Can't Find The Best In All Of

Can't Find The Best In All Of



Maggie Black


 


Por mais que eu fosse uma adolescente revoltada com meus pais e tudo mais, a Black Records era tudo menos chata.


Por fora, um prédio moderno no centro de Londres. Por dentro, um circo. Você nunca sabe o que vai encontrar no próximo corredor. Talvez homens de saia de uma banda irlandesa ou talvez alguns jovens tentando se passar pelo Kiss. Mais surpreendente do que isso, só encontrar Maggie Black.


-Maggie! - exclamou Katherine, a estagiária, quando eu entrei pela porta da frente e me encostei no balcão da recepção, como se fosse dona do lugar. - Que surpresa você aqui. Sua mãe te trouxe?


-Pois é, pois é – suspirei – Estive muito atolada de trabalho esses dias, se é que você me entende. Sabe, ficar em casa ouvindo música vinte e quatro horas por dia ás vezes é muito cansativo – falei, e ela fez uma careta. Eu ri. - Nah, eu vim de táxi.


-De Hogsmeade até... Aqui? - ela franziu o cenho.


-É – me inclinei por cima do balcão e murmurei – A propósito, você tem duzentas libras pra me emprestar?


-Maggie!


Me virei e vi meu pai se aproximando, sendo seguido por um garoto que mexia furiosamente em seu iPad. Ele parecia a mesma coisa de sempre, com os cabelos nos ombros, camiseta de banda e all star (~cof cof~ crise de meia idade ~cof cof~). E, inacreditavelmente, tendo em conta toda minha fabulozisse, ele não parecia nem um pouco feliz em me ver.


-O que está fazendo aqui? - perguntou ele. Eu abri a boca para responder – Me deixe adivinhar: o táxi está lá na frente esperando você fazer uma vaquinha com meus funcionários para pagar o taxista? - sorri, culpada, e ele suspirou. - Charles, por favor.


O jovem atrás dele correu para o lado de fora, mexendo na carteira. Nos termos de estágio, a Black Records era um ícone para os jovens. Eles simplesmente são pagos para trabalhar com música. Quando alguém da empresa é demitido, a fila de adolescentes procurando emprego por aqui chega a virar esquinas. Papai se aproximou, e colocou um braço pelos meus ombros, me guiando até sua sala.


-O que faz aqui? - perguntou novamente, com a voz cansada.


-Mamãe não acreditou na minha greve de fome – respondi, com uma careta – Acho que ela achou a caixa de pizza em baixo da minha cama. Ficou furiosa.


-E por que exatamente você estava fazendo greve de fome?


Chegamos ao seu escritório. Nas paredes, pretas e vermelhas, pendiam quadros de todas as bandas que fizeram sucesso que já passaram por aquela gravadora.


-Chantagem emocional – falei, como se fosse a coisa mais normal do mundo. - Contando que a mamãe é a campeã mundial de chantagem emocional, acho que não foi uma boa ideia.


Papai reprimiu um sorriso, e sentou em sua cadeira. Sentei em sua frente, com a mesa nos separando.


-Disso eu sei. Uma vez ela fez greve de sexo quando eu não quis levar ela no show do Muse.


-Uou, uou, muita informação! - exclamei, cobrindo os ouvidos com as mãos. Ele riu – E as pessoas ainda não sabem porque os adolescentes de hoje em dia são revoltados... - revirei os olhos – Francamente.


-Na minha época os adolescentes eram bem mais revoltados – comentou papai, pensativo.


-Percebe-se. - indiquei o pôster da School Of Rock atrás dele, onde tio James tinha o cabelo azul e meu próprio pai estava vestido que nem um gigolô. - Falando em show...


A porta do escritório se abriu abruptamente, e alguns homens começaram a entrar, rindo. Eles notaram minha presença e retrocederam, pedindo desculpas e fechando a porta ao sair. Me voltei para papai.


-Aqueles eram os caras do Imagine Dragons? - perguntei, franzindo o cenho.


-Eles nunca batem antes de entrar – respondeu ele, pensativo – Depois de um tempo você aprende a trancar a porta do banheiro.


-Enfim. Falando em show... - comecei, torcendo as mãos no colo – Vai ter um semana que vem que eu queria muito ir. Mas...


-Mas... - incentivou ele.


-A proibido para menores de dezesseis desacompanhados.


Pela quadragésima terceira vez no dia, eu odiei o fato de ter catorze anos.


-Deus! - exclamou papai – Show de quem?


-The Pretty Reckless – murmurei, sem olhar para ele.


-A banda daquela loira que fica pelada no palco e fica se esfregando com outras mulheres? - perguntou ele, impassível.


-Ah, bem...


-Você não vai.


-O QUÊ?


-Não é lugar de criança. Você não vai. - sentenciou ele, mexendo no notebook – Quando você tiver idade, beleza. Mas tem um motivo para ser proibido para menores de dezesseis anos.


-Menores de dezesseis anos desacompanhados – corrigi. Ele ergueu as sobrancelhas.


-E você espera que eu vá com você?


Dei de ombros. Não percebi que tinha ficado de pé.


-É uma possibilidade.


-Ééé... Não.


Antes que eu pudesse reclamar, o tal de Charles entrou na sala, acompanhado de alguns adolescentes que olharam curiosos para mim.


-Maggie, poderia nos dar licença? - papai me enxotou, sem nem olhar para minha cara.


Saí da gravadora batendo porta, o que não era uma atitude muito profissional, mas pelo menos eu descontava minha raiva em alguma coisa.


 


Rony Weasley


 


-Hermione, eu tô grávido.


Ela nem ao menos ergueu os olhos. Suspirei, cansado.


-Isso sempre funciona nos filmes – falei comigo mesmo – Por quê será que... Ahhh.


Corriam boatos que hoje teria bolo de carne na hora do almoço. Mas Ronald Weasley não podia comer bolo de carne. Porque ele estava tentando convencer Hermione Granger que ele não era um completo idiota


-Quantas vezes eu vou ter que pedir desculpas? - perguntei. Pela sua expressão, umas quatrocentas.


Estávamos na biblioteca. Hermione estava sentada lendo um livro, e eu estava há nada menos que meia hora tentando fazer ela olhar para minha cara. Sem sucesso. Ok. Eu sei que meio que não foi legal ter esquecido que marcamos na lanchonete, e deixar ela sozinha lá. Mas eu sou um ser humano, certo? Seres humanos podem errar.


Não é?


-Esse livro deve ser uma bosta – falei, olhando para o livro azul que ela lia. Ao contrário do que eu esperava, Hermione reagiu. Ela fechou o livro e em um baque surdo acertou em cheio minha cabeça. - EI! - me encolhi na cadeira, e arregalei os olhos para a garota – Você não está negando minha existência!


-Nunca fale do John Green na minha frente – sibilou ela, com os olhos faiscando. Acenei com a cabeça freneticamente, mostrando que eu tinha entendido. Ela voltou a sentar e abriu o livro novamente.


-Hermione... - choraminguei, com minha melhor cara de cachorrinho molhado. - Por favor...


-Harry! - exclamou ela.


-Não, eu sou o Rony...


-Oi, pessoal – disse Harry, se aproximando da mesa, parecendo mais cabisbaixo do que nunca. Ele já tem essa aparência de sou-emo-depressivo normalmente, mas hoje parecia pior.


-O que aconteceu? - perguntou Hermione. Harry deu de ombros.


-Problemas.


-Ah, mas pra ele você olha! - exclamei, e ela nem tchum.


-Não me diga que Draco Malfoy encheu sua mochila de cola de novo – disse Hermione, com uma expressão raivosa.


-Não – respondeu Harry. Ele pensou por alguns segundos, e depois abriu a mochila – É, não. - Ele se atirou em uma cadeira ao meu lado. - Só estou tendo um péssimo dia.


Já ia começar a consolá-lo quando me lembrei de ontem à noite. Tá certo, eu peguei pesado, insistindo com todas as forças por algo que ele não queria. Ou pensava que não queria. Ou que eu pensava que ele pensava que ele não queria. Mas na verdade queria. Ou não. Mas não é legal ouvir ele se menosprezando toda hora. Como se qualquer coisa fosse melhor do que ele.


-Ah, Harry – suspirou Hermione – Vai dar tudo certo.


-Duvido.


-Deixa de ser emo, Harry – falei, sem olhar pra ele – Não sei o que aconteceu, mas se for pra você ficar choramingando pelos cantos, é melhor fazer isso longe da gente.


Senti os olhares dos dois sobre mim, e me esforcei para não corar. Harry se levantou, colocou a mochila sobre os ombros e se afastou, se dizer nada. Levantei os olhos, e vi uma Hermione Granger furiosa.


-Qual é o seu problema? - perguntou ela. Aproveitei a deixa:


-Me perdoa pelo outro dia?


Ela voltou ao tal de John Green.


 


 


Harry Potter


 


 


Ao passar por meu pai na sala de estar, tentei não parecer deprimido. Quando a porta do quarto fechou atrás de mim, me dei a liberdade de suspirar. A mochila escorregou do meu ombro e caiu com um baque no chão. Me segurei para não me juntar a ela.


Se Rony estivesse aqui, provavelmente me chamaria de emo. De novo.


Como se eu não tivesse o direito de me sentir para baixo.


Me atirei na cama com a cara enterrada no colchão, apenas parte do meu cérebro tomando consciência da música da School Of Rock que entrava pela janela, provavelmente vinda do quarto de Ginny. Como se não bastasse ter que suportar todo santo dia os imbecis que acham que têm o direito de infernizar a vida das pessoas, ainda tinha perdido o que comprometeria todo meu futuro. O CD com minha música, escondido em uma caixinha do Sum 41. Acordara de manhã e meus olhos seguiram para o ponto específico na minha prateleira, onde ele deveria estar. Mas não estava.


O som vindo pela janela parou, e depois de alguns segundos outra tomou seu lugar.


Não poderia desconfiar de Rony. Por mais que ele ficasse me importunando para continuar com a ideia da banda. Eu sei que ele não faria algo assim. Mesmo depois do que eu disse. Meus pais não mexeriam no meu quarto. Desde o incidente com o Doritos e a tartaruga, eles evitam até passar pela soleira da porta. Simplesmente não tem explicação.


Porquê eu estava tão receoso com a ideia da banda? Porque em minha mente, isso não era aceitável. Eu não conseguia me imaginar num estúdio gravando, ou tocando guitarra em um bar, ou até lançando um disco. Sempre que tentava imaginar isso, a imagem de eu tocando era substituída pela imagem de James Potter tocando. Isso era coisa deles.


Abri os olhos quando ouvi a música.


-Que diabos...? - franzi o cenho. Eu conheço essa música. E como se um balde de água fria tivesse sido atirado em cima de mim, a ficha caiu. Não precisei olhar para minha prateleira de CDs para ter certeza. - Ginny.


Me ergui e saí correndo. Ouvi a exclamação de surpresa do meu pai ao me ver correndo pela sala, mas não hesitei em bater a porta da frente. Corri pelo gramado do vizinho. Não toquei a campainha.


-Olá, Sra. Weasley! - gritei sem nem ao menos olhar para ela, correndo escada acima – Tchau, Sra. Weasley!


-Harry? - ouvi ela falar, confusa.


De todas as vezes que eu fora na casa dos Weasleys, nunca prestara a atenção na primeira porta à direita, do primeiro andar, mesmo sabendo de quem ela pertencia. E de quem a janela pertencia. A abri de supetão.


-AAAAAAAAAHHHHH!


-GINNY MEU DEUS!


-FECHA FECHA FECHA!


Fechei a porta rapidamente e não respirei por alguns segundos, encarando a madeira. Ofeguei. Oh, droga. De todas as horas que eu poderia ter invadido o quarto de Ginny Weasley, pensei, tinha que escolher aquela em que a ruiva trocava de roupa.


-VOCÊ TÁ PEDINDO PRA MORRER? - berrou ela, ao abrir a porta. A garota tinha colocado uma camiseta, o que tornava as coisas menos constrangedoras.


-Ginny, m-me desculpe, e-eu... – gaguejei, sentindo meu rosto corar. Ela fez uma careta.


-Não por isso, imbecil! - exclamou ela – Por isso.


Demorei alguns segundos para perceber que o que ela tinha na mão fora o que causara tudo isso, a razão por eu ter entrado abruptamente no quarto de Ginny Weasley e ter visto ela de sutiã. O CD.


-Bem – engoli em seco, sem olhar para ela – É uma longa história.


-Ah, claro, uma longa história – ironizou ela, revirando os olhos – Grande o suficiente para justificar o fato de você não ter contado para sua amiga que você tem uma banda de rock?


Ela parecia furiosa.


-Eu não tenho uma banda de rock – falei. Ela piscou.


-Não?


-Não.


-Então por que...


-Porque no momento em que eu gravei isso eu estava seriamente pensado em criar uma banda de rock.


Ela franziu o cenho.


-Eu já não tô entendendo mais nada – disse. A Sra. Weasley nos alcançara no topo da escada.


-Tudo bem por aqui? - perguntou ela, receosa.


-Tudo – respondi. Ela assentiu e se afastou lentamente pelo corredor. Ginny suspirou.


-Vamos conversar no seu quarto? - perguntou – Aqui não tem muita privacidade, como você pode ver. Aí você pode me contar essa tal longa história.


Assenti, e em silêncio nos dirigimos à saída.


-Harry – chamou ela, quando chegamos à calçada. Notei que aquela camiseta da School Of Rock caía muito bem nela. Principalmente quando os cabelos da vocalista na estampa se misturavam com o da garota – Eu sei que você deve ter tido seus motivos, mas... Por favor – ela olhou para mim – Não esconde mais nada de mim.


-Desculpe, Ginny – falei, abrindo a porta de casa e abrindo espaço para ela passar – Eu acho que não estava pronto para ver as reações, só isso.


-Harry, sua anta, qual é o motivo de você ter saído correndo? - perguntou papai, quando entramos na sala de estar. Fechei os olhos e me amaldiçoei mentalmente.


-James, não chame seu filho de anta – disse mamãe, se aproximando. Me segurei para não gemer de frustração – Ele têm companhia!


Definitivamente, eu queria bater minha própria cabeça na parede até esquecer do meu próprio nome. Porque eu tinha que trazer Ginny para casa quando na mesma têm metade dos integrantes da School Of Rock, que, a propósito, é uma das bandas favoritas da ruiva.


-Muito prazer, querida – cumprimentou mamãe, abraçando Ginny daquele jeito que só as garotas sabiam fazer – Eu sou Lily Potter.


-Ginny Weasley – disse a ruiva menor, levemente constrangida – Muito prazer, Sra. Potter.


-Ah, eu adoro quando as pessoas chamam ela assim – sorriu papai, bobo, ficando ao lado da esposa – Eu sou James, muito prazer, namorada do Harry!


-PAI! - gritei – Ela... Não... Ai, caramba.


-Ah, tá, entendi – disse ele, indiferente ao meu constrangimento. Ele olhou para a camiseta de Ginny – E pelo visto ela tem bom gosto!


-Ah, é – respondeu a garota, sorrindo – Harry me incitou a gostar. - papai piscou para mim – O senhor é muitíssimo parecido com o guitarrista da School Of Rock, sabia disso?


Papai piscou. Depois de um momento ele olhou para mim. Fiz uma cara de desesperado e ele pareceu entender o recado.


-Pois é – disse papai, sem demonstrar emoção – Já me disseram isso.


-Ginny, vamos subir – chamei, indicando a escada. Ela concordou, e deu um último sorriso para meus pais.


Ginny começou a subir as escadas, com um sorriso no rosto. A segui, dando graças a sei lá quem que ela não tinha percebido.


Mas fiz isso cedo demais.


Assim que seu pé alcançou o terceiro degrau, a garota estacou. Agora sem sorrir, ela olhou para baixo, para a estampa da própria camiseta. Depois para meus pais. Seu olhar caiu nos cabelos estupidamente ruivos de minha mãe, que deu um sorrisinho envergonhado. De volta para sua camiseta. Depois para mim.


-Harry? - chamou, em um fio de voz. Sorri amarelo.


-Ahn... Surpresa?


Eu pensei que ela fosse gritar. Pular em cima dos meus pais, ou até desmaiar. Mas não. Ruivas não são tão simples assim.


Ginny Weasley me deu um soco. Caí de costas nos primeiros degraus da escada, e ouvi a porta bater.


-Uau – disse meu pai, no silêncio que se seguiu – Essa foi a melhor reação de um fã de todos os tempos.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Lana Silva

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Mortissima com a reação da Gina...Também, ele meio que mentiu pra ela, agora quero ver como vai ser essa banda outra vez... Senti uma peninha da Maggie... Mas espero que tudo se resolva pra ela... E o Ron as vezes é um grande idiota, por isso que a Mione continua sem falar com ele. Amei o capitulo e sinto por não ter lido antes, estava viajando...Beijoos! 

    2013-06-26
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.