Nesta rua, nesta rua



Capítulo 22 – Nesta rua, nesta rua eu tenho uma varinha...


(24 de Julho de 1991, Harry e Alicia com dez anos. Ida ao Beco Diagonal)


 


POV’s Harry:


 


         Acordei cedo na manhã seguinte, ainda animado. A estrela em meu sonho andava estranhamente quieta e tinha os olhos nebulosos, como se tentasse ver algo que não estava ali.


         Mas, tudo estava bem, então, isso era a menor de minhas preocupações.


         Enquanto escovava os dentes, uma música infantil estranhamente entrou na minha cabeça. Nesta rua, nesta rua, tem um bosque... Que se chama, que se chama Solidão... Dentro dele, dentro dele mora um anjo... Que roubou, que roubou meu coração...


         Eu hein! Porém, mas, contudo, entretanto, todavia – eu gostei de falar assim! – continuei cantando até descer as escadas para tomar café da manhã.


         Comi excelentes panquecas com mel e amora, além de uma boa coca-cola – me viciei nisso depois que bebi há muito tempo na festa de Halloween do Ministério. Bebi trouxa, mas deliciosa.


         Minha mãe ainda me fez engolir uma salsinha, dois pedaços de bacon e meia torrada com geléia de framboesa.


         Sabe que minha barriga nem doeu depois, acho que estava com fome...


- Família linda do meu coração... – cantarolou Alicia, enquanto entrava saltitando pela cozinha e sentava-se ao meu lado, pegando, com as mãos mesmo, o último pedaço de panqueca e salsinha.


- Ei! – reclamei, de brincadeira.


- Mamãe não cozinha tão bem quanto Tia Lily – sorriu Al.


         Minha mãe sorriu, agradecendo, mas ouvimos a voz de Tia Lene.


- Eu ouvi isso, mocinha – e ela também entrou na cozinha, com Tio Almofadinhas atrás.


         Al sorriu, suas bochechas um pouco rosas na pele porcelana e branquinha, mas não deu sinais de ficar muito envergonhada.


- Papai – chamou naquela voz meiga que eu já conhecia.


         Ela ia aprontar e/ou pedir alguma coisa.


- Sim? – Tio Sirius chamou distraidamente, desviando-se da conversa que tinha com meu pai.


- Você é muito legal, sabia? E eu te amo papai – ela disse. Lá vem bomba! Chamem a aeronáutica! – Então, você poderia... Me dar uma Nimbus 2000?


         Franzi o cenho. Não poderíamos jogar Quadribol em nosso primeiro ano, nem portar vassouras próprias. Mas, bom, ninguém disse nada sobre aqui em casa mesmo...


- Pai – chamei o meu, fazendo os mesmo olhinhos pidões de Alicia, ela do meu lado me ajudando – Compra para mim também?


         Juntos, fizemos um beicinho e olhos de Sirius, digo, cachorro sem dono. Se bem que há anos ele ta na coleira... Não vem ao caso.


- Veremos – disse Tio Almofadinhas baixinho, virando os olhos para mamãe e para a madrinha, que lavavam a louça distraidamente, enquanto conversavam.


         Eu e Al nos entreolhamos, cúmplices.


- Bom, então, vamos que se não... – mas a voz de minha mãe parou ao ouvir uma gentil batida na porta da frente. Ela olhou seriamente para Alicia e eu (como se fossemos fazer algo!) e foi abrir a porta.


         A porta sendo aberta... (música de elevador... Rá, rá) e então:


- Alvo? – falou minha mãe, surpresa.


- Bom dia, Lílian. Sinto chegar assim, sem avisar, mas creio que tenho uma notícia que irá agradá-los – falou Tio Dumby.


- Bom, certamente, entre – disse minha mãe. Uma imagem dela indicando para entrar passou em minha mente.


         Alguns segundos depois, vimos Tio Dumby e minha mãe chegarem a cozinha, a última um tanto confusa.


- Bom dia – cumprimentou Dumbledore.


- Olá, professor – falou Tia Lene, agradavelmente.


         Dumbledore sorriu, gentilmente.


- Há muito que não sou isso de vocês, Marlene – falou, naquela sua voz constantemente cordial e gentil.


- Sei disso, mas será de Harry e Alicia... – falou ela.


- E terá muito trabalho! – completou Sirius animado.


         Tio Dumby olhou por cima dos oclinhos meia-lua para mim e Al.


- Sem dúvida.


         Sorrimos, sem graça.


- Oi, Tio Dumby! – cumprimentamos.


- Mais educação – ralhou minha mãe, mas Dumbledore só riu.


         Ele sorriu e começou a dizer: - Mas, então, vim aqui dar uma ótima notícia. Imagino que esses dias não tenham tido notícias de Remo.


- Sim, na verdade, faz dias que não vem aqui, ou manda uma carta – comentou mamãe – Estava ficando preocupada.


- Não se preocupe – disse Dumbledore – Remo está realizando um favor para mim, tentando descobrir algo. Entretanto, a notícia que vim dar, é que Remo será o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas a partir desse ano.


- Sério?! – não pode se conter, Almofadinhas, naquela curiosidade infantil – que, infelizmente *assoa o nariz com um lenço*, eu também tinha.


- Sério – riu-se Dumbledore – Bom, obrigado pelo chá, Lílian – agradeceu ao chá que minha mãe tinha lhe dado – mas tenho de ir. Tenham um bom dia.


         E sorriu, saindo pela porta e depois, ainda, pude ouvir o conhecido estalo de aparatação.


- Vamos logo – apressei, antes de segurar no braço de Al e, juntos, aparatarmos.


         Ainda tive tempo de ver a cara de indignada que mamãe fez.


         Paramos num beco, ao lado d’O Caldeirão Furado. Mamãe, papai e meus padrinhos chegaram logo depois.


         Entramos no bar e passamos rapidamente sob alguns olhares curiosos, que ignorei totalmente. Chegamos naquela conhecida sala com somente paredes de tijolos e meu pai fez aquele troço estranho de tocar com a varinha no (sabe-se lá qual!) tijolo certo.


- Oba! – gritamos eu e Al, passando animados entre os vários bruxos.


         Ainda pudemos ouvir nossas mães, gritando para não nos afastarmos muito.


- Ovas de sapo! Ovas de sapo! Somente três nuques cada! – gritava um bruxo.


- Venham, venham! Corujas de todos os tipos! Marrons, pretas, brancas! – gritava outro.


         As vozes dos vendedores se sobrepunham umas as outras. A enorme rua do Beco Diagonal estava lotada de pessoas, de lojas, de coisas para se olhar e comprar.


         Al encostou a cara no vidro da loja de Artigos para Quadribol e me aproximando vi um garoto falar:


- Olha, a nova Nimbus 2000! A vassoura mais rápida do século! – e outros garotos também falavam animados.


         Puxei Alicia pelo braço e ela fez biquinho.


- Depois compraremos vassouras, Almofadinhas. Não quer comprar nossa varinha? – perguntei, sorrindo.


- SIM! – ela gritou tão alto que alguns olharam, mas logo desviaram a atenção.


         Sorrimos, quando vimos nossos pais chegarem esbaforidos.


- Vocês... – Tio Sirius pegou ar – deviam esperar... – mais fôlego – a gente.


         Eu joguei a cabeça para trás e gargalhei: - Você que ta velho, Tio Almofadinhas.


- O quê?! – ele mostrou-se indignado – O garanhão mais lindo que já passou por Hogwarts nunca estará velho!


- Rá! – riu-se Alicia, do meu lado e todos acompanhamos, deixando meu padrinho com cara de taxo.


         Eu tinha lágrimas no olhos, de tanto, mas aquela piada era insana, mas, ok, ok, aos poucos, consegui parar. Minha barriga e minhas costas já doíam.


- Não sei do que riem – falou meu padrinho, fingindo indiferença, mas eu podia ver a mágoa na voz.


- É que você, garanhão e mais lindo não combinam na mesma frase, papai – disse Al, e deu tapinhas na mão do pai, como que para reconfortar – Além disso, Hogwarts já vai ter as duas pessoas mais lindas de toooooodos os seus anos.


         Papai sorriu e perguntou, mas parecia já saber a resposta:


- Quem?


         Almofadinhas passou um braço pelo meu pescoço e eu pelo dela, e respondeu: - Nós! As pessoas mais gatas, sexys e lindas de toda Hogwarts!


- Isso lá é coisa que se diga, menina? – ralhou Tia Lene – Você só vão ter onze anos quando entrarem lá.


- Ah, mas a gente cresce um dia, né, mamãe – falou Alicia, como se fosse óbvio – Aí, eu e o Harry já vamos ser a mais gata e o mais gato de Hogwarts!


         Eu ri, e Alicia sorriu, tal como os adultos. Eu logo ouvi uma voz feminina e conhecida:


- Al! Harry! – se não fosse por Almofadinhas me abraçando de um lado, teria caído pela força do impacto.


         Susana me abraçou, chocando-se contra mim. Bagunçou, mais, meus cabelos negros e abraçou Alicia.


- Como vão? Estava procurando vocês por todo Beco! – exasperou e vi como estava cansada.


- Estávamos aqui – brinquei.


         Enquanto Su cumprimentava meus pais e meus padrinhos, ouvi a voz de Neville – que, se eu conhecia bem, ou tinha se perdido de sua avó, ou não queria ficar com ela – próxima:


- Harry, Al, Su! – e correu até nós, feliz da vida por encontrar alguém.


         Opção um: perdido de sua avó...


- Como vai, Nev? – sorri, enquanto perguntava a ele, que estava todo afobado e parecia ter corrido quilômetros, apesar de, é claro, não ser verdade... Neville não agüentaria nem cem metros, provavelmente...


- Bem, mas, me perdi da vovó, e... Bom, que bom que achei vocês! – totalmente previsível, foi o que eu disse, não disse?


         Eu sorri, risonho para ele, que corou, mas retribuiu o sorriso, também achando um pouco de graça.


- Cadê seus pais, Su? – perguntou Neville, para Susana, que conversava com Alicia.


- Ah, estão comprando meus materiais. Me deram o dinheiro para eu ir comprar minha varinha, enquanto eles compravam tudo. Disseram que eu poderia procurá-los no caminho – explicou rapidamente.


- Mãe, mãe – chamou Al, impaciente, vendo que Tia Lene e Tia Lily viam a vitrine de Madame Malkins – roupas para todas as ocasiões.


- Sim, Alicia? – respondeu.


- Podemos ir comprar nossas varinhas?


- Tome vinte sicles, deve dar – respondeu, prontamente Tia Lene –Estaremos comprando seus materiais.


         E saiu com a mamãe para comprarem tudo. Papai e Tio Almofadinhas, animados, disseram que iam olhar a loja de Quadribol e talvez, quem sabe, comprar a Nimbus 2000.


- Vamos! – quase gritou Susana, também feliz da vida.


         Passamos entre os bruxos, esbarrando algumas vezes, e, sem querer, quase derrubei um velhinho, mas, juro que ele está melhor! Enfim, chegamos ao Olivaras Varinhas, felizes e ansiosos, afinal, que novo bruxo não quer a sua própria varinha?


- Olá – disse uma voz nos fundos, e quase me escondi atrás de Al quando grandes olhos azuis, mas foi Almofadinhas que se escondeu atrás de mim.


         Vi Nev tremer ao meu lado. De fato, o Sr. Olivaras era um tanto “assustador”, mas foi simpático.


- Ah, sim, eu esperava por vocês esse ano – disse o Sr. Olivaras, descendo de uma escada, daquelas que se movem para lá e para cá, presas a uma estante, e essa estante está cheia de caixas com varinhas.


- Sr. Longbottom, Srta. Bones, Srta. Black e Sr. Potter – disse agradavelmente – Pois bem, que mão a senhorita usa, Srta. Bones?


         Susana pareceu surpresa em ser a primeira, mas logo se adiantou: - Sou destra, Sr. Olivaras.


         Uma fita métrica mágica começou a medir seu braço. Pela primeira vez, prestei bastante atenção em Susana, e reparei que ela era um palmo mais alta que Alicia, sendo assim, mais alta que eu também – me senti bobo por nunca ter reparado isso.


- Sim, sim, talvez essa lhe sirva – e enquanto pegava a caixa e entregava a varinha para Su, disse – Trinta e três centímetros, feita de salgueiro, flexível. Experimente.


         Não foi preciso dizer duas vezes, Su balançou a varinha, num gesto do tipo “o que vai acontecer?”, e da ponta da varinha, saiu um feixe de luz branca, como o feitiço Lumus.


- Sim, com certeza esta! – disse o Sr. Olivaras, extasiado. Pegou os onze sicles que Susana pagava, e virou-se para Neville.


- Sr. Longbottom... – começou, mas foi timidamente interrompido por Nev.


- Ah, já tenho minha varinha, Sr. Olivaras – disse – Sabe, era do meu pai, e vovó achou um orgulho para a família eu usá-la.


         O Sr. Olivaras pareceu decepcionado e tinha um olhar um tanto reprovador.


- Aconselho os bruxos a usarem suas próprias varinhas. Cada varinha escolhe o bruxo, não se esqueça disso – e depois virou-se para Al – Srta. Black, sua mão é...?


- Sou canhota – respondeu Al, sem rodeios – que expressão piegas (essa mais ainda...).


- Talvez... – murmurou o Sr. Olivaras enquanto trazia uma caixa nas mãos, tirou a varinha e oferecendo para Almofadinhas, disse: - Vinte e oito centímetros, azevinho e pelo de unicórnio. Excelente para transformações.


         Al pegou a varinha sem hesitar, e a varinha pareceu corresponder, porque logo saíram fortes faíscas douradas, como uma chuva de fogos.


- Com certeza esta – falou e recebeu onze sicles de Alicia – Agora, Sr. Potter...


- Destro – respondi, tentando não deixar um pouco de impaciência transparecer em minha voz.


- Certo – e, se eu soubesse que daria tanto trabalho...


         Foi como uma convenção chata. Eu pegava as varinhas e – sem querer – quebrava algo. Na primeira vez, bom, botei fogo na caixa da varinha. Depois quebrei o vidro que continha flores e água, sujando toda a bancada. Então, várias caixas caíram das prateleiras. Aí... Bom, já deu pra ter uma noção da coisa toda, não?


         Mas o Sr. Olivaras não parecia desanimar, comentava feliz “Cliente difícil, hein?” e pegava outra varinha. Quando já tinha umas quinze varinhas no balcão, ele murmurou consigo mesmo – ouvidos apurados! – pensando que eu e Al não conseguiríamos ouvir:


- Bom... Por que não? – e falando mais alto e me entregando uma varinha, falou: - Uma combinação incomum. Azevinho e pena de fênix, vinte e oito centímetros, boa e maleável.


         Senti meus dedos esquentando ao toque da varinha e, apontando para o vidro quebrado que era o pote de flores, mentalizei um “Reparo!” – apesar de parecer somente um gesto inocentes, de quem não sabe usar magia... Pura mentira.


         Nev, Alicia e Susana – que sabiam sobre auras e o poder mágico que eu e Al tínhamos – pareciam ter notado meu movimento de varinha, mas o Sr. Olivaras só disse animado:


- Fantástico, Sr. Potter, sem dúvida algumas, esta é a sua varinha, ela claramente o escolheu – e paguei para o Sr. Olivaras, enquanto, rapidinho, saímos da loja daquele (louco) homem!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.