Capitulo 5



Capitulo 5

Gina seguira o conselho de Potter e prendera os cabelos num rabo-de-cavalo, deixando o rosto à mostra. Seus olhos faiscavam, e as mãos, cerradas, ela enfiara nos bolsos da calça do agasalho de ginástica que vestira sobre o pijama.
- Gina. - disse Deborah num tom suave, dando um passo em direção à irmã. - Estávamos falando sobre...
- Pode deixar; eu ouvi a conversa. - Então, voltou-se para Deborah com uma expressão serena: - Não se preocupe, querida, não foi culpa sua.
- Não é uma questão de culpa. Nós nos preocupamos com você.
- Nada vai me acontecer. Agora, é melhor você se apressar ou vai acabar perdendo a aula. Eu e o investigador Potter precisamos ter uma conversinha.
Deborah ergueu os braços e soltou-os ao longo do corpo em sinal de derrota. Então, lançou um olhar solidário para Potter e beijou a irmã.
- Tudo bem. Não adianta querer discutir com você esta hora da manhã.
- Espero que vá bem na prova.
- É o que desejo. Josh e eu combinamos de ir ao cinema hoje à noite, mas prometo chegar cedo em casa.
- Divirtam-se. - Gina aguardou imóvel, até ouvir a porta fechar. Então, voltou-se para Potter, dando vazão ao ódio que lhe ardia no peito: - Que coragem!
Ele, inabalável, tirou mais uma xícara do armário:
- Quer um café?
- Não gostei de vê-lo submetendo minha irmã a um interrogatório. - Potter encheu a xícara e deixou-a sobre a mesa. - Vamos esclarecer uma coisa. - Gina aproximou-se dele mantendo as mãos nos bolsos. Se as tirasse, temia descontrolar-se a ponto de esbofeteá-lo. - Quando quiser saber alguma coisa a meu respeito, venha perguntar a mim, entendeu? Não quero ver Deborah envolvida nesse caso, como já disse.
- Ela é muito mais direta e objetiva do que você. Por acaso, tem uns ovos aí na geladeira? - perguntou, já abrindo a porta do refrigerador.
Gina conteve o ímpeto de bater-lhe a porta nos dedos.
- Confesso que por uns instantes você conseguiu me enganar e cheguei a pensar que fosse um bom sujeito.
Potter encontrou meia dúzia de ovos, um pedaço de queijo e algumas fatias de bacon.
- Por que não se senta e toma o café, Gina? - Irritada, ela o xingou e viu nos olhos dele um brilho perigoso que a intimidou. Potter, contudo, manteve a calma, e pegando uma panela sob a pia, começou a fritar o bacon. - Se quiser me impressionar, vai ter de aprimorar seu vocabulário. - disse depois de uns instantes. - Depois de dez anos trabalhando para a polícia, já não me choco com tanta facilidade.
- Você não tinha o direito. - ela alegou em voz baixa, mas carregada de indignação. - Não devia ter perguntado nada a Deborah. Ela era apenas uma criança, ainda abalada pela morte dos pais. Foi uma fase difícil você não tinha o direito de fazê-la recordar todo aquele sofrimento.
- Deborah se saiu muito bem. - Ele quebrou um ovo numa tigela e apertou a casca na mão. - Parece que o problema é só com você.
- Ora, me deixe em paz.
Potter segurou-lhe o braço com tal rapidez que Gina não teve tempo de sair da cozinha. Seu tom era perigosamente manso:
- De jeito nenhum.
- O que aconteceu no passado não tem relação alguma com o que está acontecendo agora; e é só isso o que me preocupa. O resto, não lhe diz respeito.
- Eu é que sei o que me diz respeito. - Respirando fundo, Potter fez um esforço sobre-humano para se conter. Ninguém nunca o provocara daquela forma, levando-o à beira do descontrole. - Se quiser enterrar o assunto, conte logo tudo o que houve e não voltarei a aborrecê-la. Ex-maridos são sempre suspeitos em casos de ameaças.
- Foi há oito anos! - Gina exclamou ao pegar a xícara que ele deixara na mesa.
Só que, com a pressa, parte do café derramou no pires.
- Ou você fala ou terei de apelar para outras fontes. De uma forma ou de outra, obterei as informações de que preciso.
- Então, quer mesmo que eu lhe conte tudo? Está certo. A esta altura, já não me importo com mais nada. Eu tinha vinte anos e era tão ingênua quanto uma garota de quinze. Ele era bonito, charmoso e inteligente: tudo que uma garota ingênua procura num rapaz.
Gina bebeu um gole de café e pegou um pano para enxugar o pires e a mesa.
- Namoramos apenas dois meses. Paul era muito romântico, persuasivo, e resolvi me casar porque queria algo estável em minha vida. E, sobretudo, porque pensei que ele me amasse.
Ela surpreendeu-se mais calma, menos agitada e pegou uns pratos no armário.
- As coisas entre nós começaram a dar errado desde o início do casamento. Paul ficou decepcionado comigo fisicamente e não se conformava em saber que eu considerava meu trabalho tão importante quando o dele. Seu intuito era me fazer mudar de profissão para que meu trabalho não interferisse em seus planos.
- Que planos eram esses? - perguntou Potter pondo o bacon sobre uma toalha de papel para escorrer a gordura.
- Ele pretendia ingressar na política. Na verdade, nos conhecemos numa festa beneficente organizada pela emissora onde eu trabalhava. Paul foi lá à caça de votos, e eu comandava a festa. O problema todo estava exatamente aí: não nos conhecíamos como pessoas; apenas como personagens.
- E o que aconteceu depois?
- Nós nos casamos depressa demais e começamos a nos desentender com a mesma rapidez. Eu já estava até pensando em seguir o conselho dele e mudar para o ramo de marketing, na tentativa de salvar o casamento. Foi quando meus pais morreram e eu trouxe Deborah para morar conosco.
Lembrando-se de toda a dor, de todo o sofrimento que haviam passado na época, Gina calou-se por uns instantes.
- Deve ter sido difícil para vocês, não?
- Fiquei muito abalada e precisava trabalhar para me distrair e não ter tempo de pensar nos problemas. A tensão foi aos poucos destruindo nosso casamento, que já vinha bastante abalado, e Paul acabou me trocando por outra. É só.
“E agora, o que dizer?”, Potter se perguntava. “Fez muito bem em ter se livrado desse panaca? Todos nós cometemos erros?” Refletindo bem, achou melhor omitir qualquer comentário.
- Alguma vez ele a ameaçou?
- Não.
- Nem a espancou?
- Não, não. Acho que você está fazendo uma imagem errada de Paul. Ele era um bom sujeito, só que cometemos o erro de nos casarmos cedo demais. Nenhum dos dois estava preparado para enfrentar a vida de casados.
Pensativo, Potter serviu-lhe uma porção de ovos mexidos.
- Às vezes as pessoas guardam um certo ressentimento, mesmo sem perceber. Então, um dia, acabam explodindo.
- Paul não ficou magoado comigo. - Gina afirmou ao partir em dois uma fatia de bacon torrado. - Ele não gostava de mim a esse ponto. - Ela sorriu, mas seus olhos continuaram tristonhos. - Paul pensava que eu fosse exatamente como a voz que ouvia pelo rádio: sedutora, sofisticada, sexy. Era este o tipo de mulher que queria na cama. Em público, queria aparecer acompanhado por uma esposa glamourosa, elegante, devotada. Eu não era nada disso. Por outro lado, ele também se revelara bem diferente do rapaz atencioso e compreensivo que imaginei, e a decepção foi mútua. Nos divorciamos de modo amigável, sem brigas, e cada um seguiu seu caminho.
- Sinto que você está me escondendo alguma coisa. Se foi tudo tão simples, por que se recusa a falar no assunto até hoje?
Gina ergueu os olhos e o fitou seríssima:
- Você nunca foi casado, não é?
- Não.
- Então, não adianta explicar. Se quiser chamá-lo para depor, esteja à vontade, mas será perda de tempo. Posso lhe garantir que ele nunca mais deve ter pensado em mim desde que saí de Atlanta.
Potter duvidava que algum homem fosse capaz de esquecê-la, porém achou melhor encerrar o assunto.
- Você está demorando para comer; os ovos vão esfriar.
- Eu lhe disse que não costumo comer nada pela manhã.
- Há sempre uma primeira vez. - ele afirmou e, tirando uma garfada, levou-a aos lábios de Gina. - Experimente.
- Puxa, como você é teimoso! - ela exclamou depois de engolir. - Não está na hora de ir se apresentar ou coisa parecida?
- Já telefonei para a central a noite passada, depois que você foi dormir.
Ela brincava com a comida tirando uma garfada de vez em quando só para que ele não a aborrecesse. Comovia-a saber que ele passara a noite no sofá mesmo já não estando em serviço.
- Potter, quero lhe agradecer por ter ficado aqui esta noite e sei que faz parte do seu serviço me fazer este tipo de perguntas, mas quero que deixe minha irmã longe desse caso.
- Prometo poupá-la o mais que puder.
- As férias estão se aproximando e quero ver se consigo convencê-la a ir passar uns dias na praia.
- Boa sorte. - respondeu Potter, observando-a por sobre a borda da xícara. - Não lhe faria mal algum fazer-lhe companhia por uns dias. Você precisa descansar.
- Não; não quero fugir. - Enfastiada, empurrou o prato ainda cheio para o lado e apoiou os cotovelos na mesa. - Cheguei a pensar nisso depois do telefonema de ontem pela manhã, mas percebi que seria inútil. Só voltarei a ter sossego depois que descobrirmos quem é esse sujeito e o que quer de mim.
- Isso faz parte do meu trabalho.
- Eu sei. Foi por esse motivo que decidi cooperar.
- Ah, decidiu?
- Hum hum. De hoje em diante, minha vida será um livro aberto. Responderei a qualquer pergunta que me fizer.
- E fará tudo o que eu lhe disser?
- Não. Isto é, só farei o que julgar razoável. - E, surpreendendo a ambos, tocou-lhe uma das mãos. - Você me parece cansado; não dormiu bem à noite?
- Não foi exatamente uma noite tranqüila. - Antes que Gina encolhesse a mão, Potter entrelaçou-lhe os dedos com os seus. - Você é ainda mais bonita pela manhã. - Mais uma vez ela sentiu aquele friozinho no estômago.
- Não foi o que insinuou ainda há pouco, no meu quarto.
- Mudei de idéia. - afirmou com um sorriso charmoso. - Antes de ir embora, gostaria de conversar a respeito da noite passada e o que houve entre nós.
- Não acho que seja uma boa idéia.
- De fato, não é. - Potter continuou segurando-lhe a mão. - Sou o policial designado para protegê-la, para desvendar o seu caso. Não há como negar essa verdade. Porém, tampouco posso negar que te desejo. Muito.
Gina permaneceu calada e imóvel, sentindo o coração bater disparado. Então, ergueu o olhar, apenas o olhar, lentamente, até encará-lo e achou excitante o brilho cálido que viu nos olhos verdes de Potter.
- Acho que me precipitei. - ele reconheceu diante do silêncio dela. - Mas creio que para certas coisas não há um momento ideal. Estou tentando desempenhar meu trabalho da forma mais objetiva possível, porém confesso que não está sendo fácil. Se quiser que a central designe outra pessoa para me substituir, é só dizer.
- Não. - ela respondeu depressa demais. - Isto é, - emendou - acho que não me sentiria à vontade sendo seguida por um outro policial. Já estou acostumada com a sua companhia. - Ao se surpreender roendo a unha de um polegar, ela baixou depressa a mão. - Quanto ao resto... Não somos mais crianças; saberemos como lidar com esta situação.
Potter já sabia que Gina não admitiria o fato de a atração ser mútua, mas não desistia de esperar pela confissão.
Vendo-o levantar da cadeira, Gina pulou de susto e provocou em Potter um riso divertido:
- Calma, Gina. Só vou lavar a louça.
- Deixe que eu mesma lavo. - ela disse, odiando-se por aquela reação desastrada. - Aqui em casa, temos um regulamento: um cozinha, o outro lava a louça.
- Ótimo. Você vai fazer uma externa para a rádio hoje ao meio-dia, não é?
- Sim. Como você sabe?
- Verifiquei seu esquema de trabalho para hoje. Vamos sair com algumas horas de folga para que eu possa passar em casa e tomar um banho.
- Potter, vou estar no shopping center cercada por dezenas de fãs. Não acho que seja...
- Mas eu acho.
Quando Gina voltou para a sala, encontrou-o recostado no sofá lendo o jornal. Ele a fitou por sobre a beirada da página de esportes e refreou o comentário que estava prestes a fazer a respeito de sua ligeireza ao se vestir.
Gina estava linda naquela saia curta de couro vermelho vivo, justa nos quadris. Acostumado a vê-la sempre de calça comprida, não fazia idéia do quanto suas pernas eram longas e bem torneadas. A jaqueta, do mesmo tom e material, tinha abotoamento duplo sobre o peito e parava exatamente à altura da cintura. Potter imaginava o que Gina estaria usando por baixo.
Os cabelos permaneciam soltos e volumosos porém cuidadosamente ajeitados sobre os ombros. Já de pé, Potter notou, ainda, que Gina havia passado um pouco de blush no rosto e um lápis escuro no contorno dos olhos.
- Que coisa mais boba. - ela murmurava enquanto lutava para colocar um brinco. - Não sei quem foi que disse que os homens acham isso atraente. Diabo! Não consigo lidar com este fecho. Por acaso você tem jeito?
Ela havia se aproximado do sofá e seu perfume o inebriava.
- Para quê?
- Para colocar brincos. - Gina esclareceu, entregando-os. - Não costumo usá-los com freqüência e sou muito desajeitada. Quer me ajudar?
Potter procurava manter a respiração inalterada, mas era quase impossível.
- Quer que eu ponha os brincos para você?
Impaciente, ela revirou os olhos:
- Puxa, você custa para entender as coisas, não? - Ela entregou-lhe os brincos de pingentes dourados e puxou o cabelo para trás da orelha. - É só colocar e prendê-lo com a tarraxa.
Potter resmungou algo incompreensível e começou a colocá-los. Havia um peso em seu peito que o impedia de respirar fundo. Jamais conseguiria esquecer aquele perfume.
Desajeitado, custou um pouco, mas conseguiu prendê-los.
- É uma coisa tão simples.
- É sim.
Gina mal conseguia falar. No momento em que sentira o breve roçar dos dedos de Potter em seu pescoço, percebera que havia cometido um erro ao pedir-lhe ajuda. O hálito quente a tocar-lhe a nuca era pura provocação.
Então Potter começou a deslizar-lhe a ponta de um dedo pelo maxilar inferior, para baixo e para cima, tocando-lhe um ponto sensível junto à orelha. Gina, excitada, reprimiu um murmúrio e ergueu uma das mãos, bastante trêmula.
- Ouça, acho melhor pararmos por aqui.
- Tudo bem. - Potter soltou a respiração e deu um passo para trás. Sentia-se um tolo, um adolescente desastrado e inexperiente. Contudo, ficou satisfeito ao ver que Gina não era imune aos seus carinhos. Sorrindo, balançou um dos brincos com a ponta dos dedos e acrescentou: - Quando precisar de ajuda, é só me chamar.
Gina preferiu não responder e foi tirar os casacos do armário. Deixou o paletó de Potter sobre o sofá e o observou recolocar o coldre sob a camisa. Aquela imagem trouxe-lhe à mente lembranças desagradáveis e ela preferiu sair da sala indo esperá-lo no jardim. Potter não comentou nada ao entrar no carro.
- Você se incomoda se eu puser o rádio na KHIP? - Gina indagou acomodando-se no banco de passageiro.
- Não, não. É a estação número três na memória.
Satisfeita, ela sintonizou a rádio. A equipe humorística do show da manhã realçava suas brincadeiras e piadas com efeitos sonoros divertidíssimas. O locutor fez propaganda de uma peça teatral, prometeu dar mais três pares de ingressos durante a programação e convidou os ouvintes a irem conhecer Gina Weasley pessoalmente no shopping center.
- Ela estará distribuindo mais ingressos de teatro, camisetas e discos. - Fred anunciou.
- Ora Fred, - interveio o segundo locutor - você sabe que os rapazes não estão interessados em ganhar camisetas. Eles vão lá só para conhecer Gina. - acrescentou ao som de assobios e gritinhos.
- Que engraçadinhos. - Potter ironizou enquanto Gina ria.
- Faz parte do programa deles. - ela explicou. - As pessoas gostam de programas alegres e cheios de bobagens a esta hora da manhã, quando estão saindo da cama ou rumando para o trabalho. A última pesquisa apontou-os como campeões do horário.
- Você deve se divertir quando vê um rapaz suspirar por sua causa.
- Ora, faz parte da fama! - Gina comentou, bem-humorada demais para sentir-se ofendida. Olhando ao redor, reparou no luxuoso carro esporte cheirando a novo. Um carro e tanto para um policial. - Vamos Potter, não fique aborrecido.
Reconhecendo estar se portando como um tolo, ele resolveu calar-se. Suas investigações já haviam provado que ambos os apresentadores do tal programa eram bem casados. Frantic Fred e a esposa esperavam o primeiro filhinho. Os dois trabalhavam na KHIP havia quase três anos e só a conheceram ali na rádio.
Mais relaxada, Gina olhou pela janela. O dia prometia ser bonito e quente, já num prenúncio da primavera. Seria sua primeira primavera ali no Colorado.
A estação, no entanto, a sua preferida, trazia-lhe lembranças dos tempos em que morara na Geórgia, onde o perfume das magnólias pairava no ar. Os pés haviam sido plantados por seu pai.
- Gina? Você está bem?
- Ah, claro. - De volta à realidade, reparou na alameda arborizada que conduzia a um sobrado de três andares com detalhes em pedra e madeira. As janelas altas reluziam ao sol. - Onde estamos?
- Na minha casa. Preciso trocar de roupa, esqueceu?
- Sua casa?
- Isso mesmo. Afinal, todo mundo tem um lugar para morar.
Era bem verdade, ela reconheceu ao abrir a porta para descer. Mas nunca conhecera um policial que morasse numa mansão como aquela. O bairro tradicional era composto em sua maioria de famílias ricas, de estirpe privilegiada.
Surpresa e bem impressionada, Gina o acompanhou até a porta de entrada, em vidro rayban.
O hall de entrada era amplo, o assoalho e o teto de madeira avermelhada envernizada. As paredes eram de coradas por quadros de pintores famosos, e uma escada curva conduzia ao segundo andar.
- Pensei que você fosse um policial honesto.
- E sou.
Potter tirou-lhe o casaco dos ombros e pendurou no espaldar de uma cadeira. Gina, no fundo, não tinha dúvidas quanto à honestidade dele, porém, era preciso muito dinheiro para se ter uma casa daquele tamanho.
- Herdei muito dinheiro de minha avó. - ele explicou como se lhe adivinhasse os pensamentos.
Pegando-a pelo braço, Potter a conduziu através de uma porta em arco rumo a um outro ambiente. A sala de estar era belíssima, decorada com muito bom gosto. O detalhe que mais chamava atenção ali era a lareira de pedras ricamente adornada por uma moldura entalhada. Cada uma das paredes externas tinha uma janela imensa com vista para o gramado.
Havia diversas peças antigas espalhadas pelos móveis, misturadas a esculturas moderníssimas numa combinação inédita e refinada. Através de outra porta em arco, Gina pôde ver a sala de jantar.
- Puxa, sua avó devia ter muito dinheiro.
- Ela era uma pessoa muito especial. Presidiu as Indústrias Potter até os setenta anos de idade.
- O que produzem as Indústrias Potter?
- Um pouco de tudo. O negócio pertence à nossa família e atua desde a mineração até o ramo imobiliário.
- Mineração? Você quer dizer ouro?
- Entre outras coisas.
Gina cruzou os dedos para evitar roer as unhas.
- Então, por que não está sentado num escritório contando seus dólares se multiplicarem?
- Porque gosto de ser policial. - afirmou imperturbável. - Algo errado?
- Não. Acho melhor você ir trocar de roupa. Preciso chegar ao shopping antes do horário marcado.
- Prometo não demorar.
Ela esperou que ele subisse e então afundou-se num dos sofás da sala. Indústrias Potter... Tirando um cigarro da bolsa, acendeu-o e observou melhor o ambiente. Elegante, sofisticado e... rico.
Embora não gostasse de admitir, reconhecia que alimentava uma pequena, bem pequena, esperança de que pudessem ter um relacionamento mais pessoal, mas agora, vendo que ele pertencia a uma classe tão alta, suas esperanças caíam por terra. Potter devia pertencer a uma família milionária. Ela, por sua vez, não passava de uma moça simples, nascida e criada numa cidadezinha no interior da Geórgia. Evidente que tinha conquistado uma certa fama em seu ramo de atividade, mas suas origens eram bem humildes.
Agitada, levantou-se e foi jogar o cigarro na lareira.
Esperava que Potter voltasse logo para que pudessem ir embora dali. Mal via a hora de começar a trabalhar e se distrair para não ter tempo de pensar na confusão em que sua vida se transformara. Era melhor abafar seus sentimentos com relação a Potter e voltar a encará-lo como profissional.
Assim que o caso das ameaças estivesse esclarecido, cada um seguiria seu caminho e jamais voltariam a se encontrar. A relativa intimidade de que desfrutavam no momento nascera de uma mera circunstância e acabaria tão logo deixassem de se ver. Gina estava de pé junto à janela quando Potter voltou para a sala. A luz do sol produzia reflexos lindos em seus cabelos, e Potter reconheceu que ali era o lugar dela.
Era incrível como a presença dela preenchia o ambiente, dava mais vida à casa. Queria-a ali para sempre; dona da casa, dona dos seus sonhos.
Ela certamente discutiria e se recusaria a desempenhar aquele papel, caso Potter lhe desse uma chance. Sorrindo, ele se aproximou dela e decidiu que o melhor era não dar-lhe oportunidade de escolher.
- Gina.
Assustada, ela virou-se para trás.
- Oh. Não o vi entrar. Eu estava...
As palavras morreram-lhe na garganta no exato instante em que Potter segurou-a pelos braços e puxou-a para si, beijando-lhe os lábios.
Gina só conseguia comparar o que sentia aos ventos fortíssimos que antecedem as tempestades de verão, as ondas imensas de uma ressaca quando chegam à praia. Havia um turbilhão de emoções e sensações em seu íntimo.
Sua vontade era empurrá-lo, mas suas mãos o puxavam para mais perto. Estava tudo errado; era uma loucura. Uma deliciosa loucura...
Ao pressionar o corpo contra o dele e corresponder às exigências de seus lábios, entendeu que ainda há pouco mentira para si: queria-o muito, apesar das diferenças, apesar de tudo.
Por mais amedrontador que fosse, sabia que precisava de seu apoio, de seu carinho. Era como se até então sua vida tivesse sido uma longa espera até que, um dia, seus caminhos se cruzassem.
As mãos de Potter deslizavam pelo couro da saia à medida que ele amoldava os quadris de Gina aos seus. Dois corpos que se completavam perfeitamente, feitos um para o outro. Potter queria ouvi-la gemer, murmurar seu nome, confessar que também o desejava.
E, de fato, ouviu-a gemer quando a obrigou a pender a cabeça para trás para que pudesse deslizar-lhe os lábios tímidos por seu pescoço. Excitadíssimo, desabotoou os botões da jaqueta vermelha e descobriu-a nua.
Gina arqueou as costas e prendeu o fôlego quando Potter tocou-lhe um seio. Seus joelhos fraquejaram, obrigando-a a se apoiar nos ombros dele e não conseguiu abafar um gritinho de prazer ao senti-lo acariciar-lhe um mamilo.
Num gesto irrefletido, Gina tomou a iniciativa de aprofundar o beijo, numa ousadia que deixou-os ainda mais excitados. Ansiosa por tocá-lo com a mesma intensidade com que era tocada, puxava-lhe o paletó com força, num apelo mudo para que o tirasse.
Mas, de repente, suas mãos esbarraram no couro do coldre e tocaram o metal frio da arma.
Foi como uma ducha de água gelada. Gina encolheu os dedos e deu um passo para trás. Apoiando as mãos sobre uma mesinha, ela pendeu o pescoço para frente e balançou a cabeça.
- Estamos cometendo um terrível engano. - disse pausadamente. - Não quero mais me envolver com ninguém.
- Tarde demais.
- Não é, não. - Com mãos trêmulas, ela tornou a abotoar a jaqueta e pediu: - Vamos embora.
Potter, contudo, permaneceu exatamente onde estava.
- Antes de irmos, quero ouvi-la dizer que não sente nada por mim. Olhos nos olhos.
Gina forçou-se a encará-lo.
- Seria inútil negar que você me atrai. Ambos já sabemos disso.
- Quero trazê-la para cá esta noite. Podemos passar a noite juntos.
Mas Gina balançou a cabeça com mais força. Não queria sequer imaginar como seria passar umas horas ali na casa dele, na cama dele.
- Não posso.
- Por quê? - quis saber Potter, aproximando-se sem tocá-la. - Você já me falou que não tem namorado. E, se tivesse, não faria diferença nenhuma para mim.
- Não é por causa de ninguém. É por minha causa.
- Então, por que não me conta do que tem medo?
- Tenho medo de atender ao telefone. - E era verdade, embora não fosse aquele o motivo da recusa. - Tenho medo de dormir, medo de acordar.
Potter esticou um braço e tocou-lhe o rosto com suavidade.
- Entendo o que sente e farei o que for possível para ajudá-la. Porém, ambos sabemos que não é esse o motivo que a impede de vir dormir aqui comigo esta noite.
- Há outros motivos.
- Quais? Dê-me pelo menos um.
- Você é policial. - disse Gina indo pegar a bolsa.
- E dai?
- Minha mãe também era. - ela revelou saindo da sala.
- Ei! Espere!
- Afaste-se Potter, estou falando sério. - Ainda bastante agitada, ela vestiu o casaco. - Minha vida já está complicada o bastante; não preciso arranjar mais problemas. Vou pedir à central que providencie um policial para substituí-lo. Agora, se não puder me levar ao shopping center, vou chamar um táxi.
Ele percebeu que se a forçasse mais um pouco, Gina acabaria entrando em colapso.
- Eu a levo até lá e prometo me afastar. Por enquanto.





Agradecimentos especiais:

issis: que bom que gostou do capitulo, agora quanto ao Nick, bem se eu disser estraga o desenrolar da fic, sinto muito. Mas posso dizer que o ex marido dela não tem nada a ver com essa historia. Beijos.

Bruna Britti: Realmente esqueci de colocar isso no resumo, sinto muito, mas vou arrumar imediatamente, obrigado por me avisar e fico feliz que tenha gostado. Beijos.

Bianca: não precisa se preocupar com a demora, eu entendo. Já vou adiantar pra você que o assassino não tem nada a ver com Paul, ele é completamente inocente nesse negocio. E o cara também não foi “seduzido” por assim dizer, mas você chutou muito bem no lance de se apaixonar pela voz dela e depois cometer o suicídio, você chegou muito perto da verdade, também acertou sobre o assassino, pois ele está muito perto dela. Quando você chutar o nome dele, aposto que vai acertar. Abraços e beijos.

Thamires: que bom que gostou da fic. Abraços.

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