Godrig‘s Hollow



Enquanto isso


Draco tenta processar os últimos acontecimentos, cada vez mais as coisas parecem estar saindo dos eixos. Ele se pega pensando na vida que até alguns anos atrás ele achava ser perfeita e agora ele se encontra lutando do lado de pessoas que desprezava e, mais ainda, se sentindo bem com isso, como se pela primeira vez tivesse fazendo a coisa certa


A conversa com a mãe do garotinho conseguiu elucidar algumas das suas dúvidas, mas também colocou outros questionamentos em sua mente. Questionamentos estes que ele não sabe se algum dia serão respondidos


Mais uma vez ele se pega pensando em sua mãe, ele sabe que muitas das atitudes de sua genitora foram tomadas por sua causa e ele se pega pensando se algum dia vai conseguir amar alguém desta forma tão altruísta, se em algum momento ele vai conseguir colocar outros acima de si mesmo


De uma coisa ele tem certeza, ele está lutando para se tornar uma pessoa melhor. Mesmo que lá no fundo Draco continue a ser um sujeito arrogante e prepotente, uma herança dos Malfoy e dos Black, ele sabe que não é mais o mesmo e por um breve momento ele se permite imaginar uma vida tranquila ao lado de sua mãe


Neste momento o barulho da porta o tira de seus pensamentos, ele abre e vê Barbara chegar com o filho – desculpe incomodar, senhor Malfoy, mas este mocinho aqui tem algo a dizer


O menino olha para a mãe, visivelmente contrariado e o olhar que a mulher lhe dá faz com que o mesmo suspire audivelmente ao dizer – moço, desculpa por bater na porta do seu quarto à noite. A minha mãe disse que isso não é educado, então mesmo achando que não fiz nada errado eu estou aqui


- Adrian! – Barbara diz mais alto do que gostaria – não foi isso que combinamos!


- Mas mãe – o menino diz usando toda a sua lógica infantil – meu pai disse que quando eu tivesse pesadelos e ele não estivesse aqui e eu quisesse conversar, eu tinha que procurar alguém


- E eu não sou ninguém? – Barbara fala esquecendo-se por completo da presença do loiro


- Você é uma garota! – o menino argumenta e vê a mãe rolar os olhos


Draco se vê na obrigação de intervir, primeiro porque ele está se sentindo mal por presenciar a discussão na porta do seu quarto e em segundo lugar porque ele entende perfeitamente o menino, ele entende porque também seria capaz de tudo para poupar a sua mãe, como ele preferiu esconder a angústia que se passava em seu coração ao receber a tarefa ingrata do lorde das trevas, ele entende que o pequeno esconda seus pesadelos da sua mãe. Resguardadas as devidas proporções, ele sabe muito bem o que o menino está sentindo, então ele diz


- Ei, mocinho, não precisa discutir ou ficar bravo com a sua mãe, ela se preocupa com você


Ele vê que os olhos do menino brilham com lágrimas contidas – eu só não quero que ela fique triste – ele balbucia


O olhar de Draco dança desconcertado entre o menino e a mulher, ele vê que os olhos dela também se enchem de lágrimas. Diabos, lágrimas nunca foram algo com que o loiro lidasse bem! No entanto neste momento não há como fugir, então ele respira fundo e continua – não precisa ficar assim, pirralho – ele sorri ao ver que o menino o olha com indignação – a sua mãe sempre vai se preocupar com você porque é isso que as mães fazem e quanto a ficar triste, todo mundo fica triste de vez em quando e com ela não poderia ser diferente, mas quando você não conta pra ela o que está acontecendo, ela também fica triste. Sabe por quê? – ele vê que o pequeno balança a cabeça em negativa – porque ela acha que você não confia nela


- Eu confio – o menino diz cabisbaixo, ele olha para a mãe – desculpe, mamãe, eu não quero que você fique triste


- Isso, mocinho – Draco diz com um ligeiro sorriso – você deve confiar na sua mãe, mas quando tiver um pesadelo e quiser conversar comigo, você pode vir sem problema. Só avise a sua mãe antes, não queremos que ela se preocupe, combinado?


- Combinado! – o pequeno se permite sorrir enquanto entra sem cerimônia nos aposentos do loiro – você tem algum doce por aqui?


- Adrian! – Barbara fala enquanto rola os olhos – desculpe, senhor Malfoy. Eu juro que dou educação para esta criança, mas ultimamente está entrando por um ouvido e saindo pelo outro


- Sem problemas – Draco se permite sorrir – crianças são assim mesmo, eu acho. Vamos lá, pirralho, pra sua sorte eu tenho algum doce por aqui – ele diz enquanto entra com o garoto


- Obrigada, senhor Malfoy – Barbara diz – você será um ótimo pai algum dia


Neste momento a mente ferina e sarcástica de Draco Malfoy não encontra palavras e ele apenas assente com a cabeça em agradecimento enquanto vai procurar os doces para dar ao pirralho


XXXXX


Godrig‘s Hollow


Harry caminha pelos local enquanto tenta em vão visualizar algo que lhe traga alguma espécie de memória. Ele segura a mão da sua ruiva, dói ver o estrago que os comensais fizeram, mas dói ainda mais ver que não tem nenhuma lembrança do local onde viveu com seus pais


Embora haja sinais de destruição recente, não se vê pessoas nas ruas o que demonstra que provavelmente o ministério já cuidou dos feridos e recolheu grande parte dos destroços. Harry olha para os amigos de seus pais – eu gostaria de ir aos túmulos, eles estão enterrados aqui?


- Sim – Remo responde – eu levo vocês até lá


- Obrigado – Harry balbucia antes de perguntar – e a casa onde vivíamos?


- Não é muito longe daqui – Remo diz olhando para o rapaz – mas você tem certeza? Não vai ser exatamente agradável...


- Eu preciso – Harry diz encerrando o assunto


- Pois bem, então – Remo suspira – o cemitério fica mais perto – ele aponta na direção de uma velha igreja – fica ali atrás


Harry não diz nada, apenas segue na direção que o licantropo apontou


Ele segue sozinho com os amigos alguns passos atrás, nenhum deles tenta alcançá-lo. É como se soubessem que ele precisa de um pouco de solidão para colocar sua mente no lugar ou pelo menos tentar


O menino que sobreviveu passa pelos portões e logo pode ver algumas lápides. Harry se pega pensando em qual delas repousam os corpos de seus pais, ele mal sente a mão de Remo em seu ombro – ali – o lobisomem diz apontando para um carvalho grande ao norte


O menino que sobreviveu apenas acena com a cabeça, incapaz de falar qualquer coisa. Ele continua seu caminho solitário até o túmulo dos pais


Ele caminha lentamente como se temesse chegar ao local fatídico e se ele for sincero consigo mesmo, ele irá admitir que teme. Harry quase pode ouvir as batidas de seu coração enquanto segue na direção apontada por Remo


Finalmente ele chega até as lápides onde seus pais que repousam lado a lado, ele sente um bolo em sua garganta e uma tristeza imensa acomete seu coração. Tristeza por não ter seus pais, tristeza pela vida que ele poderia ter vivido


Seu coração está angustiado e ele sente vontade de chorar. No entanto seus olhos estão secos, estão secos porque a raiva ultrapassa a tristeza e a sua raiva tem nome e sobrenome. Outras pessoas o chamariam de Voldemort, mas para Harry é Tom Riddle como Dumbledore o chamava


O menino que sobreviveu nota que algumas flores foram colocadas recentemente e fica feliz em saber que alguém cuida dos túmulos de seus pais, ele nota também que não há nada escrito além dos nomes


- Não nos sentimos no direito de escrever – Remo diz e é possível notar a angústia na sua voz – achamos que você gostaria de fazer isso quando estivesse pronto


Harry olha para os amigos de seu pai e assente com a cabeça, ele sabe que esta tarefa é sua. No entanto ele não tem palavras para o momento – quando eu estiver pronto – ele diz


Ele vê que os demais se afastam como se soubessem que Harry precisa de um momento com seus pais o menino que sobreviveu conjura um pequeno buquê e coloca nos túmulos antes de respirar fundo e dizer


- Pai... Mãe... Desculpe por demorar tanto pra vir. No início eu não sabia direito o que havia acontecido com vocês e depois eu... Eu simplesmente não estava preparado, como acho que ainda não estou. Ver vocês aqui faz com que tudo se torne mais real – ele respira fundo – eu gostaria de me lembrar mais de vocês, mas mesmo não me lembrando, eu sinto falta, sinto falta do que a gente poderia ter vivido como uma família. Eu vou sentir falta sempre, eu prometo que vou honrar o sacrifício que fizeram por mim, eu amo vocês


Ele se afasta cabisbaixo e vai ao encontro dos amigos. Ninguém diz nada, Harry segura a mão da sua ruiva e Gina pode notar o suor frio na palma da mão de seu amado


Harry olha para os amigos de seus pais – o local onde eu vivi...


Remo e Sirius se entreolham. Eles sabem que o menino que sobreviveu está abalado, mas eles sabem também que Harry precisa fazer isso. Então o lobisomem diz – nós vamos levá-lo, não é muito longe daqui


O grupo segue silencioso. A caminhada não é realmente muito grande, mas para Harry é como se fossem quilômetros. Tempo mais que suficiente para repassar toda a sua vida, tempo mais que suficiente para imaginar como a sua vida poderia ter sido


- Ali – ele ouve a voz de Sirius Black que aponta para uma casa que em nada poderia divergir das outras se não fosse a história que ela guarda. O menino que sobreviveu respira fundo, ele vai fazer o que deve


XXXXX


Enquanto isso, em Hogwarts


Hagrid ainda tenta processar a conversa que teve com a senhorita Granger e não pode deixar de sorrir. Definitivamente ela é a bruxa mais inteligente que eu conheci. Sim, pode fazer sentido. Ele fala para si mesmo enquanto se prepara para fazer o que ela lhe pediu. O professor de trato das criaturas mágicas sabe que não será uma tarefa fácil, mas ele vai se esforçar ao máximo para cumpri-la, ele tem consciência que é a pessoa indicada para esta missão e ele vai fazer o que for preciso para ajudar


Com este pensamento ele faz um pequeno pacote contendo alguma comida e se dirige à floresta proibida


XXXXX


De volta a Godrig‘s Hollow


Harry olha para a casa que ele gostaria de ter chamado de lar. A sua aparência externa não diz que algo terrível aconteceu lá há dezesseis anos, mas é possível sentir algo no ar. Ou talvez não, talvez seja apenas alguma espécie de cisma sua, ele se vira para os amigos dos seus pais – ela está aparentemente inteira


- É verdade – Sirius diz – eu lembro que quando cheguei aqui tive uma vã esperança que tudo não passasse de um engano, quem vê de fora não tem a mínima noção do que aconteceu aqui. Você quer entrar sozinho?


Por um momento ele pensa em dizer que sim, mas Harry vê que não iria reconhecer muita coisa, ele precisa das memórias dos amigos de seus pais para tentar recuperar algo das suas memórias – não – ele diz – eu quero que vocês entrem comigo – ele respira fundo – quero conhecer um pouco mais da casa onde vivi


Os dois homens assentem com a cabeça e a comitiva entra na casa


A sala é simples, Harry pode notar um sofá que evidentemente já teve dias melhores, ao centro uma mesinha com um vaso que provavelmente sua mãe enchia de flores. Na parede uma estante repleta de livros, que como era de se esperar despertou o interesse de Hermione. Ela olhou para Harry que deu seu consentimento com um acenar da cabeça


Milhões de livros em Hogwarts, mas você não consegue resistir, não é mesmo – Rony fala carinhosamente ao ver a expressão maravilhada da namorada


- Eu falava algo parecido para Lilly – Sirius diz nostálgico – sempre brincava com ela dizendo que ela já havia lido livros pra uma vida inteira na escola


- Conhecimento nunca é demais – Hermione diz enquanto analisa os livros


- Era exatamente isso que ela me dizia – Sirius sorri, ele olha para Harry – a sua mãe foi uma grande bruxa. Um pouco certinha demais no início, mas o lado maroto do seu pai a ajudou a se soltar um pouco. Quando tudo isso acabar eu tenho umas histórias legais pra contar se você quiser


Harry assente com a cabeça incapaz de pronunciar qualquer coisa, ele tenta puxar pela memória por lembranças que porventura tivessem ficado escondidas, em vão. Harry sabe que era muito novo pra ter qualquer espécie de lembrança e isso o frustra neste momento


- Você está bem? – Gina pergunta suavemente enquanto segura a sua mão


- Não sei – Harry responde com sinceridade – é estranho, sabe. Foi aqui que tudo aconteceu e eu acho que esperava me lembrar de alguma coisa, mas não, não lembro de nada


- Você era só um bebê, Harry – Sirius diz – e pra dizer a verdade, eu fico satisfeito que você não se lembre e tenho certeza que seus pais também ficariam. Não é algo que deve estar guardado nas lembranças de um garotinho


- Vendo por este lado, você tem razão – Harry é obrigado a concordar – mas eu gostaria de me lembrar um pouco mais dos meus pais


Antes que qualquer um diga mais alguma coisa eles vêem Harry sentar-se no sofá, seu semblante doloroso só pode significar uma coisa para aqueles que o conhecem bem. Voldemort


Gina senta-se imediatamente ao seu lado – Harry, você está bem – ela pergunta, aflita, sabendo que nada está bem


- Hoje à noite... – o menino que sobreviveu consegue balbuciar


- Ele vai fazer algo hoje à noite? – Hermione pergunta – o que você está vendo? Ouvindo?


- Fique calmo, Harry – Sirius diz – você consegue ouvir mais alguma coisa?


- Não – ele balança a cabeça, agora Harry parece como antes – eu não vejo ou ouço nada mais, pude notar que ele está feliz com o que vai acontecer, mas não tenho a menor idéia do que seja


- Será que ele vai atacar? – Rony diz, ele olha para os demais – precisamos voltar, mesmo sem saber direito o que seja precisamos avisar aos outros


A comitiva assente e se prepara para voltar a Hogwarts e ficar a posto seja lá para o que for que Voldemort esteja planejando...




NOTA DA AUTORA


Finalmente o primeiro capítulo do ano! E como não poderia deixar de ser eu venho aqui humildemente pedir desculpas pela demora. Como já coloquei inúmeras vezes estou com quatro fics e isso faz com que as postagens se tornem mais complicadas.


A história está começando a entrar na sua reta final, não é tipo "vai acabar no próximo capítulo" mas já está ficando próximo. Espero que tenham gostado e prometo escrever sempre que posso, mas se demorar podem ter certeza que não é por desleixo ou descaso com vocês.


Bjos e até o próximo

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