Tramando



Era muito cedo e os outros ainda estavam dormindo na Toca. Na sala, em frente à lareira, estava somente o senhor Weasley. Ele cochichava os últimos acontecimentos para alguém na lareira, que aparentava uma dificuldade cada vez maior em manter o tom de voz baixo.

- Ela o quê? – Carlinhos praticamente gritou. Em seguida engoliu em seco e suspirou, tentando controlar o tom de voz: - Pai... Lobisomens atacando Harry e Ana! Como puderam descuidar da segurança deles?

- Calma, filho! Eu já disse que está tudo bem agora. Deslocamos alguns membros da Ordem para reforçar a segurança, não se preocupe. Realmente subestimamos o quanto Você-Sabe-Quem estava interessado em pegar Ana. Ou melhor, o bracelete de Helga Hufflepuff. – diante da expressão intrigada de Carlinhos, ele acrescentou: - Não tinha como eles saberem que Harry estava com ela. Ele resolveu voltar para Hogsmeade no último momento.

- Suponho que tenham descoberto quem era Ana e ficaram observando sua rotina, aguardando pelo melhor momento para atacar.

- Mas os lobisomens... Devem ter sabido que Lupin estava com eles! Como não sabiam que Harry...

O senhor Weasley balançou a cabeça, discordando do filho:

- Pela forma como vieram. Primeiro os lobisomens, depois os dois comensais. Foi como se tivessem sido convocados de última hora. Como se não esperassem que magia tivesse que ser usada: acreditavam que Ana era um aborto; e Lupin, na forma de lobisomem, não pode usar magia. – o senhor Weasley pareceu inconformado: – Sim eles devem ter sabido que Lupin estava em Hogsmeade. Não entendo como, se decidimos a troca somente ontem durante o almoço!

- Mas Tonks... – Carlinhos ainda não acreditava que eles tinham conseguido chegar tão perto.

- Tonks chegou só mais tarde. Ela comentou que se atrasaria algumas horas por causa da nova licença que ela teve que tirar no Ministério, lembra?

- Sim... – Carlinhos suspirou pesadamente enquanto esfregava os olhos, parecendo cansado.

Isso não passou despercebido ao senhor Weasley:

- Filho, se a missão que lhe demos estiver pesando... Esqueça e volte para casa. Você sabe que o que sua mãe e eu queremos é te ver feliz. A Ordem encontrará outra solução, não se preocupe.

Carlinhos ponderou as palavras do pai, dividido. Não por causa do esforço extenuante de horas e horas, nem pelo perigo do que estava fazendo. Mas pela necessidade premente de estar ao lado de Ana, de protegê-la. Ao mesmo tempo, sabia que o senhor Weasley só dizia que a Ordem arranjaria outro caminho para que ele não se sentisse culpado ao abandonar a missão. Estava certo que desistir do plano seria deixar mais uma fresta aberta para a ascensão de Voldemort.

- Não, pai. Estamos muito perto agora. Seria tolice parar justo nesse momento.

Após alguns segundos de silêncio, em que encarou o filho com evidente orgulho nos olhos, o senhor Weasley disse:

- Nós vamos cuidar dela, filho. Prometo.

Carlinhos olhou o pai, surpreso.

- Que foi? – o senhor Weasley teve que controlar o riso. – Você não fez questão nenhuma de esconder. Não foi muito difícil chegar a uma conclusão!

- Tem razão. – Carlinhos riu. – Isso não é uma loucura? Tão pouco tempo...

***

Arthur Weasley tentou ao máximo não fazer barulho antes de deitar-se novamente ao lado da mulher. Mas tão logo se acomodou na cama, a senhora Weasley perguntou:

- Com quem estava falando?

- Com Carlinhos. – recebeu nos braços a esposa, que havia se voltado para ele, ainda sonolenta. Após uma pequena pausa reflexiva, comentou, a voz emocionada: - Acho que conseguimos, Molly. Nossos filhos são pessoas de bem. E em breve todos eles terão sua própria família.

A senhora Weasley abriu um pequeno sorriso, os olhos ainda fechados:

- Ah, isso quer dizer que conversou com Carlinhos sobre Ana...

- Como sabe?

Mesmo depois de todos aqueles anos de casamento, o senhor Weasley ainda se surpreendia com a capacidade que a esposa parecia ter de ler seus pensamentos.

- Porque você veio com essa mesma conversa quando Gui lhe contou que havia pedido Fleur em casamento. – ela lhe respondeu.

- Bem, pelo menos desta vez você não está tendo uma síncope. – o senhor Weasley riu.

A esposa finalmente abriu os olhos e, encarando-o, disse:

- Você não pode me culpar. Nossa querida Fleur não era tão “querida” no começo... – ela também riu.

O sorriso foi se desfazendo até que finalmente ela acrescentou, em um tom preocupado:

- Só que Carlinhos vai enfrentar dificuldades maiores, Arthur. Gosto muito de Ana, mas... O tempo não pode ser vencido.

- Que é isso, querida? – o senhor Weasley a abraçou mais forte e tentou sorrir: - Você está falando como uma trouxa: “O tempo não pode ser vencido...”.

- Você me entendeu, Arthur. Até um bruxo deve reconhecer os limites ao interferir no tempo. Dumbledore sabia disso. Oh, nosso filho vai sofrer quando...

- Não podemos viver a vida por nossos filhos, Molly. – o senhor Weasley disse-lhe carinhosamente, mas também parecendo preocupado.

- O que não nos impede de nos preocuparmos mesmo assim. – ela respondeu com um suspiro.

***

Lupin estava praticamente recuperado após dois dias, para o assombro de Ana. A nova poção era miraculosa se comparada à anterior, que o acalmava, mas não impedia de ser perigoso para as pessoas. Ele ainda estava de cama, mas agora suas feições estavam quase humanas (persistiam apenas um focinho lupino e alguns pelos nas têmporas). Já podia falar e naquele momento estava especialmente animado.

Tonks estava ao lado dele e tinha acabado de contar a Ana uma novidade espetacular: os dois iriam se casar, e em breve. Ela abriu um sorriso enorme e, por sua expressão, o casal de amigos achou que a moça iria soltar fogos de artifício para comemorar a notícia.

“Então era isso que Tonks queria me contar!”, Ana pensou.

Ela sentiu-se especialmente emocionada quando a amiga convidou-a para ser uma das madrinhas. Uma onda de felicidade nasceu em seu peito e se espalhou pelo corpo e, quando viu, estava entre sorrisos e lágrimas. Ora, não se pode esperar que uma aficionada pelos livros de Harry Potter seja convidada para ser madrinha do casamento de Tonks e Lupin sem que a agraciada caia no choro! (no seu caso, lágrimas de felicidade; mas já no das fãs do lobo...).

- É claro que eu aceito! – ela abraçou a ambos praticamente se jogando sobre eles. Quando percebeu, afastou-se, rindo: - Desculpem, é o sangue latino que corre nas minhas veias. Somos mais emocionais. – Ana voltou a comemorar: - Oh, Deus, isso... O máximo!

Tonks havia lhe contado que o casamento aconteceria em uma ou duas semanas. Seria uma cerimônia muito simples, apenas para alguns amigos e parentes. Os outros padrinhos seriam o senhor e a senhora Weasley, Moody e Tia Agatha e Carlinhos.

- Você vai fazer par com ele. – Tonks comunicou naturalmente. Quando percebeu que Ana prendeu a respiração, acrescentou: - Não se importa, não é?

- Não... Claro que não! – Ana mentiu. Estava apavorada. Os ensaios, fotos, sair de braços dados com ele ao fim da cerimônia... Horas e mais horas com Carlinhos Weasley! Sua força de vontade não iria agüentar. Especialmente se ele insistisse em sorrir daquele jeito para ela.

- Que bom! Com certeza ele vai apreciar mais a sua compania do que a de uma prima minha, Charlotte... Ela fala pelos cotovelos!

Ana teve que rir:

- Depois eu é que sou impossível!

Uma coruja minúscula e muito atrapalhada entrou pela janela do quarto. Após o que pareceu uma série de cambalhotas confusas, ela finalmente largou uma carta no colo de Lupin. Tonks a salvou por muito pouco de cair no prato de sopa que estava sobre o criado mudo.

- Obrigada, Píchi. – Tonks disse à coruja em suas mãos. Deu-lhe um pedacinho de pão, soltando-a em seguida.

- É de Arthur e de Molly. – disse Lupin. – Desejando-me melhoras. – ele riu, divertido: - Devem estar se referindo ao machucado no ombro, porque do outro problema eu não tenho como me livrar!

Ana notou, muito contente, que Lupin parecia mais resignado com sua própria condição. Tonks fazia muito bem a ele, é claro!

Ele deu outra risada:

- Os gêmeos escreveram um parágrafo aqui. Pedem para lhe dizer que o episódio do apito só serviu para mostrar que “você é das deles”! Acrescentam perguntando se você não lhes emprestaria, pois, com algumas modificações, esse “repelente de lobisomens” venderia muito bem.

- Ah, as geniais mentes empreendedoras Weasley! – Ana riu.

De repente, ela sentiu um mal-estar. Uma fraqueza tomou conta dela e sua visão escureceu. Sentiu um baque no estômago e, por segundos, acreditou ter visto uma parede.

- Ana! – ela recuperou a visão, e viu Tonks amparando-a.

- Estou melhor, não se preocupem...

- O que sentiu? – Lupin perguntou.

Ela descreveu o seu mal-estar e os amigos pareceram ainda mais preocupados.

- Na realidade... – Lupin começou. – Eu já esperava que isso acontecesse mais cedo ou mais tarde.

- Por quê?

- Parece que aquele eclipse lunar influenciou potencialmente o feitiço que te trouxe até aqui. E hoje a lua completou seu primeiro ciclo desde que você chegou.

- Então... Os ciclos da lua funcionam como um cronômetro para a minha volta?

- Em minha opinião... Sim.

- Quanto tempo? – Ana foi direto ao assunto.

- Depende... Você viu alguma coisa? Algo familiar?

- Acho que vi a parede do meu apartamento.

- Quanto dela você viu?

- O tamanho de uma janela, eu acho.

- Entendo. – Lupin pareceu fazer os cálculos. – Eu arriscaria mais um ou dois meses. Mas não é um cálculo exato.

- Tão pouco tempo, e tanto para resolver! – Ana levantou-se, caminhando de um lado para o outro do quarto, agitada.

- Calma, Ana! – Tonks disse. – Você já tem uma idéia do porque eles querem o bracelete. Ele esconde um segredo de Sonserina. Helga Hufflepuff era uma grande bruxa, não iria lançar um feitiço que durou mil anos para que ele falhasse no momento crucial.

- Não é só isso, tem o... – Ana interrompeu-se a tempo. Não podia falar sobre os horcruxes. Era um segredo dos garotos. Dumbledore quis assim. E, quem era ela para discordar de Dumbie? – Tem a carta de Dumbledore. Preciso saber como posso ajudar Harry, mas ainda não sei o que ele quis dizer.

Lupin olhou para Ana, intrigado. Ele desconfiava que tivesse algo que nem ela nem os meninos contaram. Provavelmente um segredo que já existia antes dela chegar, mas como ela lera os livros...

- Mas, por favor, não comentem nada disso com ninguém. As coisas já estão bastante difíceis com Tia Agatha preocupada com minha segurança.

- O que me lembra que temos muito que treinar e praticar. Tonks me contou que é uma Mestra dos Sonhos, Ana.

- Bem... Eu não sei nada sobre isso. – ela disse. – Tudo o que sei é que entrei sem querer nos sonhos de Harry.

- O que é muito perigoso. Se... Voldemort – pronunciou o nome com dificuldade. – Se ele descobrir pode tentar usar isso para arrancar informações, principalmente sobre o bracelete.

- Mas eu não sei nada...

- Ainda. – Tonks completou. – Não sabe ainda. Pelo que me contou você conseguiu quebrar o contato e também trazer a mente de Harry consigo. Isso foi instintivo, Ana. Mas vai precisar estudar para enfrentar... Você-Sabe-Quem.

- E quanto mais cedo melhor. – Lupin acrescentou. – Chame Harry, vocês vão treinar juntos. Se tudo der certo, essa sua habilidade vai ser muito útil para ambos.

- Você já pode... – Ana começou.

- É claro que sim! Não sou um inválido!

- Menos, Remo. – Tonks discordou. – Mas acredito que umas aulas teóricas você possa dar, por enquanto.

Lupin pareceu resolver não contrariar Tonks. Então, Ana foi procurar Harry. Ele estava sentado nas escadarias que davam para o Jardim, lendo. Lendo o livro que comprara em Londres no dia do julgamento.

Ele percebeu que alguém estava se aproximando e se voltou para ver quem era.

- Oi! – ele tentou parecer natural. – Acredita que esqueci? Comecei a ler faz pouco tempo... Pelo que Tonks me explicou o feitiço do Ministério não atingiu esse exemplar porque o comprei antes dele ser lançado.

Ana sentou-se dois degraus acima, e virou-se de frente para o garoto:

- É. Também notei algumas frestas no feitiço. E... Como está sendo?

- Meio assustador. Quer dizer, ela sabe até o que eu pensei!

- Não me pergunte como. – Ana deu de ombros, pedindo desculpas. – Infelizmente, não tenho estas respostas.

- Eu sei. – ele abriu um pequeno sorriso. – Mas tenho que admitir que os trechos sobre o tio Valter desconfiando do gato, que acabou se revelando a Prof. McGonnagal, foram hilários. Sem falar na descrição que ela fez do Snape: realmente ela não teve meias palavras para falar do morcegão.

Ana não se enganou com o tom brincalhão dele:

- E como VOCÊ está?

- Melhor do que eu esperava. De certa forma foi como entrar em um túnel do tempo, com o Hagrid me dando a notícia de que eu era um bruxo, reencontrando o Rony e a Mione do primeiro ano. Estou na parte da Seleção, agora. O jeito que ela escreve é... bem... – ele fez uma pausa, e tentou concluir:

- Acho que agora estou entendo... – ele não conseguiu dizer “porque gostam tanto desses livros”. – Que feitiço fajuto esse do Ministério, não é? Eu praticamente falei tudo sobre eles e a azaração só funcionou agora!

- Bem, de qualquer forma a pena de expulsão do Mundo Mágico deve amedrontar mais os bruxos do que a própria descoberta dele. Já pensou “que horrível”? Ter que viver como um trouxa?

Os dois riram. Ana continuou:

- Mas você vai ter que parar um pouco. Lupin quer começar as aulas de Oclumência agora.

- Já? Ele já está melhor?

- Ele jura que sim, mas Tonks está segurando a onda dele. Acho que ele vai pegar leve hoje. Podemos passar mais tarde em Hogwarts e trazer uns livros extras...

- Quer dizer que não sabe? Depois do que aconteceu a Profa. Minerva decidiu que a escola vai fechar de vez. Ela acha que não tem a mínima segurança a oferecer...

- Mas... Hogwarts não é o único caminho para se chegar à Floresta Proibida? E com os portões fechados, com todo o tipo de magia de proteção, inclusive contra vôos e pelo subsolo...

- Não. – Harry discordou. – Dumbledore lançou aqueles feitiços e os desfez quando Hogwarts foi atacada. McGonnagal os lançou novamente, mas ela não tinha como saber sobre o túnel da Casa dos Gritos. Bem, a menos que Madame Pomfrey a tenha alertado. Afinal, era ela que levava Lupin até o Salgueiro Lutador.

- Ainda que este caminho esteja livre, como explicaremos nosso sumiço? – Ana indagou. – Enquanto tínhamos a desculpa da biblioteca ou das visitas à Hogwarts... Mas agora até Moody veio reforçar a segurança. Não dá para dar um passo sem eles na nossa cola!

- Eu... Estou trabalhando nisso. – Harry disse sem muita convicção.

- Que falta a Mione faz, né? – Ana comentou. – Apesar de não gostar de quebrar regras ela sempre tem umas idéias ótimas de como fazer isso.

***

Fazia uma semana que estavam tendo aulas de Oclumência (e Legimência) com Lupin e Moody. Ana precisava apreender a usar sua aptidão como Mestra dos Sonhos também. Ela até mesmo usou uns livros de Antropologia que a tia tinha para entender melhor como os ameríndios usavam seus poderes. Tinha quase certeza que muita coisa era encenação, mas outras lhe pareceram bem úteis.

- Mascar folhas de coca? Não mesmo! – ela falava consigo mesma enquanto andava de um lado para o outro da biblioteca com um livro aberto nas mãos. – Hum... Já isso aqui pode fechar com o que Lupin disse sobre buscar um refúgio dentro de si... “Isolam-se da comunidade, cantando canções tribais que lembram os mantras budistas, enquanto uma fumaça os envolve”. Muito trabalhoso, mas... É, talvez seja uma forma de manter a mente calma e limpa...

- Falando sozinha? – Harry entrou na biblioteca.

- Ah, é... É meu jeito de me concentrar. Estava me procurando?

- Sim. Acho que tenho um meio de desviar a atenção deles... A Floresta, sabe? – Ana o olhou com interesse, mas em seguida uma ameaça de riso se formou em seu rosto. – O que foi? – ele perguntou.

- Realmente a Hermione faz falta. Já notou como demoramos em armar um plano quando ela não está por perto? Enfim, o que tem em mente?

- Vamos ter que lançar um feitiço ilusório, para que os outros pensem que nós dois estamos aqui. Você vai ter que ficar para manter o feitiço, mas vai ser mais fácil se fizermos à noite, enquanto todos estão dormindo...

Ana interrompeu-o imediatamente:

- Pode parar, Potter! Eu estou nessa com vocês. E por razões que nem eu mesma entendo, mas que Dumbledore certamente achou importantes, concordei em não falar nada para os outros membros da Ordem sobre essa busca. – Harry abriu a boca para rebater, mas Ana levantou a mão em um gesto de “pare” e continuou:

- No entanto, mesmo com esta lei bruxa idiota de maioridade aos dezessete, EU sou a adulta aqui... Embora nem sempre pareça, eu admito... – ele fez um ar de riso e ela retomou o tom firme da voz: - E, assim sendo, só vou ajudá-lo sob duas condições: Primeiro, que a entrada na Floresta seja de dia. Já vai ser difícil atravessa-la quando pudermos ver o que está a nossa volta. – Harry tentou abrir a boca, sem sucesso novamente. – Não me venha dizer que já fez isso antes. A sorte acaba um dia, rapazinho! É bom não abusar. E a segunda condição é que você não vai... – ela levantou um dedo indicador em sinal de aviso: - Não mesmo, ouviu?... Entrar nela sozinho! E isto não é negociável.

Harry bufou diante a irredutibilidade da amiga. Mas finalmente reconheceu que ela agia assim porque se importava com ele. No entanto, não conseguiu deixar de provocar:

- Sim, “mamãe”...

Ela bufou como ele próprio tinha feito momentos antes.

- O que sugere, então? – Harry perguntou.

Ana pensou por alguns instantes. Não podia evitar estar tão ansiosa quanto Harry, mas por motivos que ele nem sequer imaginava. O prazo mínimo antes que voltasse, segundo Lupin, era de um mês. Ele mesmo tinha dito que seu cálculo poderia estar errado e se passara uma semana já.

- A idéia do feitiço ilusório é boa. – ela começou a arquitetar, as idéias passando por sua cabeça daquele jeito que parecia que tinha sido agraciada por um sopro das deusas da inspiração. – Gina é muito boa neles... Lembro do morcego-fantasma que ela faz. Mas não podemos trazê-la sozinha, embora a desculpa dela querer ver o namorado seja muito boa...

Harry suspirou, pensando que, pelo menos por parte dele, essa desculpa seria muito verdadeira.

- Mas ela não pode ficar sozinha aqui, porque alguém tem que distraí-los. Do contrário, vão se dar conta rapidinho de que foram enganados. – Ana andava de um lado para o outro. – Podemos chamar os outros também, e eles seriam de grande ajuda. Não, desconfiariam ainda mais rápido se eles começassem a arranjar desculpas para afastá-los... Precisamos de um motivo que acoberte uma conspiração. Algo que os faça ver que estamos aprontando alguma, mas que não achem isso razão para nos interromper e, se possível até nos ajudem.

- Você não está querendo demais? – Harry finalmente conseguiu se manifestar.

- O casamento! – Ana exclamou, parando de andar e encarando Harry. – Uma despedida de solteiro! Vamos dizer para eles que estamos preparando despedidas de solteiro surpresas! E mais: vamos falar para Tonks que os rapazes estão fazendo uma para o Lupin, e que as garotas só estão aqui para disfarçar. E para o noivo, diremos a mesma coisa, só que em relação à Tonks. Assim os dois também vão colaborar com a coisa toda, achando que assim estarão contribuindo para a felicidade do futuro consorte! – ela finalizou com um sorriso.

Harry achava que a idéia toda era uma loucura sem fim. Aliás, como tudo o que sabia da pessoa que estava à sua frente. Mas, o que custaria tentar? As idéias dela não tinham funcionado antes?

***

O plano estava dando certo. Pelo menos até tia Agatha sair com Lupin e Tonks. Mas o azar deles é que logo Moody tinha ficado em casa com eles. Ele estava passando de cinco em cinco minutos na frente da porta do quarto de Ana (onde todos eles estavam reunidos). Deviam ser os hábitos quase paranóicos (ou melhor: paranóicos) que o ex-auror tinha desenvolvido.

- Precisamos mantê-lo afastado por tempo suficiente para Gina fazer os feitiços. – Hermione sussurrou. – Não é fácil fazer e manter as imagens de quatro pessoas!

- Sim, mas como? – Rony perguntou.

Ana levantou-se e vasculhou na sacola que estava cheia de coisas que as meninas tinham preparado no dia anterior. Afinal, teriam que ter alguma coisa para justificar o tempo que, supostamente, tinham trabalhado preparando as despedidas de solteiro. Pegou dois guardanapos, cada um de um tipo diferente, e abriu a porta bem a tempo de dar de cara com Moody:

- Ah, que bom que está aí! Estamos com uma dúvida... – e mostrou os dois guardanapos: - Você acha que Tonks gostaria mais do rosa ou do com florzinhas?

Moody pareceu querer estar em qualquer outro lugar:

- Er... Bem... Os dois parecem... Bonitos... – Moody respondeu e Ana manteve o olhar inocente, com aquela expressão de falsa expectativa, sem ter pena do pobre e velho auror totalmente perdido. – Por que não usa os dois? – ele finalmente sugeriu, parecendo contente por ter se livrado da questão.

- Oh, Moody! O que faríamos sem você! – reconheceu que tinha exagerado na dose nesta última frase e acrescentou: - Vamos pedir opinião para você de vez em quando, viu?

Moody arregalou o olho bom, e o olho mágico deu várias voltas.

- Er... Eu vou ficar lá em baixo... – e saiu o mais rápido que pode.

Voltando-se para as pessoas dentro do quarto, Ana suspirou aliviada:

- Graças a Merlim Moody foge de qualquer coisa que tenha haver com rosa ou motivos florais!

- Ana... Você tem uma mente diabólica! – Rony disse boquiaberto, sendo acompanhado com sinais de apoio pelos demais.

- Rápido, gente!

Depois de algumas tentativas, Gina conseguiu fazer cópias dos demais. Eram espécies de hologramas, só que não eram transparentes. Eram tridimensionais e repetiam alguns movimentos predeterminados que eles tinham escolhido para fazer parecer que estavam cortando papel, fazendo faixas, esse tipo de coisa.

- Bem, agora é só desaparatarmos. – Rony disse.

Ana afastou-se discretamente do ruivo e ficou próxima a Harry e à Hermione. Não querendo desmerecer Rony, mas... Tinha lido o sexto livro e sabia das dificuldades do rapaz em desaparatar e aparatar. Sinceramente, havia várias partes de seu corpo que ela achava que não eram grande coisa, mas gostava delas todas juntas, exatamente onde estavam.

Por sorte, Hermione lhe ofereceu o braço e, quando desaparatou a levou consigo. Aparataram bem próximo à Casa dos Gritos. Entraram e não perderam tempo em entrar no túnel que levava à saída do Salgueiro Lutador de Hogwarts. Ao chegar ao final do caminho, entreolharam-se apreensivos. Era agora que saberiam se haviam se lembrado de por feitiços de proteção naquele acesso à Hogwarts.

Harry apertou o dispositivo que paralisava a arvore e avançou pela adjacência quase escondida. Ele passou. A passagem estava livre!

Os demais o seguiram, escondendo-se por baixo da Capa de Invisibilidade. Ana temeu que alguém os visse, pois os três haviam crescido naqueles anos e, acrescentando uma quarta pessoa ainda por cima...

Mas tudo correu bem. Antes de alcançarem a floresta, passaram pela cabana destruída pelos comensais. “Miseráveis!”, pensou Ana, com o coração apertado ao lembrar de Hagrid, aquela criatura de coração tão grande quanto ele próprio. Ele estava morando agora dentro do castelo, como era direito de todo professor de Hogwarts. Pobre Hagrid. Ver o seu lar por todos aqueles anos destruído de uma maneira tão... Cruel.

Entraram floresta adentro e Ana sentiu um arrepio. Mesmo de dia, ela era aterrorizante. Sinistra seria um adjetivo muito fraco. Limitou-se a seguir os amigos, evidentemente mais acostumados com o lugar. Mas mesmo eles não pareciam tranqüilos por estarem ali, é claro.

Depois de vinte minutos caminhando, Ana teve a estranha sensação de estar sendo observada. Tentou se convencer que o local a estava impressionando, e por isso estava daquele jeito.

Uma flecha cortou o ar. Não próximo, mas acima de suas cabeças, muitos metros acima. Parecia mais um aviso.

O chão começou a vibrar. Não daquela forma como quando foram atacados pelos lobisomens. Desta vez era constante, ritmado, como...

Surgiram centauros por todos os lados. Eles não pareciam felizes por vê-los ali, como ela bem imaginava. Mas as expressões de seus rostos eram tão intimidantes que, como Ana constava agora, nem J.K. teria habilidade de descrever com total sucesso.

- Vocês! – o líder exclamou ao ver Harry e Hermione. Era um centauro com as maçãs do rosto ressaltadas e cabelos negros e longos, com um corpo castanho. – Voltaram mesmo depois de termos avisado não uma, mas duas vezes! – olhou para Rony e Ana: - e ainda tiveram a ousadia de trazer amigos!

- Acho que finalmente entendeu o que eu venho dizendo não é, Magorian? – um centauro negro, barbudo e corpulento falou. Devia ser aquele que brigou com Firenze por ter deixado Harry montar em suas costas. “Como era o nome dele mesmo?”, Ana tentou se lembrar. - Os humanos são arrogantes demais para respeitarem nossos avisos! Para eles não passamos de criaturas idiotas!

- Eles não são mais potros, Magorian. – um outro centauro falou. – Nenhum deles. – acrescentou olhando para Rony.

- Isso mesmo! – apoiou o centauro negro. – Eles podem sofrer as conseqüências de seus atos.

- Não! – Ana finalmente conseguiu um arremedo de voz.

Ela sabia que a punição dos centauros por invadir suas terras era a morte. Pôs-se inconscientemente em frente à Rony: o que era ridículo, porque o garoto era muito mais alto que ela. Bastaria que um dos centauros erguesse um pouco mais seu arco para atingir Rony.

- Não o quê, humana? – Magorian a desafiou.

- A culpa é minha por estes jovens estarem aqui. – Ana ergueu a mão, impedindo Harry de protestar. - Deveríamos ter pedido permissão antes de entrarmos em seus domínios, mas não tivemos como avisar...

- E entraram assim mesmo. – completou Magorian com desdém.

- Por motivos nobres eu asseguro... – Ana tentou continuar.

- Sua palavra e seus “motivos nobres” não fazem a menor diferença para nós. Humanos usam as palavras ardilosamente, moldando seus significados conforme seus interesses! – um centauro de corpo cinza e o rosto profundamente vincado falou.

“Agouro”, lembrou-se.

Ana sabia reconhecer quando seus argumentos não estavam surtindo efeito. Aqueles garotos estavam com a vida por um fio e, independente da capacidade deles de se porem nestas circunstâncias por si mesmos... Justiça seja feita, ela tinha contribuído bastante para que as coisas chegassem a aquele ponto.

Não era hora para orgulhos inúteis:

- Eu imploro... Sei que meus pedidos não significam nada. – fechou os olhos desejando ardentemente que um milagre acontecesse. - Mas estes jovens me são muito queridos... Eu assumo inteira responsabilidade...

- Ana! – Harry exclamou.

- Agora não, Harry. – Ana impacientou-se.

- Não! O seu bracelete...

Ana abriu os olhos. Seu bracelete estava lá, igualzinho a segundos antes. Não tinha nada de diferente. Exceto pelo motivo de todos, inclusive os centauros, estarem olhando para ele.

- Ele está emitindo magia de novo. – Hermione sussurrou.

- Por que pareço ser a única que não sente nada? – Ana perguntou.

Ela olhou em volta. Muitos centauros estavam surpresos, alguns, curiosos.

- Venham. – Magorian finalmente falou, fitando Ana intrigado. – Há alguém que está esperando por vocês.

Os quatro se olhavam sem entender coisa alguma. Tinham ido ali para descobrir mais sobre os horcruxes com os centauros. Mas, de alguma forma, o bracelete de Helga Hufflepuff os estava ajudando.

***
(N/A): Desculpem a demora! Eu realmente me embaralhei toda estas duas semanas. Juro que vou fazer o máximo para que isso não volte a acontecer...

Lady Myah: que bom que está ficando curiosa! Isso é sinal que tem alguma coisa boa na fic, né? Beijão! Ah, e eu estou acompanhando a sua! Posta logo, por favor, porque eu estou realmente adorando!

Maximus: Obrigada por ter passado aqui na minha fic! Fiquei muito contente quando vi sua mensagem. A melhor fic que já leu? *ficando vermelha* Bondade sua...

Ticia: Como vai, menina? Sinto falta quando vc naum posta. Feliz Natal para você também. E aí está o capítulo, naum poderia deixar de postar antes do Natal.

Feliz Natal para todos. O meu presente para vocês é o nome do próximo capítulo... “O Enigma Chamado Quíron”. Curiosos? Isso lembrou alguma coisa a alguém? Bem... Aguardem as próximas aventuras...

Quem puder e quiser... Poste, por favor! Amo ler seus comentários. Escrever é um exercício solitário, mas que seus comentários ajudam a enfrentar. Adoro lê-los. Abração a todos e Boas Festas!

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