Every Memory



Maggie Black


 


Depois de seis minutos sentada em uma mesa de restaurante com meus pais, percebi que realmente não fora uma boa ideia.


-Entãããããão – comecei, quebrando o silêncio constrangedor – Como foi a viagem, mãe?


Ela ergueu os olhos para mim.


-Hm. Foi tudo bem.


-Tudo bem? - perguntei, fazendo uma careta – Ninguém volta de Miami e diz que estava tudo bem.


-O que você espera que eu diga?


Fiquei em silêncio. Não sabia o que queria que ela dissesse. Só queria que ela dissesse alguma coisa.


Meus pais, sentados um de frente para o outro, nem ao menos se encaravam. Eu, no meio deles, nunca me senti tão desconfortável na vida. Aquele restaurante familiar nunca esteve com o clima mais pesado. Nosso almoço chegou, e durante alguns minutos comemos em silêncio. Enquanto bebericava minha Coca Zero, os observei pelo canto do olho.


-Eu acho que vou comprar uma gaita. - soltei. Os dois hesitaram ao levar o garfo à boca, e me olharam confusos – Gaitas são legais.


-Eu nunca ouvi falar de ninguém que conseguiu alguma coisa tocando gaita – comentou papai, franzindo o cenho.


-Pois então. Vou ser a primeira. Imaginem só: Maggie Black e a Gaita Maravilhosa – falei, olhando para o além e fazendo um gesto com as mãos no ar, como se estivesse vendo uma placa.


Papai soltou uma risadinha pelo nariz, e mamãe voltou os olhos para o prato, com um pequeno sorriso.


-Eu já tentei aprender a tocar gaita – disse papai, pensativo. Estava abrindo a boca para perguntar, quando ouvi uma gargalhada, do outro lado da mesa. Virei o rosto, e vi minha mãe rindo. Como há muito tempo não fazia.


Enquanto ela ria, cobrindo a boca para abafar o som, meu pai a observava, com um pequeno sorriso no canto dos lábios.


-Você desistiu depois de descobrir que se tocava assoprando – disse mamãe, entre as risadas. - Vinte minutos depois de comprar, você a atirou no Rio Hudson.


-Dorcas ficou de mal comigo por dias depois disso – comentou papai, sorrindo, lembrando – Ela disse que a gaita merecia uma chance de viver.


-Rio Hudson? - perguntei, me endireitando na cadeira, interessada. Franzi o cenho – Chance de viver? Era uma gaita, não um animal.


-Na verdade, a gaita tinha a foto de um coelhinho – disse papai, rindo – Comprei ela quando fazíamos uma tour pelos Estados Unidos. Isso foi o quê? Vinte anos atrás?


-Foi na época do Shining Potatoes – concordou ela. Me afoguei com a Coca.


-Por que vocês deram o nome de um álbum de “Batatas Brilhantes”? - perguntei, depois de me recuperar. Os dois se olharam.


-Eu não sei – disse papai, franzindo o cenho – Nunca parei pra pensar nisso.


Cuspi Coca Cola Zero pelo nariz.


 


 


Rony Weasley


 


-Ted? Ted! Teddy! TODDYNHO!


Harry estava feliz. Realmente feliz. Ele saltitava.


Ted se virou, e nos encarou com uma expressão de “meresso”. Notei Victoire ao seu lado, e me perguntei o que diabos ela estaria fazendo com Ted Lupin.


-Por que será que eu sabia que era você? - perguntou Ted, irônico.


-Porque você me ama – disse Harry animado, parando com um saltinho na frente do garoto. Com uma mão em punho fechado sobre o quadril, parecendo um super-herói, Harry apontou para Ted – Queremos você e sua guitarra na nossa banda.


Ted apenas ergueu uma sobrancelha.


A aula já tinha acabado, e estávamos no estacionamento. Haviam poucos carros, a maioria dos estudantes mais velhos mal tinha ouvido o sinal e já saía em disparada para aproveitar o final de semana, se embebedar nas festas e sofrer acidentes de carro. Salvo algumas exceções. Fiquei feliz por não haverem pessoas por perto para verem Harry Potter saltitar.


-De novo com isso? - perguntou Ted, parecendo uma mistura de cansado com entediado. - Eu já disse que não quero participar dessa bandinha de rock de pirralhos que vocês inventaram.


-Ted, você é um chato – disse Harry, sério – Andar com pessoas mais novas não faz de você um idiota. Mas tratar mal as pessoas que gostam de você só porque elas são “pirralhas” te faz um completo imbecil.


E pela primeira vez, eu vi Ted Lupin corar. Ele olhou para os lados, como se buscasse um lugar para se esconder. Como não encontrou nenhum, voltou seu olhar para Harry e engoliu em seco.


-Hm... Desculpe? - pediu, incerto.


-Desculpas aceitas – disse Harry simplesmente. Me pergunto porque ele continuava com aquela pose. Victoire pigarreou, e Harry olhou para ela, com uma curiosidade quase que infantil.


-Hey Vicky – cumprimentei.


-Oi, Rony – ela sorriu. Ted pareceu acordar de um transe, e olhou confuso para a garota.


-Você conhece ele? - perguntou.


-Sim, ele é meu tio – respondeu Victoire. Sob o olhar apavorado de Ted, ela completou – Longa história.


-Então – começou Harry – O que você diz sobre entrar em nossa banda?


Ted abriu a boca para responder, mas hesitou ao sentir a garota loira ao seu lado agarrar-lhe a manga.


-Uma banda de rock? - perguntou ela, com os olhos brilhando – Sério isso?


-Seríssimo – respondeu Harry. O sorriso de Vitoire se abriu ainda mais.


-Isso é demais! - exclamou, e se voltou para Ted – Eu não sabia que você tocava.


-Bem, eu... - murmurou o garoto, passando a mão pelo cabelo, parecendo nervoso – Eu sei tocar alguma coisa...


-Ele é o melhor guitarrista que eu já conheci – intrometeu-se Harry. Ele deu um sorrisinho – Depois do meu pai, é claro.


-Ah, vamos lá, Teddy – disse Victoire – Aceita. Vai ser divertido.


Pude ver a hesitação do garoto. Suas bochechas voltaram a ficar vermelhas. Suspirou.


-Eu vou pensar no assunto.


Como se tivesse acabado de ganhar na loteria, Harry ergueu os braços para o alto e gritou. Correu para a frente com a intenção de abraçar Ted, mas após ver a expressão de “não ouse” do garoto, pareceu pensar melhor. Correu então para Victoire, que gargalhou ao ter Harry Potter pendurado em seu pescoço, pulando e gritando de felicidade. Ted os observou com uma expressão indecifrável.


-Ohh! - exclamei sonhador, ao notar o carro preto atrás de Ted – Esse é seu carro? Nos dá uma carona, Ted? Por favoooooooooor!


-Eu vou levar Victoire em casa – disse ele lentamente, como se com medo das reações. Meu sorriso se abriu ainda mais.


-Ah, ótimo! - falei, indo até o carro – Victoire mora comigo, e Harry é nosso vizinho. Facilita muito as coisas, huh?


Fiquei o caminho todo rindo da expressão atordoada de Ted.


 


Ted Lupin


 


Fechei a porta de casa atrás de mim e ainda tentei entender o que tinha acontecido. Uma hora eu estava indo até o estacionamento com Victoire, na outra meu primo retardado pulou em cima dela, e eu fiquei a viajem toda da escola até em casa tentando impedir ele de colocar o CD do Village People no rádio do meu carro. Tarefa difícil. Mas a vontade de não ouvir YMCA foi mais forte.


Atravessei o hall em direção ás escadas, mas estaquei ao ouvir risadas escandalosas da sala. Fiquei confuso. Não ouvia risadas naquela casa desde... Desde. Hm. Desde muito tempo.


Segui lentamente até a sala de estar, e pisquei repetidamente para ter certeza de que não estava tendo alucinações. Meu pai estava sentado no sofá ao lado de Dorcas, rindo sem parar. Os dois estavam com roupas de domingo, o que era estranho, contando que era sexta-feira. Havia um pote enorme de pipoca ao lado dos dois, e os pés estavam sobre a mesinha de centro. Havia um álbum de fotografias no colo de Dorcas.


-Ted! - chamou ela, olhando por cima do ombro, percebendo que eu estava os observando.


-O que estão fazendo? - perguntei, me aproximando. Não consegui conter um sorrisinho ao ver meu pai rindo.


-Vendo fotos – respondeu Dorcas, animada. Ela apontou para uma em especial – Olha, esse é seu pai, vinte anos atrás.


Enquanto Remus reclamava que não era para mostrar essas coisas para o garoto, eu me inclinei atrás do sofá, sobre suas cabeças, e olhei bem para a foto que Dorcas apontava. Não pude conter uma risada. Levemente vesgo, Remus Lupin da fotografia sorria erguendo uma latinha de Coca, como se fizesse um brinde para o fotógrafo. Seu cabelo estava cheio de gel, formando espinhos por toda a sua extensão. No fundo, dava para ver a perna de alguém erguida para o alto: pela tatuagem de hamster no calcanhar, era Sirius.


-Oh, eu me sinto tão humilhado – resmungou o Remus atual, risonho, cobrindo o rosto com as mãos.


-Ninguém mandou ser tão retardado – riu Dorcas.


-Remus Lupin, seu passado te condena – brinquei, e os dois riram. Apontei para uma foto abaixo daquela – E essa?


Na foto, Lily encarava a câmera, séria. Ela estava toda branca, como se tivesse apanhado de um saco de farinha. O que eu não duvidava.


-Ohh, eu me lembro disso! - exclamou Remus – Foi num show na Austrália. Era aniversário da Lily, e ela nem lembrava – pausa para risadas – No meio do show a gente parou no meio da música. Ela ficou um tempo cantando até perceber que a banda não a acompanhava. Começamos a cantar parabéns pra você, e ela ficou toda perdida.


-Eu e Lene chegamos do nada e começamos a atirar ovo e farinha nela – disse Dorcas, tentando não rir. Ponto para Ted. - Eu nunca ri tanto na minha vida.


-E a plateia? - perguntei.


-Ah, sei lá – Remus deu de ombros – Não paramos pra pensar nisso. Acho que o pessoal da primeira fileira saiu de lá meio sujo.


Dorcas virou a página do álbum. Meu sorriso congelou. Lá estava minha mãe, ainda bem nova, sorrindo. E no colo dela, um bebê bochechudo, com os olhos arregalados, um moicano em seus cabelos loiros, e uma camiseta do AC/DC. E ao redor dos dois, estava o pessoal da banda, junto com Marlene. Todos sorriam e faziam poses estranhas, como se estivessem tendo um ótimo dia. Sirius fazia carta e mostrava os músculos como se fosse o Incrível Hulk. Lily estava sentada nos ombros de James, desconfortavelmente inclinada para o lado, para caber na foto. Marlene abria um espacate no chão, aos pés de todo mundo, e seu braço erguido parecia apertar o traseiro de Sirius. Meu pai estava ao lado de minha mãe, com um sorriso bobo na cara. De repente me senti incomodado. Dorcas não estava na foto.


-Esse foi um ótimo dia – suspirou Remus, com um pequeno sorriso. - Tonks tinha acabado de sair do hospital, e era a primeira vez que o pessoal via você.


Senti algo apertar meu peito, e me segurei para não chorar. Parecia tão irreal. Mas ao mesmo tempo tão certo.


-Sirius costumava dizer que você parecia o Deryck Whibley – comentou Dorcas – Mas Tonks retrucava e dizia que Ted Lupin não seria do punk rock.


Remus riu.


-Seus tios tinham uma banda de rock, era meio impossível ele não ter certa influência.


-Talvez tenha sido por isso que ela me levou para longe – falei, baixinho. Eu já não sorria mais.


Os dois me olharam, em um misto de preocupação e pena. Senti meus olhos começarem a ficar marejados, e pisquei com força. Me endireitei e saí da sala com passos firmes. Pude ouvir meu pai me chamando, mas não dei atenção. Bati a porta da frente com força, e só deixei as lágrimas caírem quando atravessava o quintal.


Eu passara praticamente minha vida toda morando apenas com minha mãe em Birmingham, contando apenas com visitas ocasionais de minha avó. Elas eram a única família que eu tinha. Remus, Sirius, Lene, Lily e James eram apenas histórias, como se fossem lendas de heróis distantes, que talvez tivessem alguma relação comigo. Meu pai nunca fora um herói para mim. Talvez por só vê-lo uma vez ou outra, ou pelo fato de que ele tinha trocado minha mãe por Dorcas Meadowes.


Passar algumas semanas das férias em Hogsmeade sempre fora uma tortura para mim. Eu gostava dos meus tios, dos meus primos, mas era sempre como se tivesse faltando alguma coisa. Eu sempre achei que fosse minha mãe. Mas percebi que não era bem assim. Estava faltando aceitação. Mais de minha parte do que qualquer coisa. Eu não conseguia me ver como parte daquela família de astros do rock retardados.


Atravessei a rua com passos largos, em direção à casa de James e Lily.


Um bebê nascera e atrapalhara a vida do baixista da School Of Rock. Prendia a banda a uma jovem que mal tinha onde cair morta. Dorcas Meadowes não estava naquela foto.


Ted Lupin fora um erro.


-Ted? - chamou Tia Lily, quando eu passei correndo pela sua sala. Tive certeza que ela vira as lágrimas brilhando em meu rosto. A ignorei, e subi rapidamente as escadas. Harry e Rony estavam no quarto.


-Ted! - exclamou Harry, surpreso. Ele saiu de trás da bateria, e me observou curioso.


-Hey – falei, ofegante – Sobre essa banda...


Ted Lupin não fazia parte da família.


Ah, cala essa boca, consciência.


-Tô dentro.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh fiquei tristinha pelo Ted, mas o entendo...É dificil pra ele, ter sido criado pela mãe e não ter o pai por perto. É realmente dificil, mas tenho certeza que Remus o ama, mesmo não morando com ele ou nada do tipo. E acho que até Dorcas o ama...Ele só tem que ver isso. E Tonks é diva *-* Até sinto saudades dela na fanfic...Ri horrores com a cena da Meg com os pais - será que eles finalmente vão se acertar ? - adorei a cena - e quero mais *-------------------* A fanfic tá incrível.Beijoos! 

    2013-08-29
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