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CAPÍTULO 4


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Rose e Hugo entraram na cabine em que Lily, Alvo, James e Roxanne estavam, com as mãos lotadas de doces dos mais variados tipos.


- Pois bem, Rose... – disse Alvo – Agora você já pode contar o que queria.


- Ainda não, Alvo – respondeu ela, distribuindo os doces entre os primos – Lily, cadê o Frank e a Alice?


- Estão em Hogsmeade com a Hannah. Ela comprou o Três Vassouras e está lá terminando a reforma do bar – explicou, abrindo um pacote de feijãozinhos de todos os sabores.


- Rose, não desvia do assunto! – falou Roxanne, ansiosa – Todos estamos curiosos.


- Eu já disse, Roxanne, não posso falar. Por enquanto, não – repetiu, pacientemente.


- Tudo bem, Rose. Podemos, pelo menos, saber por que você não pode falar agora? – perguntou James, dando uma mordida enorme em um bolo de caldeirão.


Ela mordeu o lábio inferior, pensativa. Se dissesse o motivo de ainda não poder falar, todos adivinhariam do que se tratava. Ou não?


- Ela não pode falar porque o Glenn não está aqui – disse Lily, arrancando Rose de seus pensamentos.


- Fala sério, o que aquele almofadinha tem a ver com isso? – perguntou James, distraído. No instante seguinte, ele parou a meio metro de morder de novo o bolo de caldeirão, a compreensão se espalhando por seu semblante: – Rose, vocês estão ficando?


- Não, eles estão namorando – respondeu Lily, analisando cuidadosamente um feijãozinho de aspecto esquisito.


- Lily! – disse Rose, em tom repreensivo – A gente combinou hoje de manhã que eu e o Glenn contaríamos juntos!


Ela ergueu os olhos, distraída, e disse, com o olhar distante:


- Quê?


- Lily, você não se lembra? – quis saber Rose, decepcionada.  


A compreensão agora se espalhou pelo rosto de Lily.


- Ah, Rosie, me desculpa... eu falei sem querer...


- Ela está super preocupada com o Teddy – explicou Alvo.


- Aconteceu alguma coisa com ele? – quis saber Roxanne.


- Não – respondeu James, agora se servindo de torta de abóbora – Hoje de manhã ele nos contou que vai se cadastrar como doador de medula óssea para um banco.


- Isso é dinheiro? – perguntou Roxanne, confusa.


- Não, Roxanne, medula óssea vermelha é um tecido do corpo humano responsável pela produção de hemácias e outras células do sangue – explicou Rose.


- Mas por que o Teddy resolveu doar? – perguntou Hugo, intrigado – Não sabia nem que ele conhecia isso!


- Um colega dele de treinamento passou mal, Hugo – começou Lily – e como ele é de família trouxa e como os pais dele não confiam muito nos Curandeiros do St. Mungus, foram com ele até um hospital trouxa e foi diagnosticado que ele está com leucemia. Tem mais ou menos um mês que ele está internado, recebendo transfusão de sangue. Os médicos disseram que a única solução para ele ficar totalmente curado é o transplante, mas na família dele não tem ninguém compatível para fazer a doação. Daí eles resolveram pedir para os amigos dele, tanto bruxos quanto trouxas, para ver se alguém é compatível enquanto os médicos investigam nos bancos de medula os doadores que já foram cadastrados.


- Não entendi nada. Os Curandeiros do St. Mungus não teriam uma maneira mais fácil de resolver isso? – disse Roxanne, ainda mais confusa. Ao contrário dos primos que estavam ali, ela não frequentara a escola trouxa até receber a carta de Hogwarts. Eles haviam feito isso depois de muito pedir aos pais, visto que todas as crianças da rua em que moravam o faziam. Conscientes de que não haveria mal algum, Hermione e Harry convenceram Ron e Gina a consentirem.


- Bem que eles tentaram, Roxanne – explicou Lily – Mas nada adiantou. Os pais do amigo do Teddy só o levaram ao hospital trouxa porque sempre que iam ao St. Mungus, ele parecia ficar pior com as poções que os Curandeiros lhe davam.


- Olha só, Lily, mas ele se cadastrar como doador não é uma coisa boa? Mostra que ele tem um bom coração – afirmou Roxanne, sem entender a preocupação da prima.


- Eu sei, Rox – respondeu ela – O meu medo é que aconteça alguma coisa ao Teddy durante a cirurgia de retirada de parte da medula caso ele seja compatível. O Teddy é como se fosse meu irmão mais velho, sabe?


- Ei! – protestou James – Al e eu somos seus irmãos mais velhos!


- E o Teddy – acrescentou Lily – Ele é o mais velho dos três. Tenho três irmãos.


- Já que é assim, tudo bem – concordou James, voltando a comer seu bolo.


- Não precisa ficar preocupada, Lily – disse Alvo, sorrindo para a irmã – A cirurgia é bem simples e o Teddy é forte. Se precisar, pode ter certeza de que vai correr tudo bem.


- Pessoal, novidade! – anunciou Lucy, entrando na cabine com uma carta na mão e a coruja encarapitada no ombro – Recebi uma carta da Dominique!


- O que diz? – perguntou Roxanne, curiosa.


- Ainda não li... estou só esperando o Louis chegar, porque ele me disse que queria estar na hora da leitura... – disse ela, sentando-se ao lado de Hugo – Imagino que deve ser sobre o Matt.


Nem bem Lucy acabou de falar e Louis apareceu, esbaforido, parecendo que tinha acabado de correr uma maratona. Jogou-se ao lado de Alvo, respirando fundo, e disse para Lucy:


- Lê logo, Lucy! Estou super curioso... não vi a Dominique chegando ontem e hoje ela saiu bem cedo para trabalhar, então não faço a menor ideia do que aconteceu. Nem minha mãe nem a Victoire viram-na saindo.


Ansiosa, Lucy abriu a carta, observada atentamente por todos os presentes, e leu:


       Lucy:


Tenho certeza de que tanto você quanto os outros primos e o Louis estão bem curiosos para saber o que aconteceu ontem entre o Matt e eu. Também imagino que, neste exato instante, você está em alguma cabine do Expresso de Hogwarts lendo esta carta em voz alta para todos ouvirem. E é com essa intenção que estou escrevendo.


Pois bem, ontem, quando saímos da festa da Rose, o Matt me levou até a casa dele. E não comecem a pensar besteira! Nós nos sentamos na varanda e começamos a pôr em pratos limpos toda a nossa história. Corrigindo: nós não, ele.


O Matt me contou tudo, sabe? Desde o dia em que ele se deu conta de que estava apaixonado por mim e como eu partia o coração dele a cada vez que o desprezava. Outra coisa que ele disse era que não podia simplesmente terminar tudo com a Maria (sim, é assim que se chama a ex-noiva dele) e sair correndo para mim como se nada tivesse acontecido, como se ela fosse apenas um passatempo para ele enquanto eu não me decidia. Assim, nós não podemos ficar juntos, segundo ele. O Matt disse, ainda, que, apesar de não ter vivido uma paixão arrebatadora com a Maria, foi muito feliz com ela de um jeito único. E que esse é mais um motivo para respeitá-la.


O Matt terminou dizendo que, apesar de ter cedido ao meu beijo na festa da Rose, isso ainda não quer dizer nada. Que ele não sabe exatamente o que pode esperar de mim, porque eu pareço ser meio esnobe. E que isso não quer dizer que ele não me ame, mas que ele precisa saber, afinal, o que se passa em minha cabeça.


Depois disso, eu fui embora. Sim, sem beijá-lo de novo e sem falar nada. Fui andar antes de voltar para casa. E querem saber? Não vou desistir dele. Não mesmo. Eu o amo, de verdade, como nunca amei ninguém antes. Farei o que for preciso para demonstrar o quanto ele significa para mim hoje e tentar ser menos esnobe (tenho que concordar, aqui, que ele tinha razão. Nossa, como eu devia ser irritante! E é incrível saber que ele se apaixonou por mim apesar disso). Tentarei convencê-lo de que, hoje, não faz mais sentido planejar uma vida em que ele não seja parte dela.


Conto tudo isso para vocês na esperança de que continuarão torcendo pelo Matt e por mim. Por favor, não contem a ele sobre esta carta. Se quiserem se intrometer, por favor, me ajudem. Mandem ideias sobre o que eu posso fazer para demonstrar que o amo demais e conseguir, assim, ficar com ele. Minha mente está cheia de ideias, mas sei que vocês são bastante criativos para isso, então, se puderem sugerir outras “cositas más”, me fariam felicíssima!


                                                                                Beijo a todos os meus priminhos e irmão pentelhos,


                                                                                                                                                       Dominique


- E então? – perguntou Lucy, dobrando a carta cuidadosamente – Ideias?


- Eu acho que em vez de ter gastado o tempo dela escrevendo para nós, a Dominique deveria ter escrito algo para o Matt – falou Hugo.


- Fala sério, Hugo – resmungou Lily – Para uma situação assim, uma carta é muito simples, muito impessoal.


- Nesse ponto eu concordo com a Lily – opinou Louis – No lugar do Matt, eu não me renderia com apenas uma carta... até porque a Dominique disse que não falou nada com ele; simplesmente foi embora.


- Gente, calma! – falou James – Isso tem uma solução bem simples: basta a Dominique aprender pole dancing e fazer uma sessãozinha particular para o Matt... aí ele a agarra na mesma hora!


- Deixa de ser ridículo, James. O Matt não é um tarado pervertido feito você – disse Lily displicentemente.


- Puxa, irmãzinha, não precisa ofender! – disse James, fingindo-se chateado enquanto os demais riam da observação de Lily.


- Nossa, a Dominique tinha que ser tão complicada? – disse Louis, coçando a cabeça – Victoire e eu não somos assim!


- Oi, pessoal! – cumprimentou Glenn, animado, entrando na cabine já com suas vestes de Hogwarts e um distintivo de monitor preso a elas.


Rapidamente, Lucy guardou a carta de Dominique no bolso da calça e levantou-se com Louis, dizendo:


- Já estávamos de saída...


- Não vão agora – disse Glenn – Rose e eu temos uma novidade para todos.


- Menos para a Lily, para o Alvo, para o Hugo, para a Roxanne e para mim – disse James.


Lucy e Louis correram os olhos de Glenn, parado na porta, até Rose, sentada ao lado da janela e sorrindo.


- E o que é? – quis saber Louis, desconfiado.


- Estamos namorando! – anunciou Rose, e no instante seguinte ela tinha chegado até o namorado e estava beijando-o como se estivessem sozinhos.


Instantes depois, Hugo pigarreou.


- Hm... Rose? – ela soltou Glenn e corou imediatamente quando reparou que todos a olhavam fixamente.


- Certo... agora acho que todos já sabem... – concluiu, sentando-se novamente, dessa vez ao lado de Glenn.


Lucy sorriu com o embaraço da prima e disse:


- Fico feliz por você, Rose, mas tenho que ir, de verdade. Minhas amigas estão me esperando.


- Suas amigas ou um amigo solitário que eu vi te abraçando hoje mais cedo? – perguntou James.


- Abraçando? Que é isso, James, ele estava era beijando a Lucy mais descaradamente que o nosso amigo Glenn aqui beijou a Rose... – comentou Louis, o sorriso se alargando à medida que notava o constrangimento de Lucy aumentar.


- Ok, vocês venceram... mas eu não estou namorando! Por enquanto, Tom e eu estamos só ficando – dito isso, ela saiu da cabine sem olhar para mais ninguém.


Louis riu e saiu, dizendo:


- Como novo capitão do time da Grifinória, marquei os testes para esta semana. Espero vocês lá.


Lily fitou James e disse:


- O que eu faço com você, James? É pior que mulher fofoqueira!


- Hey, Lily, hoje você se levantou só para me ofender, foi? E se não fosse por mim, era bem provável que todo mundo ia demorar bem mais para saber que o Teddy e a Victoire estavam juntos!


- Dá para parar vocês dois? – disse Alvo, impaciente – Afinal, todos sabemos que o James adora fofocar sobre esse tipo de coisa...


- Fofocar não, Al – interveio – Apenas passo informações adiante.


- Que seja – disse Hugo, voltando-se para Glenn – Quer dizer, então, que agora somos cunhados?


- Com certeza – confirmou Glenn, visivelmente alegre.


- Graças a Deus que a Rose soube escolher direito – avaliou Hugo, cumprimentando-o com um aperto de mãos – Tenho certeza que o papai e a mamãe vão ficar contentes quando souberem. Mas eu estou de olho em você, Wood – acrescentou.


- Eu também – afirmou Alvo.


- E eu – disse James – Cuida bem da priminha, viu?


- Só faltou o Fred aqui... – comentou Rose.


Durante o resto da viagem, fizeram mil e uma piadinhas sobre o namoro de Rose e Glenn. Ao chegarem à estação de Hogsmeade, foram correndo encontrar Alice e Frank para contar a eles também.


Sentaram-se juntos na hora do banquete e também seguiram juntos para a Torre da Grifinória, exceto por Glenn, que foi mostrar o caminho aos alunos do 1º ano.


James, Alvo, Hugo e Frank caminhavam um pouco mais rápido, de modo que Rose, Lily e Alice rapidamente ficaram para trás. Ao ver que eles já estavam bem à frente, Alice comentou:


- Puxa, Rose, você e o Glenn juntos... quem diria, hein?


- Como assim, Alice? – quis saber Rose, sem entender direito.


- Bem, eu sempre achei que, realmente, o Glenn tivesse uma queda por você. Mas eu pensava que você nunca iria querer nada com ele – justificou – mesmo ele sendo atencioso, educado, carinhoso...


Rindo, Rose disse:


- Nossa, Alice, assim você me ofende! Quer dizer, então, que você achava que eu rejeitaria o Glenn mesmo ele tendo todas essas qualidades? Eu seria realmente muito estúpida se fizesse uma coisa dessas...


Alice balançou a cabeça em sinal de desaprovação e explicou:


- Não quis passar a impressão de que te acho estúpida, Rose. É que eu sempre pensei que você fosse apaixonada pelo Scorpius.


Lily arregalou os olhos ao escutar a última palavra, temerosa da reação da prima.


- Que bobagem, Alice. Nem sei de quem você está falando – respondeu Rose, dando de ombros.


Alice e Lily se entreolharam, surpresas. Pelo jeito, Rose falava sério. Nem mesmo pareceu se perturbar com a menção ao nome do loiro.


Ao chegarem ao dormitório feminino na Torre da Grifinória, despediram-se e Rose seguiu para o dormitório do 4º ano. Ao chegar lá, todas as suas colegas de quarto já tinham chegado e estavam se preparando para deitar.


- OI, ROSE! – gritaram, animadas.


- Oi, gente – cumprimentou, caminhando para perto de sua cama e de seu malão para pegar o pijama, a escova de dentes e a pasta – Como foram de férias?


- Foi ótimo, Rose! – respondeu Stephanie, uma loira de cabelos cacheados – E estávamos só esperando você chegar...


- E por quê? – quis saber, caminhando agora para o banheiro.


- Você vai saber logo, logo... – disse Stephanie, misteriosamente.


Ao voltar de dentes escovados e tendo vestido o pijama, Rose foi atingida em cheio no rosto por um travesseiro.


- GUERRA DE TRAVESSEIROS! – anunciou Stephanie e, no segundo seguinte, o dormitório estava uma zona, com travesseiros voando para todos os lados.


Só pararam cerca de uma hora mais tarde e, ao se deitar para, finalmente, dormir, a primeira coisa que voltou à mente de Rose foram as palavras de Alice: “É que eu sempre pensei que você fosse apaixonada pelo Scorpius”. Por que justamente agora, que estava tão feliz ao lado de Glenn, todas pareciam querer lembrá-la do loiro? No dia anterior, Lily é quem falara e, agora, Alice... e é óbvio que mentira descaradamente quando disse à Alice que não tinha a menor ideia de a quem ela se referia: sabia que era a Scorpius Malfoy. Sempre.


Involuntariamente, pegou-se pensando em como ele estaria depois de passados pouco mais de dois anos. Tendo convivido nesse período com Glenn, James, Alvo e Hugo, tinha presenciado várias mudanças neles, desde o aumento de altura ao engrossamento da voz e o aparecimento de barba. E Scorpius, como estaria? Teria ele a voz tão grossa quanto a de Glenn? Estaria barbudo feito James? Teria crescido mais ou menos os quinze centímetros que Hugo crescera? Ou ainda estaria desafinando a voz como Alvo?


Ridículo, Rose, pensou, repreendendo-se. Simplesmente ridículo. Você está namorando o Glenn e vai dormir pensando em outro? Mais especificamente, pensando no Scorpius? Justamente o garoto que você disse a meio mundo que odiava e que não queria mais ver?


Mera curiosidade, pensou. Não há nada de mais nisso. As pessoas envelhecem, mudam, é normal se perguntar como elas estão. Ou não.


De qualquer forma, pensou, é melhor dormir de uma vez. Afinal, o dia seguinte seria cheio e ficar com sono durante as aulas só iria atrapalhar... fora que Scorpius não devia nem mesmo se lembrar da existência dela, correto? Então não fazia o menor sentido perder o sono, de novo, por causa dele.


*


O restante do semestre foi bastante tranquilo. A cada dia, Rose se encantava mais com Glenn. É certo que tinham lá seus desentendimentos e pequenas discussões, como qualquer outro casal, mas, no fim, não conseguiam ficar muito tempo com raiva um do outro. Ao mesmo tempo, Rose sentia que ia começar a passar menos tempo com ele: Glenn era monitor, goleiro do time da Grifinória e estava prestes a fazer os NOMs.


- Fica tranquila, Rosie – dissera Lily no Salão Comunal, no dia do último treino de quadribol do ano – Vai dar tudo certo e eu tenho certeza de que ele não vai se esquecer de você jamais.


- Às vezes eu me sinto tão egoísta, Lily – confessou assim que o buraco do retrato se fechou, ocultando Glenn, James (apanhador do time) e Louis (batedor) – Sei que o Glenn é um ótimo menino, que ele precisa estudar, mas... por que ele tinha que jogar no time? Será que não era justo ele passar um pouco mais de tempo comigo em vez de jogar? E, quando eu penso assim, me sinto um monstro. Se eu o pedisse isso, iria decepcioná-lo bastante, mas também quero passar mais tempo junto dele.


- Isso é normal, Rose – falou Lily – Qualquer namorada passaria pelas mesmas indagações que você está fazendo. Não se martirize. Tenha paciência com o Glenn. E, sinceramente, você melhorou muito depois que começou a sair com ele.


Rose sorriu, fracamente, sem saber exatamente se isso era ou não um elogio. Dias atrás, tinha escutado Lily, Alvo e Hugo conversando justamente sobre isso na biblioteca, aos murmúrios.


- Gente, vocês notaram como a Rose melhorou depois que começou a namorar o Glenn? – perguntou Alvo, parando subitamente de fazer o dever.


Escondida pela estante abarrotada de livros, Rose parou ao ouvir seu nome. Aparentemente, não tinham notado sua presença ali. Cuidadosamente, permitiu-se olhar de relance: Alvo estava de costas para a estante, sentado defronte a Lily e Hugo. Escondeu-se de novo.


- Realmente, Al – disse Hugo – Mas a Rose nunca foi má. Ela esteve realmente insuportável quando veio para Hogwarts e conheceu o Malfoy. Foi nesse período que ela ficou chata, irritada com tudo. E parecia que tudo na vida dela se resumia a ele, a falar em como ele a tirava do sério e não sei mais o quê.


- Depois que o Malfoy foi embora, realmente, ela voltou a ser o que sempre foi – constatou Lily, colocando a pena sobre a mesa – Mas não podemos negar que conviver com o Glenn a deixou ainda melhor do que sempre foi, desde criança.


- Relacionamentos são, de forma geral, difíceis – constatou Alvo, pensativo – Afinal, tem anos que a mamãe e o papai estão juntos e de vez em quando eles ainda discutem, por causa disso e daquilo... não acho que um namoro seja mais fácil do que um casamento... talvez seja menos complicado.


- O Glenn faz bem a ela – concluiu Lily, pegando a pena de novo – Ele é uma ótima pessoa e a ama de verdade. Qualquer um consegue ver isso.


- E a Dominique? – perguntou Hugo – Ela já conseguiu se acertar com o Matt?


- Pelo que eu vi o Louis falando ontem, não – contou Alvo – Mas ela não desistiu ainda. Ele disse que parece que ela está planejando algo.


- Mas a gente tem que lembrar que o Scorpius pode voltar. O papai disse que o cara que era o representante britânico na Noruega já está, tipo, 99% bom. A licença dele acaba em março – disse Lily – Acho que eles não voltariam imediatamente por causa da escola do Scorpius. No fim das contas, ele também é ótimo aluno e a mãe dele não iria querer que ele ficasse prejudicado.


- E qual era a doença do cara? – perguntou Hugo.


- Não faço ideia, Hugo – respondeu Lily – É importante a gente lembrar que ainda tem a aposta do James com a Rose. E ele não esqueceu, não. Nas férias ele comentou com a gente, lembra, Al?


- Lembro – respondeu Alvo – E o James disse que ia ganhar. Com tanta convicção que eu fiquei com medo pela Rose.


- Mas não vamos dizer nada a ela, certo? – perguntou Lily, um tom de ânsia de confirmação na voz.


- É melhor não, Lily – disse Hugo – A Rose que se cuide sozinha agora. Ela já adquiriu maturidade o suficiente para isso.


- Eu também concordo – disse Alvo.


Com isso, voltaram a fazer os deveres, ficando em silêncio. Rose não se mexeu. Sua mente ainda tentava processar tudo o que ouvira, os olhos corriam pela lombada dos livros sem realmente ler os títulos.


Minutos depois, sentiu dois braços abraçando-a por trás, e a voz que tanto gostava sussurrar em seu ouvido:


- Oi, minha linda. Voltei.


Sorrindo, ela se virou e abraçou o namorado, sentindo o cheiro delicioso de sabonete que emanava de sua pele.


- Acabou o treino?- perguntou sussurrando, feliz por tê-lo de volta.


- Finalmente. Hoje foi pesado – respondeu, sem soltá-la.


- Então, você precisa de cuidados, certo? – perguntou, afrouxando o abraço de modo que pudesse encarar Glenn. Em resposta, ele sorriu e, no instante seguinte, Rose o beijou profundamente, aliviada com a presença dele ali.


- Madame Pince vai brigar conosco, Rosie – disse Glenn, afastando-se.


- E quem disse que eu me importo com ela? O problema é que ela ficou para titia e eu só posso lamentar – disse, em tom de brincadeira, puxando Glenn de volta pela gravata do uniforme. Contente, ele sorriu e voltou a beijá-la com mais entusiasmo ainda.


Quando os dois, já sem fôlego, afastaram-se, Rose fitou o namorado com bastante cuidado, gravando cada mínimo detalhe de seu rosto, até chegar a seus olhos castanho-escuros, que tanto a admiravam, sentindo-se finalmente muito segura de tudo o que vivia com ele:


- Eu te amo, Glenn – sussurrou, sem desviar o olhar – Muito.


No fim, Rose concluiu que sim, era um elogio de Lily. Tinha que concordar com tudo o que os primos disseram. Realmente, sentia que tinha amadurecido bastante nos últimos meses.


Dezembro logo chegou e, junto com ele, a neve que agora tomava conta dos jardins. Hogwarts estava sendo enfeitada com maravilhosas decorações, especialmente a do Salão Principal, que Glenn e os outros monitores haviam ajudado a montar. As comidas quentes preparadas pelos elfos estavam a cada dia mais divinas.


Na última noite antes de voltarem para casa, Rose, Glenn, Alvo, Lily, James, Hugo e Roxanne estavam sentados nas poltronas em frente à lareira no Salão Comunal da Grifinória, comendo fondue e comentando sobre o que fariam nas férias de Natal.


- Meus pais disseram que vamos para a Dinamarca, visitar os parentes da minha mãe – contou Glenn, mergulhando uma uva no chocolate fumegante da vasilha que estava em cima da velha mesa de madeira.


- E nós vamos passar por um Natal sem neve, a mamãe me disse. Todos os Weasley – disse Rose.


- O quê? – perguntou Roxanne, surpresa – Natal no hemisfério sul?


- Exatamente – disse Rose, confirmando com a cabeça – Natal no Brasil!


- Oba! – disse Lily, feliz.


- Por que ninguém me disse nada? – perguntou James, frustrado – Como foi que eu não descobri uma coisa dessas?


- A mamãe disse que é surpresa – explicou Rose – E que quem organizou tudo foram o tio Harry e a tia Gina.


- Isso é um absurdo! Como eu não descubro nem o que se passa em minha própria casa? – disse James, fingindo-se indignado.


- E para de teatro, James. Ela disse que você já tinha descoberto tudo há muito tempo – completou a ruiva.


- E não contou nada para a gente? – disse Roxanne, indignada – Belo primo você é!


- Obrigado, Rox. É por isso que todas me querem – respondeu.


- Cretino! Por que não nos contou? – continuou ela, sem se importar.


- Porque era para ser segredo. E a minha querida irmãzinha disse que eu era pior que mulher fofoqueira, lembra? Eu não disse nada para a fama não pegar.


Roxanne balançou a cabeça, sem se conformar.


Foram dormir cedo, ansiosos pelo dia seguinte, com exceção de Rose e Glenn, para quem o dia seguinte significaria se separarem por duas semanas.


Rose tinha a impressão de que acabara de entrar no Expresso de Hogwarts quando ele parou na estação de King’s Cross. Ao saírem do trem e atravessarem a barreira entre as plataformas 9 e 10, viram Ron e Hermione conversando com Oliver e Tina, entusiasmados. Rose trocou um breve olhar com Glenn e, sorrindo, aproximaram-se dos pais.


- Olha só quem chegou! – disse Ron, abraçando a filha, feliz, e cumprimentando Glenn com igual entusiasmo.


- Ficamos muito felizes, Rose, quando soubemos de vocês dois – disse Oliver, sorrindo – Espero que sejam felizes juntos.


- Obrigada, sr. Wood – agradeceu, adiantando-se para cumprimentá-lo.


- Eu também fiquei contentíssima, Rose – disse Tina – Sei que é meio estranho, porque nunca tivemos muito contato, mas pelo que eu ouço falar, você é uma menina maravilhosa.


- Obrigada pelo voto de confiança, sra. Wood – disse em resposta.


Hugo agora chegava e ia cumprimentar os pais, mas Ron, sem se deixar distrair, voltou-se para Glenn:


- Mas fica esperto, hein, Wood? Estou com os dois olhos em você – disse, fingindo-se bravo.


- Pode deixar, sr. Weasley. Vou me comportar – respondeu, sem se intimidar – Prometo cuidar muito bem da Rosie.


- Acho bom – concluiu.


- Vamos, então, filho? – disse Tina – Sua avó está lá em casa com o Matt e daqui a pouco ele tem plantão no St. Mungus. Além do mais, ela está ansiosa para te ver.


Glenn despediu-se dos sogros e do cunhado e, por fim, deu um beijo rápido em Rose (aqui Ron desviou o olhar) e saiu com os pais. Em seguida, Harry, Gina, George, Angelina, Percy, Audrey, Fleur e Bill aproximaram-se, cada casal seguido de perto pelos filhos.


- Vamos, então? – chamou Harry.


- Não vamos para casa? – estranhou Lily.


- Hoje o jantar é na casa de seus avós, Lily – explicou Gina – Temos uma ótima notícia para vocês.


Rose trocou um olhar cúmplice com o irmão e os primos ali presentes, já sabendo do que se tratava. Sem mais delongas, todos seguiram para lá. Ao chegarem, encontraram o sr. Weasley sentado em sua poltrona preferida na sala, conversando animadamente com Teddy. A sra. Weasley, por sua vez, estava sentada na cozinha observando Victoire, Dominique e Molly se esmerando para fazer um bom jantar, enquanto Fred organizava mesas e talheres no jardim.


Demorou um pouco até todos se cumprimentarem, principalmente porque a sra. Weasley não parava de dizer que seus netos estavam todos muito magros. Fred, por fim, entrou na minúscula cozinha, entupida de gente, e anunciou que tudo já estava pronto lá fora, e que todos já podiam se acomodar.


- E o frio? – perguntou Angelina – Você quer que todos congelem lá fora, mocinho?


- Calma, mamãe, está tudo certo – disse, tentando se aproximar dela e abraçá-la – Fiz um Feitiço Isolante de Temperatura que o Teddy me ensinou e posso garantir que está quentinho perto da mesa e que não vai cair neve no seu prato enquanto você estiver deglutindo sua comida.


- “Deglutindo”? – perguntou Angelina, desconfiada – De onde você tirou isso?


- Vi o Matt falando assim com um dos pacientes dele ontem e achei a palavra engraçada – explicou – Algum problema?


- Ah, bom, agora eu entendi de onde saiu esse vocabulário tão elaborado – comentou, parecendo mais tranquila.


Juntos, todos os Weasley foram para os jardins, onde se acomodaram devidamente em seus lugares, já marcados por Fred. O sr. e a sra. Weasley tinham seus lugares na ponta da mesa. Victoire, Dominique e Molly se demoraram um pouco mais, mas logo apareceram carregando enormes panelas em que estava o strogonoff que tinham feito caprichosamente.


- Será que isso é bom mesmo? – perguntou a sra. Weasley, apreensiva, examinando minuciosamente o champignon do molho.


- Vovó, a senhora não confia em nossos dotes culinários? – perguntou Victoire, apoiando as mãos na cintura.


- Bem... – começou a matriarca, lançando um olhar apreensivo em direção a Molly.


- Eu sei que não consigo cozinhar direito, vovó – disse Molly, pousando a travessa enorme com batata-palha na mesa – Ainda. Dominique e Victoire me ensinaram bastante coisa hoje, e posso garantir que todo o tempero desta comida é delas. Eu ajudei, basicamente, a cortar a carne, o champignon, ficar de olho no relógio para elas e fiz o suco de maracujá. Então, não há motivo para ninguém ficar com medo de ser envenenado – concluiu, sentando-se ao lado de Percy acompanhada pelas risadas dos familiares.


- Mas... strogonoff? – perguntou a sra. Weasley, observando o marido encher o prato de carne e de molho – Eu não conheço isso, nem sei o que é!


- Molly, querida, para de reclamar – disse o sr. Weasley, agora servindo-se de arroz – As meninas deram um duro danado para fazer a comida. Sei que você não conhece esse prato e eu também não, mas que tal experimentar, hein? E Victoire e Dominique têm tanta habilidade na cozinha... elas não fariam nada ruim para nós comermos.


- Obrigada pela parte que me toca, vovô – disse Molly, sorrindo.


- Sra. Weasley – chamou Teddy, sentado ao lado de Victoire –, a Victoire e a Dominique já fizeram strogonoff na casa delas e posso garantir a senhora que ele é da mais alta qualidade!


A sra. Weasley correu os olhos pela mesa. Todos já tinham servido, menos ela. Ron, Hugo, George, Fred e James comiam em um entusiasmo maior do que todo mundo. Com um suspiro resignado, serviu-se de pouca comida, ainda apreensiva.


- Então, Rosie, você está namorando o Glenn Wood? – quis saber o sr. Weasley, servindo-se de mais batata-palha.


- Estou sim, vovô – confirmou, engolindo a comida que tinha colocado na boca.


- Ele é um ótimo menino, Rosie, tenho certeza que vai cuidar bem de você – disse o patriarca, servindo-se de mais suco – Aliás, Dominique, há quantas anda sua história com o outro Wood, o Matt? Achei que vocês já estivessem namorando...


- Ainda não, vovô – respondeu, subitamente com as feições entristecidas – Eu errei muito com ele e ainda estou achando um jeito de pedir perdão... e convencê-lo, também, de que estou realmente arrependida.


- Faz bem, Dominique – concordou o senhor.


- Mas você anda demorando muito, filha – comentou Bill – Acho melhor agir logo ou ele arrumará outra rapidinho.


- Bill! – disse Fleur, repreendendo-o.


- Fleur, o que eu posso fazer? É a mais pura verdade! – disse, defendendo-se.


- Ela sabe, não precisa que todos a lembrem disso toda hora – disse.


- Certo... – disse o sr. Weasley, com ar pensativo, bebendo um pouco de suco – Fique tranquila, Domi, no fim dá tudo certo. E se não deu, é porque ainda não chegou ao fim – concluiu, sorrindo carinhosamente para a neta.


- Obrigada, vovô – disse, agradecida.


Por alguns instantes, a mesa ficou em silêncio. Victoire e Dominique levantaram-se para colocar mais suco e mais comida na jarra e nas travessas, indo para a cozinha. O sr. Weasley correu os olhos pela mesa e, encontrando o olhar de Fred, perguntou:


- E você, Fred? Que dia vai trazer sua namorada para nós conhecermos?


- Não tenho namorada, vô – respondeu, bebendo o restante de suco que estava em seu copo.


- Mas queria ter – disse Victoire, voltando com a irmã e pousando as travessas recém-cheias de volta na mesa.


- O quê? – disse Angelina, surpresa – O Fred? Querendo uma namorada? Como assim?


- Não é qualquer namorada, mamãe. É uma garota em particular... – contou Roxanne, sorrindo.


- Muito obrigado, Rox – disse Fred, indignado e irritado com a irmã.


- Como assim, Roxanne? – quis saber Angelina, mandando às favas qualquer disfarce e demonstrando toda a sua curiosidade.


- Nicole Geller, tia – disse Victoire, intervindo para Fred não jogar toda a sua irritação para cima da irmã.


- Nicole Geller? – repetiu Angelina, chocada.


- Sim, Nicole – confirmou Teddy – Acho que a cada vez que ela rejeita um beijo do Fred, ele só se apaixona mais e mais.


- Muito obrigado – bufou Fred, servindo-se de mais strogonoff com uma força visivelmente desnecessária.


- Bem, não posso negar que o meu filho tem bom gosto – disse George, levantando uma sobrancelha com ar pensativo –, embora, como pai, eu tenha a obrigação de aconselhar que ele não se prenda a mulher nenhuma, porque é um caminho sem volta...


Angelina bateu no ombro de George, com a maior força que conseguiu, dizendo:


- Como é, George? Dá para repetir?


- Amor, não é nada pessoal... – disse, encolhendo-se para fugir do próximo tapa da esposa, que o fuzilava com o olhar com notável irritação.


Percy, enxugando as lágrimas vertidas de tanto rir, disse, com dificuldade:


- São por essas e outras que eu amo tanto essa enorme família! 


- Pois agora você vai amar ainda mais sua irmãzinha, Percy! – disse Gina, levantando-se e batendo na mesa, para chamar a atenção de todos – ATENÇÃO, GALERA, CALEM A BOCA! – gritou.


- Gina, minha filha, não precisa falar assim! – protestou a sra. Weasley.


Bem ou mal, a atitude de Gina conseguiu prender a atenção de todos, exceto de Victoire, que saiu correndo para a cozinha para pegar a sobremesa (mousse de maracujá), depois de constatar que toda a comida tinha acabado.


- Bem, agora que todos estão prestando atenção – começou Gina, depois que todos se serviram fartamente de sobremesa – Harry e eu temos uma proposta para vocês. Harry? – chamou.


Com pressa, Harry enfiou a última colher de sobremesa na boca e levantou-se, dizendo:


- Bem, para este Natal, Gina e eu pensamos em fazer algo diferente. Quebrar um pouco a nossa tradição, sabem?


- Cicatriz, cicatriz, o que vocês estão planejando, hein? – disse George, fingindo-se com medo.


- Fica quieto, George – disse Gina, fuzilando o irmão com o olhar.


- Bem, Gina e eu pensamos em viajar... todos nós! Conseguimos no Ministério uma Chave de Portal interpaíses e alugamos uma casa imensa, que caberá todos nós confortavelmente. A Chave de Portal está programada para amanhã, às 17h – explicou Harry, brevemente – Sei que todos terão duas semanas de folga e é por isso que marcamos sem perguntar nada antes.


- Harry – chamou Audrey, curiosa – para onde é essa viagem, hein? Pelo jeito, ou você se esqueceu de contar ou fingiu que se esqueceu para alguém perguntar...


- Segunda opção, Audrey – afirmou ele, sorrindo – Bem, alugamos uma casa em uma ilha do Brasil.


- BRASIL? – repetiu Audrey, chocada – Não precisa nem perguntar se eu vou. É obvio que sim! Já ‘tô dentro!


Seguiram-se vários murmúrios a essa declaração, visivelmente de aprovação à ideia de Harry e Gina. Rose trocou um olhar com James, Hugo, Alvo e Roxanne, para quem tudo estava longe de ser uma grande novidade.


Ainda houve um pouco de confusão enquanto Harry explicava tudo: sim, era uma ilha; sim, ela era particular; não, não era de um brasileiro, e sim de um alemão; não, a ilha não tinha só essa casa imensa, tinha uma menor na outra extremidade; sim, a casa era toda equipada como se fosse trouxa; não, o dono não era trouxa, era bruxo; não, a ilha não era no litoral do Rio, mas no litoral de Pernambuco; não, não havia lancha que os levasse até o continente (“Somos bruxos ou não somos?”, dissera Ron); sim, o aluguel já estava pago; não, Harry não ia contar quanto fora; sim, estava muitíssimo quente no Brasil; e a Chave de Portal era um carro velho, para que todos conseguissem chegar lá ao mesmo tempo; e iam chegar ao Brasil por volta de 16h, por causa do horário de verão (“Sem ele ia ser às 15h”, disse Gina, explicando a pequena diferença de fuso horário).


Depois de todas as devidas explicações, todos concordaram em ir, visivelmente ansiosos em conhecer, mesmo que pouco, o tão famoso “país tropical”.


Animada, Rose voltou para casa com os pais, Hugo, os tios Harry e Gina, e James, Alvo, Lily e Teddy. Todos foram dormir cedo, desejando que a noite acabasse logo. No dia seguinte, passaram toda a manhã fazendo as malas, e Rose e Lily e Gina e Hermione a toda hora entravam e saíam umas da casa das outras para pedir opiniões. Mary e Monstro, por sua vez, tentavam a todo custo convencer Harry e Ron de que também deviam ir, para ajudar a arrumar tudo.


- De jeito nenhum – disse Harry, convicto – Vocês precisam de férias. É o tempo que terão para descansar e isso é uma ordem. Têm que obedecer. Assim como é uma ordem que peguem os trinta galeões que estão na mesa do quintal e dividam igualmente entre si. Gastem-nos da forma que quiserem, e podem comprar qualquer coisa com eles que não seja de utilidade doméstica – acrescentou, lembrando que, no primeiro salário que deram aos elfos, estes tinham gastado tudo comprando lençóis, faqueiros e produtos de limpeza para os senhores.


Alguém bateu na porta, e Mary foi correndo atender.


- Oi, Mary, tudo bem? – era Glenn – A Rose está aí?


- Não tão bem quanto Mary gostaria, senhor, porque ela terá férias e ordenado... – respondeu, com as enormes orelhas murchando enquanto falava – Mas a srta. Weasley está, sim, senhor, pode entrar...


- Glenn? – disse Rose, descendo as escadas com Lily, cada uma carregando uma mochila nos ombros.


- Oi, Rose – cumprimentou, sorrindo. Ela terminou de descer as escadas correndo, jogando a mochila no chão de qualquer jeito, e jogou-se nos braços do namorado, abraçando-o com força.


- Que surpresa, Glenn! Não esperava que viesse aqui hoje – comentou, enquanto sentia o nariz do namorado aspirando o cheiro de xampu que emanava de seus cabelos ruivos. Ron pigarreou e disse:


- É falta de educação não cumprimentar os outros, sabia, Wood?


Rose e Glenn se soltaram do abraço e ele cumprimentou Ron, Harry, Lily e Monstro, e, por fim, acrescentou:


- Desculpe-me, sr. Weasley. Posso falar com a Rose um instante?


- Fique à vontade, prometemos não atrapalhar vocês – respondeu, indicando a ele que se sentasse com a namorada no sofá vago da sala.


- Papai! – disse Rose, indignada.


- O que eu fiz, minha filha? – perguntou, confuso.


- Bem... eu queria conversar com a Rose em particular, se o senhor não se importar – esclareceu o rapaz.


- Vamos para o meu quarto, Glenn – disse Rose, puxando o namorado pela mão.


- Nada de porta fechada! – gritou Ron, enquanto o casal saía – E não demore, Rose, daqui a pouco vamos à casa de seus avós! E não ouse encostar um dedo em minha filha, Wood!


Rose revirou os olhos enquanto subiam as escadas, e Glenn apenas sorriu diante das recomendações do sogro. Com cuidado, ela abriu a porta do quarto, indicando a Glenn que se sentasse na cama e tendo o cuidado de deixar a porta aberta o máximo que pôde.


- Belo quarto, Rose – comentou ele, correndo os olhos pelo aposento.


- Obrigada – respondeu a ruiva, sentando-se em frente ao namorado – E então? A que devo a honra da visita?


- Não vou demorar, Rose, até porque também vou viajar daqui a pouco, então vim só trazer seu presente de Natal.


- Presente? – repetiu Rose, surpresa e feliz – Mas, Glenn... ainda faltam alguns dias para o Natal!


- Eu sei, mas não queria mandar este presente por correio-coruja nem entregá-lo depois do Natal, então, resolvi vir – explicou.


- Certo... e cadê o presente? – perguntou, notando que Glenn não carregava nada nas mãos.


Com cuidado, ele tirou uma caixinha embrulhada de dentro do bolso, entregando-a a Rose. Intrigada, ela tirou o papel de presente e abriu a caixinha. Dentro dela estava uma corrente de ouro fininha, cujo pingente era uma delicada e pequena rosa. Atrás do pingente, estava gravado, na letra de Glenn: My Rose.


- É linda, Glenn, eu... – começou, visivelmente perdendo todas as palavras no caminho – Obrigada, de verdade – disse, levantando os olhos cheios de lágrimas para fitar o namorado.


Em resposta, Glenn sorriu. Cuidadosamente, pegou a correntinha da mão de Rose e colocou-a no pescoço da garota.   


- Feliz Natal, Rose – disse.


- Feliz Natal, Glenn – respondeu, aproximando-se dele e o beijando.


Longos segundos depois, ouviram Ron pigarrear da porta.


- Rose, tá na hora – disse, meio emburrado.


Ela se soltou do namorado, ambos muito corados, e Ron resmungou:


- Se não sou eu para chegar na hora certa, só Deus sabe o que esse garoto faria...


Rapidamente, Glenn se despediu da namorada e do sogro e foi embora. Rose, por sua vez, desceu as escadas e encontrou sua mãe, Hugo, os tios e os primos esperando-a, acompanhados de Teddy.


Ao chegarem à Toca, todos os outros Weasley já estavam no jardim ao redor do velho carro, aguardando-os.


- Uau, ninguém se atrasou – comentou Ron.


- Brasil, Ron, Brasil – disse Gina, como se explicasse a uma criança que 2+2 é quatro.


- Pois bem, pessoal – disse Harry, consultando seu relógio – Faltam cinco minutos, então vamos todos nos posicionar...


Com quase nenhuma dificuldade, todos conseguiram um lugarzinho para encostar uma das mãos no carro. Ficaram em silêncio absoluto por alguns minutos, aguardando, os corações cheios de expectativa, até que sentiram estar sendo puxados para um abismo.


Rose sentiu suas costas baterem, por fim, em algo que parecia areia... e era. Podia sentir a brisa marítima batendo em seu corpo, envolvendo-a, enquanto o cheiro de praia invadia as narinas. Levantou-se, limpando a areia da roupa. Era lindo ali. E a temperatura estava bem alta. As águas do mar eram verdinhas, límpidas, de um jeito que jamais vira. E a casa, então? Imensa. Linda. Ainda mais perfeita do que imaginara.


Procurou os primos com o olhar. Lily parecia tão abobada quanto ela, e contemplava tudo que a visão alcançava. Roxanne e James brincavam de jogar água um no outro. Alvo e Hugo conversavam a um canto olhando a floresta que havia na ilha, avaliando-a. O restante da família já havia entrado na casa.


- Lily – chamou Rose, aproximando-se – Vamos entrar?


- Vamos – concordou, acompanhando-a.


Encontraram os pais e os tios já dividindo entre si os quartos do 2º andar. Victoire, ao vê-las entrando, chamou-as a entrar em um quarto imenso do 1º andar, já cheio de camas para as mocinhas da família.


- Os meninos vão ficar no quarto menor que tem aqui ao lado... – explicou – E temos um banheiro só nosso também – contou, apontando a porta que levava a ele.


Após isso, Rose e Lily foram conhecer o restante da casa. No 2º andar, só havia suítes, em número exato ao número de casais formados por seus tios, pais e avós. No 1º andar, além dos quartos coletivos, havia uma sala de televisão, biblioteca (só com livros de literatura trouxa), cozinha e sala de jantar. Toda a casa era bastante clara, e quase todos os cômodos tinham uma ou duas paredes de vidro.


Dominique fez o café daquela tarde, enquanto matutava sozinha o que faria a respeito de Matt. Harry conjurou uma mesa na areia da praia, para que pudessem fazer as refeições ali mesmo. Em seguida, todos resolvera tomar um banho por causa do calor que estavam sentindo. Victoire, Dominique e Molly foram as primeiras no quarto coletivo feminino, já que o banheiro tinha três boxes diferentes com um chuveiro cada. Lucy e Rose pegaram alguns livros da biblioteca para ler e Lily lembrou-se de seu pai contando que havia outra casa na ilha.


- Rose – chamou – você pode vir aqui, por favor?


Relutante, ela largou “Romeu e Julieta” em cima da cama e seguiu Lily até o quarto dos meninos. James, Alvo, Hugo e Roxanne estavam lá jogando Snap Explosivo com um dos baralhos da Gemialidades Weasley.


- Onde estão Teddy, Fred e Louis? – perguntou Lily.


- Três chuveiros, três boxes, três banhos diferentes ao mesmo tempo – explicou James, sem erguer os olhos.


- Ok. O que vocês acham de a gente ir procurar aquela outra casa que o papai disse que tem aqui? - perguntou, na lata. Rose esbugalhou os olhos.


- Lily, você enlouqueceu?


- Quem topa? – perguntou, ignorando Rose.


- Tô dentro! – disse James, levantando-se de um salto na mesma hora.


- Eu também! – disseram Roxanne, Alvo e Hugo ao mesmo tempo, ficando em pé.


- Vocês endoidaram? – perguntou Rose, chocada – Isso pode ser perigoso!


Sem dar ouvidos a ela, os outros foram saindo da casa, Rose seguindo-os para ver se falavam sério. Antes de se embrenharem na floresta, Lily voltou-se para Rose:


- Você vem ou não?


Ela mordeu o lábio, pensativa. Tudo estava tranquilo. Todos estavam dentro de casa, ocupados com seus afazeres...


- O que é a vida sem um pouco de riscos? – disse, derrotada, acompanhando-os.


- É isso aí, priminha! – apoiou James, com um sorriso no rosto.


Até que a floresta não era tão fechada quanto imaginavam. Por onde passavam, Roxanne marcava o caminho com um feitiço que aprendera, para não ficarem perdidos e saber qual era o caminho de volta. Quase uma hora depois, segundo o relógio de Hugo, ele se sentou em uma pedra, dizendo:


- Desisto. Vamos voltar? Estou morrendo de sede.


- Eu também – concordou Rose, sentando-se ao lado do irmão.


- O que é isso, galera? Somos grifinórios! Somos bruxos! – disse James.


- Exato – disse Lily, conjurando jarra, copos e água.


- Água? – disse Rose, surpresa.


- Com certeza deve ter um rio por aqui – explicou Lily, servindo água nos copos com a ajuda de Roxanne.


Estavam bebendo a água quando Roxanne disse:


- Vocês estão escutando?


Todos apuraram os ouvidos imediatamente.


- Parece que tem alguém tocando violão – comentou Alvo.


- Ninguém em nossa família toca violão – disse Hugo.


- Acho que chegamos ao nosso destino – disse Lily, sorrindo.


Terminaram de beber a água com pressa e continuaram caminhando na direção do som cautelosamente. Minutos depois, conseguiam distinguir três vozes conversando, e o som do violão cessando.


Instigados pela curiosidade, continuaram caminhando, com o máximo de cuidado que conseguiram para não fazer barulho. Finalmente, chegaram a um lugar em que havia uma fileira de coqueiros plantados um ao lado do outro. Cerca de trezentos metros à frente, conseguiam ver a praia. Havia várias pedras lá, e três pessoas sentadas em uma delas: dois rapazes e uma moça. Esta tinha cabelos muito pretos e dizia algo aos rapazes com que eles pareciam concordar. Ambos seguravam um violão.


Viram, ainda, a casa, que parecia uma versão bem menor da que estavam hospedados. Escondidos, voltaram sua atenção aos rapazes a e à moça, que agora cantava uma música tocada por eles.


- Não é inglês – constatou Hugo, sussurrando para os demais.


- Parece português – comentou Roxanne – Acho que já escutei a diretora Williams cantando algo parecido... e ela falou que era música brasileira.


Os rapazes e a moça não pareciam notar que estavam sendo observados. Haviam parado de cantar. Agora estavam gargalhando.


Rose voltou o olhar agora para os rapazes. Um deles tinha cabelos da mesmíssima cor dos cabelos da moça, e o outro era bem loiro... ele se levantou e, observando melhor suas feições, Rose teve a leve impressão de que o conhecia de algum lugar... surpresa, sua respiração falhou e, antes que pudesse se conter, a palavra já tinha saído de sua boca:


- Malfoy?

***


N.A.: olá, pessoas! Sim, finalmente o cap. 4 postado! Mais uma vez, quero agradecer a slytherin rules e a Ana CR pelo comentário no cap. anterior... vocês me deixam muito felizes, meninas! E, mais uma vez, pedir a todos que lerem até aqui que comentem para eu saber a opinião de vocês... vi que a fic arrebanhou novos leitores, então, se puderem dizer o que estão achando eu ficaria feliz! Se forem tímidos, podem só votar mesmo. ;)
Bem, agora a fic entra em uma nova fase... muita confusão vem aí. Aguardem cenas do próximo capítulo! Beijos a todos!  


  


     


 


 

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Comentários (6)

  • L.Oliveeira

    kkkkkkkkkkkkkkkk caracas! É o Scorpius! Imagino o que vai contcer: altas brigas kkkkkkk. Isso vai der merda e ela vai voltar a ficar SUPER irritante.Amandoo 

    2013-03-08
  • Dark Moon

    tava doida pra ver esse reencontro deles rsrsrs, My rose que gracinha *_*!!!! pq nao da pra amar loucamente quem nos ama? rsrrss Gosto da sua fanfic =D.  

    2012-12-14
  • Lana Silva

    Tipo assim eu tive a mera impressão de que Lily sabia muito bem onde estava levando o pessoal. Não o lugar, mas quem estava lá, como já disse Lily é muito inteligente e acho que ela pode ter meio que arquitetado tudo isso kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk eu amei o capitulo e tudo nele, só acho que o Glenn vai sofrer bastante coitado, com esse lance, porque eu sei que a Rose vai gostar do Malfoy e ele vai ficar de lado :/ bem eu ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiii o capitulo foi muiiiiito bom flr, especial, engraçado e eu amei todo mundo ter vindo pro Brasil *-*bjooos! 

    2012-10-22
  • tamires wesley

    obaaaaaaaaaaaa praia..brasil reencontro...iiiiiiiii q a coisa ta fikando boa... george sempre engraçadinho e fofo..adoro ele..S2.. capitulo muito bom.....\0/

    2012-08-06
  • juliana vieira

    e quando tudo parece perfeito, reaparece ninguem menos que malfoy,kkkk

    2012-06-28
  • Ana CR

    Malfoy na praia??? hauahauahauahauaNão posso nem esperar! To amando!Posta o próximo capítulo para não me matar de curiosidade!!!!(;BjsANA CR 

    2012-06-23
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