Dreaming About The Things That

Dreaming About The Things That



Ted Lupin


 


-Nós precisamos de um baterista.


Rony me observou entediado, escorado na borda da piscina. Harry emergiu, balançando o cabelo e espalhando água para todo o lado.


-Eu posso tocar a bateria – disse ele, fazendo pouco caso – Sinceramente, não me importo em ficar mais atrás.


-E quem é que vai cantar? - perguntei, suspirando – Não pode ser uma banda com um vocalista que toca bateria.


-Você canta – disse Rony. Dei uma risada irônica.


-Ah, tá. Não conte com isso.


Voltamos a observar o nada. E o nada em si era realmente desinteressante. Vi Rony se encolher na água ao ouvirmos uma pequena explosão na casa ao lado, seguida de alguns gritos e uma risada escandalosa feminina. Harry franziu o cenho.


-Essa foi...? - começou, e Rony assentiu – Ah – e voltou a nadar.


A piscina atrás da casa dos Potter era tudo menos pequena. Em uma parte mais alta do gramado, ela se estendia por toda a extensão do terreno. Atrás, uma alta cerca-viva o separava do quintal do vizinho, e aos lados, muretas baixas. Lembro de ter ouvido histórias de que um Harry Potter de onze anos, na necessidade de ficar perto do melhor amigo, costumava pular o muro no meio da madrugada e correr pra casa do vizinho. Na volta, no escuro, ele costumava cair na própria piscina. Com o tempo, ele aprendeu a nadar.


-Para, cara! - reclamei, quando ele atirou água em mim pela quarta vez. Eu estava sentado em uma das espreguiçadeiras ao redor da piscina, e o retardado não parava de me molhar. Sem querer.


-Por que você não entra também? - perguntou o garoto.


-Não gosto – respondi, desviando o olhar.


-O Ted é emo, ele não gosta de nada – disse Rony. Percebi que deveria ficar irritado com o comentário, mas acabei dando uma risadinha.


-Mas a água está tããããão boa... - suspirou Harry, nadando de costas. A essa altura, ele provavelmente deve estar mais enrugado que uma uva passa.


-Nós precisamos de um nome – falei abruptamente, depois de um tempo. Os dois me olharam. Harry parou de nadar lentamente de um lado para o outro, e me encarou de cenho franzido.


-Essa é a pior parte – comentou Rony, com a criatividade equivalente à de um cactus.


-Foi fácil com a School Of Rock – disse Harry, como se isso mudasse o mundo.


-Claro que foi – revirei os olhos – Eles estavam em uma escola, e criaram uma banda de rock. Não poderia haver nome mais óbvio.


Harry me observou em silêncio, com uma expressão estranha.


-O que vocês acham de Harry and The Boys? - sugeriu Rony.


-Não. - respondemos eu e Harry, ao mesmo tempo.


-Funcionou com Vance – resmungou o ruivo, baixinho. Seus olhos brilharam. - Qual é o nome da banda de High School Musical?


Dei uma risadinha.


-Eles não tinham uma banda em High School Musical.


-O QUÊ!?


 


Rony Weasley


 


-Mas é bem estúpido mesmo – resmungou Lily, quando Harry espirrou pela quarta vez – Puxou ao seu pai.


Quando a noite chegou, uma chuva forte veio a acompanhando. Eu e Ted corremos para dentro de casa, mas Harry se recusou a sair da piscina. Quando Lily se prestou a ir chamá-lo, vinte minutos depois, o retardado começou a fugir, berrando “NUNCA ME PEGARÃO VIVO!”


-Desculpe, mãe – pediu o retardado em questão, com os olhos vermelhos, visivelmente arrependido.


-Desculpe o escambau – retrucou ela, irritada, enquanto secava os cabelos do filho violentamente, com uma toalha. - Vai nadar na chuva de novo, vai. Depois fica doente assim e não sabe porque.


-Eu já pedi desculpas! - reclamou Harry – Eu posso fazer isso. - ele tentou tirar a toalha das mãos da mãe, mas tudo que recebeu foi um tapão no cocuruto.


A chuva se chocava violentamente com a janela, e eu e Ted apenas observávamos. Na minha opinião, era uma cena extremamente cômica, pois ver Lily Potter irritada dando uma bronca no filho é algo que não convence ninguém. A ruiva tentava parecer uma mãe irritada pela idiotice do filho, mas dava pra ver que ela estava extremamente preocupada, e que a única coisa que queria fazer era colocar um pijama de animaizinhos em Harry e colocar ele pra dormir na cama dela.


Cosa que eu não acho tão difícil de imaginar.


-Desculpe, meninos. Vocês não merecem estar ouvindo isso – pediu Lily, nos lançando um olhar de esguelha. Harry resmungou alguma coisa – E você fique quieto.


-Lily? - chamou James, enfiando a cabeça pra dentro do quarto. Ele franziu o cenho – Não está pronta ainda?


-Não – respondeu a ruiva – Estou ocupada cuidando do seu filho.


-Meu filho? - estranhou James – O quê, essa história é Mpreg agora?


-Ele resolveu ficar nadando na piscina de noite, e na chuva. Agora pegou um resfriado.


-Eu já pedi desculpas! - exaltou-se Harry, mas ninguém lhe deu atenção.


-Lembra no inverno passado, que você saiu pra cortar grama de shorts? Na neve? - Lily lembrou a James. Ted sofreu um ataque de risos. - Filho de peixe é o que mesmo?


-Papai ficou um tempão tentando descobrir o que tinha dado errado, enquanto voava neve pra tudo quanto é lado – disse Harry, com a voz fraca.


-E quase matou um esquilo – completou a ruiva.


Eu fiquei especialmente comovido pelo esquilo.


-A lição de moral é pra mim agora? - reclamou James, ficando cada vez mais vermelho.


-Não. Harry ainda é o ananá da família.


-Ei!


Enquanto James pedia para a esposa se arrumar de uma vez, notei que o mesmo se encontrava vestido de um jeito que parecia que ia para um festival de rock, o que eu não duvidava. Aparentemente, os dois tinham sido convidados a uma festa de uma famosa rádio de Londres. Festas daquelas que só tem gente famosa e milionária, que vira alvo de conversas por semanas, assim como as matérias na MTV. Essa não seria diferente. James e Lily Potter raramente iam à confraternizações com o pessoal da música, mas quando iam, entravam pra história.


-E se eu ver o senhor arrastando as asinhas para aquela tal de Amy Lee de novo, você vai ver só – disse Lily ao marido, depois de enfiar um remédio pela garganta do filho, que agora fazia drama se contorcendo na cama.


-Mas era ela que ficava me encarando – retrucou James, enquanto os dois saíam do quarto. Ainda pudemos ouvir um “odeio aquela vaca!” de Lily antes da porta bater. Deu uma risadinha.


-Você não acha estranho que seus pais falem de pessoas famosas assim, com a maior intimidade? - perguntei a Harry, que parou de fingir agonizar quando percebeu que ninguém estava nem aí pra ele.


-Você tem que ver o que eles falam do Bono.


Sorri e voltei a arrumar minha cama no chão. Praticamente toda semana eu “dormia” na casa de Harry, sendo que praticamente não dormíamos: ficávamos ouvindo Nickelback e jogando The Legend Of Zelda até mais ou menos as seis da manhã, horário em que James cansava de pedir para calarmos a boca e vinha jogar com a gente. A única diferença era que Ted se uniu a gente, e que James não poderia nos mandar calar a boca, já que ele ia para uma festa cheia de astros do rock multimilionários.


Ouvimos a campainha na porta da frente, e algum tempo depois uma Maggie Black completamente encharcada entrava abruptamente no quarto de Harry, falando sem parar.


-... e toda vez que eu vou falar alguma coisa, eu sou a culpada! Porque não, eles não estão discutindo! Eles também não estão em crise! É tão patético. - dizia ela, visivelmente alterada – Ao invés de solucionarem os problemas, eles nunca os resolvem, não faz nenhum sentido! Eu os vejo todos os dias. Nos damos bem, então porque eles não conseguem? Se é isso que ele quer, e é isso o que ela quer, então porque há tanta dor?


-Espera, isso não é uma música? - perguntou Ted, de cenho franzido.


-So here's your holiday – cantarolou Lily, passando no corredor – Hope you enjoy this time, you gave it all away...


Maggie ofegou cansada e desabou na cama de Harry, com a cabeça entre as mãos. O garoto se aproximou, e passou o braço pelos ombros da prima.


-O que aconteceu? - perguntou.


-Saímos para almoçar. Foi legal, até resolvemos dar uma volta no shopping – começou Maggie, com a voz embargada – A agência ligou pra mamãe, dizendo que precisavam urgentemente dela, para fazer a maquiagem de uma atriz que tinha cortado o lábio e não podia remarcar a sessão, ou algo assim. Ela insistiu que devia ir, e os dois acabaram brigando. Na volta papai ficou nervoso e correu tanto com o carro que a polícia nos parou. Saímos agora pouco da delegacia. Minha mãe ficou irritada porque perdeu a sessão, e os dois não pararam de discutir. Foi horrível. Eu estou tão cansada disso.


Vi quando os três adolescentes daquele quarto ficaram completamente abestados e sem saber o que fazer quando a irredutível Maggie Black começou a chorar. James, que observava tudo da porta, em silêncio, olhava a garota com uma expressão de pesar.


-Por que você não passa a noite aqui com os meninos? - sugeriu ele – Vocês pedem uma pizza, ficam jogando até tarde. Eu ligo para seu pai avisando.


A garota ergueu o rosto manchado de lágrimas, e após focar a visão, pareceu perceber os colchões no chão.


-Você ainda tem aquele jogo, Bully? - perguntou com a voz esganiçada, olhando para Harry. O garoto ergueu as sobrancelhas.


-Não, ele foi... banido.


Maggie soltou um som parecido com o de um cão ferido, e voltou a esconder o rosto.


-Mais um adolescente encharcado na minha casa? Não ouse ficar doente. - ameaçou Lily, entrando abruptamente no quarto. Vou sugerir que Harry coloque uma tranca na porta. A ruiva colocava os brincos, e cheguei à conclusão que ela ficava muito diferente de salto alto e vestido. James sorria abobado. - Sirius e lene de novo? Por que não chama eles para irem conosco?


Após sair de um aparente estupor, James correu para ligar para o amigo. Lily terminou de colocar os brincos e ergueu os braços ao redor do corpo.


-E então? - perguntou – Eu ou Amy Lee?


-A Amy Lee tem cara de peixe – comentou Ted, avoado.


-Ei – reclamou Maggie – Eu gosto dela – e depois olhou para a mulher – Você está linda, tia.


Depois de alguns avisos básicos (Não coloquem fogo na casa, não comprem um pato, não comecem uma revolução, não peçam pizza de lasanha, não deem uma festa, não contatem o presidente, não construam um foguete, não contratem um macaco, não plantem abacate no tapete, e pelo amor de Deus, Harry, não tente dominar a Dinamarca!) os pais de Harry finalmente saíram, nos deixando sozinhos.


Ficamos nos entreolhando em silêncio por um longo tempo, até que alguém resolveu ligar para a pizzaria.


 


Ted Lupin


 


É estranho fazer parte de uma banda. Mas não é chato como eu achei que seria.


Harry nos mostrou algumas de suas letras, e mostrou mais ou menos como ficaria na guitarra. Detesto admitir, porque ele é meu primo chato e tudo o mais, mas o cara tem talento. Também, o que eu esperava do filho de James e Lily Potter?


Maggie ficou doida. Eu até protestaria, e me negaria a contar da recém-formada banda para ela, mas a garota estava tão acabada que eu desisti da ideia; e ver um sorriso na cara da morena foi de certa forma aliviador. Eu sei como é. Por mais que meus pais raramente se falem, quando o fazem, é briga na certa. A última foi quando Remus descobriu da tatuagem. Minha mãe não tem controle sobre mim estando do outro lado do mundo, e meu pai sabe que não tem como deixar um adolescente de dezessete anos com fortes tendências à revoltas de castigo, então ficou por isso mesmo. Não sem antes levar um sermão e assinar um documento que me proíbe de fazer outra tatuagem ou colocar um piercing sem o consentimento dos pais. Como se eu fosse colocar um piercing.


Coisa de emo.


-Na parte do “you must be dreaming” desce uma oitava? - perguntou Maggie, enquanto escrevia as partituras do que Harry tocava. Ela estava tão animada, como se estivesse na banda. Coisa meio impossível de acontecer.


-Ainda precisamos de um baterista – lembrou Rony, enquanto massacrava alguns alienígenas, com os olhos vidrados na tela.


-Harry toca bateria – disse Maggie, simplesmente.


-Eu não vou cantar – falei.


-Rony canta.


Caímos na gargalhada, só de imaginar.


-Definitivamente não.


-Eu acho que a Joan conhece um baterista – comentou Maggie, franzindo o cenho – Eu falo com ela segunda. Acho que o cara já tem uma banda, mas pra tudo se dá um jeito – ao ver que ninguém falava nada, ela se aprumou, e sorriu – E aí? Que estilo vocês vão ser? Épico como Queen? Inspirador como Paramore? Brilhante como Green Day? Ou um coral de igreja tipo Panic! At The Disco?


-Fácil. - respondeu Harry, enquanto dedilhava a guitarra - Vamos ser originais.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Uol...Isso é bom. Acho que Meg tem o talento e a inteligente (desculpa Sirius) da mãe para organizar as coisas ,talvez ela se ajuste a banda como produtora ou algo do tipo...Bem, eu amei o capitulo, acho que Gina vai ser a baterista...Mas só acho kkkkk e quero saber como vai ser o nome dessa banda...Beeeeem eu necessito de mais. O capitulo estava perfeito como sempre *-*Beijoos! 

    2013-10-13
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