CAPÍTULO DEZESSEIS



CAPÍTULO DEZESSEIS


 


A loja Busca Espiritual ainda não abrira para o público quando Gina chegou, acompanhada por Hermione. Chas, porém, já estava lá, aguardando por elas na calçada, enquanto bebia alguma coisa fumegante em um copo de papel reciclado.


- Bom-dia! - O ar esfriara tanto que colocara um pouco de cor em seu rosto. - Será que poderíamos conversar lá em cima, em nosso apartamento, em vez de fazê-lo na loja?


- Receber policiais não é bom para os negócios? - perguntou Gina.


- Bem, podemos dizer que os primeiros clientes talvez se sentissem um pouco confusos. Mas vamos abrir só daqui a meia hora. Acredito que não vamos precisar da presença de Isis.


- No momento, não.


- Obrigado. Se pudessem me dar apenas... hã... um momento. - Lançou para Gina um olhar meio tímido. - É que Isis prefere não ter cafeína dentro de casa, e esse é o meu ponto fraco. - explicou, tomando mais um gole de café. - Ela sabe que eu saio de fininho todas as manhãs para alimentar meu vício e finge que não vê. É tolice, mas ambos nos sentimos satisfeitos por proceder assim.


- Fique à vontade e leve o tempo que quiser. Você pega o café na loja ali em frente?


- Não, pois a cafeteria é perto demais de casa. Além disso, para ser honesto, o café de lá é uma porcaria... ali na delicatéssen da esquina eles fazem um café bem decente. - Tomou mais um gole com indisfarçável prazer. - Parei de fumar há anos, até mesmo os cigarros feitos com ervas inofensivas, mas não consigo funcionar direito sem uma xícara de café todas as manhãs. Gostou da cerimônia de ontem à noite?


- Foi interessante. - Como o vento da manhã estava frio e penetrante, Gina enfiou as mãos sem luvas nos bolsos. O tráfego tanto nas ruas quanto no ar começava a fluir melhor depois da primeira leva de engarrafamentos do dia. - O tempo não está meio frio para vocês ficarem circulando pelados pelo mato?


- Sim. Provavelmente não realizaremos mais nenhuma cerimônia ao ar livre este ano, e certamente não despidos. Mirium, porém, estava querendo entrar para o primeiro nível de iniciação na feitiçaria antes do Samhain.


- Samhain?


- Halloween. - disseram ao mesmo tempo ele e Hermione. A auxiliar de Gina remexeu o pé, meio sem graça, enquanto Chas sorria para ela, e explicou: - É que meus pais são partidários da Família Livre, lembra? - murmurou.


- Sim, existem algumas similaridades. - confirmou Chas, terminando de tomar o café, indo em seguida até junto de uma lata de reciclagem, onde cuidadosamente enfiou o copo amassado pela ranhura. - Você está resfriada, senhorita?


- Estou, senhor. - fungou Hermione evitando de forma determinada a explosão de um espirro.


- Tenho algo que poderá ajudá-la. Um dos nossos membros a reconheceu, tenente. Ela contou que leu sua mão recentemente. Na verdade, na noite em que Alice faleceu.


- É verdade.


- Cassandra é muito talentosa e um doce de pessoa. - elogiou Chas, enquanto subia o lance de escadas que levava ao apartamento. - Lamentou não ter conseguido ver as coisas com mais clareza, para avisá-la de que Alice estava em perigo. E ela acredita que a senhora está em perigo nesse momento. - Fez uma pausa, olhando para trás. - Cassandra comentou que tinha esperança de vê-la ainda usando a pedra que ganhou dela.


- É, ela está por aqui, em algum lugar...


Emitindo um som que poderia ser descrito como um suspiro, ele perguntou:


- E como está o seu pescoço?


- Novinho em folha.


- Estou vendo que a cura aconteceu de forma limpa.


- Sim, e muito rápida. Que troço foi aquele que você esfregou nos arranhões?


- Nada não... apenas uma pomada feita com língua de morcego e olho de salamandra. - Um ar bem-humorado dançou em seus olhos, deixando-a surpresa. Em seguida, ele abriu a porta, lançando no ar um tilintar musical dos sininhos da porta. - Por favor, fiquem à vontade. Vou pegar um pouco de chá para aquecê-las, já que as obriguei a me esperar.


- Não precisa se incomodar.


- Não é incômodo algum. Esperem um momento, por favor.


Aproveitando que ele desapareceu por uma porta, Gina deu uma olhada cuidadosa no ambiente.


Ela não o chamaria de simples. Obviamente, um monte de objetos expostos na loja fora ali para cima. Pedaços de cristais grandes e com muitas pontas decoravam uma mesa oval e também estavam dispostos em torno de uma urna de cobre cheia de flores outonais. Uma tapeçaria com desenho complicado fora pendurada atrás do sofá azul em curva. Havia homens e mulheres representados nela, bem como sóis, luas e um castelo com chamas que escorriam das ameias.


- Aquelas são imagens dos Arcanos Maiores. - explicou Hermione, ao ver que Gina se aproximava da tapeçaria para ver melhor. Deu um espirro violento e pegou um lenço de papel. - Tarô... Essa peça parece bem antiga, e foi feita à mão.


- Deve ter custado caro... - decidiu Gina. Arte daquele tipo não era nem um pouco barata.


Havia algumas estatuetas em peltre e outras entalhadas em pedra lisa. Magos e dragões, cães de duas cabeças, mulheres sinuosas com delicadas asas. Outra parede estava cheia de símbolos atraentes representados em cores berrantes.


- São símbolos tirados do Livro de Kells. - Hermione levantou os ombros diante do olhar de curiosidade que Gina lhe lançou. - Minha mãe gosta de bordar estes símbolos em almofadões e paninhos. Fica muito legal! Esta sala é simpática. - O lugar não lhe provocava arrepios, como o apartamento de Selina Cross. - É meio excêntrica, mas agradável.


- Os negócios devem andar bem para eles terem condições de comprar essas antiguidades, obras em metais nobres e objetos de arte.


- Os negócios realmente vão muito bem. - disse Chas ao voltar com uma bandeja onde havia um bule de cerâmica enfeitado com motivos florais e xícaras. - Eu também tinha alguns recursos próprios antes de abrirmos a loja.


- Herança?


- Não. - Colocou a bandeja sobre uma mesinha redonda para café. - Economias e investimentos. Técnicos da área química são muito bem pagos.


- Mas você abriu mão do alto salário para trabalhar no comércio...


- Abri mão apenas. - disse ele, com simplicidade. - Estava me sentindo infeliz com o trabalho que realizava. Estava infeliz com a vida.


- A terapia não ajudou?


Ele tornou a olhar para ela, embora aquilo parecesse difícil.


- Pelo menos, mal ela não fez... - respondeu. - Por favor, sentem-se. Vou responder às suas perguntas, tenente.


- Ela não pode obrigar você a passar por isso, Chas. - disse Isis, surgindo na sala súbita e silenciosamente, como uma cortina de fumaça. Seu manto era cinzento, naquela manhã, com a cor de nuvens carregadas, e girava em torno de seus tornozelos enquanto ela se movia em direção a ele. - Você tem direito à sua privacidade, um direito legal.


- Não posso obrigá-lo a responder às minhas perguntas. - corrigiu-a Gina. - Estou investigando casos de assassinato aqui. Ele tem, é claro, direito a um advogado.


- Não é de um advogado que ele precisa, e sim de paz. - Isis girou o corpo, com os olhos vividos de emoção; Chas tomou suas mãos, levou-as aos lábios e em seguida passou o rosto sobre elas.


- Eu tenho paz. - disse baixinho. - Tenho você... não se preocupe tanto comigo. Vá... está quase na hora de descer para abrir a loja e eu tenho que atender a tenente.


- Deixe-me ficar.


Ele balançou a cabeça com determinação e a troca de olhares que aconteceu entre eles surpreendeu Gina. Era embaraçoso imaginar o relacionamento físico que havia entre os dois, mas o que Gina notou no olhar não foi sexo. Foi amor... e devoção.


Poderia ser uma cena cômica a forma com que Isis teve de inclinar o corpo de deusa para baixo, a fim de encontrar os lábios dele. Em vez disso, porém, foi algo comovente.


- Basta chamar. - disse-lhe ela. - Basta desejar que eu apareça e eu virei.


- Eu sei. - Deu-lhe um rápido aperto na mão, que demonstrou intimidade e cumplicidade, antes de mandá-la embora. Isis lançou para Gina um último olhar de fúria mal controlada e se retirou.


- Dificilmente eu teria sobrevivido se não fosse por ela. - comentou Chas, olhando para a porta pela qual Isis saíra. - A senhora é uma mulher forte, tenente. Seria difícil compreender esse tipo de carência, esse tipo de dependência.


Há algum tempo, ela teria concordado com ele. Agora, já não estava tão certa.


- Gostaria de gravar a nossa conversa.


- Sim, é claro. - Ele se sentou e, enquanto Hermione preparava o gravador, serviu o chá de forma quase mecânica. Ouviu sem levantar os olhos o texto tradicional que Gina recitava, falando das normas judiciais.


- Compreendeu bem quais são os seus direitos e obrigações?


- Sim. Deseja usar algum adoçante?


Gina olhou para o chá, demonstrando um pouco de impaciência. O cheiro era muito parecido com o que Minerva insistira em servir em sua sala.


- Não. - respondeu, seca.


- Acrescentei um pouco de mel ao seu, policial. - Lançou um sorriso doce para Hermione. - Coloquei também um pouquinho de... uma substância especial. Acho que a senhorita vai achar a bebida um pouco calmante.


- O cheiro está muito bom! - Com cautela, Hermione tomou um golinho e, reconhecendo o sabor, sorriu de volta, dizendo: - Obrigada.


- Qual foi a última vez em que esteve com o seu pai?


Pego de surpresa pela pergunta abrupta de Gina, Chas olhou para cima na mesma hora. A mão que segurava sua xícara estremeceu uma vez, com força.


- Foi no dia em que ele ouviu a sentença ser anunciada. Fui à sessão do júri e o observei com atenção quando era levado para a prisão. Eles o mantiveram o tempo todo com as mãos e os pés algemados, e, ao sair dali, fecharam e trancaram a porta de sua vida aqui fora.


- Como você se sentiu diante disso?


- Envergonhado. Aliviado. Desesperadamente infeliz. Ou talvez apenas desesperado. Ele era meu pai... - Nesse momento, Chas tomou um grande gole de chá com a mesma determinação que alguns homens usariam para beber uísque. - Eu o odiava de todo o coração e com toda a minha alma.


- Pelo fato de ele ter assassinado aquelas pessoas?


- Não. Pelo fato de ele ser meu pai. Magoei muito a minha mãe por ter feito tanta questão de acompanhar o julgamento de perto. Ela, porém, estava muito abalada emocionalmente para me impedir de fazer o que quisesse. Ela jamais conseguira impedi-lo, também, embora, depois de muito tempo, o tivesse abandonado. Um belo dia, ela me pegou pelo braço e me carregou com ela, deixando-o para trás. Isso foi, creio, uma grande surpresa para todos nós.


Ele olhou para sua xícara, como se estivesse analisando o padrão dos pedaços de folha que repousavam no fundo.


- Eu a odiava também. - continuou ele. - Isso aconteceu por muito, muito tempo. O ódio tem o poder de definir uma pessoa, não é verdade, tenente? Pode transformá-la em algo horrível.


- Foi o que aconteceu com você?


- Quase. O nosso não era um lar feliz. Ninguém imaginaria que pudesse ser, pois era um lugar dominado por um homem como meu pai. Eu temia que pudesse me tornar uma pessoa como ele. - A voz sensual de Chas permaneceu calma, mas seus olhos pareciam um redemoinho de emoções.


Os olhos eram o detalhe principal, aquilo que um bom policial devia avaliar em uma entrevista ou interrogatório, lembrou Gina. As palavras em si representavam relativamente pouco.


- E você se tornou uma pessoa como ele? - perguntou ela, bem direta.


- “O sangue fala mais alto”. Esta frase é de Shakespeare? - Balançou um pouco a cabeça. - Não tenho certeza. Mas não é com essa idéia que os filhos convivem? O medo de que, não importa o que os pais façam, o sangue acabe falando mais alto?


Gina convivera com aquela idéia e a temia, mas não podia se permitir ser abalada por isso.


- Foi grande a influência que ele exerceu em sua vida? - perguntou ela.


- Não poderia ter sido maior. A senhora é uma investigadora eficiente, tenente. Tenho certeza de que analisou todos os registros dele até hoje. Deve ter rodado os discos e assistido aos vídeos. Deve ter encontrado um homem carismático e de uma forma terrível. Um homem que se considerava acima da lei, toda e qualquer lei. Este tipo de arrogância feita de aço é, por si só, irresistível.


- O Mal pode ser irresistível para algumas pessoas.


- Sim, é verdade. - Seus lábios se curvaram em um sorriso amargo. - A senhora deve saber disso, pelo que vê em sua área de atuação. Ele não era um homem contra o qual alguém possa... lutar, tanto em nível físico quanto emocional. Ele era forte, muito forte.


Chas fechou os olhos por um momento, revivendo o que ele lutava constantemente para deixar adormecido.


- Sempre tive medo de que pudesse ser como ele, e considerei até mesmo devolver o mais precioso presente que recebi... a vida.


- Você tentou se auto-destruir?


- Não cheguei a tentar suicídio, mas o planejei. A primeira vez, tinha apenas dez anos. - Tomou mais um pouco de chá, determinado a se acalmar. - Consegue imaginar uma criança de dez anos considerando a possibilidade de se matar?


Sim, ela conseguia, bem demais até. Era ainda mais nova na primeira vez em que pensara nisso.


- Ele abusava de você?


- Abuso é um termo muito fraco, não acha? Ele me espancava. Jamais parecia estar enraivecido ao fazê-lo. Simplesmente me agredia em momentos totalmente inesperados, quebrando um osso do meu braço ou me aplicando um soco no rosto com a calma quase distraída que outra pessoa exibe ao atingir uma mosca com a mão, para afastá-la.


Os punhos de Chas estavam fechados sobre os joelhos. De forma deliberada, abriu as mãos e analisou os dedos que se afastavam.


- Ele atacava como um tubarão, de forma rápida, inesperada e em completo silêncio. Jamais havia avisos nem critérios. Minha vida e minha dor eram totalmente dependentes do seu capricho. Cumpri pena no inferno, tenente. - disse ele com a voz suave, quase em tom de oração.


- Ninguém o ajudou? - perguntou Gina. - Ninguém tentou intervir?


- Nós nunca ficávamos durante muito tempo no mesmo lugar, e éramos proibidos de formar laços de amizade ou nos ligarmos a alguém de algum modo. Ele explicava que era necessário estarmos sempre mudando de lugar, para que ele pudesse espalhar suas mensagens. E assim, quebrava um osso meu, levantava o punho contra mim, e em seguida me levava pessoalmente a um centro de tratamento... como um pai preocupado e responsável.


- Você não contava o que acontecia a ninguém?


- Ele era o meu pai, e aquela era a minha vida. - Chas levantou as mãos e tornou a largá-las no colo. - A quem deveria contar?


Ela também não contara para ninguém, pensou Gina. Nem havia ninguém a quem pudesse ter contado.


- Durante um certo tempo, acreditei quando ele dizia que aquilo era justo... - os olhos de Chas pestanejaram -... e certamente acreditava quando ele me dizia que haveria dores e punições ainda maiores se eu contasse alguma coisa a alguém. Tinha treze anos quando ele me sodomizou pela primeira vez. Era um ritual, disse-me ele, quando amarrou minhas mãos e chorei. Um rito de passagem. Sexo era vida, portanto, era necessário suportá-lo. E ele me levaria por esta jornada, como era seu direito e dever.


Serviu-se de mais chá, e então colocou o bule de lado, com todo o cuidado.


- Não sei dizer se foi estupro. Eu não me debati. Não implorei para que ele parasse. Simplesmente chorei sem lamentos e me submeti.


- Foi estupro. - disse Hermione, quase em um sussurro.


- Bem... - Chas sentiu que não ia conseguir beber o chá que acabara de servir; mesmo assim, levantou a xícara e a manteve no ar. - Não contei a ninguém. Mesmo depois, anos depois, quando ele já estava atrás das grades, não contei à polícia. Não acreditava que eles conseguissem mantê-lo preso. Simplesmente não acreditava nisso. Ele era forte demais, muito poderoso, e todo o sangue que havia em suas mãos parecia apenas confirmar isso. Por estranho que pareça, foi o sexo que impeliu minha mãe a fugir e me levar com ela. Não foi a violência, nem o menininho com o braço quebrado, nem mesmo as mortes que acho que ela desconfiava de que eram obra sua. Foi a imagem dele ajoelhado em cima de mim, em seu altar, com as velas pretas acesas. Ele não a viu, mas eu vi. Vi seu rosto no instante em que ela entrou no quarto. Ela me deixou ali, deixou que ele terminasse o que estava fazendo comigo, mas naquela mesma noite, depois que ele foi para a rua, nós fugimos.


- E nem assim ela procurou a polícia?


- Não. - disse ele, olhando para Gina. - Sei que a senhora acredita que se ela tivesse feito isso, muitas vidas poderiam ter sido salvas. O medo, porém, é uma emoção muito pessoal. Sobreviver era seu único objetivo. Quando ele foi preso, fui assistir ao julgamento, não faltei a um dia sequer. Estava certo de que ele ia interromper as engrenagens da justiça, de algum modo. Mesmo quando disseram que ele iria ficar encarcerado para sempre, continuei não acreditando. Deixei de usar o sobrenome dele e tentei levar uma vida normal. Procurei um emprego que me interessava, e para o qual eu tinha algum talento. E não me permiti aproximar-me de mais ninguém. Havia uma fúria presa em mim. Olhava para um rosto e na mesma hora o odiava porque parecia feliz. Ou triste. Detestava todos que não levavam uma existência cercada de sombras. E, como meu pai, não permanecia em um mesmo lugar por muito tempo. Quando me vi contemplando mais uma vez a idéia de suicídio com calma e seriedade, amedrontei-me o bastante para buscar ajuda.


Nesse momento, Chas conseguiu tornar a sorrir, continuando:


- Aquele foi, embora eu não tivesse consciência disso na ocasião, o começo de uma nova vida para mim: dar esse passo e me permitir falar sobre o indescritível. Aprendi a aceitar a minha própria inocência e a perdoar a minha mãe. A raiva, porém, continuava lá, como um nó apertado e secreto dentro de mim. Foi quando conheci Isis...


- Através de seu interesse pelas ciências ocultas. - afirmou Gina.


- Bem, eu diria que foi através dos meus estudos a respeito, como parte da minha terapia. - Bebeu um pouco de chá nesse instante, já mais à vontade, e seus lábios abriram um sorriso. - Eu estava zangado e era desrespeitoso. Religiões de qualquer tipo eram uma abominação para mim, e eu detestava tudo o que Isis representava. Ela me parecia tão linda, tão cheia de luz, e eu a odiei por isso. Foi quando ela me desafiou e me convidou a assistir a uma cerimônia, apenas para observar, da mesma forma que vocês fizeram ontem à noite. Preferia pensar em mim como um cientista. Iria apenas, pensei comigo mesmo, para provar que não havia nada de real naquela crença, apenas palavras antigas repetidas por tolos. Da mesma forma que não havia nada nas crenças de meu pai, a não ser um pretexto para machucar e dominar. Mantive-me a distância, - explicou ele - separado do grupo, com um olhar cético e secretamente enraivecido. Odiei a todos por sua simplicidade e devoção. Pois então eu já não vira o mesmo olhar arrebatado nos rostos daqueles que se reuniam para ouvir as pregações de meu pai?... Não queria ter nenhum tipo de ligação com aquilo nem com o grupo, mas me vi atraído de volta. Por três vezes retornei e assisti às cerimônias. Embora não soubesse, meu processo de cura já havia começado. Por fim, uma bela noite, no Alban Eilir, ou Rito de Eostre, que acontece no equinócio da primavera, Isis me convidou para ir até a sua casa. Quando nos vimos a sós, ela disse que me reconhecera. Entrei em pânico. Tentara durante tanto tempo enterrar o passado e tudo o que se relacionasse com ele. Ela explicou, porém, que não estava se referindo a esta vida, embora eu pudesse ver em seus olhos que ela sabia de tudo. Sabia quem eu era e de onde vinha. Disse-me que eu possuía uma grande capacidade para promover a cura, e descobriria isso assim que conseguisse curar a mim mesmo. Em seguida, ela me seduziu.


Chas deu uma risada curta e havia calor e afeto nela.


- Imagine só a minha surpresa - continuou ele - ao ver uma mulher linda como aquela me levando para a sua cama. Fui seguindo como um carneirinho, um pouco ávido e um pouco amedrontado. Ela foi a primeira mulher com quem fiz sexo, e a única com quem estive até hoje. Naquela noite do equinócio da primavera, o segredo fechado e o nó cego que haviam dentro de mim começaram a se dissolver. Ela me ama, e o milagre desse fato me fez acreditar em outros milagres. Transformei-me em um wiccano, abracei e fui abraçado pela Arte. Aprendi a curar a mim mesmo e aos outros. A única pessoa a quem eu fizera mal em toda a minha vida tinha sido eu mesmo. Compreendia, porém, e melhor até do que Isis, com todos os seus insights, o encanto da violência, do egoísmo, e a sensação de se curvar a um outro Mestre.


Gina acreditou nele, embora muita coisa do que ele contou fosse um espelho de seu próprio passado, e isso fazia com que ela não confiasse em seus instintos.


- Você despendeu um grande esforço para esconder todas as ligações que pudessem existir entre você e seu pai. - afirmou ela.


- E a senhora não faria o mesmo?


- Alice sabia de tudo isso?


- Alice representava a inocência. Era a juventude encarnada. Não houve um David Baines Conroy em sua vida... até ela conhecer Selina Cross.


- E ela é uma mulher inteligente e vingativa. Se tivesse descoberto o seu segredo, poderia ter usado Alice, ou outras pessoas, para chantageá-lo. Será que os membros de sua seita confiariam em você se conhecessem a sua história?


- Bem, já que isto jamais ocorreu, não sei responder. Preferia, certamente, manter a minha privacidade.


- E na noite em que Alice foi assassinada você estava aqui, a sós com Isis...


- Sim, e também estávamos aqui, a sós, na noite em que Lobar foi morto. A senhora sabe também que eu estava por perto no momento do último assassinato, novamente em companhia de Isis. Finalmente, sim... - Sorriu de leve. - Não tenho dúvidas de que ela mentiria por mim. No entanto, embora ela consiga viver com o filho de um assassino, jamais conseguiria viver com o assassino em pessoa. Isso vai de encontro a tudo o que ela representa.


- Ela ama você.


- Sim.


- E você a ama.


- Sim. - Ele piscou uma vez e um ar de horror surgiu em seus olhos. - A senhora não pode acreditar que ela tenha alguma coisa a ver com tudo isso! Além de tudo o que lhe contei, ela amava Alice e tinha cuidados com ela, como uma mãe tem cuidados com um filho doente. Isis seria incapaz de machucar alguém.


- Sr. Forte... - disse Gina solene -... todos são capazes.


 


- Você não acha realmente que ele possa estar envolvido, acha? - perguntou Hermione no instante em que elas estavam descendo as escadas em direção à rua.


- Existe a história pregressa de aberração comportamental em sua família. Ele possui um conhecimento de perito em substâncias químicas, incluindo alucinógenos e fitoterápicos. Não tem álibi algum para as noites dos dois incidentes. Tinha ligação com Alice, uma relação tão próxima que ela bem poderia ter descoberto os segredos que ele ocultara durante anos e que, uma vez expostos, poderiam destruir sua seita.


Parou de falar, batendo com os dedos sobre a grade da escada enquanto repassava os fatos mentalmente antes de continuar:


- Ele também tinha bons motivos para odiar Selina Cross e os membros de sua seita, bem como para desejar puni-los do modo como ele não conseguiu fazer com o seu pai. Estava perto quando Wineburg começou a desmontar, poderia ter dado a volta pelo outro lado do estacionamento com facilidade, a fim de matá-lo. Tudo isso lhe dá motivos e oportunidades, e, com o seu passado, potencial para comportamento violento.


- Mas ele construiu para si mesmo uma vida decente, depois dos pesadelos da infância. - protestou Hermione. - Você não pode condená-lo pelas coisas que o pai fez.


Gina olhou fixamente para a rua e tentou lutar com seus próprios demônios, afirmando:


- Eu não o estou condenando, Hermione... estou apenas investigando todas as possibilidades. Considere isto: se Alice soube de tudo e contou a Frank, sua reação pode muito bem ter sido a de exigir que ela cortasse essa ligação. E bem provável, seguindo esta linha de especulação, que ele tenha entrado em confronto pessoal com Charles Forte, talvez até mesmo o ameaçado de contar tudo em público se ele não acabasse com a influência sobre a sua neta. Frank trabalhava no Departamento de Homicídios quando Conroy foi preso, saberia e se lembraria muito bem de todos os detalhes sórdidos.


- Sim, mas...


- Além disso, Alice se mudou para um apartamento só dela. Continuava a trabalhar em meio expediente para Isis, mas não morava mais aqui neste local. Por que razão ela se mudaria para longe daqui exatamente no momento em que começou a sentir medo?


- Não sei. - admitiu Hermione.


- E nós não podemos mais perguntar isso a ela. - Gina desviou o olhar, tornou a se fixar nos degraus à frente e então praguejou ao ver o menino encostado em seu carro. - Ora, mas que inferno!... Tire essa bunda do capo do meu carro, ô... moleque! - disse ela, andando mais depressa e direto na direção de Jamie. - Este é um veículo oficial.


- Um cagalhão oficial. - corrigiu ele com um sorriso rápido e maroto. - O governo coloca os tiras dentro de um monte de lixo reciclado. Uma detetive com alto prestígio como você devia receber um carro melhor para trabalhar.


- Vou comunicar ao secretário de Segurança que você não está satisfeito com o estado da minha viatura na próxima vez em que estiver na torre da Secretaria. O que faz aqui?


- Tô apenas circulando... - Seus olhos tornaram a brilhar. - Despistei a sombra que você colocou na minha cola. O cara era bom... - Jamie enfiou os polegares nos bolsos. - Só que eu sou melhor.


- E por que não está na escola?


- Não precisa ligar para a Brigada Antigazeta não, tenente, porque hoje é sábado.


- Ah, é?... - Como é que ela podia saber que dia era? - Bem, então, por que não está barbarizando em um dos shoppings aéreos, como qualquer delinqüente normal?


- Odeio shoppings aéreos. - Seu sorriso tornou a se abrir. - São tão ultrapassados... Vi você no Canal 75.


- Ah, então foi por isso que veio aqui? Para pegar meu autógrafo?


- Se você autografar uma ficha de crédito, posso envenenar esse seu calhambeque e fazer com que ele arrebente! - Olhou para trás, na direção da loja. - Dei uma boa olhada na bruxa através da vitrine. A loja está com um bom movimento hoje.


Gina olhou na direção para onde ele apontara e notou um grande número de clientes circulando lá dentro.


- Você já a conhecia, Jamie?


- Sim, eu a vi algumas vezes, quando seguia Alice.


- E em alguma dessas vezes notou algo de interessante?


- Não. Todo mundo está sempre coberto de roupas ali dentro. - Levantou as sobrancelhas. - Enfim, a gente aprende a esperar. Já estudei a religião Wicca. Eles gostam de andar pelados. Uma vez, vi a bruxa-chefe expulsar um cara da loja.


- É mesmo?... - Foi a vez de Gina se encostar no carro. - Por quê?


- Não saquei não... só sei que ela estava muito puta com ele. Deu para ver o bate-boca quando o tempo esquentou. Achei que ela ia bater nele de cinto, sabe qual é?... especialmente quando ele a empurrou com força.


- Ele a empurrou...


- Foi. Pensei até em entrar lá, embora ela fosse muito maior do que ele. De qualquer modo, um cara não pode ficar por aí agredindo as mulheres. Só sei que ela disse alguma coisa que o fez recuar. Foi recuando até sair de costas pela porta afora. E então vazou correndo, com uma pressa danada...


- E como era a aparência desse sujeito?


- Um cara magrinho, com cerca de um metro e sessenta, e mais ou menos sessenta quilos. Tinha só uns dois anos a mais do que eu. Cabelos pretos, compridos, com pontas vermelhas. Rosto longo, com os incisivos serrados, parecendo presas, e olhos vermelhos. Tinha uma compleição delicada. Quando se virou, vi que usava um colante de couro preto, sem camisa, e tinha algumas tatuagens, mas eu estava meio longe para poder sacar o desenho delas.


Nesse momento, o jovem lançou um sorriso ligeiramente amargo para Gina e completou:


- A descrição não lhe é familiar? A última vez em que o vi, não estava parecendo nem um pouco exuberante.


Lobar, pensou Gina, trocando olhares com Hermione. O menino lhe oferecera uma descrição consistente e quase profissional.


- Quando foi que isso aconteceu, Jamie? Em que dia você presenciou este incidente?


- Um dia... - Sua voz falhou ligeiramente e ele pigarreou para limpar a garganta. - Um dia antes de Alice morrer.


- E o que Isis fez, depois que Lobar foi embora?


- Fez uma ligação. Alguns minutos depois, o cara com quem ela vive chegou correndo. Os dois conversaram por alguns minutos, um papo muito agitado; então ela colocou a placa de “Fechada” na porta da loja e foi com ele para a sala dos fundos. Isso me deixou injuriado. - acrescentou ele. - Eu devia ter seguido o cara com roupa de couro.


- Quero que você pare com essa mania de ficar na cola das pessoas, Jamie. Se elas perceberem que estão sendo seguidas, podem ficar muito irritadas.


- Gente que eu sigo não consegue me sacar não... sou muito bom nisso.


- É?... Pois eu jurava que a sua especialidade era arrombar portas, pular muros e invadir domicílios. - lembrou-lhe Gina, com um tom seco, notando seu rosto ficar vermelho.


- Aquilo foi diferente. Escute, aquele outro cara que foi apunhalado estava no velório de Alice. Ele devia ter alguma ligação com ela e com esse tal de Lobar Arrepio, e eu tenho o direito de saber.


- Então você quer ser informado a respeito do andamento das minhas investigações, é isso? - perguntou ela, empertigando-se.


- É, é isso mesmo... - Jogou os olhos para cima, em sinal de impaciência, imitando o tom dela: - Por favor, tenente, informe-me a respeito do andamento de suas investigações.


- Estão em andamento! - rebateu ela, sem dar margem para resposta e sacudindo o polegar para trás. - Agora, cai fora!


- Eu tenho o direito de saber. - insistiu ele. - Sou parente de duas das vítimas e tudo o mais...


- Você é neto de um tira. - lembrou-lhe Gina. - Sabe muito bem que eu não vou lhe contar nada. Além disso, você é menor de idade. Não tenho obrigação nenhuma de lhe comunicar nada a respeito das investigações. Agora saia da minha cola e vá brincar em outro lugar, garoto, antes que Hermione e eu arrastemos você para uma instituição de apoio à infância, por vadiagem.


- Não sou mais criança! - Os músculos de seu maxilar pareciam pulsar. - Se você não pegar o assassino de Alice, quem vai pegá-lo sou eu!


- Não passe dos limites, Jamie! - disse-lhe Gina baixinho, agarrando-o pela manga do casaco, antes que ele saísse correndo. Mantendo o rosto perto do dele, ela o forçou a olhar fixamente para seus olhos e disse: - Se quer justiça, você vai consegui-la. Juro por Deus que vou consegui-la para você. Porém, se quer vingança, eu coloco você atrás das grades! Pense bem nos valores que Frank defendia, lembre-se do que a sua irmã era e torne a pensar em tudo isso antes de fazer qualquer coisa. Agora, se manda daqui!


- Eu os amava! - Puxou o braço para trás com força, para se libertar de Gina, não sem antes mostrar que havia lágrimas em seus olhos. - Foda-se a sua justiça. E foda-se você!


Ela o deixou ir embora, porque, apesar da linguagem ser a de um adulto, as lágrimas eram de uma criança.


- O menino está muito ferido por dentro. - murmurou Hermione.


- Eu sei. - Ela também estava se sentindo da mesma forma. - Vá atrás dele, por favor, Hermione, só para nos certificarmos de que não vai se meter em encrencas. Espere uns trinta minutos até ele se acalmar, passe um bipe para mim indicando sua localização e eu irei apanhá-la.


- Você vai conversar com Isis, agora?


- Vou. Quero descobrir o que ela e Lobar tinham tanto a dizer um ao outro. Ah, e... Hermione, vá com todo o cuidado... Jamie é um garoto muito esperto. Se ele conseguiu filmar um dos homens de Harry, é bem capaz de sacar que você está atrás dele.


- Acho que consigo seguir um menino por alguns quarteirões sem ser notada. - Lançou um sorriso para Gina.


Sabendo que sua auxiliar ia conseguir manter Jamie longe de problemas, Gina entrou na Busca Espiritual. O ar parecia leve ali dentro, com o aroma do incenso e das dezenas de velas aromáticas que queimavam. O sol de outubro estava tão forte que cintilava em cores vibrantes através de prismas pendurados.


O olhar que Isis lhe lançou não transmitia o ar de boas-vindas exóticas que havia no resto da loja.


- Já acabou com Chas, tenente?


- Por ora, sim. Gostaria de tomar alguns minutos do seu tempo.


Isis se virou para responder à pergunta de um cliente a respeito de uma mistura de ervas que prometia melhorar a memória.


- Deixe em infusão por cinco minutos - disse-lhe Isis- e então use um coador. Você deve beber a mistura diariamente, durante uma semana, pelo menos. Se não funcionar, torne a me procurar. - Ela se virou para Gina. - Como pode ver, tenente, este é um mau momento para conversarmos.


- Vou ser rápida. Estou apenas curiosa a respeito da visita que Lobar lhe fez aqui na loja, poucos dias antes de aparecer com a garganta cortada.


Gina manteve a voz baixa, mas deixou suas intenções bem claras. Elas iam falar sobre o assunto, a sós ou em público. O local dependia de Isis.


- Não creio que a tenha julgado de forma errônea, - disse Isis, também baixinho - mas a verdade é que você faz com que eu duvide de minha intuição. - Fez um sinal para uma jovem, que Gina reconheceu do ritual de iniciação. - Jane vai cuidar dos clientes. - disse Isis, dirigindo-se para a sala nos fundos da loja - Mas não quero deixá-la sozinha por muito tempo. Ela ainda é muito nova no atendimento de balcão.


- Você substituiu Alice por ela?


- Ninguém poderia substituir Alice, tenente. - Os olhos de Isis pareceram queimar.


Gina a seguiu, entrando em um lugar que parecia uma mistura de escritório e depósito de mercadorias. Sobre as prateleiras de plástico reforçado, estavam gárgulas, velas, latinhas lacradas com ervas secas, garrafas claras tampadas com rolhas e cheias de líquidos em várias tonalidades.


Na pequena escrivaninha, havia uma aparelhagem muito moderna que consistia em um computador de última geração acompanhado por um avançado sistema de comunicações.


- Equipamento sofisticado, hein?... - comentou Gina. - Topo de linha!


- Nós não evitamos a tecnologia, tenente. Estamos sempre nos adaptando e utilizando o que existe de mais moderno à nossa disposição. Sempre foi assim. - Gesticulou na direção de uma cadeira de madeira com espaldar entalhado e escolheu para si mesma uma outra, com braços em forma de asas. - Você disse que ia ser rápida. Antes, porém, preciso saber se pretende deixar Chas em paz.


- Minha prioridade é resolver um caso de homicídios, e não resguardar a paz de espírito de um dos suspeitos.


- Como pode suspeitar dele? - Suas mãos agarraram os braços da cadeira com força, enquanto ela se inclinava para a frente. - Você, de todas as pessoas, é a que sabe melhor das coisas que ele teve que superar.


- Em casos como este, em que o passado dele é um fator relevante...


- E o seu passado também é relevante, tenente? - quis saber Isis. - O fato de você ter sobrevivido a um terrível pesadelo conta a seu favor ou é um fator contrário?


- Meu passado é um assunto pessoal. - disse Gina, mantendo a voz firme. - Você não sabe de nada a respeito dele.


- As coisas que chegam a mim chegam em imagens avulsas e impressões. Em alguns casos, as imagens aparecem com mais nitidez do que em outros. Sei que você sofreu muito, e sei também que era inocente. Como Chas... Sei ainda que carrega cicatrizes e alimenta dúvidas. Como Chas... Da mesma forma, sei o quanto você lutou para alcançar um pouco de paz. Vejo também um quarto...


Sua voz mudou, tornando-se mais profunda, assim como seus olhos.


- Vejo um quarto pequeno e frio, banhado por uma luz vermelha embaçada. Vejo uma criança espancada, sangrando, toda encolhida em um canto do aposento. A dor é insuportável, além do que é possível descrever. E vejo um homem. Ele está coberto de sangue. Seu rosto está...


- Pare! - O coração de Gina estava disparado, e ela se sentia sufocada. Por um momento, se vira de volta naquele lugar, dentro do corpo daquela criança que se arrastava pelo chão, choramingando como um animalzinho, até chegar ao canto, com as mãos cobertas de sangue. - Mas que droga!


- Sinto muito. - Isis levantou a mão e a apertou junto do peito para apaziguar o coração que batia descompassado. - Sinto muitíssimo. Não costumo agir desse modo. Deixei a raiva me dominar. - Fechou os olhos com força. - Não sei como me desculpar.


 


 


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.