Capitulo 11



Capitulo 11


 


Eram tantas coisas em que pensar que a cabeça de Gina latejava. O telefonema, a visita de Nick, as lembranças do passado, o suicídio de John McGillis.


Pela primeira vez na vida, ela teve vontade de trancar-se no quarto e dormir vinte e quatro horas seguidas para fugir dos problemas e esquecer os medos.


Ou, talvez, fosse exatamente o contrário. Mal via a hora de retomar o controle de sua própria vida. E, tão logo o retomasse, jamais voltaria a perdê-lo, prometia a si mesma.


Enquanto entrava em casa acompanhada por Harry não lhe ocorria nada que pudesse lhe dizer. Não estava disposta a discutir, ainda mais sabendo que seus argumentos seriam inúteis. Ele não se afastaria do caso e não acreditaria se ela lhe dissesse que aquele relacionamento não tinha futuro.


Indo direto à cozinha, abriu um dos armários e pegou três aspirinas. Harry viu-a encher um copo de água para engoli-las; seus movimentos eram automáticos e trêmulos. Enquanto lavava o copo, Gina olhou pela janela dos fundos, observando o canteiro que logo estaria florido.


Seu desejo era que em pouco tempo os primeiros botões amarelos começassem a surgir para alegrar a casa. Era ali que gostava de passar suas horas vagas, revolvendo a terra e replantando as mudas.


- Você já comeu? - Harry indagou.


- Não me lembro. - Gina cruzou os braços e olhou para os galhos das árvores. Os primeiros brotos verdes já começavam a despontar. Dentro de algumas semanas as folhas começariam a se desenvolver, proporcionando uma sombra agradável. - Mas não estou com fome. Se quiser, deve ter algo na geladeira.


- Por que não dorme um pouco? - ele sugeriu massageando-lhe os ombros tensos.


- Eu não conseguiria dormir ainda. - Suspirando, Gina pousa a mão direita sobre a dele. - Dentro de poucas semanas terei de cortar a grama do jardim e acho que vai ser divertido. Nunca tive um gramado para aparar.


- Posso vir observá-la?


Ela achou graça, como ele já esperava.


- Gosto daqui. Não apenas da casa, embora fique muito feliz em dizer que a possuo. Gosto deste lugar. É a primeira vez que me sinto em casa desde que deixei a Geórgia. Há tempos eu não tinha esta sensação.


- Às vezes temos a sorte de encontrar o que queremos sem ter de procurar.


Ele falava sobre o amor, ela percebeu, mas quis desviar o assunto.


- Em dias de sol, o céu fica lindo, muito azul, e os prédios parecem que foram pintados, de tão nítidos. Mesmo se estando no centro da cidade, é possível enxergar-se as montanhas.


- Você agora também faz parte da paisagem.


- Nunca acreditei que as coisas pudessem durar, mas já começava a mudar meu ponto de vista antes disso tudo acontecer. Agora, creio que não posso me sentir à vontade em parte alguma enquanto não deixar de sentir medo. - Ela ergueu os braços e segurou-lhe o rosto entre as duas mãos, estudando-o como se o visse pela primeira vez. - Harry... gosto de você como jamais gostei de outra pessoa na vida, exceto Deborah e, no entanto, isso não é suficiente.


- Claro que é. - ele lhe assegurou tocando-lhe os lábios de leve. - Não é preciso mais nada.


- Não, você não me entende. Não precisa concordar com o que digo, mas aceite meu modo de pensar.


- Ouça: depois que tudo estiver terminado, teremos uma longa conversa sobre o que devemos ou não aceitar, está bem?


- Quando tudo isso estiver terminado, você poderá estar morto. - ela argumentou e apertou-lhe as mãos com força. - Você quer mesmo casar comigo?


- Claro que quero.


- Se eu aceitasse seu pedido, você largaria o caso e ficaria nas montanhas até que tudo terminasse?


Ele tentou conter a revolta e respondeu com seriedade:


- Não sei se sabe, mas é crime chantagear um policial.


- Estou falando sério.


- Sim, eu sei.


- Eu caso com você e prometo fazê-lo feliz, porém lhe peço este favor.


Harry deu um passo para trás.


- Sinto muito, mas eu não posso concordar.


- Droga! Seja razoável!


Ele enfiou as mãos nos bolsos com força e desabafou:


- Você acha que estamos tratando de uma barganha? Um acordo comercial? Diabo, estamos falando em casamento! Trata-se de um compromisso sentimental, espiritual. Se eu abrir mão do que quero agora, logo irão surgir outras cobranças do tipo “largue seu emprego se eu concordo em termos um bebê”.


Surpresa e envergonhada, Gina arregalou os olhos e ergueu as mãos:


- Me desculpe, me desculpe. Não foi isso o que eu quis dizer. É que não consigo esquecer a ameaça que ele me fez hoje por telefone e não quero imaginar o que seria de mim se algo lhe acontecesse. - E fechou os olhos: - Seria melhor morrer.


- Mas eu estou aqui - afirmou Harry voltando a abraçá-la - e não pretendo me afastar de você. Nada de mau acontecerá a nenhum de nós.


Gina puxou-o contra si e apoiou o rosto em seu peito.


- Me perdoe, sim? Não fique bravo comigo, mas eu estou com muito medo.


- Acalme-se. Tudo vai acabar bem.


- Vamos subir. - ela pediu emocionada. - Venha para a cama comigo.


De mãos dadas eles cruzaram o corredor. Entrando no quarto, Gina fechou a porta e trancou-a num gesto quase simbólico que materializava seu desejo de fugir do resto do mundo.


O sol se infiltrava por entre a persiana, mas Gina não se preocupou em fechá-la. Ali, não haveria segredos entre eles. Fitando-o de modo direto e intenso, Gina começou a desabotoar a blusa.


Há até poucos dias, não seria capaz de tal gesto, reconheceu, temendo estar agindo da forma errada, expondo-se demais, oferecendo-se. Mas Harry a fizera compreender que a entrega tinha um significado maravilhoso para dois amantes.


Ambos se despiram sem, no entanto, se tocarem. Gina queria observá-lo antes, memorizando os contornos daquele corpo que lhe proporcionava tanto prazer, tantas descobertas.


O sol produzia reflexos dourados nos cabelos negros de Harry, e os olhos, muito verdes, brilhavam de modo especial ao percorrerem as curvas de Gina que ainda se admirava com a beleza de seus músculos bem desenvolvidos, a pele bronzeada, o peito largo.


Será que ele fazia idéia do quanto era excitante? Ele cogitava. Gina estava adorável ali de pé, no centro do quarto, as roupas caídas a seus pés, os cabelos soltos.


Ela estendeu os braços e foi ao seu encontro com um sorriso sedutor nos lábios, mas, ainda assim, Harry manteve-se imóvel, aguardando. Então, Gina murmurou seu nome baixinho e, aproximando-se, o beijou.


No seu quarto, na sua cama, na sua casa, pensava Gina. Ali estava o homem que ela amava, pronto para possuí-la mais uma vez. A força de seus braços, a ternura de suas mãos, as batidas aceleradas do coração... Comovida, Gina sentiu os olhos rasos d’água e aprofundou o beijo.


Harry percebeu a mudança e abraçou-a com mais força, excitadíssimo. Naquela tarde, o amor se revestiria de uma atmosfera mais calma, mais romântica, sem a paixão urgente das outras vezes. Mas, nem por isso, menos excitante. Sentindo-a absolutamente entregue em seus braços, Harry deitou-a no centro da cama.


Ele a beijava com tanto carinho, tocava-a com verdadeira veneração, como se tivesse uma peça de cristal nas mãos. Agora que Gina já sabia onde terminava aquela jornada, ansiava por começá-la.


Nada de pensamentos funestos ou medos infundados. Como flores prestes a desabrochar, Gina queria celebrar o simples fato de estar viva e ser capaz de amar sem restrições.


Harry excitou-a aos poucos, lentamente, até vê-la arder de desejo. Gina, já mais solta, retribuía os carinhos com liberdade, sem constrangimento e lhe murmurava promessas de amor que jurava cumprir.


Corpos unidos, mentes e corações na mesma sintonia, ambos se embrenharam pela estrada colorida que os conduzia ao paraíso.


 


A cabine lhe parecia um mundo estranho e desconhecido. Gina olhou para a mesa de controle como se nunca a tivesse visto. O estúdio, que já fora seu lugar preferido, naquela noite tinha uma atmosfera hostil que a deixava tensa e ansiosa pelo término do programa.


Naquela tarde, em sua casa, Harry mencionara uma viagem que faria a Chicago na manhã seguinte. Gina pretendia encorajá-lo a ir, pois ficaria mais tranqüila sabendo que, pelo menos por algumas horas, Harry estaria a salvo.


A notícia do suicídio de John McGíllis a deixara chocada, porém, não se culpava pelo fato. Harry lhe provara que o rapaz sofria mesmo de sérias perturbações mentais. Por outro lado, achava um desperdício a morte de um rapaz tão jovem, que ainda teria muito o que viver.


A polícia se encarregaria de protegê-la, pensou ao tocar o sucesso seguinte. A polícia e ela mesma. O problema era saber quem protegeria Harry, já que ele se recusava a se afastar do caso.


- Você está com sono? - ele perguntou, sentado a seu lado.


- Não, apenas tensa.


Já era quase meia-noite, hora dos pedidos telefônicos. Como sempre, eles estavam sozinhos no prédio, cujas portas permaneciam trancadas.


- Calma, falta pouco tempo para terminar. Ouça, por que não vem para a minha casa esta noite? Vou lhe mostrar minha coleção de discos dos Muddy Waters.


- De quem? - ela indagou, fazendo-se de boba, só para provocá-lo.


- Ora, vamos. Você sabe de quem estou falando. - Toda vez que Harry lhe sorria, seus medos se acalmavam, e o mundo lhe parecia um lugar melhor.


- Está bem, quero conhecer esse tal conjunto. Mas com uma condição.


- Qual?


- Você vai ter de responder a três perguntas.


- Diga.


- Espere um pouco. - Ela soltou outro disco, fez uma breve introdução e folheou uns papéis. - Pronto. Você tem três minutos e dez segundos. Primeira: qual foi o primeiro conjunto inglês a fazer uma turnê pelos Estados Unidos?


- Ah, você não me pega! Foram os Dave Clark Five. Depois, vieram os Beatles.


- Ora, nada mau para um amador. Segunda: quem foi o último a tocar no festival de Woodstock?


- Jimi Hendrix. Assim está muito fácil.


- Então, aqui vai a terceira: em que ano foi lançado That’11 Be The Day, do conjunto Buddy Holly and the Crickets?


- Puxa, essa é antiga mesmo.


- Você está procurando ganhar tempo. Responda logo.


- Foi em 1956.


- Você disse 56?


- Exato.


- Que pena, errou por um. Foi em 1957. Você vai ter de vir à minha casa para ouvirmos uma retrospectiva dos Rolling Stones. - Gina alegou bocejando.


- Se você conseguir ficar acordada até lá... - Harry ficava contente ao vê-la mais descontraída. - Quer um café?


- Puxa, se quero.


- Vou buscá-lo e volto já.


O prédio estava vazio, pensou Harry. Desde que Nick Peters pedira demissão não havia mais ninguém para preparar o último café da noite. Consultando o relógio do corredor, reconheceu que ele também mal via a hora de terminar o programa. Queria estar de volta à cabine antes que os telefones começassem a piscar.


Entre um intervalo e outro do programa, ofereceu-lhe uma rosquinha bem doce, certo de que ela precisaria de uma dose extra de energia para terminar o programa.


Antes de ir até a copa, Harry foi até a entrada do prédio verificar as portas. As trancas estavam em ordem, e o alarme, ligado. Seu carro era o único no estacionamento. Satisfeito, verificou com o mesmo cuidado as portas do fundo para só então ir à copa.


Tinha certeza de que, agora, seria uma questão de dias até que conseguissem prender o responsável pelas ameaças. Seria ótimo poder ver Gina livre daquelas olheiras profundas, senti-la mais descontraída e alegre, como costumava ser.


Restaria apenas aquela energia saudável que fazia parte de sua personalidade: a vivacidade que as pessoas tanto lhe admiravam.


Enquanto acrescentava mais uma colher de pó de café à cafeteira elétrica, Harry ouvia a voz de Gina pelos alto-falantes, anunciando outra canção.


Uma voz mágica. Jamais pensara que Gina fosse tão diferente da imagem que criara ao ouvi-la pelo rádio; jamais imaginara que chegasse a amá-la com tanta intensidade.


A música era I Love Rock and Roll, com Joan Jett, e Harry reconheceu que, decididamente, aquele devia ser o tema musical de Cilla O’Roarke. Embora o som estivesse baixo, o ritmo frenético era contagiante.


Uma semana de férias nas montanhas lhe faria bem, concluiu Harry. Nada de problemas ou medos. Por uns dias, ficariam reclusos num pequeno ninho de amor.


Apreciando o aroma do café que começava a pingar, esperou poder ir a Chicago o quanto antes para voltar com um máximo de informações sobre o tal McGillis.


Sobressaltado com um ruído qualquer vindo do corredor, Harry girou nos calcanhares. Um sussurro. O estalo de uma madeira. Automaticamente seus dedos puxaram o revólver do coldre. De arma em punho, colou-se à parede lateral e foi até a porta verificar o que se passava ali fora.


“Acho que estou imaginando coisas”, disse a si mesmo ao ver apenas o corredor vazio, iluminado pelas luzes de segurança. O instinto, porém, o aconselhava a manter a arma em punho e, no exato instante em que deu o segundo passo para fora da copa, as luzes se apagaram.


Praguejando ruidosamente, ergueu a arma por uma questão de segurança e moveu-se com rapidez. Nos alto-falantes, a música romântica dos anos 60 continuou tocando. Ao fundo, Harry pôde ver o reflexo das luzes da cabine e, mantendo as costas rentes à parede do corredor, rumou para lá o mais rápido possível.


Porém, ao fazer a última curva do corredor antes da cabine, ouviu um ruído vindo de trás. Virando-se, em alerta, viu a porta da sala de despejo abrir-se, mas não teve chance de ver a faca.


 


Gina consultou o relógio da cabine e perguntou-se por que Harry estava demorando tanto para voltar:


- Este foi mais um sucesso de Joan Jett and the Blackhearts para vocês. São exatamente onze horas e cinqüenta minutos em Denver e a temperatura está na marca dos treze graus. Não se esqueça de que nosso colega Wild Bob estará fazendo uma externa especial diretamente do Brown Palace Hotel no dia dezessete deste mês. Trata-se de um jantar em benefício dos menores abandonados de Denver e os convites continuam à venda. O evento começará a partir das sete horas da noite e não tem horário certo para terminar. Wild Bob promete que a noite será inesquecível. - Gina preparou o próximo disco a ser tocado e anunciou: - Aqui fala Gina Weasley direto da KHIP, rádio Yankee. Após esta música, teremos um intervalo com as notícias e voltamos em seguida com os pedidos telefônicos.


Desligando os microfones, girou os ombros procurando relaxá-los e tirou os fones de ouvido. Enquanto cantarolava o sucesso, consultou o relógio que marcava os minutos transcorridos. Satisfeita com o seguimento da programação, levantou-se a fim de se preparar para o bloco seguinte.


Foi então que viu o corredor às escuras, através do vidro da porta. A princípio, ficou pasma, olhando para a escuridão, mas, aos poucos, foi ficando pálida, trêmula, apavorada. Se as luzes de segurança estavam apagadas, o alarme também devia ter sido desativado.


Ele estava ali. Gotas de suor começaram a brotar de sua testa e Gina agarrou-se ao espaldar da cadeira. Aquela noite não haveria nenhum telefonema anônimo, nenhuma ameaça porque ele estava ali, dentro do prédio, a poucos metros da cabine.


De repente veio-lhe uma vontade imensa de gritar e sair correndo, mas o pânico a paralisou.


Ele tinha ido à procura de Harry, também!


Impelida pelo desespero, Gina saiu correndo.


- Harry! - gritou, tropeçando na escuridão. Contudo, calou-se ao ver um vulto caminhar em sua direção. Embora fosse apenas uma sombra disforme movendo-se no escuro, Gina teve certeza de que era o assassino. Agarrando-se à parede, deu um passo para trás. - Onde está Harry? O que você fez com ele?


E deu outro passo. As luzes da cabine iluminavam fracamente o lugar onde estava. Gina ia começar a implorar-lhe quando suspirou aliviada.


- Ah, é você? Não sabia que estava aqui; pensei que todos tivessem ido embora.


- Todos foram embora. - ele respondeu e, aproximando-se, ficou sob o facho de luz que vinha da cabine, com um sorriso mórbido nos lábios. - Estamos sós.


Gina quase desmaiou de pavor ao vê-lo segurar uma faca de caça já manchada de sangue.


- Harry...


- Ele não pode mais ajudá-la. Ninguém pode. Esperei muito tempo para ter uma chance de ficar sozinho com você. Sua hora chegou.


- Por quê? - Gina movia-se e falava de modo automático, sem refletir sobre seus atos. Seus olhos continuavam fixos na lâmina manchada de sangue. O sangue de Harry. - Por que, Snape?


- Você matou meu irmão.


- Não, não matei. - Gina deu um passo para trás e entrou na cabine. Um arrepio gélido lhe percorria a espinha e um nó lhe dificultava a respiração. - Não matei John. Eu mal o conhecia.


- Ele te amava.


Ele avançou mais uns metros com a faca em punho, o olhar fixo em Gina. Tinha os pés descalços, usava uma calça colante preta de malha e uma meia de seda puxada sobre a cabeça. Embora houvesse esfregado um pouco de carvão nos braços e torso nus, Gina pôde ver a tatuagem com as duas facas. Igual à que John McGillis lhe mostrara.


- Você ia se casar com ele. John me contou.


- Foi um engano.


Gina deu um grito ao vê-lo agitar a faca em sua direção. A cadeira giratória caiu ruidosamente ao chão no momento em que ela se apoiou na mesa de controles.


- Não minta para mim, sua miserável! Ele me contou tudo, o quanto você o amava, as promessas que lhe fazia. - Ele baixara o tom de voz reduzindo-a ao mero sussurro que adotava ao telefone. O coração de Gina batia disparado. - Você o seduziu e enganou. Ele era jovem, ingênuo e não entendia de mulheres do seu tipo. Mas eu entendo. - Snape enxugou os olhos com a mão que segurava a faca e tirou uma arma do bolso. - Ele era bom demais para você. - Atordoado, deu um tiro para o alto e Gina viu a bala alojar-se no teto. Horrorizada, ela cobriu a boca com as mãos. - Ele me contou que você mentiu, o traiu se exibindo por aí.


- Eu nunca quis magoá-lo. – E Gina dizia a si mesma para não perder a calma. Harry não devia estar morto. Ferido, talvez; morto, não. Era preciso arranjar um modo de conseguir socorro. Raciocinando com clareza, esticou o braço para trás bem devagar, manteve o olhar pousado em Snape e ligou o microfone. - Eu juro, Snape, nunca quis magoar seu irmão.


- Mentirosa! - ele gritou levantando a faca para encostá-la no pescoço dela. Gina ergueu as costas para trás esforçando-se para conter o tremor. - Você não se importa com ele... nunca se importou. Você apenas o usou.


- Eu gostava dele. - disse e prendeu a respiração ao sentir a lâmina gelada em sua pele. Um fiozinho de sangue começou a escorrer-lhe pelo pescoço manchando a gola da blusa. - Ele... era um bom rapaz e... g-gostava de você.


- Eu o amava. - A faca tremeu-lhe na mão, mas ele tornou a ajeitá-la. - Ele foi a única pessoa que me amou, o único a quem amei.


- Eu sei.


Gina umedeceu os lábios. Alguém certamente devia estar ouvindo e logo chegaria para socorrê-la. Ela nem ousava olhar ao redor para fitar os telefones, que piscavam sem parar.


- Ele tinha cinco anos quando me mandaram para aquela casa. Eu teria odiado aquele lugar se não fosse pelo carinho que ele me dedicava. Ele gostava de mim, precisava de mim. Fiquei até os dezoito anos morando lá e o considerava meu irmão.


- Sim.


- Entrei no Exército porque ele pediu. - disse Snape dando outro tiro para o alto. - Ele adorava me ver de uniforme. Então, fomos mandados para o Vietnã e foi o meu fim. Arruinei minha perna, arruinei minha vida. Todos me odiavam, menos John.


- Entendo.


- Fiquei muito aborrecido e me mudei para a Califórnia. - O tiro seguinte estilhaçou o vidro da porta. - John um dia me telefonou feliz dizendo que ia se casar. Você queria casar no Natal, então ele resolveu esperar porque queria que eu estivesse presente.


Gina balançou a cabeça:


- Eu nunca falei que ia casar com ele e mesmo que você me mate, não vai conseguir tê-lo de volta. – Snape apontou-lhe o revólver. - Você tem razão: ele era muito jovem e confundiu nossa amizade. Sinto muito, mas não fui responsável pela morte dele.


- Você o matou. - ele insistiu, deslizando uma das faces da lâmina em seu rosto. - E vai ter de pagar.


- Não posso detê-lo, mas, por favor, não faça nada para Harry.


- Tarde demais, já o matei. - Sorrindo, Snape levantou a faca sob a luz. - Foi rápido, mais fácil do que pensei. Eu queria vê-lo morto o mais depressa possível, mas você vai ter de sofrer. Quero vê-la implorar da mesma forma como John implorou.


- Sinto muito, mas eu não o amava.


Furioso, Snape acertou-lhe um golpe na têmpora com o cabo da faca. A dor horrível a fez cair no chão junto à mesa de controles, cobrindo o rosto com as mãos.


De repente, Harry surgiu na porta atraindo-lhes a atenção. Foi apenas por um segundo, mas Gina suspirou ao vê-lo ainda vivo. Nada mais lhe importava.


O suspiro, no entanto, transformou-se num grito de terror ao ver Snape erguer a arma. Tomada por uma energia descomunal, Gina avançou sobre ele segurando-lhe o braço.


Os discos começaram a cair das prateleiras ao redor transformando a pequena cabine numa verdadeira arena. Gina lutava e lhe implorava para que não fizesse mal nenhum a Harry.


Harry ajoelhou-se, fraco, e a arma quase escorregou-lhe dos dedos sujos de sangue. Sua vista estava turva, semi-escurecida, porém, ainda assim, pôde vê-los lutando no pequeno espaço livre da cabine. Veio-lhe um ímpeto de gritar para Gina que se afastasse, mas a voz não lhe saía. Então, quando viu Snape levantar a faca para acertar-lhe um golpe mortal, acionou o gatilho e caiu, desmaiado.


Gina não ouviu o tiro nem o barulho do vidro estilhaçado; viu apenas o corpo de Snape arquear-se para trás enquanto a faca lhe caía das mãos. Horrorizada, soltou-lhe o braço e viu-o cair sobre a mesa de controles.


Virando o rosto, viu Harry no chão ainda com o revólver nas mãos. Logo atrás, Althea apontava para Snape, caído no chão, inerte. Gina deu um grito e correu para junto de Harry.


- Por favor, não morra. - suplicou-lhe, segurando-lhe o rosto entre as mãos.


- Por favor, afaste-se. - pediu Althea. - Ele está sangrando muito. Já chamei uma ambulância.


Gina rasgou parte da barra da blusa que usava e atou-lhe o machucado profundo, tentando estancar o sangue.


- Não vou deixá-lo morrer.


- Então, seremos duas. - acrescentou Althea.


 


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Ginny M. W. Potter: acho que o Snape estava completamente louco, por isso pensava que Gina pertencia a ele e a John, no próximo capitulo o estado mental deles fica claro, o próximo capitulo infelizmente também é o ultimo. Acho que esse capitulo responde a praticamente qualquer duvida, então... Beijos.


 


Thamis No mundo .......: penúltimo capitulo postado, espero que goste, agora só falta o ultimo. Beijos.


 


issis: as coisas aconteceram rapidamente, e tudo já está resolvido, exceto que Harry levou um tiro, vamos ver o que acontece, o próximo capitulo é o ultimo. Beijos.


 


Bianca: bem, sinceramente acho difícil entender a mente de um cara como aquele, mas como vai ser mostrado no próximo e ultimo capitulo John e Snape eram “loucos”, ou o mais próximo disso. Acredito que ele acreditava que Gina pertencia aos dois como você disse, afinal Snape nunca teve uma família além do John e a Gina seria mais um membro, então eles poderiam formar uma “família feliz”. Acho que é isso. Beijos.


 


 


 

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