palavras de Ana, e não conteve a pergunta:

- Você não tem família?

- Ah, tenho... Quer dizer, meus pais morreram em um acidente quando eu era bebê. Fui criada pelo irmão do meu pai e, acredite, a família do meu pai é grande! Aos doze anos minha tia-avó por parte de mãe convenceu meu tio a me deixar morar com ela em Londres, onde eu fiquei até os quinze anos. Daí, optei em voltar para o Brasil, terminar o colegial, fazer faculdade... Nossa! Como eu falo! – riu.

- Não... – Carlinhos sorriu. Era incrível, mas estavam tendo uma conversa civilizada. – Continue.

- Tá... Bem, minha tia não ficou muito satisfeita, mas respeitou minha decisão. Eu precisava retomar minhas raízes antes de decidir o que faria do resto da minha vida. – então, Ana se lembrou de algo, e uma curiosidade a fez perguntar: - Mas, e você? Como decidiu estudar dragões?

- O que andaram escrevendo naqueles livros? – Carlinhos se surpreendeu.

- Bem, sobre você, não muito... Entenda, os livros são sobre Harry, então, você só aparece sendo mencionado, ou em feriados em família, coisas desse tipo. Sei que é o segundo filho dos Weasleys e que foi monitor. Que era muito bom na aula de Trato Com as Criaturas Mágicas, porque Hagrid sempre menciona isso para o Rony. E que ajudou a contrabandear um filhote de dragão que Hagrid imprudentemente trouxera para Hogwarts, o Noberto, isso no primeiro ano de Harry lá. – riu. – Fora disso, nada. Na verdade, você é um grande mistério para mim.

Carlinhos sorriu, satisfeito:

- Sou misterioso? Gostei disso.

Ana enrubesceu, diante do duplo sentido da frase.

- Você ainda não respondeu minha pergunta.

- Dragões sempre me fascinaram. Bem, deve saber que é proibido criar dragões, não é? – Ana assentiu. – Então, eu resolvi estudar para poder trabalhar em uma das muitas reservas de dragões que existem na Romênia, para ficar perto deles. Hoje trabalho em uma reserva do norte do país. Simples assim. E você, o que faz?

Ana tinha a impressão de que nada era “simples assim” com aquele Weasley, mas fingiu que não tinha percebido a tentativa dele de desviar do assunto, e respondeu:

- Bem, eu me formei em Direito...

- Ana, Carlinhos! – a senhora Weasley chamou. – Juntem-se a nós!

- Então, vamos entrar? – Carlinhos sugeriu.

Ana assentiu com a cabeça, sentindo-se melhor da sua retomada de “desconfiômetro”, e voltaram para dentro da casa.

- Que tal um treino de quadribol em homenagem à nossa hóspede? – sugeriu Jorge. – Acho que você nunca viu um, não é, Ana?

- Bem... Só no cinema. – diante da expressão de todos, explicou – Fizeram filmes dos quatro primeiros livros. O quinto já está sendo providenciado.

- Quatro filmes!?! – Hermione exclamou. – Devemos realmente ser populares em seu mundo.

- É... – Ana limitou-se a responder, porque tinha decidido que iria ser mais seletiva quanto ao que revelaria. - Mas eu gostaria muito ver vocês treinando.

- Então vamos! – Fred disse. – Nas mesmas posições que no ano passado? – sugeriu, e todos concordaram.

Tonks e Carlinhos entraram para completar a artilharia com Gina. Os gêmeos ficaram como batedores; Rony, no gol; e Harry, como apanhador, é claro.

Ana ficou assistindo com os outros, e realmente estava se divertindo horrores! Tudo acontecia a grande velocidade, e ela pensou que deveria ser muito mais rápido quando havia dois times completos disputando, em uma partida de verdade. Não conseguiu deixar de pensar que os bruxos deveriam mesmo ter uma visão melhor que os trouxas para acompanhar tudo, e ainda por cima com os jogadores voando à metros acima de suas cabeças!!!

Os gêmeos não poupavam balaços, desequilibrando os artilheiros que, se não fossem tão habilidosos, teriam se esborrachado no chão há muito tempo.

A senhora Weasley levantou-se dizendo que teria que fazer o almoço, mas Ana achou que ela não estava era gostando de ver sua família se digladiar, mesmo que fosse em um jogo. Ana se ofereceu para ajudá-la.

- Você sabe como funciona uma cozinha bruxa?

- Bem... Não. Na verdade, não me arrisco muito nem em uma cozinha trouxa. – admitiu. – Mas eu e o microondas nos damos muito bem! – riu.

O sorriso se desfez e fez um gesto de “deixa para lá” quando a senhora Weasley não deu mostras de entender o que era o tal do “microondas”. Hermione, que não era fã de quadribol, resolveu ajudar também. Todas estavam na cozinha, quando ouviram um chamado vindo da lareira.

- Molly! Arthur! Tem alguém em casa?

Apesar de ter visto esta forma de comunicação dos bruxos nos livros, Ana não pode deixar de dar um salto quando viu uma cabeça de mulher emergir na lareira, entre um fogo verde.

- Minerva? Bom dia! O que houve? Esqueceu alguma coisa aqui ontem? Ah, Gui e Fleur pediram para agradecer a penseira que você deu de presente...

- Não, Molly! – interrompeu-a educadamente, mas aflita. – Chegou alguém mais na sua casa?

- Como você sabe? Sim... – fez um gesto para Ana, que se aproximou da lareira. Não acreditava que estava sendo apresentada à Prof. Minerva McGonnagal.

- Então é verdade... – a professora parecia espantada. – Molly, por favor, traga todos à Hogwarts, inclusive a senhorita Anha.. Ag... a senhorita Ana.

- Mas, Minerva, ela é trouxa! – vendo que tinha dito demais, mas sabendo que, mais cedo ou mais tarde a outra iria saber mesmo, a senhora Weasley continuou. – Nenhum trouxa jamais pisou em Hogwarts!

- Creio que é mais complicado que isto, Molly. Espero vocês daqui a pouco. Estão convidados para almoçarem aqui.

A senhora Weasley parou o jogo, e contou a todos o que tinha acontecido.

- Será que o Ministério descobriu? – Moody levantou a hipótese. Na verdade, nunca tinha confiado muito naquele filho dos Weasleys, o Percy.

Ana estremeceu. Sabia do jeito maluco do Ministério da Magia resolver as coisas. Não davam muita margem para defesa. Tinha visto como funcionava quando Harry foi julgado por ter se defendido de um dementador usando magia na frente de Duda.

- Só vamos saber se perguntarmos para Minerva. – respondeu Lupin. – Acreditem, ela não nos chamaria se não fosse realmente importante.

Todos iriam via pó de Flu, uma vez que não se podia aparatar em Hogwarts. Bem... Ana não poderia aparatar, de qualquer forma!

- Sabe como usar o pó de Flu, querida? – a senhora Weasley perguntou.

Ana assentiu:

- Er... Pegar um pouco do pó, jogar aos pés e dizer claramente o lugar aonde se quer ir.

- Isso! Melhor alguém ir na frente para você ver como se faz. Fred!

Fred entrou na lareira, pegou um pouco de pó de Flu, e disse, jogando-o:

- Hogwarts! – chamas verdes surgiram e o encobriram, e em seguida Fred desapareceu.

Ana estava com uma terrível sensação de já ter visto isso antes. É claro que já tinha visto, pensou, foi no segundo ano de Harry, quando ele não pronunciara “Beco Diagonal” claramente, e fora parar na Travessa do Tranco.

Ana entrou também na lareira, pegou um pouco de pó de Flu e, tentando recuperar a calma, disse, em uma voz segura, enquanto jogava o pó:

- Hogwarts!

O mundo girou ao seu redor, enquanto Ana caia no que parecia ser o infinito negro. De repente, caiu sentada em um chão duro, coberta de fuligem. Fred a ajudou a se levantar, enquanto ela tossia muito, por causa do pó que aspirara.

- Obrigada, Fred.

- Eu não sou o Fred. Brinquei com a mamãe. Sou o Jorge.

Ana o olhou feio, e disse:

- E eu sou um chipanzé, se você é o Jorge.

- Está bem. – riu. – Vejo que não consigo enganar você.

- Não... Só conheço o gosto das Gemialidades Weasleys por pregar peças. – respondeu, rindo também.

Ao olhar em volta, Ana não precisou de muito para perceber que estava na sala do diretor. Era exatamente como Rowling a descrevia nos livros. Parece que a professora Minerva não tinha mudado nada desde que... Ana se entristeceu, lembrando de Dumbledore, o antigo diretor.

Lá estavam todos os quadros dos antigos diretores, inclusive o dele. Os rostos dos retratos pareciam surpresos, alguns cochichando entre si. O de Dumbledore parecia muito calmo, enquanto escutava o que um outro retrato (cujo bruxo tinha saltado de sua moldura para a de Dumbledore) lhe cochichava algo no ouvido.

A Prof. McGonnagal estava lá para recebê-los. Os outros chegaram e em pouco tempo todos estavam acomodados em confortáveis cadeiras que a professora conjurara.

- Bem, senhorita Ana... Se imaginou que é o motivo que trouxe todos aqui, está correta. Uma conhecida minha chegou esta manhã em Hogwarts me dizendo que você estava em algum ponto do mundo mágico, mas não sabia onde. Ela temia que você estivesse em perigo, por isso pediu minha ajuda.

- Mas... Quem? – Ana perguntou confusa. Mal tinha terminado de falar, uma voz conhecida lhe chegou aos ouvidos:

- Ana...?

Ana voltou-se em direção ao som, e viu uma senhora grisalha e baixinha, com os cabelos penteados em um coque antigo, perto da porta.

- Tia Agatha?!? – exclamou, muito surpresa. – Mas, o quê...

Tia Agatha estava igualzinha à quando Ana era adolescente. Nem uma ruga a mais.

- É você mesma, minha filha... Como cresceu! Tornou-se uma mulher! – a Tia sorriu, entre lágrimas. – E uma bela mulher, com fuligem e tudo!

- Agatha Smith-Roberts é sua tia? – o senhor Weasley perguntou, igualmente surpreso.

- Vocês a conhecem?

Tia Agatha suspirou, como que ganhando coragem para dizer algo.

- Ana... – Tia Agatha começou. – Eu sou uma bruxa.

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(N/A): Esse saiu maiorzinho. Demorou porque eu me emploguei :).

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