All The Right Notes



Hermione Granger


 


-Ah, Rony, cala a boca.


O garoto pareceu revoltado. Então quer dizer que todo mundo tem que se interessar pelas coisas que ele fala? Sem essa.


-Mas Mione, isso pode mudar nossas vidas!


Me engasguei com a bebida.


-Pera-Quê? - comecei a rir – Do que é que você me chamou? Repete, por favor.


Ele revirou os olhos e suspirou.


Infelizmente, era sábado. Como eu não conseguia acordar tarde, fui ás oito da manhã na casa dos Weasleys para acordar Rony.


Não queria ficar sozinha.


E aqui estamos, numa sorveteria vazia, tomando o costumeiro milkshake, cercados de atendentes sonolentos, enquanto ele fala asneiras.


-Como exatamente esse fato vai mudar nossas vidas, posso saber? - perguntei.


-Imagina se ele virar um astro do rock! - exclamou ele, animado. Voltei a rir.


-Quem vai virar um astro do rock?


Me virei e vi Ted Lupin vindo em nossa direção. Ele se jogou no banco ao meu lado e nos encarou curioso.


-Ãh... Seu pai – respondi, inteligentemente. Os dois me olharam com uma cara estranha, e minha ficha caiu – Ah, não, pera.


Tomei um gole do meu milkshake, com o rosto corando.


-Não, sério, de quem vocês estão falando? - insistiu Ted. Rony ia abrir a boca para responder, mas eu o interrompi.


-Vem cá, o que você tá fazendo acordado a essa hora? - perguntei.


-Dã – ele revirou os olhos – Enchendo o saco de vocês, pra quê mais eu acordaria ás nove da manhã em um sábado? - ele riu consigo mesmo – Meu Deus, eu sou brilhante.


-Você é sempre tão irritante? - perguntei, obviamente irritada. Ele deu de ombros.


-Usualmente.


Lancei um olhar irritado para Rony, como se a culpa fosse dele.


-Estávamos falando de Harry – disse ele – Descobri ontem que ele escreve músicas.


Ted se afogou com o próprio milkshake.


-Porquê todo mundo tá fazendo isso hoje? - reclamou Rony.


-Harry? O Harry? Nosso Harry? - perguntou Ted, como se não acreditasse – Harry Potter? Aquele que nunca conversa com ninguém? Que parece estar sempre envergonhado?


-Ele mesmo – disse Rony.


Ted piscou, confuso.


-Não pode ser.


Se levantou e saiu apressado da sorveteria.


Troquei um olhar com Rony, e com a impressão que ele ia fazer merda, o seguimos.


 


Ted Lupin


 


-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!


Como é bom ás vezes ser o primo malvado.


-VOCÊ! - gritei, ficando em pé na cama de casal de Harry e apontando pra ele.


-QUÊ?


Ele parecia realmente confuso.


-O que vocês estão fazendo aqui? - perguntou Harry – E PORQUÊ DIABOS VOCÊ ME MOLHOU?


Sem me importar com sua raiva, joguei o balde agora vazio para o lado.


-O que está acontecendo aqui? - perguntou James, entrando no quarto. Ele pareceu não se importar com seu filho apavorado e todo molhado, nem com o sobrinho dando uma de Hitler – Eu tô tentando ouvir música lá em cima, com licença!


-Pai! - chamou Harry – Ted me molhou!


-E eu com isso?


-E se eu estivesse dormindo pelado? - reclamou o garoto. Hermione começou a rir de um canto.


-Você não é do tipo que dorme pelado – disse ela – Mas é só colocar esse pijama de guitarrinhas na máquina.


Todos começamos a rir da cara de um Harry ainda bem irritado.


-Não sabia que hoje era o dia de acordar o Harry de manhã e praticar bullying com ele! - disse Lily, entrando no quarto.


-Reunião de família? - perguntou Harry, franzindo o cenho – Tá, porquê vocês estão aqui?


-Feliz aniversário! - exclamou Lily, sorrindo. Todos olhamos pra ela –Foi uma brincadeira. Pô, ninguém sabe rir nessa casa?


-EU QUERO SABER – falei, voltando a elevar o tom de voz, para ter certeza que toda vizinhança ouviria – PORQUÊ VOCÊ, HARRY POTTER, NÃO CONTOU QUE ESCREVIA MÚSICAS!


Silêncio.


-QUÊ? - gritou Harry, apavorado – MAS COMO.... ÃÃH? QUÊ?


-Isso é novidade – disse James.


-Rony encontrou seu caderno, priminho – falei.


-Não, eu não – respondeu o ruivo rapidamente.


-Você tem o dom do rock! - continuei.


-Você escreve músicas? - perguntou James, confuso. Depois olhou para Lily – Ele escreve músicas? NOSSO FILHO ESCREVE MÚSICAS?


-Não, eu... - gaguejou Harry, quando viu os pais com sorrisos de orelha a orelha – Não é nada, é só um hobbie...


Lily se atirou em cima de Harry e o abraçou.


-MEEEU BEBÊ! MEU BEBÊ É UM MÚSICO!


-Pára, mãe!


-Você pode compor a melodia e gravar! - exclamou Rony, animado.


-Ela chama o Harry de bebê? - perguntou Hermione, meio rindo.


-E DEPOIS DIZEM QUE ELE É IGUAL Á LILY, BRINCADEIRA ISSO! - gritou James, dando gargalhadas.


-CALEM A BOCA!


Todos ficaram em silêncio, observando um Harry ofegante e bem vermelho.


-Primeiro – disse ele – Rony, não mecha mais nas minhas coisas sem permissão. Já não basta aquele incidente do pônei – Rony abaixou a cabeça, envergonhado – Eu não vou mostrar o que eu escrevo, e nem vou compor – continuou Harry – Só porque eu crio letras não quer dizer que eu sou obrigado a virar um astro do rock. E pelo amor de Deus, mãe, sai de cima de mim.


Lily se levantou, e arrumou os cabelos.


-Bem, pelo menos ninguém mais vai dizer que você foi uma perda de tempo.


E puxando o marido pelo braço, saiu do quarto.


-Quem é que diz isso? - perguntou Harry, franzindo o cenho.


-Tudo bem, Harry, entendemos que você não quer mostrar suas músicas – falou Hermione compreensiva – E antes que você me odeie pelo resto da sua vida, saiba que eu tentei impedir Ted de molhar você.


-Você ainda me paga por isso – disse Harry, olhando para mim. Dei de ombros.


-O bom é que eu sei que esse estresse todo não foi uma completa perda de tempo.


E saí do quarto. Rony e Hermione me alcançaram na porta.


-O que você quis dizer com aquilo? - perguntou Rony, confuso. Olhei para ele.


-Não dissemos nada sobre ele se tornar um astro do rock.


Sorrindo e caminhando lentamente, voltei para casa.


 


 


Harry Potter


 


Tirei a tampa da caneta com a boca, e apoiando a folha no prato da bateria, rabisquei a cifra.


Voltei a tentar no baixo e sorri. Quase pronto.


Não que eu tenha realmente me afetado com o que Ted disse. Eu, bem... É.


Já quase usei todas as folhas de um caderno inteiro apenas com minhas letras. E se eu amo tocar, porquê não compôr? Bem, eu tô tentando. Não é como se fosse a coisa mais difícil do mundo. A maioria da música já está em minha cabeça, como se fosse uma parte de mim. É bem esquisito. Mas tenho certeza que não estão ficando louco.


Não absoluta. Quase. É... Uns setenta e cinco por cento.


Passei as gravações para o notebook e juntei todas em um programa de mixagem. Como só existe um Harry Potter no mundo, tive que ir gravando a música aos poucos. Primeiro a bateria, para ter a base. Depois a guitarra para dar à música seu toque próprio, e por fim, o baixo, dando o toque final. Tudo que uma boa música de rock precisa ter.


Coloquei os fones, peguei a letra e liguei o microfone.


Eu não gosto da minha voz, falando sério. Mas desde que eu fiz aula de canto (PARA DEIXAR BEM CLARO, MINHA MÃE ME OBRIGOU!) quando tinha dez anos e o professor iniciou algum tipo de veneração por minha voz, comecei a pensar que ela não deve ser tão ruim. Claro que depois de um tempo descobriram que o professor também era viciado em Mentos, mas isso é outra história.


A música começou a tocar.


-Harry!


Olhei para o lado e dei um salto de susto.


-Ginny?


E lá estava ela, me observando pela minha janela. Não exatamente pela minha janela. Pela janela dela. Que era... De frente à minha.


Joguei os fones em um canto e corri até a janela.


-Você nunca fica em casa a essa hora – falei, e ela deu de ombros.


-Não sou mais líder de torcida, o que me dá – ela parou pra pensar – Duas horas livres todos os dias.


-Você tinha treino no sábado? - perguntei.


-Tínhamos que manter a forma de algum jeito – ela riu – Eu posso ir aí? Acho que tem um esquilo mal-encarado nessa árvore.


De fato, lá estava o esquilo, nos encarando com os olhinhos arregalados, em cima do galho da árvore entre as casas. Perigosamente próximo à minha janela.


-Claro – falei. Ginny sorriu e saiu correndo.


Ok, tudo bem. Uma garota está vindo para minha casa. Ginny Weasley está vindo para minha casa.


Ô, merda.


Corri pelo quarto, juntando os pacotes de salgadinhos e as folhas espalhadas pelo chão. Arrumei a cama, ainda um pouco molhada (Ted me paga) e empurrei os instrumentos para o canto. Deu tempo de dar uma última olhada no quarto quando a campainha tocou, e eu quase tive um ataque cardíaco.


Corri escada abaixo, e quase imediatamente voltei. Parei diante dos prêmios da School Of Rock presos na parede.


Não. Definitivamente ela não pode saber. Para Ginny, eu sou quase um garoto normal. Não tenho nem ideia do que ela vai fazer se descobrir que grande parte de minha família é formada por astros do rock.


Tirei os quadros da parede e joguei em cima da cama do quarto de hóspedes. A campainha tocou mais uma vez.


Ginny ergueu as sobrancelhas quando eu abri a porta ofegante.


-Desculpe – falei – Casa grande.


-Você podia ter me esperado aqui em baixo – disse ela, com uma falsa irritação.


-E perder sua expressão impaciente e irritada? - perguntei, abrindo espaço para ela entrar – Nunca.


Ela riu.


-Você tá aprendendo, daqui a pouco vaiCARAMBA!


Ginny tinha chegado à sala de estar, e me encarava de boca aberta.


-Isso é sua casa ou o Palácio de Buckinghan? - ironizou.


-Bem – falei, dando de ombros – Você não vai encontrar a rainha pelada na banheira, disso eu tenho certeza.


Ela ficava realmente diferente sem o uniforme grosseiro das líderes de torcida ou o pesado moletom da escola. Com suas botas baixas, casaco largo e saia que não mostrava até os intestinos, Ginny Weasley estava mais bonita do que nunca.


-Harry! - chamou ela, estalando os dedos na frente do meu rosto. Pisquei – Seus pais estão em casa?


-Ahn, não – respondi, levemente tonto.


-Ótimo – disse ela – Eu trouxe tequila! Não precisa fazer essa cara, eu tô brincando. Você não acha graça em nada, não?


-Quer subir? - perguntei, e ela concordou.


-No que seus pais trabalham? - perguntou Ginny, enquanto subíamos as escadas – Eles trabalham? Ou ganharam na loteria?


-Eles têm uma... Escola de Rock – falei. Pode parecer um trocadilho engraçadinho, mas é a mais pura verdade – Uma escola de música. Escola de Rock... Esse é o nome.


Depois que a School Of Rock acabou há quase vinte anos, meus pais decidiram fundar uma escola de música no centro de Londres. Escola de Rock, como a banda, mas literalmente um aprendizado. Você pode entrar nela tanto fazendo testes e ganhando uma bolsa ou seus pais tendo uma ilha no meio do pacífico. Desse jeito, todo mundo pode ter uma chance de aprender a tocar alguns instrumento.


-Sério? Legal! - exclamou Ginny, quando alcançamos a porta do meu quarto -Você esconde várias coisas legais sobre você, Harry Potter – eu abri a porta, e seu queixo caiu novamente – Principalmente que seu quarto é divino.


Ela caminhou lentamente pelo quarto, absorvendo cada detalhe. Agradeci mentalmente por ter tirado as meias do abajur.


-Não tem nada de mais – falei, coçando a cabeça.


-Nada de mais? - ironizou ela – Você tem mais CD's do que eu tenho de fios de cabelo! E olha só para esses instrumentos.


Ginny sentou no banquinho da bateria, pegou as baquetas e olhou para mim, sorrindo como se não pudesse acreditar.


-Isso é fantástico!


-Toca aí – falei, sentando na cama.


-Eu vou explodir seus tímpanos – avisou ela, e bateu uma vez no prato – Eu sou o Dave Grohl.


Antes que eu pudesse me perguntar de onde ela conhecia Dave Grohl, Ginny começou a tocar. Mal dava para ver seus braços, de tão rápido que eles se moviam. Ela balançava a cabeça no ritmo, e sorria.


Ela tocava pra caramba.


Ela parou de tocar, ergueu os braços para o alto e os desceu pela última vez, com uma última nota. Respirou fundo e finalmente pareceu perceber minha cara apavorada.


-Ah, meu Deus – disse ela, começando a se assustar. Ela se levantou de um salto e olhou a bateria – Não é por esse lado que segura os pauzinhos?


-Ginny – falei, baixinho, ainda confuso – Você... Como...?


Antes que ela pudesse falar algo, a porta se abriu com um estrondo.


-Harry!


Não sei se ficava feliz ou desesperado ao ver que era Maggie. A garota olhou confusa para Ginny.


-Harry, você tá namorando?


-Quê? - respondi, apressado – Não, não, ela não é minha namorada. Ela é a vizinha.


Maggie estreitou os olhos.


-Harry, você tá ficando com a vizinha?


Senti meu rosto ficar vermelho. Se Ginny parasse de rir ajudaria bastante.


-Somos só amigos – disse ela, calma.


-Ah, tá – respondeu Maggie, ainda nos observando atentamente.


-O que você tá fazendo aqui? - perguntei, e ela deu de ombros.


-Queria conversar. Ted me expulsou do quarto dele – explicou – Ele até atirou um dicionário em mim. Acho que era de islamismo – e parou para pensar – Eu não sei falar em islamismo. Eu, hein. Enfim.


Antes que eu pudesse rir, ouvi vozes altas vindas da janela, da casa dos Weasleys.


-Que estranho – comentou Ginny – Será que os gêmeos pintaram o banheiro de cor-de-rosa de novo?


-Você mora aqui do lado? - perguntou Maggie, e Ginny concordou – Eu vi um carro parando aí agora pouco, e uma garota saiu dele carregando umas trocentas malas.


-Uma garota? - perguntou a ruiva, estranhando.


-É – continuou Maggie – Loira. Alta. Parecia uma Barbie.


Não entendi a cara de apavorada de Ginny.


-Ah, droga.


-Que foi? - perguntei.


Ela me olhou, e falou como se estivesse assinando sua sentença de morte:


-Victoire.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK OH GOD! Eu ri demais. Quero saber se eles vão formar uma nova School of Rock mesmo... Gina vai tocar bateria.  Pelo jeito... Harry vai cantar... E os outros eu ainda não sei. Posta mais please. Beijoos *-* 

    2013-03-05
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