Um Casamento Bruxo



Apesar do clima sombrio que reinava no mundo dos bruxos, a viagem de Surrey até a casa dos Weasleys foi muito divertida. Isto porque Fred e Jorge estavam pondo Harry a par das suas atividades na “Gemialidades Weasleys”, a loja de logros mágicos que pertencia a ambos.

- Apesar das vendas terem tido uma pequena queda por causa do clima depressivo, nós mantivemos uma margem de vendas estável com o novo jogo de “trouxas em miniatura”. – disse Jorge.

- É! – concordou Fred. - Nós chamamos a linha de “Mundo dos Trouxas”. Há a série de bonecos animados de trouxas dirigindo, cozinhando, usando o... Como é mesmo o nome? Omputador, não Computador! – riu. – Os clientes acham estes muito engraçados!

- Há a de figuras trouxas importantes, que dizem, quando se sacode uma varinha na frente deles: “Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”.

- De quais pessoas vocês produzem? – perguntou Harry.

- Políticos, escritores, atores... Tem um tal de Daniel Rad-não-sei-o-quê que sai mais porque as mulheres acham que ele é fofinho. O que é mesmo que ele faz, Fred?

- Ventríloquo, eu acho. Ou comediante, eu sei lá.

- E há “Contos dos Trouxas Para Crianças”. Na realidade, não foi idéia nossa, mas do dono da Floreios & Borrões. Ele achou que venderia melhor se os livros da série viessem com um dos nossos bonecos de brinde. Então, fechamos contrato.

Harry estranhou:

- Contos dos Trouxas?

- Mitos e histórias criadas por eles. – explicou Jorge.

- Baseado somente em elementos do mundo deles, e sem conexão com o mundo mágico. – completou Jorge. – “Oliver Twist”, “ET – O Extraterrestre”, “As Aventuras de Tom Sawyer”, “Uma Linda Mulher”, e assim por diante.

- Algumas pessoas acham muito interessante a maneira como os trouxas se viram sem mágica. Pesquisando em revistas e jornais velhos dos trouxas, descobrimos uma série americana chamada “MacGiver”.

- É um sucesso absoluto! – exclamou Jorge, empolgado. – O tal trouxa, MacGiver, consegue construir praticamente qualquer coisa só com goma de mascar e alguns canudinhos.

- Verdade? – o senhor Weasley, apreciador assumido dos trouxas, não se agüentou mais e se voltou para o banco de trás, descuidando da direção.

- Arthur! Cuidado com o bando de patos em migração! – A senhora Weasley exclamou.

- Desculpe! – O senhor Weasley fez uma manobra brusca, desviando dos patos por centímetros.

Quando todos se recuperaram do revés, Fred continuou:

- Bem... O Tal MacGiver acaba sempre salvando mundo com as engenhocas dele no final. Em minha opinião, é apelação demais, mas se os clientes gostam...

- E, vocês não imaginam o mais interessante: Sabem como se chama a organização para qual o tal MacGiver trabalha? A tal que contratou ele só para lutar contra o mal? “Fundação Fênix”!!!

- Não brinca! – exclamou Rony, parecendo interessado no assunto pela primeira vez.

- Eu sempre disse que os trouxas não eram tão diferentes assim da gente. – disse satisfeito o senhor Weasley, desta vez sem virar para trás e alerta para a possibilidade de mais patos aparecerem.

- Francamente, Arthur! Salvar o mundo com goma e canudinhos? – disse a senhor Weasley em tom de incredulidade.

- Não, Molly. Estou falando da crença de que podemos fazer algo para lutar contra o mal. Veja, eles conhecem a história da Fênix, embora acreditem que seja uma lenda. A usam para simbolizar tudo o que é bom e decente... Como nós, quando criamos a Ordem da Fênix.

- Não tinha pensado nisso...

Todos ficaram em silêncio. Era evidente que a menção à Ordem os havia lembrado de tudo o que acontecera. A Harry, a Fênix lembrava não só a Ordem, como o padrinho, Sirius, e o Professor Dumbledore, e a forma terrível como ambos tinham morrido.

- Alguma pista de Snape? – Harry perguntou com a voz sombria.

- Não... – senhor Weasley respondeu, hesitante quanto a falar daquele assunto à Harry.

- A Ordem acabou?

- Não, é claro que não! – o senhor Weasley tentou sorrir. – Mas não quero que pensem nisso agora. É hora de comemorarmos o casamento de Gui e de Fleur!

Todos tentaram dar um sorriso, mas Rony e Gina olhavam preocupados para Harry. Eles sabiam que ele não iria parar de pensar naquilo e tampouco iria ficar de fora.


***


Algumas horas depois, chegavam sãos e salvos na Toca. Um trouxa certamente se surpreenderia ao ver a quantidade de pessoas que desciam daquele pequeno carro. Mas, para quem estava acostumado com as manias do senhor Weasley em enfeitiçar artefatos trouxas, era tudo muito natural.

- Harry! – exclamou Hermione, enquanto abraçava o amigo.

- Oi, Mione!

- Bem vindo, Harry. – cumprimentou Carlinhos.

A Toca continuava exatamente como Harry se lembrava. O velho relógio, que mostrava onde todos da família Weasley estavam, moveu-se de forma que todos os ponteiros ficaram no marcador “casa”. Ou melhor, quase todos: o de Percy estava em “trabalho”. Certamente, o relógio da senhora Weasley ainda considerava que a casa de todos, mesmo daqueles que não moravam mais com os pais, era a Toca. O que não explicava o porquê de Percy não estar ali, às vésperas do casamento do irmão.

O olhar de Harry e o da senhora Weasley se encontraram, e ele viu a sombra de tristeza que passou pelo rosto dela. Gentilmente iniciou um assunto que alegraria a bondosa senhora:

- Como vai indo os preparativos para o casamento, Fleur?

Os olhos de Fleur brilharam. Estava esperando que alguém perguntasse. Imediatamente, pôs-se a falar sobre a decoração, as flores, o arranjo musical e dos vestidos das damas de honra (nessa parte Gina revirou os olhos e deu de ombros, como a dizer: “fazer o quê?”). Ah, como Harry estava sentindo falta dos Weasleys!

A família de Fleur estava hospedada em Londres, além de algumas de suas amigas do tempo de Beauxbatons. Não era um grupo muito grande, uma vez que viajar, ainda que por meios mágicos, fosse considerado muito perigoso naqueles tempos.

- Fleur, a chave de portal já está com seus pais? – perguntou Arthur Weasley. Gabrielle e algumas priminhas, que não podiam aparatar, viriam por ele.

- Sim, senhorr Weasley. – sorriu, os cabelos de veela movendo-se enquanto balançava a cabeça. – Está tudo perrrfeito!

- Você é perfeita, meu amor! – disse Gui, abraçando-a carinhosamente.

Harry desviou o olhar, com um sorriso constrangido. Mesmo sem querer, procurou por Gina, percebendo que ela também sentira necessidade de fita-lo. Após alguns segundos, romperam o contato, como se tivessem caído em si.

As atividades do dia seguinte foram bem explicativas para Harry, que nunca tinha estado em um casamento bruxo antes.

A senhora Weasley conjurava vários arranjos florais para decorar as pilastras gregas que foram metodicamente postas ao longo da tenda branca onde se realizaria a cerimônia. Os noivos tinham optado por um casamento em casa.

Um pouco mais adiante, o senhor Weasley e os filhos, juntamente com o senhor Delacour, enfileiravam as cadeiras onde os convidados iriam assistir aos votos do casal.

Fleur estava na casa dos Granger. Gui resmungou alguma coisa sobre tradições inconvenientes dos trouxas, e Rony explicou a Harry que Fleur estava proibida – tanto pela senhora Weasley quanto pela mãe - de ver o noivo no dia do casamento: iria dar azar.

O casamento iria se realizar no fim daquela tarde, e a festa se estenderia noite adentro. Harry, Rony e Hermione havia feito um trato de só conversarem sobre “Você-Sabe-Quem” no dia seguinte, para poderem desfrutar daquele momento de felicidade. Quem saberia dizer quando teriam o próximo?

A Toca estava um rebuliço só. As pessoas aparatavam e desaparatavam, conjuravam coisas para o casamento, lembravam uns aos outros de tarefas, enfim! Não paravam um só momento. Mas apesar do trabalho e do nervosismo geral, todos exibiam um sorriso radiante no rosto.

Lá pelas três da tarde, um enorme “PLOK” foi ouvido na cozinha.

- Ah! Parece que o serviço de buffet chegou. – a senhora Weasley disse.

Realmente, a cozinha estava cheia de delícias em caixas com o logotipo da “Casamentos Encantados”. Rony tentou pegar discretamente algo que se parecia com um canapé, quando foi surpreendido pela mãe:

- Ronald Weasley, não se atreva! Será que eu vou ser obrigada a lançar um feitiço anti-roubo contra meu próprio filho?

Vermelho como um pimentão, Rony fechou a caixa, certificando-se se Hermione não estava por perto. Por sorte, a garota já tinha ido buscar os pais e a noiva.

Um novo “plok”. Uma nova leva de comida aparecera.

- A sobremesa! Ainda bem. Estava quase mandando um berrador para o serviço de buffet. – disse a senhora Weasley.

- Ainda não sei como convenceram a mamãe a deixar outra pessoa cozinhar. – disse Rony, baixinho.

- Segredos das Gemialidades Weasley. – disse Fred.

- Molly, o pessoal do Ministério disse que estaria aqui lá pelas cinco horas. – avisou o senhor Weasley.

Depois disso, foi como se alguém tivesse apertado o botão de acelerar de um vídeo-cassete, porque todos pareceram triplicar a velocidade com que faziam as coisas, em uma contagem regressiva até a hora do casamento: “Faltam duas horas!”, “Uma e meia, corram!”, “Meu Deus, uma hora! Gui, o que está fazendo que ainda não foi tomar banho?”. Harry também foi praticamente empurrado a se aprontar, bem como Rony.

“Crack”, no andar de cima, onde ficava o quarto de Gina. Vozes começaram a vir de lá.

- Ah! Parece que as meninas chegaram. – disse a senhora Weasley. Com “as meninas”, queria dizer Hermione, Gabrielle e a senhora Delacour, que tinham ficado na casa dos Granger para ajudar Fleur a se aprontar.

Os pais de Hermione desceram aparentemente ainda um pouco tontos da sua primeira viajem com uma chave de portal.

- Elas só estão dando os toques finais. – disse a senhora Granger.

Gui, já pronto, fez menção de subir, mas foi parado pela senhora Weasley.

- Mãe...

- Os convidados já estão chegando, porque não vai para lá e ajuda seu pai a recebê-los?

Quinze minutos mais tarde, Gui já estava aguardando a noiva no altar improvisado, visivelmente nervoso. Hermione desceu primeiro, um sorriso imenso nos lábios:

- Ela já está descendo.

Harry pensou que teria que segurar o queixo do amigo, se quisesse que ele não se espatifasse no chão. Hermione tinha os cabelos perfeitamente arranjados em um penteado vitoriano (que lhe dava um ar romântico), e vestida com um esvoaçante vestido creme.

Mas em seguida foi a vez de Harry segurar o queixo: Gina desceu, e estava mais linda do que nunca, com o seu vestido rosa-pálido, um pequeno arranjo de flores nas mãos. Nesse momento, Harry se perguntou por que as coisas sempre eram dificultadas para ele...

A noiva apareceu, acompanhada por uma senhora Delacour evidentemente emocionada. Fleur parecia brilhar, não só pelo vestido prateado (bruxos não tinham a tradição do vestido branco), como também pela felicidade que demonstrava.

O senhor Delacour, orgulhosíssimo, ofereceu o braço à filha, e a conduziu até a tenda. Os demais se apressaram a tomar seus lugares. Quando a música começou, os padrinhos e as damas de honra entraram primeiro, sendo iluminados por velas flutuantes. Pequenas fadas ornamentavam as pilastras, e seguravam fitas prateadas entre elas.

Então, Fleur foi conduzida até Gui, e, sem grandes fórmulas pré-estabelecidas, juraram amor um ao outro. O funcionário do ministério anunciou que as declarações deles tinham sido aceitas, e que agora estavam, pelas leis do Mundo Mágico, unidos como marido e mulher.

Foi a cerimônia mais bonita que Harry já tinha visto.


***

Após descarregar seu revólver no alvo de treinamento, Ana largou-o na mesa da cabine, e retirou os protetores de ouvidos, aliviada.

- Atirou muito bem para quem odeia armas, Ana! – provocou Paulo, seu colega que estava treinando na cabine ao lado.

- Obrigada – resolveu não cair na provocação. - Odeio mesmo, se quer saber. Mas o que eu não faço pelo país?

Os dois se dirigiram aos respectivos armários para pegar as mochilas. Ao pegar a sua, Ana a deixou cair e, como ela estava com o zíper aberto, um livro saiu de dentro dela.

- Harry Potter? – Paulo brincou. – Será possível? Uma agente fanática pelo menino bruxo?

- Totalmente possível. – Ana riu, tendo que admitir sua fraqueza. – Mas nem tente tirar sarro de mim. Você já demonstrou conhecer bastante do universo harrypotteriano.

- É... Mas eu tenho dois filhos, um de oito e outro de seis anos! Impossível não saber! – disse, abaixando-se para ajudá-la a recolher suas coisas. – Ai!

- Que foi? – perguntou, preocupada.

- Sei lá, este livro me deu um choque!

- Há muitos fios por baixo do carpete. O prédio é antigo. Algum deles deve estar solto ou desencapado. – Ana pegou o livro com cuidado, mas não sentiu nada. – Viu? Deve ter se eletrizado, mas já passou.

- Estranho... Mas pode ser. – respondeu Paulo. – Te vejo amanhã, Ana Potter! Cuidado para não cair da vassoura!

- Cuide da sua vida, Paulo Malfoy! – Ana se despediu, entrando na brincadeira.

Quando o amigo se foi, olhou para o revólver que trazia e, enquanto o devolvia para o funcionário da agência guardar, pensou, com um sorriso nos lábios: “Seria melhor se fosse uma varinha”.

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(N/A): Eu sei, eu sei! Tá muito "mamão-com-açucar", mas é só o começo da fic. Vai esquentar, eu prometo.

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