Capitulo 7



Capitulo 7


 


O ambiente era agitadíssimo: o ritmo contagiante das canções, os instrumentos, o solo de guitarra. Luzes coloridas e piscantes giravam produzindo diversos efeitos, corpos se movimentavam ao sabor da música. Gina animava a festa com sua voz aveludada e, vez por outra, desligava o microfone apreciando o movimento da pista de dança. A discoteca estava cheinha de rapazes e moças, ex-colegas de escola. Gina não os conhecia, mas era como se fossem velhos amigos.


Potter bebericava um clube-soda num canto do salão e educadamente recusou o convite de uma loira sexy para que fosse dançar. Aliás, observar as pessoas era um de seus passatempos preferidos, do qual jamais se cansava.


A festa estava animadíssima, e ele adoraria dançar um pouco, porém, preferia manter-se de olho em Gina.


Seu posto ficava bem em frente à pista de dança, diante de uma imensa mesa de controles. Os discos e fitas estavam todos empilhados nas laterais, para um fácil acesso. Gina usava um traje bastante adequado para a ocasião: calça comprida de lantejoulas pretas e um blazer de lantejoulas prateadas. Nas orelhas, o brinco de estrelas. O efeito colorido das luzes sobre a roupa ficava fantástico. Os cabelos permaneciam soltos com bastante volume.


Sua seleção havia atraído diversos casais para a pista, onde agora se divertiam. Outros, perambulavam entre as mesas batendo papo e revendo os amigos.


A música era alta, contagiante e rápida, bem ao gosto de Gina. A julgar pelas fisionomias, a turma dos formandos de 1975 estavam se divertindo a valer. Gina também. De sua mesa, ela conversava animadamente com um grupo de rapazes. Potter notou que alguns deles haviam se excedido na bebida, mas Gina se defendia muito bem das investidas.


Uma ponta de ciúme ardeu-lhe no peito ao ver um grandalhão com ar de jogador de futebol abraçá-la pela cintura e murmurar-lhe algo ao ouvido. Gina continuou sorrindo, balançou a cabeça e respondeu-lhe algo baixinho. Foi o suficiente para que o rapaz se afastasse, sem perder o espírito esportivo.


- E atenção, pessoal. Ainda tem muito mais. - disse ao microfone. - Agora, vamos voltar para o ano de 1975, na noite da formatura.


Gina soltou a gravação de One of These Nights, do grupo The Eagles, e percorreu o salão com os olhos à procura de Potter.


Ao vê-lo, abriu um sorriso largo de satisfação. Um sorriso tão especial que, mesmo estando bastante longe da mesa, Potter viu seus olhos brilharem. Excitado, ele se perguntava se conseguiria fazê-la sorrir-lhe daquela forma quando estivessem sozinhos. E riu quando a viu levar uma das mãos à garganta indicando estar com sede. Gina achou-o lindo enquanto o observava virar-se na direção do bar. Engraçado... Sempre considerara um paletó cinza conservador demais para o seu gosto. Mas, em Potter, isso não acontecia. Aliás, já havia percebido os olhares de cobiça que diversas moças da festa haviam lhe dirigido.


“Desistam, garotas”, pensou feliz. “Esta noite, ele é meu.”


Admirada com o rumo dos próprios pensamentos, balançou a cabeça e pegou um disco da pilha pré-selecionada com os pedidos da turma. A julgar pelos sucessos pedidos, concluiu, os rapazes e moças eram do tipo nostálgico.


Ao pôr o disco para tocar, reconheceu que gostava de ser solicitada para tais eventos. Era muito bom conviver com outras pessoas, vê-las dançar, se descontrair.


A comissão organizadora havia caprichado nos detalhes da festa. As toalhas de mesa brancas e vermelhas combinavam com as fitas e os balões de gás presos no teto. Uma esfera giratória coberta de espelho iluminava a pista de danças e, quando queria, Gina acionava o comando de luzes estrosboscópicas que davam ao ambiente um ar nostálgico dos anos 70.


Em cada mesa, havia um singelo arranjo de flores do campo.


- Esta aqui vai para Rick e Sue que começaram a namorar nos tempos de escola e já completaram doze anos de casados. Eles escolheram Rockin’ AU Over Ther World.


- Excelente escolha. - murmurou Potter ao se aproximar para lhe dar um copo de refrigerante bem gelado.


Gina virou-se e agradeceu.


- Está gostando da festa?


- Muito. Meus colegas de formatura também estão pensando em dar uma festa assim ano que vem. Você está disponível?


- Preciso consultar minha agenda. Puxa, olhe só! - Um casal mais animado dava um verdadeiro show de dança na pista, arrancando aplausos dos demais. - Eles são ótimos.


- Você... dança?


- Não assim como eles. - ela admitiu. - Mas bem que gostaria. O casal é excelente.


Antes que ela pegasse outro disco da pilha, Potter segurou-lhe a mão:


- Posso pedir uma música?


- Claro. Qual?


Potter começou a mexer na pilha pré-selecionada, tirando os discos da ordem. Gina, no entanto, não se importou. Depois de escolher um, Potter o entregou a ela.


- De muito bom gosto. - Gina ligou o microfone: - Estou gostando de ver a animação da turma de 75. Estão se divertindo? - A resposta positiva veio em uníssono. - Ficaremos juntos até a meia-noite, recordando o melhor dos velhos tempos. Agora, vou atender a um pedido especial de um fã de Bruce Springsteen. A canção chama-se Hungry Heart.


Diversos casais deixaram as mesas rumo à pista indo dançar ao som da canção romântica solicitada por Potter. Gina virou-se para falar-lhe e surpreendeu-o bem juntinho a ela, a seu lado.


- Quer dançar? - ele convidou.


O convite, no entanto, era mera formalidade, pois, sem esperar pela resposta, ele a enlaçou pela cintura, colou-a a si e começou a mover os quadris de modo persuasivo e sensual.


- Eu... estou trabalhando.


- É só uma canção. - Curvando-se, ele mordiscou-lhe o queixo. - Dançar é a melhor coisa do mundo, depois de fazer amor.


Gina tinha uma recusa pronta na ponta da língua. Mas, numa questão de segundos, seu corpo começou a acompanhar os movimentos ondulantes dos quadris de Potter e Gina acabou se rendendo. De rostos praticamente colados, Potter sorriu ao vê-la lançar-lhe os braços ao redor do pescoço. Com um olhar brilhante e cheio de promessas, ele deslizou-lhe as mãos pelos quadris e foi subindo-as lentamente até alcançar-lhe a lateral dos seios.


Gina sentiu o corpo todo se arrepiar.


- V-você... dança muito bem.


- Obrigado. - Ele aproximou os lábios dos dela a ponto de quase beijá-la e, então, desviou-os para mordiscar-lhe o pescoço. - Você tem cheiro de pecado, Gina, e está me deixando maluco.


Gina queria que ele a beijasse, esperava ansiosa pelo beijo e gemeu baixinho quando ele lhe puxou os cabelos obrigando-a a pender a cabeça. Em suspense, ela fechou os olhos, aguardando. Potter, porém, limitou-se a roçar-lhe os lábios úmidos pela pele macia do rosto.


Ofegante, Gina apoiou-se nele, absolutamente entregue ao prazer e ao ritmo da música. Ali na pista, dezenas de outros casais faziam o mesmo.


- Se continuarmos dançando assim, não sei se vou conseguir terminar meu trabalho.


Harry sentia o coração de Gina bater acelerado junto a seu peito. Não era o bastante para satisfazê-lo, mas era prova concreta de que havia uma chance.


- Então, acho que vamos ter de terminar a dança mais tarde.


Assim que ele a soltou, Gina escolheu um disco qualquer e começou a tocá-lo. A rapaziada aplaudiu, vibrante, aos primeiros acordes da canção alegre e bem ritmada. Encalorada, ela levantou um pouco os cabelos, que lhe aqueciam o pescoço e a nuca.


- Quer outro copo? - Potter ofereceu-lhe, vendo-a beber os últimos goles de refrigerante.


- Não, obrigada. - Ela pegou a folha com os pedidos sobre a mesa e deu uma olhada nos títulos. - Esta turma é ótima. Adoro este tipo de reunião.


- Já percebi.


- Admiro o espírito de união que eles compartilham procurando se reunir depois de quinze anos de formados. Pessoas que viveram as mesmas experiências e conservam a amizade. - Então, tornou a pôr o papel sobre a mesa. - O ano de 1975 era o auge da época da disco music, um gênero que não produziu muitos talentos. Por outro lado, naquela fase, os Doobie Brothers ainda estavam juntos. Os Eagles também.


- Você sempre se localiza no tempo tomando a música como referência?


Gina riu da observação.


- É um vício da profissão. De qualquer forma, é um excelente barômetro. - Jogando os cabelos para trás, virou-se para fitá-lo. - O primeiro disco que toquei como profissional do rádio foi um dos Rolling Stones chamado Emotional Rctscue, em 1980. Ano em que Ronald Reagan foi eleito pela primeira vez e que John Lennon foi assassinado.


- Puxa, sua memória é ótima.


- Tomar a música como referência ajuda muito. - E lançou um desafio que provava seu ponto de vista: - Aposto como você ainda se lembra da música que estava tocando no rádio quando você beijou uma garota pela primeira vez no banco traseiro do seu carro.


- Dueling Banjos.


- Está brincando!


- É verdade.


Gina abriu um dos muitos papeizinhos dobrados no canto da mesa com pedidos vindos do público. De repente, o sorriso desapareceu-lhe dos lábios, e seu coração quase parou. Chocada, fechou os olhos bem apertados pensando ter enxergado mal, porém, ao reabri-los, viu a mesma frase escrita em letras de forma: “Quero ouvir seus gritos antes de matá-la”.


Suas mãos começaram a tremer de modo incontrolável.


- Gina?


Balançando a cabeça, ela entregou o papel a Potter.


O tal sujeito estava ali, naquele salão, Gina ponderou à beira do pânico. De algum lugar daquele salão, ele a observava e esperava.


E se aproximara o suficiente para deixar aquele bilhetinho aparentemente inocente sobre a mesa de som. O suficiente para sorrir-lhe, para encará-la. Talvez tenha até conversado com ela.


- Gina.


Ela pulou de susto quando Potter pôs uma das mãos em seu ombro e teria perdido o equilíbrio se ele não a apoiasse.


- Oh, não! Eu achava que pelo menos esta noite ele me deixaria em paz. Mas não adianta. Ele não desiste de me perseguir.


- Faça uma pausa.


- Não posso. - Perplexa, ela esfregava as mãos uma na outra e olhava para o salão. - Tenho de...


- Preciso dar um telefonema, - ele lhe disse - mas quero que você fique num lugar bem visível.


O autor daquelas ameaças estava ali, sob o mesmo teto que ela, pensava Gina, horrorizada. Estaria armado? Teria trazido consigo a tal faca de lâmina longa que sempre descrevia pelo telefone? Talvez estivesse esperando por um momento ideal, quando a música estivesse bem alta, o público bem barulhento, para atacá-la...


- Venha comigo.


- Espere um pouco. - Nervosíssima, ela abriu o microfone e disse: - Vamos fazer uma breve pausa, mas fiquem atentos. Estarei de volta em dez minutos e quero ver a pista lotada. - Então, desligou o microfone e voltou-se para Potter: - Por favor, fique por perto, sim?


Abraçando-a pela cintura, Potter acompanhou-a através do público. Cada vez que alguém se encostava nela ou chegava mais perto, Gina estremecia. E quando um homem veio ao seu encontro e segurou-lhe ambas as mãos, ela quase gritou.


- Gina Weasley. - O rapaz tinha uma fisionomia amigável e o rosto molhado de suor, de tanto dançar. Ele sorria, encantado, enquanto Gina o fitava com olhos arregalados, e Potter se mantinha alerta. - Meu nome é Tom Cillins; sou o chefe da comissão organizadora da festa, lembra-se?


- Ah... - ela exclamou com um sorriso forçado. - Claro.


- Só gostaria de lhe dizer que é um prazer para nós tê-la aqui no comando da nossa festa. Você tem muitos fãs aqui. - Ele soltou-lhe uma das mãos para gesticular enquanto falava: - Mas acho que sou o maior. Não há uma noite sequer em que eu não ouça pelo menos uma parte do seu programa. Perdi minha esposa no ano passado.


- Eu... sinto muito.


- Não, ela não morreu. Simplesmente, saiu de casa levando toda a mobília. Cheguei em casa uma noite e encontrei tudo vazio. Nunca mais a vi. - Ele ria a valer enquanto Gina pensava em algo que pudesse dizer. - Seu programa me ajudou a vencer muitas madrugadas solitárias. Eu só queria lhe agradecer e dizer que a festa está ótima. - E entregou-lhe seu cartão de visita: - Sou dono de uma loja de eletrodomésticos. Se precisar de algo, me telefone.


- Obrigada. - A situação era engraçada, mas Gina só conseguiria rir mais tarde. Bem mais tarde. - Prazer em vê-lo, Tom.


- O prazer foi meu.


Tom afastou-se, feliz da vida, e Potter conduziu-a a um canto do salão, junto ao telefone público.


- Não se afaste daqui. Está se sentindo melhor? - Ela assentiu e até conseguiu sorrir para um grupo de garotas que passava por ali rumo ao toalete.


- Sim, estou. Vou me sentar ali. - disse, apontando para uma fileira de cadeiras dispostas perto de um vaso de plantas.


Deixando-o para trás, ela foi sentar-se no local que indicara, soltando o corpo numa das cadeiras.


Estava vivendo um terrível pesadelo. Não; era pior que isso, pois dormia, acordava e a realidade era a mesma.


Trêmula, acendeu um cigarro.


Fora tolice achar que ele a deixaria em paz pelo menos naquela noite; o sujeito era esperto demais. Por outro lado, jamais pudera imaginar que ele a seguiria ali na festa. As chances de que pertencesse à turma de 1975 eram mínimas, porém, ainda assim, conseguira se infiltrar.


Com as costas apoiadas no encosto da cadeira, observava o fluxo de pessoas que entravam e saíam da discoteca. Podia ser qualquer um daqueles, pensava, tentando ver se conseguia reconhecer alguém.


Podia ser um comerciante, um frentista do posto de gasolina que ela freqüentava, um funcionário do banco onde tinha conta... Ou um desconhecido.


Ainda assim, ele a conhecia pessoalmente, sabia seu nome, seu endereço. Roubara-lhe a paz de espírito e só sossegaria quando lhe tirasse a vida.


Ela viu Potter desligar o telefone e ir ao seu encontro.


- E então?


- Thea está vindo apanhar o bilhete. Vamos mandá-lo para o laboratório da polícia. - Ele massageou-lhe os músculos rijos do ombro. - Mas, não alimente muitas esperanças: não creio que haja impressões digitais.


- Nem eu. - ela afirmou aprovando sua sinceridade. - Será que ele ainda está aqui?


- Não sei. - Ele olhava ao redor. - O hotel é muito grande, mas a segurança não se responsabiliza pelos salões alugados. Fechar as portas e interrogar os presentes também não ajudaria muito. Se quiser ir embora mais cedo, posso dizer-lhes que você não está se sentindo bem.


- Não, de jeito nenhum. - ela assegurou apagando o cigarro. - Faço questão de ir até o fim. Assim, se ele ainda estiver por perto, vai ver que não me acovardo com suas ameaças.


- Está bem. Qualquer coisa, lembre-se: estarei sempre por perto.


Gina segurou-lhe uma das mãos e levantou-se:


- Potter, ele mudou sua forma de aproximação e escreveu o bilhete. O que isso significa?


- Muita coisa. Esse foi o melhor modo que encontrou de entrar em contato com você aqui na festa. Por outro lado, ele pode estar se tornando mais displicente.


- Ou impaciente. Por favor, diga a verdade. - Potter segurou-lhe o rosto com ambas as mãos:


- Gina, para alcançá-la, ele terá de passar primeiro por mim, e eu lhe garanto que não será fácil.


- Os policiais gostam de se julgar invencíveis.


- É o que nos dá coragem para prosseguir. - ele murmurou beijando-lhe a testa.


Potter não duvidava que ela fosse mesmo capaz de chegar ao final da festa, porém sua coragem era mesmo impressionante. Em nenhum momento Gina permitiu que sua voz tremesse ou errara ao lidar com os controles. Enquanto a música tocava, ela discretamente olhava para as pessoas presentes, reparando em cada um dos rostos.


Suas mãos estavam em constante movimento. Ora lidando com os botões, ora pegando algum disco, ou ainda marcando o ritmo da música sobre a mesa. Potter reconheceu que Gina jamais mudaria seu jeito agitado e inquieto de ser. Era aquela energia toda que a impulsionava, que a levava a prosseguir em sua luta. Como companheira, devia ser exigente e autoritária.


Exatamente o oposto do que ele procurava numa esposa. Porém, era por Gina que seu coração batia mais forte e estava determinado a conquistá-la, tendo-a só para si.


Protegê-la com a própria vida era sua missão. Amá-la por toda a vida era seu maior desejo. Se seus planos dessem certo, ela logo entenderia esta diferença.


Sempre atento, também observava os presentes à procura de algum suspeito, porém, tudo lhe parecia absolutamente normal: a música alegre continuava a tocar, e as pessoas se aglomeravam na pista.


Potter viu Althea entrar. Não só ele, constatou, como a maioria dos homens ali presentes. E riu quando uma moça deu uma cotovelada no namorado, que acompanhava o andar de Althea com um olhar significativo.


- Você sempre atrai os olhares masculinos quando entra num local qualquer, Althea. - brincou.


Ela riu e deu de ombros. Estava muito elegante num vestido reto, preto e sem alças.


- Tenho de lhe agradecer por ter me livrado de um camarada chatíssimo. Marcamos um encontro, e ele trouxe uma escova de dentes no bolso. Parecia um maníaco, só sabia falar em sexo!


- Animal.


- Uns mais, outros menos, mas, no fundo, são todos iguais. - Althea filosofou bem-humorada. Então, mais séria, olhou para Gina: - Como ela está se saindo?


- Gina é fantástica.


Althea ergueu uma sobrancelha:


- Potter, minha intuição feminina me diz que você está apaixonado por essa garota.


- Não dá mais para disfarçar. Eu a amo. Estou até pensando em casamento. Quer ser minha madrinha?


- Será um prazer. - Ainda assim, Althea tocou-lhe o braço de leve: - Ouça Potter, não quero ser chata, mas estamos numa missão. A garota está correndo risco de vida.


Potter entendia a preocupação de sua parceira, porém, ficou aborrecido com o alerta.


- Pode deixar. - E mudou de assunto. - Aqui está o bilhete. - Althea o leu e colocou na bolsa:


- Vamos ver o que os rapazes do laboratório podem fazer.


- Terminei de averiguar a ficha do ex-marido e me parece que é um sujeito honesto. - Potter revelou, desapontado. - O senador Lomax está casado há seis anos, tem três filhos e não sai de Atlanta há três meses.


- Consegui entrar em contato com o dono da emissora onde ela trabalhou em Chicago. Ele a elogiou bastante. Andei averiguando e descobri que esteve a semana passada toda em Rochester visitando a filha. Ele me enviou a lista dos locutores e funcionários que trabalhavam na rádio na época de Gina e até agora nada.


- Segunda-feira, quando eu chegar ao departamento, daremos outra olhada.


- Pode deixar que eu mesma vejo isso durante o fim de semana. Fique de olho na garota.


- Thea, não sei como lhe agradecer.


- Nem pense nisso. - disse Althea ao se despedir. Ao cruzar a discoteca rumo à saída, dois rapazes se aproximaram, convidando-a para dançar. Althea, no entanto, recusou o convite.


A experiência mostrara a Gina que as melhores festas eram as que terminavam bem agitadas, portanto reservara os três melhores sucessos para o fim.


E de fato. Ao terminar a última canção, estavam quase todos na pista, exaustos, suados, sorridentes.


- Quero agradecer à turma de 1975 pelo convite. Vocês são demais! Espero revê-los daqui a cinco anos na comemoração do vigésimo aniversário de formatura. Até lá.


- Bom trabalho. - cumprimentou Potter.


- Ainda não terminei.


Gina precisava desmontar todas as ligações e, com a ajuda de Potter, levar todo o equipamento para o carro dele. E ainda precisaria deixar tudo na rádio para só depois voltar para casa.


- Ele tem razão. Foi uma noite excelente. - Gina ergueu o rosto, surpresa.


- Mark! O que está fazendo aqui?


- Vim lhe dar uma mãozinha. - Mark pegou um dos discos e verificou o nome da música. - Meu Deus! Não me diga que você tocou isso!


- Era um grande sucesso em 1975. Agora, seja franco e me diga por que veio.


- Vim buscar meu equipamento.


- Desde quando isso é serviço do dono da estação?


- Sou o chefe e posso fazer tudo o que tiver vontade. - ele lembrou bem-humorado. Gina riu.


- E de agora em diante... - avisou-a, consultando o relógio - Você estará de licença por motivos de saúde.


Gina entendeu tudo e lançou-lhe um olhar acusatório:


- Mas eu não estou doente.


- Estou dizendo que sim e pronto. E, se você aparecer na emissora antes de segunda-feira à noite, estará despedida.


- Mark!


- É pegar ou largar. - Então, num tom mais suave, pousou uma das mãos no ombro dela: - Gina, faço isso para o seu bem. Já vi outros locutores ficarem estressados por muito menos. Estamos preocupados com você, e achei melhor afastá-la por uns dias para que possa descansar.


- Estou conseguindo enfrentar a situação muito bem.


- Então vai poder apreciar melhor o descanso. Agora, dê o fora.


- Mas, quem vai...


Potter puxou-a pelo braço:


- Você o ouviu.


- Detesto receber ordens. - Gina murmurou enquanto caminhavam para a porta.


- Não seja exagerada. Acha que a KHIP vai se arruinar só porque você vai tirar um fim de semana de folga.


Sem virar a cabeça, ela lhe lançou um olhar severo:


- Não é esse o problema.


- Não mesmo. O problema é que você precisa e vai descansar.


- E o que acha que devo fazer nestes dias de folga?


- Não sei; pensaremos em algo.


Atravessaram o estacionamento, e alguns casais remanescentes lhes acenaram. Gina sorriu-lhes e entrou no carro de Potter.


- Pensaremos?


- Sim. Por coincidência, eu também tirei o fim de semana de folga.


Ela franziu a testa e o observou colocar-lhe o cinto de segurança.


- Isto está me parecendo uma conspiração.


- Você ainda não viu nada!


Potter escolheu uma fita de música clássica e a colocou no toca-fitas antes de dar partida no carro.


Suspirando, Gina acendeu um cigarro. Não queria que as pessoas se preocupassem por sua causa; não gostava de admitir que estava cansada.


- Essas músicas sempre me dão sono.


- Então, durma. Vai lhe fazer bem.


Sonolenta, Gina fechou os olhos por uns instantes pensando no sucesso da festa, no quanto se divertira até que... Era melhor abrir os olhos.


Observou que Potter não seguia o rumo de sua casa. Consultando o relógio do carro, constatou já haverem passado vinte minutos desde que saíram da festa.


- Onde estamos?


- Na rodovia número 70, seguindo rumo oeste.


- Rodovia? Mas, para onde vamos?


- Para as montanhas.


- Montanhas? - Ainda sonolenta, Gina afastou os cabelos que lhe caíam na testa. - Que montanhas?


- Montanhas Rochosas. - ele explicou, bem-humorado, citando o nome da famosa cordilheira. - Acho que já ouviu falar nelas.


- Não banque o espertinho, Potter. Você falou que ia me levar para casa.


- E vou. Isto é, de certa forma. Vou levá-la para a minha casa.


- Já estive na sua casa e sei que não fica nesta região.


- Não estou falando dessa, mas de outra casa. E um lugarzinho bem simples, confortável, com uma linda vista. Vamos passar o fim de semana lá.


- Pois saiba que não vamos a lugar nenhum. Vou passar estes dias em casa. Ouça, Potter, você como policial deve saber que levar alguém a algum lugar contra sua vontade é crime.


- Pode me processar quando voltarmos.


- Olhe, acho que já fomos longe demais. Sei que faz tudo pensando no meu bem, mas não vou deixar Deborah sozinha naquela casa à mercê desse maníaco.


- Bem pensado. - Ele pegou uma saída à direita e Gina, por um instante, respirou mais aliviada. - É por isso que ela foi passar estes dias na casa de Althea. Ela me pediu que lhe desejasse um ótimo descanso. Ah... - Gina protestava, porém Potter prosseguia indiferente - Também arrumou sua mala.


- Quando foi que vocês planejaram tudo? - Potter percebeu que a voz dela estava muito calma.


Calma demais.


- Tirei umas horinhas de folga durante o dia. Mas, como já disse, o lugar é gostoso. Você vai gostar.


- Espero que tenha um penhasco bem alto de onde eu possa jogá-lo!


Potter diminuiu a marcha para seguir pela estrada tortuosa.


- Tem sim.


- Eu sabia que você era teimoso e autoritário, mas passou do limite. Quem lhe deu o direito de programar minha vida e a de minha irmã para me trazer para as montanhas?


- Achei que era o melhor para você.


- Pois saiba que não gosto de montanhas, detesto a vida no campo e não vou para chalé nenhum!


- Sinto muito, mas já estamos quase lá. - Gina mordeu o lábio inferior.


- Se arranjou esta escapada com o intuito de me levar para a cama, desista. Prefiro morrer congelada aqui dentro do carro.


- O chalé tem vários quartos. Você será muito bem-vinda se quiser compartilhar o meu, mas pode escolher qualquer outro.


Furiosa, Gina cruzou os braços e calou-se, sem argumentos.


 


 


 


 

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