Entre Noivas e Fugas



O garoto desceu as escadas e imediatamente percebeu que algo estava errado. A sala ampla estava escura, cheia de poeira e com um terrível cheiro de mofo. Mas não era isso que estava errado. O senhor daquela casa a queria assim, em decadência, como tinha estado nos últimos cinqüenta anos.

O estranho não era a aparência do lugar, mas a quantidade de pessoas que estava nele. O garoto avaliou o número de presentes e concluiu que uma reunião havia sido convocada. Ele fora o último a ser chamado, e isso não era bom. Como um circo montado, deixaram por último a apresentação da novidade, do estreante. Já vira isso acontecer antes, sabia como funcionava a mente do líder.

- Olhem só este rapaz! – exclamara o Lorde, em um sorriso cínico.

Os demais comensais olharam para Draco, em silêncio. Sua mãe estava angustiada, respirando pesadamente, e fitava o chão como se não pudesse olhar para ele sem desabar.

- Não é um belo rapagão? – continuou Voldemort. – Você deve ter muito orgulho dele, não é, Narcisa?

Narcisa não respondeu. Reconheceu o tom falsamente gentil do Lorde e soube que ele estava cercando sua vítima, brincando com a presa antes de finalmente dar o bote.

- Sim... Um jovem forte, esforçado... – ele imprimiu um tom aéreo, como se estivesse divagando sobre o assunto, mas todos sabiam que ele estava sendo sarcástico, adorando o medo nos olhos de seus interlocutores. – Mas será que renderá alguma coisa? Será que eu poderia confiar o título de servo a esta... Criança assustada?

O coração de Draco falhou uma batida. Era isso. O fim.

Embora não olhasse o Lorde das Trevas nos olhos – nenhum comensal o fazia -; e, embora não pronunciasse uma única palavra a mais do que o necessário ao homem que estava a sua frente, Draco sabia que não era dessa covardia a que ele se referia.

- Sabe porque não te puni ainda por não ter completado a missão que te confiei, Draco?

- Não... Milorde.

Voldemort levantou-se e se pôs a andar lentamente pela sala, enquanto falava como se estivesse dando uma palestra:

- Porque, bem ou mal – fez um gesto com a mão indicando que não era importante – você chegou bem longe em parte dela. Consertar aquele Armário Sumidouro exigiu dedicação e uma certa dose de inteligência. – riu maleficamente e acrescentou: - Mais do que seu pai apresentou.

A risada dele foi uma autorização para que os outros rissem também. Draco apertou os punhos, contendo a raiva.

- No entanto, a pequena trapaça que sua mãe e Severus me aplicaram me deixou... Decepcionado. – agora a voz era de falsa mágoa. – Isso prejudicou a minha avaliação de sua capacidade, é claro...

Ele entendeu subitamente. O Lorde queria testá-lo.

- Eu farei qualquer coisa para provar que sou digno de seus ensinamentos, Mestre! – ele se apressou a dizer.

Uma chance! Uma chance de deixar o purgatório dos “não confiáveis, mas úteis”, para a liberdade dos que tinham melhor servido ao Lorde.

- Qualquer coisa mesmo, Draco? – Voldemort disse pausadamente, entre a ironia e o triunfo, enquanto olhava com maldosa satisfação Narcisa, que reprimia um grito.

Snape permanecia insondável. Bellatrix, curiosa, olhando de Voldemort para o sobrinho.

- Até mesmo... – continuou o Lorde – Um Voto Perpétuo?

O jovem Malfoy engoliu em seco. Voldemort queria pagar na mesma moeda. O que significava que, se se saísse bem, estaria a salvo. Se falhasse... O próprio encantamento traria a sua punição. Era a idéia de Justiça do Lorde.

Draco respondeu, derrotado:

- Sim... Milorde.

- Ótimo! – Voldemort exclamara como se ele tivesse concordado em fazer uma festa. – Então eu acho que podemos tirar seu pai de seu período de reflexão em Azkaban, não é?

- O senhor... Pode? – Draco surpreendeu-se. – Sempre pôde?

- É claro que sim, moleque! – a voz Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado ressoou raivosa e indignada: - E o que eu não posso, diga?

- Nada, Lorde das Trevas... – Draco respondera em um arremedo de som. Todo aquele tempo, e ele sempre pudera.

***

Andrômeda Tonks estava nervosa, a toda evidência. E estava deixando a filha louca! A prova disso era que, à medida que a mãe falava na ante-sala do Cartório de Registros Civis trouxa, o cabelo de Tonks havia passado de rosa para vermelho. Então, para amarelo desbotado, e agora, um verde nauseado.

- Ai, o que será que está acontecendo que o funcionário do Ministério ainda não chegou? – Andrômeda não parava de dizer. – Não é todo dia que a gente encontra um que se dispõe a fingir que realiza um casamento trouxa! Eu sabia que ia dar algo errado! Eu disse para o Theo ir buscá-lo, mas ele me ouviu? Não!

- Mãe, a senhora quer se acalm...

- Nimphadora, pelo amor de Merlim! – Andrômeda voltara-se para a filha e pareceu se dar conta das mudanças de cor que ocorriam na cabeça dela. - Dê um jeito nesse cabelo! Os parentes trouxas de seu pai não estão acostumados a ver uma metarmorfa!

Tonks respirou fundo ao ouvir seu primeiro nome. Tentando se acalmar, disse:

- Mãe, os trouxas estão acostumados a ver pessoas com cores de cabelo diferentes. Eles chamam isso de “punk”. – voltando-se para Ana: - Não é mesmo, Ana?

Ana despertou de suas lembranças com o jovem padrinho ruivo, que agora devia estar aguardando ao lado do noivo e com os demais padrinhos, o senhor Weasley e Moody (que tomara sua poção polissuco para não “assustar os trouxas”). A brasileira estava sonhando acordada e de tal forma perdida em seus pensamentos que apenas conseguiu intuir o assunto da conversa. Assim, respondeu:

- Aããããã... Eu acho que este cabelo verde combina muito bem com o... Er... – franziu o cenho – branco clássico do vestido...

Tonks cobriu o rosto com as mãos enquanto seu cabelo ficava de um verde mais doente do que antes. Ana percebeu que tinha de agir rápido, antes que se lembrasse daquele dia como o do casamento de uma amiga que ela conseguiu tornar ainda pior. Fez um sinal de “T” com as mãos para as outras mulheres e disse:

- Tempo requisitado pela madrinha! – sorriu nervosamente e pegou a mão de Tonks puxando-a para outra sala. – Voltamos logo!

Assim que se viram a sós, a auror disse:

- Vai dar tudo errado, eu sei! É bom demais para ser verdade! E mamãe está me deixando com os nervos à flor da pele! Porque ela tinha que convidar tanta gente? Eu disse que queria uma cerimônia simples!

- Tonks, acalme-se, vamos!

- Com tudo o que está acontecendo nós deveríamos ter adiado o casamento... Um dos aurores que morreram se formou comigo... – disse tristemente.

Ana estremeceu. Tonks se referia à fuga de Lucio Malfoy da prisão de Azkaban na madrugada do dia anterior, matando, ninguém sabe como, dez aurores pelo caminho. Quase quarenta e oito horas depois, o Ministério ainda não tinha pistas.

- Não diga uma bobagem destas! – Ana impôs uma voz firme. – Aposto que seu colega não iria querer isso! Malfoy, sua mãe, os convidados... – fez um gesto de “empurrar para longe” - ...nada disso importa.

Tonks olhou para ela e sorriu, mas seu cabelo continuava verde. Ana tentou outra tática:

- Quero que feche os olhos e... Vamos, feche os olhos, Tonks! – Ana ordenou quando viu que a amiga continuava a encarando. Quando ela obedeceu continuou: - Respire fundo. Assim mesmo. Agora limpe sua mente de todas essas coisas que eu disse e se concentre somente nisso: você e Lupin, casados. Tendo filhos e netos. Envelhecendo juntos. – concluiu com voz suave e alegre: - Juntos para sempre.

O cabelo da auror passou de verde para um loiro brilhante, como o próprio sol coroando a face radiante da noiva.

- Isso! Agora sim podemos começar o casamento! – Ana falou. – Mantenha esses pensamentos. Cada vez que algo ameaçar te deixar nervosa ou infeliz, pense neles. – suspirou: - Ai, ai! Nada como o amor para deixar uma mulher com um sorriso no rosto!

- Deve ser por isso que você não tira esse do seu há dois dias... – Tonks devolveu, sorridente e maliciosa.

- Eu sabia que você ainda iria me dar o troco por aquela piadinha no restaurante... Vamos logo, garota! Tem um noivo impaciente te aguardando! – e arrastou Tonks para fora.

Finalmente a cerimônia começou. Lupin já estava esperando, junto com os padrinhos. As madrinhas entraram primeiro, todas vestidas em tons de um suave amarelo. Ana usava um vestido longo e jovial; a senhora Weasley, um conjunto de saia e casaco muito elegante; e tia Agatha uma bata indiana daquela cor. Tonks veio sendo conduzida pelo pai, ainda muito tranqüila e sorridente e, Ana deu graças a Deus, com o cabelo da mesma cor.

O casamento foi simples, mas tão bonito e emocionante que Ana temeu que sua maquiagem não sobrevivesse às lágrimas, mesmo com o feitiço de permanência que tia Agatha tinha lançado. Às vezes, tudo aquilo parecia tão irreal... Ela, convivendo com Harry Potter e os personagens que ela tanto amava. Sendo amiga deles. Sendo madrinha de casamento de dois deles!

E Carlinhos... Nossa! Ela não sabia que ele ficava tão bem de terno escuro. Aqueles ombros largos... Desviou o olhar antes que Rony a acusasse de estar roubando o seu modo de enrubescer.

A festa de casamento foi na casa dos Tonks. Como haviam convidados totalmente trouxas, ou seja, que não sabiam da existência do Mundo Mágico, as coisas tiveram que ser bem... “normais”. O que implicava que os gêmeos podiam esquecer dos fogos do Sr. Filibusteiro.

E... A surpresa da noite, a presença de Simas Finnigan.

O pai de Simas trabalhava com Theodore Tonks há muitos anos, sendo que as famílias eram amigas. Simas explicava para Ana, quando ambos estavam longe dos convidados trouxas:

- Eu sou meio a meio: mamãe é bruxa, papai é trouxa. Ele só soube depois do casamento. Foi um...

- Um choque e tanto. – Ana não resistiu em completar o comentário do garoto, que ela conhecia de cor desde “Harry Potter e a Pedra Filosofal”.

- Puxa! – disse Simas, meio constrangido. – Acho que estou sendo repetitivo e nem notei!

- Que nada! Você está sendo uma gracinha, Simas! Gostei muito de te conhecer! – Ana sorriu. Realmente, ainda não sabia como não estava dando pulos de contentamento.

Meia hora mais tarde, Ana comentava com Harry:

- Que coisa incrível! Agora só falta eu conhecer o Dino Thomas para completar o grupo de rapazes grifinórios do seu ano.

Harry torceu o nariz.

- Ah... – ela zombou ao perceber o motivo – Que bonitinho, Harry está com ciúmes de Gina! Que coisa mais fofa! – riu.

Rony e Hermione abafaram o riso.

- Não enche. – Harry ficou ainda mais emburrado. Gina era coisa séria. Sabia que estava sendo infantil, mas não conseguia evitar.

- Não seja bobo, Potter! – Ana desdenhou, ainda que amigavelmente. – Aquela garota é louca por você desde que tinha dez anos! E olha que você era só um menino magricela, de óculos e todo perdido naquela estação de trem.

Harry sorriu com a lembrança. Era verdade, Gina ainda não sabia que ele era Harry Potter quando desejou boa sorte a ele naquela estação. E Rony tinha lhe assegurado que tinha chamado a atenção dela desde aquele momento.

Rony e Hermione riram ainda mais alto, e Ana os acompanhou.

- O que foi? – Gina, que acabara de chegar, perguntou.

- Só comentando como o Harry é irritadinho. – Ana respondeu.

- Ah... – Gina sorriu para o namorado. – Mas isso é muito encantador nele.

- É exatamente isso que as fãs dele acham! – Ana respondeu, mal segurando o riso quando viu a expressão de Gina: - Ah... Que bonitinho, Gina está com ciúmes de Harry! Que coisa mais fofa! – repetiu a frase que tinha dito a Harry momentos antes.

Com expressão mais séria, mas ainda alegre, completou:

- Eu estou muito contente por vocês. Verdade.

Eles sorriram e Ana voltou a atenção para o outro casal:

- E vocês? Não vão me fazer feliz também e dançar juntos? Aliás, vocês quatro?

- É que... Eu e o Harry não dançamos muito bem... – Rony tentou justificar.

Ana olhou para Gina e Hermione e disse:

- Meninas, está na hora de consertar isso! Vão, vão! – praticamente “enxotou” os dois casais para o espaço desimpedido entre as mesas, onde os outros estavam dançando uma música lenta e romântica.

Ana suspirou satisfeita enquanto olhava os casais. O sorriso se desfez quando se lembrou do bracelete de Helga Hefflepuff e não pode evitar lançar um olhar preocupado para o objeto em seu pulso. O tempo estava acabando. Sentira tonturas e no dia anterior vira uma parte ainda maior de seu apartamento.

- Sabia que faz mais de uma hora que eu não te beijo? – uma voz sedutora sussurrou em seu ouvido.

Realmente Ana estava entre bruxos, porque, como mágica, todas as suas preocupações desapareceram restando apenas o homem ao seu lado. Sorriu para ele e respondeu:

- Tudo isso? Como pudemos sobreviver a tanto tempo?

- Era exatamente isso que eu estava me perguntando. – Carlinhos alargou o próprio sorriso e a puxou para a saída que levava ao pequeno quintal aos fundos da casa dos Tonks. Pelo menos, lá estava vazio.

Tão logo se viram sozinhos, Carlinhos a puxou para si dando-lhe um longo e apaixonado beijo. Será que era verdade que bruxos não poderiam voar sem uma vassoura ou um tapete mágico? Porque Ana se sentia nas nuvens...

Quando o beijo se aprofundou um pouco mais, as lembranças de duas noites atrás a fizeram corar. Sabia que, se não parassem a tempo... A consciência disso a fez afasta-lo um pouco:

- Carlinhos... – riu. – Os outros...

- O que tem eles? – ele a puxou de volta.

- Carlinhos! – ela protestou, ainda rindo.

Ele suspirou. Afastou-se, ainda que contra a vontade, tentando se controlar.

- A culpa é sua. – ele sorriu malicioso, enquanto pegava sua mão e se encaminhava para um banco de madeira no outro canto do quintal.

- Minha? – Ana levantou uma sobrancelha, fingindo indignação.

- Sim, SUA. – ele reafirmou enquanto a acomodava em seus braços. – Quem mandou ser tão adorável?

Ficaram assim, abraçados, apreciando a lua e as estrelas, enquanto sentiam a brisa do setembro inglês acaricia-los. Após algum tempo, Carlinhos falou:

- Eu estive pensando... – ele tinha um cacho dos cabelos negros de Ana entre os dedos.

- Ah, isso é realmente perigoso! – Ana brincou.

Mas Carlinhos permaneceu sério, e a fitava nos olhos quando disse:

- Eu vou esperar por você.

Ana sentiu um frio na barriga. Uma parte dela estava exultante em saber que ele estava disposto a fazer isso. E a outra a atormentando duramente por ser tão egoísta.

- Não... – Ana disse fracamente enquanto se afastava dele. Precisava de uma certa distância dele para poder ter idéias mais claras, do contrário acabaria por ceder.

- Por que não? – Carlinhos também se levantava, e o tom exigia uma resposta.

- São oito anos! Oito anos que não vai poder sequer estar nos mesmos lugares que eu!

- E daí? – ele se aproximou de novo dela, segurando em seus braços. – O tempo que passaremos juntos depois disso valerá a pena.

Ana se afastou de novo:

- Muita coisa pode acontecer em oito anos, Carlinhos. – Merlim, como doía dizer aquilo! – Especialmente se estiver longe de mim. Pode conhecer outra pessoa e...

- Ninguém – Carlinhos deu um passo a frente e segurou o rosto dela entre as mãos – Ninguém, ouviu? Pode me fazer sentir o que eu sinto por você.

Como Ana não deu mostras de ter sido convencida, ele interpretou a hesitação dela de outra forma:

- O que foi? Acha que meus sentimentos não são verdadeiros? – acusou.

- Não é isso! Só estou dizendo que o tempo... É mais forte do que pensa.

- Não. – ele afirmou categórico. – O que está dizendo é que o tempo é mais forte do que meu amor por você. – ele soltou seu rosto, os olhos brilhando de indignação.

“Inferno de homem”! Ana pensou, sentindo a raiva percorrer o seu corpo:

- Se não é capaz de perceber que estou preocupada com VOCÊ, preocupada com a SUA felicidade, então é melhor pararmos por aqui!

Antes que ele pudesse agarrá-la novamente, correu para dentro da casa com um nó na garganta. Encontrando Hermione, avisou-a de que iria voltar para casa e pediu para que se desculpasse com Tonks e Lupin por ter ido embora sem se despedir. “Não... Só estou cansada.” Respondera apressadamente quando a garota questionou se estava se sentindo mal. E como Mione ainda aparentasse estar preocupada, continuou: “Não se preocupe, tia Agatha e Moody já estão em casa”.

Perguntou discretamente à senhora Tonks se havia uma lareira que pudesse usar. A senhora fez um sinal afirmativo com a cabeça e pediu que a seguisse até o quarto principal. Antes que Ana pegasse o Pó-de-Flu, Andrômeda ainda perguntou se estava tudo bem, ao que ela respondeu novamente que sim, apenas cansada.

Ainda tirando o excesso de pó das roupas, avançou para a sala de estar. Queria seu quarto. E se as lágrimas que ameaçassem cair finalmente chegassem, queria que isso acontecesse lá, onde ninguém veria.

- Hum! Huum! Huuuum! – ouviu resmungos vindos de algum canto.

Assustada, viu Rampell amordaçado e amarrado sobre uma das poltronas. Correu para ajudar o velho elfo domestico. Quando o libertou da mordaça, perguntou:

- Rampell, por Merlim, o que acon...

- Oh, M-mestra Ana... – o elfo gaguejou apontando a mão trêmula de susto para algum ponto da parede acima da lareira.

Ana arregalou os olhos em terror. Marcada à fogo, uma caveira com uma língua de cobra: a Marca Negra.

Sentiu seu estômago revirar, enquanto uma vertigem a percorria. Quando seus olhos vidrados na marca finalmente perceberam a existência de um pedaço de papel pregado junto ao brasão da família que enfeitava a parede, levantou-se e, com passos tensos e lentos, chegou até ele. Fitou em silêncio o papel por alguns segundos, sentindo apenas a própria respiração pesada e os resmungos lamentosos do elfo atrás de si. Então, pegou o pergaminho e o leu:

“Toque na chave de portal que deixamos ao lado deste bilhete, senhorita Ana. Ela vai levá-la até o Lorde das Trevas, que deseja muito conhecê-la. Se eu fosse a senhorita não demoraria muito, especialmente se quer ver sua tia inteira novamente. Lembre-se: cada minuto que demorar será um pedaço a menos de Agatha Smith... Não é bom decepcionar o Mestre.”

Ana fitou sem ar o pequeno objeto de porcelana que, realmente, não fazia parte da decoração de Smith House. “Tia Agatha!”, pensou, sentindo a náusea piorar mil vezes.

- Rampell... – disse em um fio de voz. – Onde... Onde está tia Agatha?

- Rampell não sabe, jovem mestra. – o elfo tinha a voz esganiçada e tremula. – Mestra Agatha não chegou em casa ainda.

“Oh, Meus Deus! Eles pegaram minha tia. Mas... e Moody? Ele estava com ela... Ora, devem ter pegado ele também. Como fomos ingênuos! Moody é um ótimo auror, mas é um só! Como não desconfiamos que eles poderiam usa-la para chegar até mim?”.

Ana foi encolhendo-se sobre o próprio corpo, desesperada, até que se deixou ficar sentada no chão. Depois de tudo o que acontecera sentia-se bombardeada por todos os lados. Exausta emocionalmente não conseguia raciocinar, apenas queria abrir os olhos e descobrir que tudo era um pesadelo.

Mas quanto mais demorasse, sua tia é quem iria sofrer. Esse pensamento a despertou do torpor e, levantando-se, pôs-se a pensar: “Levar-me para aonde?” “Em que lugar eles pretendem me esconder?” “Vamos, pense Ana! O que os livros dizem?”

Levou a mão à testa, frente à compreensão da própria estupidez. “Mas é claro!” Procurou na memória alguma passagem que dissesse que já não era lá, que o tinham descoberto ou que simplesmente o lugar fora abandonado por ele. Nada. Não havia sinais de haver algum outro, mas também nenhum indício que confirmasse suas suspeitas.

“Tem que ser lá!”. Estava furiosa consigo mesma. Como não pensara nisso antes? Era uma informação tão importante, como pudera esquecer? “Não há mais tempo... Tenho que ir.”

Apostando a sua vida e a da tia nisso, Ana escreveu em um outro pedaço de papel antes dá-lo a Rampell com instruções de garantir que ele chegasse até as mãos de algum membro da Ordem:

“Casa dos Riddle, Little Hangleton”. “Ana.”

Era isso, não havia muito mais a se fazer. Aquela chave de portal era do tipo que iria com o seu passageiro, é claro – comensais não cometeriam este erro básico - não deixando meio dos outros a seguirem através dela. Determinada, tocou o objeto enfeitiçado sentindo o mundo se afinar ao seu redor e ser tragado por ele.

Caiu com violência em uma terra fofa e muito escura. As sombras da noite ainda cobriam tudo e Ana percebeu apenas vultos se cercando dela.
- É um prazer tê-la conosco, senhorita. – era uma voz fria e altiva.

O vulto se aproximou dela, sendo iluminado por um raio de luar. Ele era magro e tinha um rosto fino, pálido e com sinais de cansaço provocado por um longo período tenebroso. Alto, cabelos loiros e compridos, e olhos de um cinza frio.

- Lúcio Malfoy. – Ana disse sem emoção, apenas fazendo uma afirmação enquanto sustentava o olhar do comensal.

Em um esgar fraco que pretendia demonstrar desdém, ele respondeu:

- Os membros das famílias tradicionais costumam se reconhecer, não é mesmo?

- Onde está minha tia? – Ana o cortou.

Ele e os outros comensais riram de forma cruel. O riso deles a gelou porque a fez compreender a armadilha em que tinha caído:

- Ela não está aqui! – ela estava desconcertada. – Vocês me enganaram!

- Sua tia deve estar tomando chá com Madame Rosimerta e aquele desvairado do Moody. – Malfoy respondeu adorando fazer isso. – Ora, não esperava que nós fôssemos arriscar chamar a atenção de toda a Ordem entrando em uma luta em um dos lugares mais movimentados de Hogsmeade, não é?

Ana jamais imaginou que pudesse se sentir ainda pior do que antes.

- Esse é o mal dos “bonzinhos”. – Lúcio debochou. – Sempre tão prontos a ajudar, a se sacrificar... – fez uma expressão de desprezo: - Lealdade, justiça... Coisas de fracos! Os idiotas sempre acabam como você... Senhorita.

Não dando mais a mínima à cautela, Ana puxou sua varinha e ia apontá-la para acabar com a raça de Lúcio Malfoy quando um outro comensal, já a postos, lançou contra ela um feitiço de desarmamento, jogando para longe sua varinha.

- Muito bem, Rodolfo. – Malfoy cumprimentou o comensal.

- Não foi nada, Lúcio. Na realidade, foi muito fácil. – completou com desprezo: - Ela é muito ruim.

- Tão ruim – Ana devolveu, a voz mais cortante do que nunca - Que, pelo jeito, Voldemort não se sentiu seguro em mandar somente você para fazer o serviço, não é? A última vez deve tê-lo esclarecido muito sobre a sua capacidad...

Malfoy a fez se levantar puxando-a rudemente. Quando o rosto dela também ficou sob a tênue luz da lua, ele disse:

- Nada mal, para uma amiguinha de trouxas. – os outros comensais poderiam pensar que ele estava se referindo à sua resposta, mas o olhar de Malfoy sobre ela a fez ter certeza de que ele estava falando sobre a sua aparência. – Nada mal mesmo...

Os comensais decidiram que era hora de partir. Arrastaram Ana em direção a uma construção muito grande metros à frente deles. Ao observar a silhueta da casa em decadência, com algumas janelas pregadas, e o chalé pequeno e mal-cuidado ao lado dela, Ana bendisse o talento descritivo de J.K. Rowling.

***
(N/A): Desculpem pelo capítulo mal escrito! Prometo que vou revisá-lo, ta? E também por ter feito a Ana e o Carlinhos brigarem, mas isso é necessário para o fato dela ter voltado para casa sozinha e confusa (dando chance aos comensais de enganá-la). Como eles conseguiram entrar na casa? Qual foi o juramento de Draco? E os horcruxes? E Snape? E o bracelete?
Respostas nos próximos capítulos, que, pelo jeito, serão IMENSOS!

Bruxicca: Obrigada pelo comentário e pelos elogios. Fiquei muito contente por você ter postado (aliás, sempre fico). Que bom que não achou que tenha ficado “novela mexicana”. Eu tenho um fraco por romance e fico com medo de exagerar, às vezes... Brigadão! E... Por favor, atualiza sua fic!

Sally Owens: O seu grito de satisfação me rendeu muitas risadas e uma quantidade bem generosa de bem estar! He, he! A Ana se segura um pouco para não chocar os amigos, mas não se agüenta e acaba falando... Fã é fã! Primeiro: não quero te deixar maluca! ; ) Ta aí o próximo capítulo. E, que bom que não exagerei. Ultimamente meus capítulos andam com uma variedade enorme: aventura, romance, drama... ufa! Não me canso de trocar idéias com você, Sally. Parece que completamos o pensamento uma da outra, isso é muito legal! Gente, isso é tão incrível, que vocês nem imaginam! Vai sair (ou melhor: já saiu) muita coisa boa destas conversas! A gente precisa passar uma outra tarde qualquer conversando pelo MSN. Estou aguardando ansiosa a atualização da sua. Beijos!

ChampionBR/None: Moço, você pode me infernizar pelo MSN quando quiser! Aliás, pelo MSN, por e-mail, enfim! As suas “infernizações” me deixam muito feliz! E quando resolver continuar a sua fic, me fala que eu faço o “meio de campo”! Beijos!

Sir Potter: Obrigada pelo elogio! Sempre que alguém novo aparece por aqui dá um friozinho na barriga e uma sensação boa como se realmente tivesse feito uma nova amizade. Obrigada por ter postado.

Lady.MyaH: Oi, menina! Como estão indo as férias? Obrigada por ter arranjado um tempinho para ler a minha fic. Que surpresa agradável! Também acho o casal fofo (a expressão “fofo” é a minha favorita, uso ela várias vezes). Como assim sua fic chata? Garota, eu estou roendo as unhas para saber o que vai acontecer em seguida e vc diz que ela é chata? Estou com tanta saudade do “Malfoyzinho” que peguei ele emprestado, vc viu? He, he! Mesmo sabendo que só vai ter atualização lá em fevereiro eu me pego dando uma olhada para ver se saiu o sete... Ô vício! Beijos!

Magia: *dando pulos de contentamento* Que bom que postou! Peraí... *segura o queixo caído*. Surpreendi? *sorriso de orelha a orelha* Que bom! Eu adoro ficção científica e o Wells tem uma poesia, uma sensibilidade que me conquistaram como sua fã para sempre! Não podia deixar de homenageá-lo, bem como o Poe, no capítulo 11. Quanto ao Carlinhos e a Ana... Os dois já estavam arrastando asa um para o outro só faltava eles deixarem de ser bestas e assumir isso de uma vez, he, he! Capítulos mega-super-hiper gigantescos? Menina, não me encoraje! Você pode se arrepender! Mil beijinhos, amiga!

Bem, acho que tem mais uns três capítulos... (tudo vai depender de como as minhas idéias tomarem formato quando escrever os próximos). Mesmo sendo hoje o meu aniversário (21/01), quem vai dar o presente sou eu: o nome do próximo capítulo será.... “Voldie”.

Mais uma vez, muito, muito e muito obrigada a todos que acompanham a fic, mesmo aquele que lêem em silêncio e volto a convidar a comentar quando quiserem.

Mas o meu pedido final é sempre o mesmo: COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM! Beijos, abraços e tudo de bom para vocês. Até o próximo capítulo!

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