I Never Felt This Way Before

I Never Felt This Way Before



Harry Potter


 


-Levanta, Harry! Vai se atrasar para a escola.


Resmunguei algo indecifrável e puxei os cobertores até a testa. Calculei que em menos de cinco minutos eu morreria sufocado, mas não me importei.


-Ficou assistindo animes até tarde de novo? - reclamou mamãe. Senti um peso ser aliviado aos meus pés quando ela tirou o notebook da cama. - E deixou tudo ligado... Ah. Pelo o menos é um anime legal. Esse cara morre.


Tirei o cobertor da cara com violência e me sentei na cama, na hora em que minha mãe abria as cortinas e me cegava com a claridade.


-Vamos lá, Edward Elric. - chamou, fazendo referência ao anime que eu assistia – Vai ter que estudar bastante se quiser se tornar uma alquimista.


-E perder uma perna e um braço, talvez – resmunguei, enquanto ela saía do quarto.


-Café-da-manhã – avisou, da porta – Agora.


Depois de me arrumar e lesmiar um bocado, me vi sentado na mesa da cozinha enquanto meus pais discutiam algo sem importância.


-Eu não me importo se ele é o maior violinista da região, eu não quero o Diggory ensinando meus alunos! - dizia papai, passando manteiga no pão com uma fúria considerável.


-Primeiro, não são seus alunos! Você não consegue ficar em uma sala de aula por mais de vinte minutos sem chamar alguém de tanso. - disse mamãe, pacientemente – Amus é um cara legal, nós estudamos juntos!


Meu padrinho Sirius diz que alguns anos atrás meu pai só acordava cedo depois de ameaçar vinte de morte e quase provocar uma guerra interplanetária. Incrível como as pessoas mudam. Meus pais acordam cedo quase todo dia, e vão para a Escola de Rock logo depois que eu saio. Eu costumava achar isso uma perda de tempo, “eles já fundaram a escola, então ninguém precisa mais deles”. Depois percebi que eles gostavam disso. Acho que tem uma diferença entre acordar cedo para comandar uma escola de música e acordar cedo para ter aula com o morcegão do Snape. Mamãe olhou para mim ao ouvir meus resmungos.


-Tem dinheiro para o almoço? - perguntou ela.


-Tenho, sobrou um pouco de ontem.


-Você deu vinte libras para o garoto, Lily, é óbvio que ia sobrar – intrometeu-se papai, levemente irritado – Na minha época com vinte libras você comprava dez litros de leite, catorze quilos de abobrinha, duas garrafas de Coca-Cola, alface de tonéis e frango o suficiente para alimentar por duas semanas uma família de dezoito!


-Eu sou da mesma época que você e não me lembro disso – comentou mamãe, tomando calmamente seu iogurte.


-Isso é porque você não vivia nas ruas como eu. Eu era do guetto, querida!


-Então quer dizer que eu fui enganada a minha vida toda? Que eu podia ter arrumado frango mais barato nas ruas? Maldita Perdigão!


-Estou saindo – avisei, levantando e colocando a mochila nas costas.


-Boa aula! - gritaram os dois em coro.


-Duvido.


 


Ted Lupin


 


-Olá, parceiro de laboratório.


Rapidamente tirei a cara da mesa e me sentei ereto no banquinho. Olhei para Victoire, sentando-se em seu lugar. Ao meu lado.


-Oi – murmurei, e logo abaixei os olhos, me achando completamente idiota. Torci as mãos no colo, nervoso. Ao colocar seus livros em baixo da carteira, a garota roçou seu braço em mim. Engoli em seco.


-Você vai cair da cadeira assim – avisou ela, divertida. Ao tentar evitar o máximo de contato com Victoire, fui me inclinando para o lado.


Olhei ao redor, confuso. Senti um tremor e uma falta de ar ao sentir o chão se aproximar. Porém, antes de me esborrachar todo, me agarrei na mesa. Victoire ria.


-Eu avisei.


Deu uma risadinha para disfarçar o embaraço e sentei direito. Dessa vez, com os pés bem firmes no chão. Nunca pensei que seria o cara que automaticamente se transforma em um retardado quando uma garota se aproxima. Mas não é qualquer garota. É a garota. Sempre ouvi dizer que quando você gosta de alguém, o dia fica de uma hora para a outra mais bonito. Para mim, o dia continuava a mesma bosta de sempre. Só mudava o fato de que em relação ao sol, os cabelos da garota ao meu lado se tornavam quase brancos. Não que isso fizesse alguma diferença em minha vida, é claro.


-Então... - começou Victoire. Me virei para ela rapidamente, e ouvi meu pescoço dar um estralo – O que vai fazer no final de semana?


Era sexta-feira. Embora a maioria dos adolescentes (se não todos) estejam vibrando pela perspectiva de poder se ver livre da escola por dois dias, eu não estava nem um pouco animado com essa ideia. Ser praticamente novo na cidade significa não ter amigos, e não ter amigos significa não sair no final de semana. Aguentar meu pai e Dorcas por dois dias inteiros. Com sorte, conseguiria escapar para a casa de Maggie e ficaríamos jogando Guitar Hero por horas a fio. Mas desde que aquela retardada conseguiu a segunda suspensão em um mês, não podia fazer nada.


-Não sei – respondi, rezando para não gaguejar – Provavelmente vou ficar olhando pra parede e pensando em como minha vida seria mais divertida se eu tivesse amigos.


Pisquei. Ela piscou, e não demonstrou reação imediata. Depois percebi como fui idiota.


-Mas eu sou sua amiga... certo? - disse Victoire, hesitante. A encarei assustado, e ficamos nos observando por alguns segundos. Fui poupado do trabalho de responder imediatamente, pois o professor entrou na sala. Olhei para a frente, sentindo meu rosto ficar absurdamente quente.


-Certo – sussurrei.


Pensei te-la visto sorrindo.


 


Maggie Black


 


-Maggie? Por que você está rindo para o teto?


Tirei os olhos da lâmpada e sorri para meu pai, parado no alto das escadas, me observando preocupado. Contive minha vontade de responder “drogas”.


-Você sabia que existe um país chamado “Antígua e Barbuda”? - perguntei, rindo. Papai pensou por alguns segundos.


-Eu já fui pra lá! - exclamou, descendo as escadas. No terceiro degrau, estacou, e olhou para o além – Ah, não. Foi pro Caribe.


-Tudo a ver.


Ele se aproximou.


-E você tá rindo por que...? - perguntou, cutucando minhas pernas. Eu estava deitada no sofá, ocupando todos os três lugarem. Levantei as pernas, e ele sentou. Coloquei os pés em seu colo, e papai me olhou com as sobrancelhas erguidas. - Você é impossível.


-Puxei ao senhor – cantarolei, orgulhosa. Eu sabia que ele odiava ser chamado de senhor.


Ficamos em silêncio. Ele, olhando fixamente para a televisão, mas eu sabia que ele não estava assistindo nada, porque ela estava desligada. Eu, segurando o celular no alto, escrevendo mensagens. Não havíamos mencionado nada do acontecimento da noite anterior; chegamos a um mudo consenso de que era melhor deixar o assunto pra lá. Eu errei, admito. Não devia ter gritado com meu pai daquele jeito. Mas imediatamente fazer sua carranca de eu sou um pai malvado quando eu digo que saí com um garoto, isso sim é impossível de aguentar.


Na volta de Londres, com Draco Malfoy e seu motorista, tinha ouvido muito sobre Hogwarts, e as chamadas casas. Nos tempos dos meus pais, o colégio inteiro era dividido, de acordo com as personalidades dos alunos. Havia um teste, sim, e salões comunais, onde os alunos das mesmas casas confraternizavam. Mas por motivos que ninguém sabe ao certo quais foram, tudo isso acabou. A escola deixou de ser um internato, não haviam mais divisões entre casas, e junto com elas, se foi o preconceito e as rixas, deixando apenas um passado sombrio. E algumas velhas fotografias.


-Entãããããão – começou papai, quebrando o silêncio. - Pronta para voltar à escola segunda?


Era sexta-feira. E não, eu não estava preparada.


-Ain – gemi, inconformada – Ficar em casa é tããããããoo mais legal. Talvez eu até pinche um dos muros, pra ganhar outra suspensão, e mais um mês em casa.


Imediatamente percebi que tinha falado a coisa errada. Meu pai ficou me encarando, em seu olhar uma mistura de cansaço com decepção.


-Eu tava brincando, credo – me apressei a dizer. Voltei a digitar, mas logo lembrei – Mamãe tá em casa?


-Chegou de madrugada – respondeu ele – Praticamente morrendo de cansaço da viagem. Deixa ela descansar. E não ouse colocar Arctic Monkeys no volume máximo.


-Evanescence, pode? - brinquei, e ele revirou os olhos.


Em uma das poucas horas que meu pai não estava trabalhando, conseguíamos ter uma conversa civilizada como essa. Notei que ele ficava cutucando nervoso o celular no bolso, como se esperando a oportunidade para interromper a própria folga.


-Podíamos almoçar fora – soltei.


-O quê?


-É. - me sentei em um salto, e sorri marota – Vamos almoçar fora. Nós três. Como uma família.


Antes que ele pudesse falar alguma coisa, levantei-me e corri escada acima, berrando:


-Ô MÃÃÃE!


Ao abrir a porta do quarto dos meus pais com um estrondo, sorri ao observar minha mãe incorporar o demônio e me lançar olhares malignos, da cama. Sorri mais ainda.


-Quem está pronto para um programa em família?


 


Ginny Weasley


 


-Pára, Dean, não tá certo isso! - exclamei, irritada. Tirei o cabelo do olho e voltei a equilibrar a pilha de papéis em minhas mãos. - Sobraram quatrocentas libras.


-O time de vôlei feminino precisa de uniformes novos – disse ele, analisando sua pilha de pedidos dos clubes da escola. Caminhávamos pelo corredor parcialmente cheio, depois do almoço. Como vice-líder do Grêmio Estudantil de Hogwarts, eu nunca me sentira tão exausta.


-Não vamos da dinheiro para o time de vôlei! - falei – Nós nem ao menos temos um time de vôlei!


-O clube de matemática está pedindo um quadro novo – continuou ele, sem se deixar abalar. Em quase quatro meses de namoro, acredito que Dean já tenha se acostumado. Bufei.


-O clube de matemática não precisa de um quadro. Eles só fazem... Matemática!


-O que você pretende fazer com esse dinheiro, então? - perguntou Dean, sem olhar para mim. Viramos o corredor.


-Colocar nas economias para o baile – respondi.


-Já temos uns vinte mil!


-Não dá pra fazer um baile decente só com isso – continuei – O último foi uma porcaria, não nos dedicamos o suficiente.


-O último só foi uma porcaria porque aquele DJ que você escolheu ficou bêbado na metade da festa e vomitou no ponche – resmungou o garoto, mas eu fingi não ouvir.


-Os professores não são muito fãs desse tipo de festa na escola, então temos que provar para eles que somos capazes de fazer algo legal e à prova de retardados.


-Acho que isso é meio impossível – comentou Dean – Vamos mesmo colocar aquele telão na sala de música? Ginny? Ginny!


Mas eu não estava mais ouvindo, pois olhos verdes me observavam. Eu e Harry Potter nos encarávamos, e nenhum de nós parecia disposto a desviar o olhar. Minha garganta fechou, e de repente eu não conseguia mais respirar. “Não venha falar comigo”, eu pedia, mentalmente. “Por favor, não venha falar comigo...”


Ele veio.


-Ginny – chamou, em uma voz hesitante. Senti vontade de abraçá-lo. - Podemos conversar?


Não me mexi.


-Se liga, Potter – disse Dean, fazendo uma careta. - Cai fora.


-Eu estava falando com a Ginny, se você não se importa – disse Harry em um tom de voz firme, sem tirar os olhos de mim.


-Na verdade, eu me importo sim! - exclamou Dean – Ela é minha namorada, e apreciaríamos se você se mandasse.


Harry piscou, e então hesitou. Deu uma olhadela para Dean, e voltou a me encarar com uma expressão triste.


-Ginny? - chamou, baixinho. - Não vai falar nada?


-Harry – comecei, e me surpreendi por minha voz estar firme – Por favor. Sai daqui.


Depois de me lançar um último olhar cansado, ele se afastou. E eu não o impedi.


-Essa gente... - começou Dean, enquanto voltávamos a seguir nosso caminho – Não sei como você o aguenta. Quero dizer, o cara é um tonto. Não me surpreendo, ele anda com o Weasley e com a Granger. Ah, e com aquela maluca da Lovegood. Ela nunca mais te procurou? Aquele dia foi realmente estranho.


Ele não calava a boca.


-Dean... - chamei, baixinho.


-Acho que esse Potter fez uma lavagem cerebral em você. Graças a Deus você percebeu no que estava se metendo.


-Dean...


-E parou de usar aquelas roupas estranhas. Foi só por um mês, mas já ouvi as garotas da torcida comentarem. Ah, eu conversei com Parvati ontem. Ela disse que sente sua falta. Você poderia tentar falar com a Cho, né? Depois que o Diggory deu um pé na bunda dela...


-Dean, eu quero terminar.


Parei no meio do corredor. De cabeça erguida. E de repente, senti como se algo extremamente pesado tivesse sido arrancado de cima dos meus ombros. O garoto olhou para mim, alguns passos a frente.


-Do que você está falando? - deu uma risadinha nervosa, mas seu sorriso já não era mais o mesmo.


-Eu quero terminar – repeti, confiante. Olho no olho. - Sabe aquele momento em que você percebe que não está tão feliz quanto gostaria, mas que também não faz nada para mudar isso, sabendo que pode, e que deve? - perguntei. Ele pareceu confuso – Pois então. Eu estou fazendo essa mudança. Você é um cara legal. Mas não é o que eu preciso.


Silêncio. Dean Thomas ficou me encarando por alguns segundos, e por um delirante momento eu pensei que ele ia me bater. Ele respirou fundo.


-Tudo bem.


Quase não acreditei. Tudo bem? Como se para confirmar o que tinha dito, ele deu as costas e se afastou. E foi como se uma parte de mim tivesse ido junto.


Me senti livre.


Soltei uma gargalhada. Mas já não havia ninguém lá para ver.


 


Harry Potter


 


Escrevia com violência. A última folha do meu caderno de inglês avançado estava praticamente preta, de tantos rabiscos. Reli a letra. Fechei o caderno com violência, e atirei tudo para dentro do armário.


Sabia o que fazer. Não sabia como. Mas eu não ia mais esperar. Eu simplesmente não conseguia mais esperar.


Achei Rony depois de vinte minutos andando pelos corredores. Ele estava brigando com a máquina de refrigerantes, com uns bons quatro livros de francês em baixo do braço. Corri até ele, e parei deslizando em sua frente.


-Rony! - chamei. Ele ficou me observando com as sobrancelhas erguidas.


-Eu? - perguntou, depois que e fiquei o encarando por algum tempo.


-Você! - exclamei, alto demais. Por alguma razão, eu estava extremamente feliz em vê-lo. Respirei fundo. - Rony, me desculpe. Eu sei que fui um idiota, e eu sinto muito. Não devia ter falado aquilo, e não, eu não acho que você seja um idiota. O único idiota aqui sou eu. Eu não quero que você fique de mal comigo. Eu sou um mané. Pode me bater. Eu mereço.


Abri os braços, em um convite. Ele me observou por longos segundos, e eu fiquei na expectativa.


-Eu nunca bateria em um cara de óculos. - disse, por fim. Sorri, e abaixei os braços.


-A propósito, quer entrar pra minha banda?


Ele sorriu.


-Achei que nunca fosse perguntar.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH *-* Que perfeitooo. Amando loucamente aqui...Genteeeeeeeeeeeeeeeeee ele finalmente resolveu colocar essa banda pra funcionar...Bora ver quem mais se habilita \o/ Eu já tava louca por um capitulo novo e esse felizmente veio em uma hora maravilhosa, tava morta de saudades *-*  E necessito de mais...Muito mais *---------*Beijoos! 

    2013-08-19
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