Que Danny?



Ana foi tomando consciência lentamente. Infelizmente, também veio com ela uma dor de cabeça de origem misteriosa.

Abriu apenas um pouquinho os olhos, e foi o suficiente para perceber algumas coisas: 1°. Que era de manhã (o sol brilhava através de uma janela); 2°. Que estava em um lugar estranho, e 3°. Que havia uma mulher sentada em uma poltrona e... Que tinha o cabelo rosa!!!

Tentou levantar-se rapidamente da cama, mas tudo o que conseguiu foi aumentar a dor de cabeça:

- Aiaiaiiii!!!! – exclamou, surpresa pela dor, desabando na cama novamente.

A mulher disse, sorrindo:

- Bom dia! Que bom que acordou! Sente-se bem?

Piscou várias vezes, completamente perdida. Por que aquela mulher estava falando em inglês?

- Onde... Onde estou? – perguntou na mesma língua.

Antes que a mulher respondesse, o maior grupo de ruivos que Ana tinha visto na vida entrou no quarto.

- Ela acordou? – precipitou-se uma mulher baixa e cheinha, igualmente ruiva. E dirigindo-se à Ana: - Está melhor, querida? Está com fome?

- O-o q-que aconteceu? – Ana perguntou.

- Você caiu do nada, bem no nosso quintal! – explicou o ruivo que parecia ser o mais jovem.

– Pensamos em levá-la ao St. Mungus, mas Tonks disse que você não tinha levado nenhuma concussão, então deixamos você descansar. – completou uma garota, da mesma idade, de cabelos castanhos e com voz formal.

“Eu caí da varanda?”, Ana pensou mais confusa ainda.

Então, deu-se conta de algo que a garota tinha dito:

- Tonks? – seu queixo caiu.

- Sim, sou eu. – disse a mulher de cabelos rosa.

Ana estreitou os olhos, uma expressão assassina neles:

- Muito bem, já entendi! E não estou achando nada engraçado! – olhando ao redor do quarto, continuou: - Onde estão as câmeras? Lamento informar, mas não vou dar autorização para usarem minha imagem! De onde vocês são? De um daqueles ridículos programas de domingo?

Geralmente Ana era calma. Mas que ninguém pisasse em seu calo, porque conseguia ter uma língua bem ferina nestas ocasiões.

- Escute aqui, moça. – começou um rapaz ruivo, que Ana tinha a impressão de já o ter visto antes. – Não sabemos do que está falando, mas, mesmo sem saber quem é, nós nos revezamos a noite toda para cuidar de você. O mínimo que pode fazer é se mostrar agradecida...

- Carlinhos!!! – repreendeu o ruivo mais velho. – Ela está confusa! Dê um tempo a ela!

“Carlinhos?”, pensou Ana. “Tão de brincadeira!”

- Não são da TV? – continuou Ana, se levantando. – Muito bem, já sei então... – elevando a voz e olhando ao redor, como se procurasse alguém, disse em português: - Déb, Lu e Carol, a brincadeira acabou! Saiam de onde estão escondidas, ou o fato de serem minhas amigas não vai me impedir de processá-las!

Ana viu Harry, que até então estava escondido na “massa ruiva”, e, arregalando os olhos, a moça disse:

- Puxa! Você realmente é muito parecido com o Danny! Podiam ser gêmeos!

- Que Danny? – Harry estava achando que a moça era louca.

- O ator que faz o papel de Harry Potter nos filmes. – sem perceber o assombro de Harry, Ana se volta para os demais:

- Olha, não adianta continuar com a farsa. De onde saíram? Da Divisão de Assuntos Europeus da Agência? Cansaram de ler o “The Sun” e resolveram que seria divertido pregar uma peça numa colega, fingindo serem os personagens dos livros de Harry Potter? Francamente!

Indignada, Ana marchou porta afora, deixando os seus interlocutores no quarto, sem ação. Eles ficaram assim, olhando uns para os outros sem saber o que dizer por uns quinze segundos. Então, o grito de Ana, vindo da cozinha os despertou.

Encontraram-na em pé, o olhar vidrado sobre as agulhas de tricô da senhora Weasley... Que trabalhavam sozinhas, é claro!

- Moça... – Carlinhos se aproximou, temendo que ela desmaiasse a qualquer momento, tamanha era a sua palidez.

Sem dar mostras de que tinha percebido a presença deles, Ana pegou o que parecia ser o arame de um coador de café que estava na mesa (um aro com haste) e, lentamente, como se não acreditasse que estava sequer admitindo aquilo ser provável, passou-o pelas agulhas, comprovando que não eram sustentadas por coisa alguma.

- Meu Deus... – disse em um fio de voz. – Estão enfeitiçadas... Estão REALMENTE enfeitiçadas!

Voltou-se para Harry:

- Então... VOCÊ É HARRY POTTER! – e desmaiou.

Carlinhos a amparou, resmungando:

- Espero que isso não vire um hábito...


***


Estava tudo como na noite anterior, só que era dia. Ana jazia no sofá, desacordada, e os demais estavam em volta dela, discutindo.

- O que foi isso tudo? – Percy exclamou. – Parece que ela é uma trouxa afinal.

- Uma trouxa que conhece o Harry? – duvidou Rony.

- Talvez ela tenha algum parente próximo que seja bruxo. – propôs Lupin.

- Não... – Mione fez aquela “cara-de-Mione”. – Ela falou dos “livros do Harry”. E agiu como se não fossemos reais. Como se “não pudéssemos” ser reais.

- Andou escrevendo livros e não nos contou, Harry? – Jorge perguntou, contendo o riso.

- É claro que não! – Harry respondeu, amuado.

- Se for mesmo uma trouxa, vamos ter que chamar os obliviadores. – disse Percy, daquele jeito “sou-funcionário-do-ministério”.

- Não antes de saber como ela conseguiu chegar aqui. – contradisse Moody.

Ana começou a acordar. Todos voltaram sua atenção para ela, ansiosos por desvendar o mistério.

Ela abriu os olhos lentamente, esperando ver seu apartamento, e descobrir que tudo tinha sido um pesadelo. Mas, quando se deparou com um rapaz moreno e com uma cicatriz em forma de raio, soube que tudo era real.

- Pelas barbas de Merlim... – lamentou baixinho e sentou-se.

- Querida, você está bem? – a senhora Weasley perguntou gentilmente, sentando-se ao seu lado.

Lágrimas começaram a correr pelo rosto de Ana, ao intuir quem era a mulher:

- Ah... Senhora Weasley! Desculpe-me! Metade do mundo querendo conhecer A Toca, e olha o que eu fiz! Vocês foram tão gentis cuidando e mim e... e... – agora soluçava abertamente, o choque de estar ali se juntando ao pesar pela forma como agira.

Obedecendo ao seu instinto maternal aguçado, a senhora Weasley a abraçou (aquele abraço “senhora Weasley”), e disse:

- Tudo bem, tudo bem, querida. Pronto, não precisa ficar assim...

- Como sabe o nome de Molly? – Moody questionou.

Desvencilhando-se, mais ainda fungando, Ana respondeu:

- Bem... Eu posso dizer como sei. O difícil é fazê-los acreditar.

- “Tente”. – Carlinhos falou.

Lançando um olhar de reprovação para o filho, a senhora Weasley falou, suavemente:

- Mas diga seu nome primeiro, querida.

- Ana. – sorriu. – Ana Maximilliam Anhangüera. – vendo o estranhamento dos demais, completou: - É um nome Tupi. Sou brasileira.

- Uau! E você é trouxa? – Rony perguntou sem rodeios, não se agüentando mais.

Pelo visto, Rony continuava tão sutil quanto um elefante.

- Bem... Eu sempre achei que vocês poderiam ter posto um termo menos ofensivo, mas... Sim, sou trouxa.

- Sem nenhum parente bruxo? – Moody acrescentou.

- Sim, Moody. – Moody arregalaria até o olho mágico, se pudesse, depois de ouvir seu nome pronunciado pela estranha. - Mas antes de lançar um “obliviate” em mim – continuou Ana - gostaria que me escutasse.

Levantando-se, Ana pôs-se a explicar:

- Bem... Vocês não existem. – disse de supetão, como se assim doesse menos. – Ou melhor, eu achava que não. Todos vocês estão mencionados em livros de uma série chamada “Harry Potter”.

Olhou para Harry, temendo o que suas palavras poderiam fazer no garoto. Pobrezinho, sua vida já era suficientemente estranha.

- Eles contam sua vida, Harry. Cada livro é um ano seu em Hogwarts. Mas, todos acham que vocês não existem, que são só personagens, que o mundo mágico não existe!

- Sinceramente, mocinha, espera que acreditemos nisso?

Ana sorriu tristemente. Reconhecia aquele estilo pedante.

- Você deve ser o Percy. – o sorriso se abriu, ao notar o espanto do rapaz. – Bem, Percival, acho que posso dar algumas provas.

Dirigiu-se a um homem de cabelos castanhos-claro, com fios brancos entre eles:

- Remo J. Lupin. Mordido por um lobisomem quando criança. Dumbledore plantou o salgueiro lutador para esconder o túnel de acesso à Casa dos Gritos, que era para onde você ia em noites de lua cheia, para se transformar. Apelido nos Marotos: Aluado.

- Como...

Para os gêmeos:

- Fred e Jorge Weasley. Abriram a “Gemialidades Weasley” com o dinheiro que Harry ganhou no Torneio Tribruxo. Desculpem, tive que dizer.
Deixou os gêmeos atordoados e foi a vez de Rony:

- E, se o que eu li recentemente estiver correto, e ontem foi o casamento de Gui e Fleur... Você e o Harry conversaram sobre Voldemort ontem à noite, quando tinham prometido para a Hermione que não o fariam até hoje.

- Rony! Harry! – Mione exclamou, indignada.

Ana ouviu uma voz que, até então, se mantivera calada:

- Q-quem... Os escreve? – Harry estava chocado, uma sensação ruim percorrendo-o. Mas agora sua voz exigia uma explicação: - Como esta pessoa sabe da minha vida?

- J.K. Rowling. – respondeu Ana, desejando ardentemente não ter que o fazer. - Ela é trouxa, até onde eu sei. Pelo menos há registros dela estudando em escolas trouxas, empregos trouxas. Quanto à “como”... Isso eu não sei dizer. Até hoje de manhã achei que tudo era uma invenção. Uma invenção maravilhosa, mas... Uma invenção.

- Meu Deus, ela pôs a vida de Harry em perigo! – o senhor Weasley exclamou.

- Er... Eu acho que não. – disse Tonks - De alguma forma, ninguém, tanto trouxas quanto bruxos souberam desses livros. É como se não existissem. Eu acho que somos de universos diferentes, sei lá.

- O que nos leva a outra pergunta. – expôs Lupin. – Como veio parar aqui, senhorita Anhe.., Ag....

- Podem me chamar de Ana.

Ana suspirou. Outra pergunta difícil de responder.

- Bem... Eu estava sentada no meu apartamento em Brasília, lendo um livro da série que tinha acabado de chegar...

- Quem enviou? – Lupin questionou.

- Minha tia-avó, eu suponho...

- Supõe? – Moody disse.

- Não havia remetente. Tudo o que sei é que os pacotes tinham selo da Grã-Bretanha. Eu sei, eu sei, também estranhei, porque não existe nenhum livro “Harry Potter e o Segredo de Sonserina”, o último lançamento foi “Harry Potter And The Half-Blood Prince”, e acabou de ser lançado... Como poderia já ter uma continuação, ou seja, o sétimo ano? – Ana pôs-se a falar, sem perceber o espanto crescente dos demais.

- Half-Blood Prince? – Carlinhos perguntou.

- Snape... - Harry respondeu. - Mais tarde eu explico.
Harry pensava nos bizarros livros. Será que todos eles contavam os detalhes do inferno que era a sua vida? Achavam que aquilo era divertimento?

- O livro podia ser uma chave de portal... – Ana divagou. – Pelos sintomas, eu acho que sim... Senti um forte puxão no umbigo pouco depois de desejar...

- Sim? Desejar o quê? – Tonks perguntou interessada.

- Poder ajudar o Harry... – pela primeira vez, Ana viu Harry dar um arremedo de sorriso e em seguida enrubescer.

- Ana – Tonks pareceu ter uma idéia. – Mais alguma coisa diferente aconteceu?

- Sim... Um eclipse lunar.

- Ahá! – Lupin pareceu ter entendido. – Forças cósmicas atuando, conjugadas com um pensamento feito do fundo do coração e um possível objeto enfeitiçado. Acho que estamos indo no caminho certo.

- Não acham que algum bruxo das trevas me mandou aquele livro, acham? – Ana perguntou assustada.

- Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa a esse respeito. – respondeu Lupin. – Mas acho improvável que um deles quisesse enviar alguém disposto a ajudar Harry.

- Senhorita Ana... – Harry chamou. - O que vem em seguida? Quer dizer... Como termina tudo?

- Lamento, mas eu não sei. – Ana detestava acabar com as esperanças de Harry. - A última coisa que eu li foi a conversa entre Rony e você ontem.
Hermione bufou à menção da quebra da promessa.

- Tudo bem. – Harry tentou sorrir. – Já estou acostumado a ter as coisas dificultadas para mim.

- Eu sei. – olhou, com o canto do olho, Gina, e repetiu, com pesar: – Eu sei.

- Acho que devemos por o Ministério a par disso. – falou Percy.

- Deixe de besteiras, Percy! – exclamou Carlinhos, sendo acompanhado pelos demais.

Ana sabia que aquele comportamento só iria incentivar ainda mais Percy a fazer um relatório ao Ministério da Magia. Então, voltou-se para ele e, formalmente, argumentou:

- Entendo perfeitamente sua preocupação, senhor Percival. Também trabalho para o meu Governo, sei como se sente em relação às suas obrigações, acredite. Mas, pense: se você fosse um bruxo das trevas, onde se infiltraria para conseguir influência?

- Está dizendo que o Ministério é corrupto? Que abriga Comensais? – Percy estava indignado.

- Não. – Ana respondeu calmamente. – Apenas que seria o lugar perfeito para alcançarem o poder. Ao que parece, o Ministério da Magia é o que move o Mundo Mágico, o que o sustenta! Se eu fosse uma bruxa das trevas o escolheria como instrumento, não acha?

Percy pareceu considerar:

- É... Realmente o Mundo Mágico não sobreviveria sem o Ministério.
- Também acho, meu amor. – concordou Penny.

- Está bem. - Percy pareceu convencido. – Vou guardar segredo, por enquanto. – voltando-se para Penny: – Prometi para seus pais que a deixaria em casa ainda esta manhã, querida.

- Está bem. Vamos. – e, para Ana, sorrindo: – Vou guardar seu segredo, não se preocupe.

- Obrigada. – Ana agradeceu. “Será que Penny é a salvação de Percy?”, perguntou-se.

Quando ambos aparataram, Ana voltou-se para os demais (que estavam abobalhados com a saída que ela dera para a situação):

- Er... Será que alguém teria umas roupas para me emprestar? Geralmente eu só me visto como criança para dormir... – disse, olhando para o próprio pijama das “Meninas Super-Poderosas”.

Depois da gargalhada geral, Gina e Mione disseram que poderiam ter algo que servisse, e as três subiram as escadas.

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(N/A): Por favor, comentem! Mesmo que seja para me xingar, eu não me importo!

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