O Natal.



Capítulo 23.
O Natal.


- O quê? - os olhos dele se arregalaram. - Ele quebrou a perna ou o braço, ou algo assim? - perguntou, preocupado.

- Não, Dumbledore não o deixou jogar, por ter usado algo ilegal... as luvas são ilegais.

- E quem vai ser nosso apanhador no próximo jogo? - ele parecia ligeiramente desesperado.

Hermione deu de ombros, voltando a comer.




Era véspera de Natal. Todos os alunos já haviam arrumado suas coisas para irem para suas casas. A neve já caía forte lá fora, deixando tudo gelado. Os arranjos para o Natal estavam sendo montados no Saguão de entrada, por Hagrid. Os alunos menores corriam de um lado para o outro, conversando com amigos, comentando sobre cartas recebidas. Enfim, a maior zorra no castelo.

Hermione chegou ao Salão Principal e se jogou no sofá, não se importando com o barulho dali. Havia acabado de passar na sala do diretor, para entregar os últimos relatórios de monitores. Conseguiu ver Érick um pouco distante dela, conversando com seus amigos. Rony e Luna estavam no outro lado da sala e quando Hermione os viu, sorriu. O amigo parecia feliz. Todos ali pareciam estar felizes. Era tudo fácil para eles. Não precisavam carregar nenhuma responsabilidade grande igual à dela, não precisam se preocupar com seus pais, já que praticamente todos ali podiam ter certeza que eles estariam em casa hoje, felizes, esperando a chegada do filho para passarem o Natal juntos. Apenas ela tinha que enfrentar isso. Levantou-se do sofá depois de pensar em tudo o que podia. Passaria o Natal no colégio, não queria mais incomodar a Sra. Weasley na Toca - Rony havia a chamado para passar o Natal com eles e com Harry, caso o garoto pudesse sair da Ala Hospitalar antes do Natal. Passou o olhar em todo o lugar, encontrando com o olhar de Érick. O garotinho sorriu e foi em direção a ela, depois de falar algo com os amigos.

- Olá, Hermione - a cumprimentou, sorridente.

- Como vai, Érick?

- Tudo bem. Onde você vai passar o Natal? - perguntou, curioso.

- Aqui mesmo - ela voltou ao sofá, se sentando. Ele foi atrás. - E você, vai pra casa?

Ele confirmou com a cabeça, alegre.

- Ah, então eu já estou indo. Feliz Natal, Hermione - ele a abraçou.

- Feliz Natal, Érick.

- Ei, a garota é minha.

O garotinho se soltou de Hermione e se virou, num pulo.

- Eu sei, eu sei - disse, brincalhão.

Harry passou, bagunçando o cabelo dele, como geralmente fazia. Érick voltou aos amigos.

Hermione olhava para Harry e sorria. Talvez ele fosse a única coisa da qual ela ainda se sentia feliz e alegre em ter. Levantou-se e o beijou, quando ele parou em sua frente.

- Ainda bem que já saí de lá, não estava mais agüentando ficar longe de você.

- Eu também não. Você se recuperou rápido - Hermione comentou, voltando a se sentar e o puxou pela mão, para ele se sentar também.

Harry a olhou com reprovação.

- Foi quase uma semana deitado numa cama sem me mexer direito! - a lembrou.

- Eu sei, eu sei. Mas Madame Pomfrey disse que você sairia apenas após o Natal e--

Hermione parou de falar e encarou Harry, se lembrando do que Madame Pomfrey a havia falado.

- Não - resmungou. - Harry! Você fugiu da Ala Hospitalar!

O garoto desviou o olhar e a coçou a nuca. Olhou para a namorada pelo canto do olho.

- É, digamos que sim.

Hermione revirou os olhos e suspirou, encostando as costas no sofá.

- Eu já estou totalmente recuperado! Já consigo andar e tudo! Ela só ia ficar me passando uns remédios horríveis! - resmungou.

- E se você tiver uma recaída? - perguntou, virando-se para ele. - Você bateu a cabeça!

- Mas eu quero passar o Natal com você - disse, abaixando o tom de voz.

Ela novamente suspirou. Não havia sido um argumento muito relevante, já que ela ia passar o Natal em Hogwarts poderia ficar na Ala Hospitalar com ele. Mas a cara que ele havia feito a havia convencido, apesar de ela ter achado que foi um baita de um golpe baixo. Sorriu, meneando a cabeça. Ele sempre a convencia de um jeito ou de outro. O beijou. Separou-se dele quando percebeu que já havia passado de um simples beijinho. Harry se levantou, puxando-a pela mão e a levou para a escada do dormitório masculino.

- Nada disso! - disse, mandona.

Ele revirou os olhos e pegou-a no braço.

- Não grite - pediu, quando viu que ela ia falar algo, ou talvez, mesmo, gritar. Ela o olhou com reprovação.

Abriu a porta do dormitório e jogou Hermione na sua cama. Dessa vez ela gritou.
- É a mesma coisa de dizer: “Grite” - comentou irônico, revirando os olhos.

Ela mostrou a língua. O olhou como se hesitasse algo e Harry percebeu que ela mordia levemente o lábio inferior. O puxou pela camisa e ele caiu de uma vez na cama, já que já estava com uma perna em cima da mesma.
Harry a girou, ficando por cima dela.

- Meu Natal vai ser perfeito - sussurrou, depois de beijá-la.

- Posso fazer dele o pior de todos - ela respondeu no mesmo tom, mas como uma ameaça.

- Tenho certeza que seria impossível.

Ela ergueu a sobrancelha, confiante, desafiadora, sarcástica.

- Não gostei da sua cara.

Ela riu com o tom dele e o virou, o beijando.

A porta do quarto foi escancarada. Separaram-se na hora, dirigindo o olhar para quem entrava.

Neville se virou para a cama de Harry quando percebeu que havia mais gente no quarto. Arregalou os olhos ao observar os dois ali. Harry levantou a cabeça, por trás de Hermione, e estendeu a mão, fazendo um sinal positivo com o dedão. Hermione forçou um sorriso. A cena era constrangedora.

- Err, desculpe - Neville pegou o malão dele rapidamente e saiu do quarto apressado, sem querer mais olhar.

Hermione virou o rosto para Harry, que sorria cinicamente.

- Eu disse que não--

- Você não disse nada, muito menos fez alguma objeção.

Ela cerrou os olhos para ele. Harry apenas levantou um pouco a cabeça e a beijou novamente.

Ela se separou dele, agora se levantando da cama.

- Ok. Vamos descer - disse, se virando para ele.

- Não, Mi - resmungou.

- Pessoas podem entrar aqui, Harry... Meninos podem entrar aqui. Ainda bem que foi apenas Neville que viu.

- A gente fecha a cortina dessa vez - disse marotamente.

Ela encarou-o, perplexa. Achava que ele responderia algo mais correto, como explicar que realmente ali não era um ótimo lugar para uma sessão de amassos. Revirou os olhos e se virou, voltando a andar em direção a porta.

Harry deu um pulo da cama e a abraçou por trás. Hermione se virou. Encarou-o. O olhar de Harry falava mais do que qualquer coisa que ele poderia dizer. Ela apenas balançou a cabeça, negando, enquanto o encarava. Deu um beijo rápido nele e voltou a andar em direção a porta. Harry a seguiu. Desceu as escadas e esperou saírem do Salão Comunal lotado, para falar com ela.

- Desculpe, desculpe. Eu fiz besteira - andou ao lado dela.

- Tudo bem.

- Você não queria, eu sei, desculpe.

- Não é isso, Harry - ela se virou para ele, parando. Ele parou também. - Só não quero agora. Quero apenas aproveitar meu Natal com você.

- Isso. Desculpe por ter forçado a fazer algo que você não quer.

- Você pede desculpa demais - comentou, intrigada. Ele sorriu e ela chegou mais perto dele. - Eu sei que já estamos a um tempo namorando, mas espere um pouco, ok? Não sei muito bem como os garotos se sentem em relação a isso, mas você pode esperar um pouco.

Harry confirmou com a cabeça, sem hesitar. Eles voltaram a caminhar. Ficaram em silencio por um tempo, caminhando sem rumo, deixando serem levados pelos corpos.

- Vamos passar o Natal aqui mesmo?

Hermione confirmou com a cabeça, sem olhar para ele.

- Não quero mais incomodar a Sra. Weasley - ela se explicou.

- Não quer incomodá-la ou está com medo?

- Sinceramente, eu não sei. Eu sei que não foi culpa dela, mas... Não sei. Prefiro prevenir.

Harry balançou um pouco a cabeça, como se concordasse com ela. Continuaram caminhando pelos corredores. Hermione estava pensativa. Soltou um sorriso de canto de boca ao pensar aquilo.

- Kris? - Harry se virou para ela, sem entender. Ela se concentrou, esperando alguma voz ecoar na sua cabeça. - Kris - chamou novamente.

Harry ergueu a sobrancelha.

- Huh? - ele não entendeu.

Hermione ergueu a mão para ele, como se pedisse para ele parar de falar, sem se virar.

- Kris - ela estendeu o som da palavra, como se fosse uma garotinha chamando pela mãe. Hermione parou de andar e cruzou os braços, impaciente. - Droga! - disse, depois de um tempo. - Ela deve estar dormindo - revirou os olhos. Virou-se para Harry, que tinha a sobrancelha erguida e uma expressão de quem não estava entendendo nada. - Depois eu te explico.

Pegou a mão dele e deu meia volta, fazendo o caminho de volta ao Salão Comunal.

- Por que vamos voltar? - perguntou ele, sem entender.

- Eu quero ir lá para fora, brincar com a neve. Mas preciso colocar uma roupa mais quente - explicou-se, calma.

Eles voltaram ao Salão Comunal, que continuava a maior barulheira. Harry como sempre, se arrumou primeiro e esperou a garota lá em baixo. Conversou um pouco com Érick e depois se despediu dele. Hermione desceu logo em seguida e seguiram até o lago, que naquela época já estava congelado.

- Rony vai embora que horas? - Hermione perguntou.

- Depois do almoço - Harry enterrou as mãos nos bolsos. Dirigiu-se para debaixo da árvore mais próxima, coberta de gelo. Afastou um pouco a neve com os pés e se sentou na grama congelada, puxando Hermione.

Gemeu, junto de um arrepio, quando se encostou ao tronco da árvore, que também estava frio. Colocou Hermione entre suas pernas e ela deitou o corpo sobre o peito dele. Ficavam mais quentinhos daquela maneira. Ela fechou os olhos, sentindo o corpo dele, sentindo o vento frio bater pelo seu rosto, sentindo o frio debaixo das pernas, por ter um pouco de neve ali. A mente de ambos se abriu para o mundo desconhecido, que eles viajavam no pensamento, passando por coisas que jamais imaginariam que passariam. Era como se ficassem leves e pudessem voar, sem nenhuma preocupação. Escutavam apenas o barulho das folhas das árvores batendo umas nas outras, e o frio já não era sentido da mesma forma como antes. Harry respirou fundo.

- Você gosta de mim, Mi? - ele perguntou, inocentemente.

Ela ajeitou a cabeça no ombro dele, de modo que conseguisse observá-lo.

- Por que a pergunta?

- Só quero saber.

- Você não me perguntaria só por perguntar, já que você tem a prova do que eu sinto por você.

Harry continuava a olhar para frente, pensativo, enquanto escutava Hermione falar. Não houve nenhum comentário da parte dele.

- Eu te amo, Harry. Te amo mais do que à minha própria vida.

Ele abaixou um pouco a cabeça e a encarou. Soltou um sorriso fraco no canto da boca e levou o rosto de encontro ao dela, selando seus lábios. Ele trouxe a cabeça de volta.

- Tenho tido sonhos estranhos - começou, vagamente. Suspirou, voltando a olhar para frente. - Sempre o mesmo lugar escuro. Como se eu estivesse lá, vendo através de algo que se movimentava rapidamente, como se estivesse seguindo algo muito rápido. Parece besteira, mas me assusta.

Hermione parecia refletir, depois de escutar atentamente.

- E qual é o lugar?

- Me lembra bastante a Floresta Proibida.

- Tem algo a mais?

- Depois tudo fica branco e aparece um horário em vermelho.

- Horário? - ela ergueu a sobrancelha, sem entender.

- Sempre 18:00 horas. E depois... - ele parou, hesitante. Não sabia se era certo contar que ela já havia aparecido no sonho. - E depois você aparece. Antes não era assim, mas é a terceira vez que acontece, contando com essa noite.

Abaixou um pouco o olhar para ver a reação dela. Não parecia chocada ou preocupada, e aquilo intrigava Harry. Não o fato dela não parecer se importar muito, mas o fato que de ele achava que algo estava errado e de que achava que algo ruim aconteceria com Hermione. Não sabia explicar porque sentia isso, simplesmente tinha isso dentro dele.

- E eu estou com medo - desabafou, encarando-a.

Ela abaixou um pouco a cabeça. Eram apenas sonhos, mas quando se tratava de Harry sonhar, o assunto era suspeito. Não sabia em que lado acreditar, se no de que nada aconteceria porque eram apenas sonhos, ou se no de que Harry poderia estar certo sobre estar com medo. Realmente não sabia o que falar ou fazer. Queria apenas passar o Natal com o garoto que amava, sem nenhuma preocupação ou responsabilidade para carregar, era pedir muito? Mas nem daquele jeito conseguia fingir que tinha uma vida perfeita. Algo tinha que atrapalhar ou se colocar no meio deles dois.

- Eu não sei o que dizer ou o que fazer - desabafou. - Podem ser apenas sonhos...

- Ou pode ser coisa de Voldemort - Harry completou para ela e ficou feliz em perceber que ela não se importava mais com o nome mencionado daquela maneira.

Hermione confirmou levemente com a cabeça. Harry tocou o queixo dela e o levantou. Ela o encarou, e ele a beijou, talvez para passar segurança.

“Mi?”

Ela se separou de Harry, fazendo o garoto ficar meio perdido.

- Estou ocupada no momento - disse, tirando o olhar dele.

- Começou - comentou ele, revirando os olhos.

“Só quero te desejar Feliz Natal”

- Feliz Natal para você também, Kris - sorriu, como se ela estivesse na sua frente.

“Onde vão passar o Natal?” , a voz saiu meio abafada, ela parecia estar comendo alguma coisa.

- Hogwarts, eu e o Harry.

O garoto olhou para ela de repente, ao escutar seu nome. Ergueu a sobrancelha.

A mente de Hermione ficou vazia por um tempo. Supôs que Kris estava pensando em algo.

“Tem certeza que querem ficar sozinhos aí? Tudo bem que vocês querem a privacidade de vocês para fazer sabe-se lá Merlin o quê--“

- KRIS! - Hermione a repreendeu e pôde ouvir uma risada. - Tenha mais respeito comigo!

Harry encostou a cabeça na árvore e fechou os olhos, para esperar a conversa acabar.

“Tá bom. Enfim, querem passar o Natal aqui em casa?”

Era uma boa idéia, por quê não?

- Harry - ele abriu os olhos e abaixou um pouco a cabeça. - Você quer ficar em Hogwarts mesmo?

- Tanto faz - deu de ombros. - Para onde você quer ir?

- Casa de uma amiga.

- Essa que habita a sua mente? - perguntou divertido.

- É, essa mesmo.

- Tudo bem.

“Depois do almoço, então?”.

- Perfeito. Até logo, Kris.

“Tchau, Mi”.

E a mente de Hermione voltou a ficar silenciosa. Desencostou do corpo de Harry, como se fosse se levantar, mas ele a puxou de volta.

- Eu estou com frio - resmungou, antes que ela perguntasse algo.

Ela virou o corpo para ele, o máximo que conseguiu.

- Então a gente toma um banho bem quentinho. Que tal?

- Nós dois, juntinhos? - perguntou marotamente.

Hermione mordeu o lábio inferior, como se estivesse pensando.

- O banheiro dos monitores está disponível no momento - disse, como uma alternativa.

Ele fez uma cara de como se tivesse gostado da idéia. Hermione deu um beijo rápido nele e se levantou num pulo, começando a correr.

- Ei, não vale! - se levantou, empurrando as mãos contra a árvore para pegar impulso e correu atrás dela.

Harry a alcançou um pouco antes de entrarem no castelo. Subiram juntos para o Salão Comunal. Cada um foi para o seu dormitório pegar suas coisas para irem tomar um banho.

- Em qual dos dois? - Harry perguntou, quando já andavam em direção ao banheiro.

- Você no masculino e eu no feminino - respondeu como se fosse óbvio.

- Mas você disse que--

- O banheiro dos monitores estava disponível. Não disse exatamente em qual dos dois - sorriu, vitoriosa.

Ele cerrou os olhos para ela. Hermione encolheu os ombros, como se não soubesse de nada para fazer em relação a ele. Entrou no banheiro feminino, deixando Harry lá.


Rony pegou seu malão, descendo as escadas do dormitório masculino. Já havia passado do almoço. Tinha combinado com Gina que iriam para casa após o almoço. Encontrou a irmã no Salão Comunal, conversando com Harry e Hermione. Já tinha se despedido de Luna, que tinha saído pela manha.

- Vão ficar aqui mesmo? - eles se viraram para Rony.

- Não. Vamos para a casa de uma amiga minha - Hermione respondeu.

- Então, feliz Natal para vocês.

Hermione se levantou e abraçou Rony. Harry fez o mesmo.

- Qualquer coisa que quiser falar comigo, mande uma coruja, ok? - ela disse quando abraçou Gina. - Feliz Natal, Gi.

- Feliz Natal, Mione.

Harry esperou a namorada se soltar de Gina para ir abraçar a amiga. Deu um beijo na bochecha dela e a abraçou forte.

Hermione olhou pelo canto do olho.

Rony pegou suas coisas e saiu pelo buraco do Retrato. Gina o seguiu, olhando para trás, sorrindo. Algo passou pela cabeça de Harry - a imagem de Hermione furiosa com ele, talvez por ver que Gina sorria na direção dele e ele continuava olhando para a ruiva. Sorriu com o pensamento, fazendo parecer que também estava sorrindo para Gina.

É, Hermione um dia ainda mataria Harry por ele fazer essas coisas.

O encarou, séria, quando os irmãos já haviam saído. Ele ergueu a sobrancelha.

- O que foi? - perguntou sem entender, com um quê de divertimento devido à cara dela.

- O que foi?! - ela repetiu. - O que você fez.

- O que eu fiz?! Desejei feliz Natal para ela - disse como se fosse óbvio.

- E sorriu de volta quando ela sorriu para você! - disse irônica.

- Eu não sorri para ela - ele ergueu a sobrancelha.

- Ah, claro. Sorriu na direção de Gina, e Rony já havia saído! - Harry a encarava sem entender e, ao mesmo tempo, com uma expressão divertida no rosto. Ela relaxou, ficando mais calma. Suspirou, fechando os olhos. Sabia que estava começando com uma crise de ciúmes, ainda mais por causa da sua melhor amiga, mas não estava conseguindo controlar aquilo. - Você sabe muito bem como ela olhou para você assim que ela perdeu a memória - ela disse num fio de voz, depois de mais calma. Não havia esquecido aquele dia.

- Eu só estava sendo educado - manteve a voz calma e se aproximou dela, a enlaçando pela cintura. Deu um beijo rápido nela e a encarou, querendo saber o que ela tinha para falar.

Hermione sabia que não podia falar aquilo, já que Gina mostrou claramente gostar de Draco. Mas ela escutou quando a garota disse que Harry seria um namorado perfeito e não havia tirado aquela cena da cabeça. Cruzou os braços e virou o rosto, para não encarar Harry.

- Eu escutei o que ela falou, eu vi o jeito que ela te olhou e o interesse que ela teve em você.

- Hermione, esquece o que aconteceu! - pediu, calmo. - Isso já faz tempo, ela já deve ter esquecido. Eu tenho você, não preciso da Gina para ser feliz - tentou convencê-la.

- Você sorriu para ela - insistiu Hermione.

- Eu não sorri para ela! - disse, indignado.

A garota soltou um suspiro pesado, desenlaçando-se dos braços de Harry.

- Me deixa um pouco sozinha, ok?

- Ah, não, Mi! Eu não fiz nada de errado dessa vez - disse se virando, acompanhando-a com o olhar.

Ela ignorou, ou pelo menos não demonstrou interesse algum em voltar. Continuou o caminho até escadas e as subiu.

Ele se virou depois de observar as escadas por um tempo, pensativo, perdido. Por que ela não acreditava quando ele dizia que não havia sorrido para Gina? E por que todo aquele drama por um simples sorriso? Uma coisa que ele nunca entenderia na vida era a cabeça das garotas, especialmente a de Hermione.

Ela entrou no quarto e empurrou a porta atrás de si, sem se virar. Pegou Bichento, que estava em cima da sua cama, e se sentou, colocando o animal em seu colo.

Sua cabeça viajou um pouco. Estava atordoada, desolada, ligeiramente triste. Precisava dos seus pais, era uma necessidade. Ficava vulnerável sem eles. Por mais que antes estivessem a quilômetros de Hogwarts, davam-na força. Eles se igualavam ao sol... Por mais que Hermione não os visse todos os dias, sabia que estavam felizes em casa, tranqüilos. Mas quando ela tinha certeza que não estavam ali, sua vida mudava. E isso foi o que aconteceu. Tornou-se vulnerável, frágil. E o medo de perder Harry também estava se apoderando dela mais e mais.

Encarou, apreensiva, o curativo.

- Você vai conseguir, Hermione... Você vai conseguir.

Ela ergueu novamente a cabeça, como se estivesse pronta para qualquer coisa. Segurou Bichento firme no braço esquerdo e com a outra mão segurou a varinha, fazendo com que seu malão flutuasse. Atravessou o Salão Comunal, avisando rapidamente a Harry para encontrá-la em frente ao Cabeça de Javali, e passou pelo buraco do Retrato. Ele ainda tentou chamá-la carinhosamente para, talvez, conversar sobre o que estava acontecendo, mas ela fingiu não escutar.

Subiu com pressa as escadas do dormitório masculino depois de receber o recado. Fuzilou-se mentalmente por não ter arrumado tudo. Pegou o pijama e o jogou dentro do malão. Fez o mesmo com a capa de invisibilidade que estava ao pé da cama. Pegou a ultimas coisas que faltavam, e a gaiola de Hedwig, e fechou o malão.

Saiu do, agora vazio, Salão Comunal. E em poucos minutos já se encontrava vagando numa Hogsmeade gelada. Avistou o Cabeça de Javali e se dirigiu até lá.

Hermione estava sentada em uma das cadeiras lá dentro. Harry sentou-se de frente a ela.

- Quando vamos?

- Apenas esperar Kris chegar. Ela nos levará - respondeu sem encará-lo.

Harry se limitou a ficar calado. Ela havia pedido para ficar um pouco sozinha, não podia fazer mais nada a não ser obedecer.

O silêncio foi quebrado por um barulho que fez os dois se assustarem. Olharam para o lado e pararam o olhar na mulher de olhos verdes brilhantes. Ela sorria.

- Vamos?

Hermione se levantou, seguida de Harry, e sorriu para ela. Kris deu uma olhada em Harry, desviando o olhar quando ele encontrou o dela. Virou-se para Hermione.

“Acho que nunca te disse, mas seu namorado é um gato”.

Hermione lançou um olhar de censura a ela quando escutou a voz ecoar na sua cabeça. Kris sabia que ela estava brincando. Virou-se num giro para Harry.

- Olá, Harry - ela estirou a mão e o garoto a apertou. - Não sei se sabe, mas meu nome é Kristin... Pode me chamar de Kris. - Ele fez um balanço de cabeça, enquanto sorria. Ela chegou um pouco mais perto dele. - Hermione fala muito de você - disse baixo, suficientemente alto para Hermione escutar. Harry abriu um pouco mais o sorriso, talvez achando graça no tom dela.

Hermione deu um empurrão nela.

- Vamos logo.

- Ah, esperem - ela se virou para os dois novamente. - Me deixe levar logo essas coisas - ela pegou as malas de Hermione e de Harry. - Volto logo - e sumiu, junto com as malas, com um “Crack” assim que falou.

Voltou antes que eles conseguissem falar alguma coisa entre si, se é que havia algo.

- Ótimo. Segurem as minhas mãos - Kris ergueu os braços e os garotos seguraram. - Lá vamos nós.

Não deu tempo nem deles se preparem e já sentiram algo como se tivesse esmagando eles. Era uma sensação horrível, desconfortável. Harry abriu os olhos depois de perceber que já estava em terra firme. Estava num lugar que mais parecia uma sala de estar. Havia dois sofás, algumas poltronas e uma mesa de vidro no centro. Hermione soltou Bichento, que foi andar pela casa.

- Sua casa? - Harry perguntou, ainda dando uma olhada no local.

- Sim. Ah, antes que Hermione faça um escândalo - a garota se virou para Kris, receosa, para saber o que ela tinha a falar -, vou avisando que vocês dois vão dormir num mesmo quarto.

Hermione corou na mesma hora, enquanto seu queixo caía levemente, talvez pela surpresa e descrença. Não que fosse algo muito extraordinário - já havia dormido no mesmo quarto de Harry nas férias, na Toca -, mas quando havia um dedo de Kris no meio, ela precisava duvidar de algo. Harry ficou indiferente, mas Kris tinha certeza que ele havia gostado bastante da idéia.

- Tudo bem? - ela perguntou por fim, e Harry teve certeza que o sorriso que ela exibia no rosto tinha um quê de malícia.

O garoto deu de ombros, respondendo algo que ela entendeu como “Beleza”. Antes que Hermione respondesse, Kris deu uma olhada em Harry e depois na garota, percebendo algo... Eles estavam ligeiramente distanciados e quase nenhuma vez se entreolharam. Encarou Hermione, cerrando um pouco os olhos. Harry viu apenas a namorada meneando um pouco a cabeça e Kris lançando um olhar mandão a ela. Era estranho, porque era sempre Hermione que lançava esse mesmo olhar a ele e a Rony.

- Agora - Kris disse, segundos depois, deixando Harry um pouco confuso.

Hermione suspirou, dando uns passos na direção de Harry, e o pegou pela mão. Dirigiu-se até as escadas, escutando Kris falar algo como “Primeira à esquerda”.

Ela entrou no quarto primeiro.

- Fecha a porta - pediu, se virando, e vendo Harry entrar. Ele obedeceu e se virou para ela, encarando-a, ainda sem entender. - Não leia minha mente - ela disse, mas ele soube que não se referia a ele. - Quero privacidade pelo menos agora.

A mente de Hermione voltou a ficar vazia, passando apenas um zumbido de silêncio. Ela se voltou para Harry, sem saber como começar a falar.

- Ela quer que a gente se entenda - explicou, vendo a confusão dele.

- Tudo bem - ele disse baixo, balançando um pouco a cabeça.

Enterrou as mãos nos bolsos, esperando Hermione começar a falar. Ela parecia meio perdida.

Foram segundos insuportáveis de um silêncio constrangedor. Harry percebeu que ela não ia começar, então tratou de fazer isso por ela.

- Ta - ele começou -, eu não sei o que aconteceu hoje, mas eu não quero continuar assim - disse com a voz firme. Aproximou-se dela.

Ela suspirou.

- Eu também não quero - ela pausou, como se tivesse algo entalada na garganta. - Você gosta de mim, Harry? - ela repetiu a pergunta que ele próprio havia feito á ela. O tom de voz fraco, sensível.

Ele pensou por um momento. Os olhos dele cravados nos dela.

- Mataria Voldemort sem varinha pra ficar com você - disse simplesmente. Talvez fosse a frase que conseguisse mais representar o que ele sentia.

Foram três longos segundos de silêncio.

- Me promete uma coisa, então? - ele confirmou levemente com a cabeça. - Todos os dias antes de dormir você diz que me ama?

- Pra sempre?

Ela confirmou com a cabeça.

- Mesmo se um dia não estivermos juntos--

- Isso não vai acontecer - a interrompeu, serio.

- Eu sei tudo bem - pausou. - Até o dia em que eu morrer.

- Prometo.

- Ótimo - sussurrou.

Ela relaxou. Não esperava, sinceramente, que aquilo demorasse muito a acontecer. Mas ainda precisava explicar algo a ele.

- Queria pedir desculpas por hoje.

Harry deu uma olhada rápida ao redor. Não era muito legal ficar em pé, quanto mais se fossem conversar por um longo tempo. Segurou a mão de Hermione e a conduziu para a única cama que havia no quarto, ligeiramente grande. Sentou-se e Hermione fez o mesmo.

- Eu estou com medo, Harry - ela começou, levantando o olhar. - Já perdi meu pai, minha mãe sumiu... E estou com medo de perder você também. Sei lá, eu não sou a mesma sem eles. É como se alguma coisa agora conseguisse me puxar para baixo, algo que antes não acontecia.

- Esse foi o motivo de ter acontecido aquilo há pouco? - ela confirmou levemente com a cabeça. - Eu também sinto isso - ele confessou. - Já não tenho meus pais e meu padrinho, você é a única coisa boa que resta na minha vida agora.

Aquilo foi suficiente para colocar um sorriso no rosto de Hermione.

- Obrigada, Harry - ela se arrastou um pouco na cama e o abraçou.

- Não tenha outra crise de ciúme, por favor - o tom dele estava entre preocupado e divertido.

Ela sorriu, achando graça.

- Tudo bem - e desencostou do corpo dele.

Harry a observou por uns poucos segundos, antes de seus lábios se encostarem. Ficou apenas naquilo.

- Estamos em paz?

- É, acho que sim - ela se levantou, puxando Harry. - Temos coisas para arrumar e presentes para comprar - explicou. - Então, vamos logo.

Harry percebeu, o humor dela havia mudado, talvez apenas por causa daquela pequena conversa e do gesto simples do garoto. Se antes ela estava preocupada e com medo, agora queria apenas aproveitar e curtir.

Kris olhou para a escada quando escutou passos vindos da mesma.

- Bem, aquele vai ser o quarto que vocês vão dormir. Se quiser outra cama, Hermione, eu coloco.

- Ok - ela se limitou a responder aquilo. Se queria ou não, isso ela não respondeu.

O resto da tarde passou ligeiramente rápido. A árvore de Natal foi montada num canto da sala, cheia de bolinhas vermelhas e azuis, e com brilhos que Hermione insistiu em colocar com magia.

O tempo estava gelado, bem típico de época de Natal. A neve caiu no final da tarde, deixando a rua e o telhado das casas cobertos por uma fina camada de neve.

Quando o sol caiu por completo, as casas foram mostrando suas belezas. Várias luzinhas foram acendendo quase que simultaneamente por praticamente toda a rua, deixando-a completamente colorida.

Os carros continuavam imóveis, estacionados nas calçadas, enquanto poucas pessoas vagavam pela mesma. Pelas janelas podia-se ver entre brechas um clarão provocado, talvez, por lareiras dentro das casas.

Hermione ajudou Kris a preparar o jantar, já que havia dito que homem não prestava na cozinha - quando Harry se ofereceu para ajudar.

- Vocês compraram presentes? - Kris perguntou saindo da cozinha, sendo acompanhada por Hermione.

- Não - a garota respondeu vagamente se lembrando. Virou-se rapidamente para Harry.

- Não, eu também não comprei nada - respondeu logo devido ao olhar da namorada.

- Ótimo, então amanha pela manha acordem cedo para irmos ao Beco comprar nossos presentes, ok?

- Acordar cedo, Harry - Hermione enfatizou, o encarando.

- Tudo bem - ele rolou os olhos sem que ela percebesse.

Kris voltou para a cozinha minutos depois para dar uma olhada no frango e Hermione subiu dizendo ter que ir ao banheiro. Harry acompanhou a mais velha, precisava saber de algo.

- Kris, onde você conheceu a Hermione?

- Minha tia conhece a mãe dela, e me chamou uma vez para ir à França com uma amiga dela, a mãe de Hermione. Ela e o pai também foram. Nos conhecemos lá.

- Ah - Harry parecia ter entendido. - Mas - ele abaixou um pouco a voz para continuar -, você sabe o que aconteceu com os pais dela, não sabe?

Ela parou de mexer na comida e virou-se para Harry.

- Não, não sei.

Ele deu uma olhada cozinha afora para certificar que ela não estava por perto.

- O pai está morto e não se têm muitas noticias da mãe dela. A notícia saiu no Profeta Diário.

- Merlin! Não leio muito o Profeta Diário, mas... Ela deve estar arrasada - completou, preocupada.

- Agora, nem tanto. Mas antes foi uma tortura para ela... E para mim também.

Kris tirou o frango do fogo, como se ele já estivesse bom, e o colocou na pequena mesa da cozinha.

- Isso faz tempo? - ela perguntou voltando-se a Harry.

- Soubemos no dia do aniversário dela - ele comentou, se lembrando do ocorrido.

Kris ia falar alguma coisa se não tivesse escutado Hermione descendo as escadas de volta.

- Sobre o que estavam conversando? - ela perguntou quando entrou na cozinha.

- Nada de interessante. Harry estava me ajudando com os últimos preparos - Kris esboçou um sorriso, enquanto observava Hermione com cautela. Tentou imaginar a garota naquele momento...

Espantou os pensamentos da cabeça... Era Natal! Nada de tristeza ou preocupações.

- Kris, preciso falar com você um instante - disse ansiosa quando se lembrou.

“É sobre o curativo” , pensou.

- Estou subindo. – anunciou Harry - Suba se precisar.

- Tudo bem, obrigada - ela recebeu um breve beijo nos lábios e depois viu Harry subindo as escadas.

Hermione se dirigiu até o sofá que havia na sala e se sentou. Kris fez o mesmo.

- Então? - ela perguntou curiosa.

A garota tirou um papel velho de dentro do bolso da calça.

- Talvez seja a única que eu não consigo fazer - Kris foi passando o olhar pelo pergaminho. - Preciso dela para completar--

- O quê? - ela perguntou num sussurro incrédulo mais para si do que para Hermione.

- O quê o quê?

- Hermione... - Kris ergueu o olhar para ela, preocupada, indignada. - Você... Eu não... - pausou, organizando as palavras. - Não vou fazê-la - disse, decidida, negando com a cabeça.

- Kris, por favor! - ela implorou. - É a única!

- Hermione! - a mulher a encarou nos olhos. - Você tem 17 anos!

- Eu sei, e daí? - ela perguntou como se não importasse.

- Brugtood* - ela sussurrou voltando o olhar ao pergaminho. Hermione continuou calada. - Não posso fazer isso com você.

Kris se levantou do sofá, jogando o pergaminho no colo de Hermione, e ficou de costas para a garota.

- Você sabe o que eu estou fazendo, você sabe o bem que eu talvez poderei trazer--

- E também sei o que pode acontecer de ruim! - a mulher concluiu séria se virando. Hermione sabia ao que ela se referia. Engoliu em seco.

- Você vai fazer a poção para mim ou não? - ela perguntou pausadamente.

Kris balançava a cabeça negativa enquanto ela falava. Talvez tentasse espantar todos os pensamentos que invadiam sua cabeça, os mesmos que ela achava que poderia acontecer com Hermione.

- Não, não, não - dizia para si mesma. - Alem de tudo, é muita responsabilidade. A poção é complicada, é preciso se fazer com muita cautela...

- Por isso que eu trouxe para você fazer. Eu confio em você, Kris - Hermione se levantou.

- Hermione. Entenda. É muito complicada, sem contar que é perigosa e você pode--

- Eu sei o que pode acontecer! - ela gritou, já sem paciência, repreendendo-a.

Escutou a porta do quarto de cima se abrindo.

- Tudo bem aí? - Harry perguntou calmo aparecendo na escada. Não as desceu.

- Tudo, Harry, não se preocupe - Hermione respondeu sem se virar, encarava Kris. - Já estou subindo.

Ele lançou um olhar de dúvida para as duas e adentrou o quarto novamente.

Hermione pegou o pedaço de pergaminho, agora no chão, e se dirigiu ate Kris. O estendeu.

- Pense no assunto. Você sabe melhor do ninguém que preciso dela - disse com a voz baixa.

Kris pegou o pergaminho e viu Hermione subindo as escadas e entrando no quarto logo em seguida. Meneou a cabeça... Aquilo ia dar confusão.

- Por que gritou? - Harry perguntou quando ela fechou a porta do quarto.

- Me descontrolei - ela disse rápido passando por ele. Jogou-se na cama, com a cabeça enterrada no travesseiro.

- Já está mais calma?

O murmuro positivo dela foi abafado pelo travesseiro. Sentiu logo em seguida a cama sendo afundada ao lado dela, significando que ele havia se sentado.

- Seu braço... Já cicatrizou?

Hermione tirou a cabeça do travesseiro e se virou, para encarar Harry. Por um momento achou que ele estava ouvindo a conversa.

- Ainda está cicatrizando.

Silêncio.

- Ah, Mi! - ele se lembrou de algo. - Você ficou de me explicar como consegue falar pela mente com essa sua amiga - ele ergueu a sobrancelha ao ver que ela sorria. - Não me diga que também é Legilimente e nunca me contou!

Ela revirou os olhos, achando graça na tentativa de Harry de falar com o tom sério. O puxou pela mão, se levantando da cama, e saiu do quarto.

- Ele quer saber como você consegue falar comigo pela mente.

Kris se virou, guardando o pergaminho de Hermione no bolso traseiro da calça. Parecia ligeiramente atordoada. Olhou para Harry e este estava com uma feição curiosa.

- Sentem-se.

Eles obedeceram. Kris ficou na poltrona de frente ao sofá.

- Eu sou Legilimente, Harry, isso você já deve saber - ele confirmou com a cabeça, pedindo para ela continuar. - Bom, mas eu também posso passar informações para alguém pela mente, graças a uns bons livros que eu tenho. E, bem, minha amizade com Hermione ficou mais forte quando ela cresceu, ficou muito apegada a mim e talvez seja a única pessoa com quem eu realmente converso bastante. Já que eu sabia do que eu podia fazer, precisava apenas ter uma ligação com ela para que funcionasse. Conversei com ela, expliquei e ela aceitou. Nós precisávamos trocar apenas umas gotas de sangue. E agora consigo “falar com ela via mente” - sorriu.

- Que estranho - Harry ergueu a sobrancelha.

- Lógico, tem o lado negativo da história. Tirando que ela pode “olhar” minha mente na hora que ela bem quiser - e lançou um olhar mortífero para Kris, que apenas retribuiu com um sorriso cínico -, o resto é bem legal - disse, sarcástica.

- Sim, sem contar que cansa um pouco. Tenho que estar descansada para conseguir me comunicar com ela.

- Mas, tirando a parte de estar descansada, vocês podem ser falar quando bem quiserem?

- Não - Kris falou. - Eu tenho que ter a sorte de ler a mente dela justamente na hora que ela quiser “falar comigo”, entende? E, certamente, não é toda hora que eu fico vagando pela mente de Hermione - comentou falsamente.

- E nem precisa também - a garota acrescentou séria.

Harry riu com o tom dela.

- Por que nunca me contou sobre ela?

- Nos víamos poucas vezes. Comecei a conversar realmente com ela do ano passado pra cá - explicou.

Kris olhou para o seu relógio de pulso. Parecia estar ansiosa com algo ou esperando alguma coisa.


O resto da noite passou ligeiramente tranqüilo. Harry já havia entendido tudo sobre o fato de Hermione poder se comunicar com Kris e até que gostou da idéia. Pena que ele não é Legilimente. Kris mostrou o quarto onde ela trabalhava, fazendo as poções. Ficava em baixo da escada e era um pouco pequeno. Frascos de todos os tamanhos e cores estavam espalhados por todo o lugar, com uma mesa no centro cheia de pergaminhos em cima. Não havia uma luz muito forte ali, dando um ar mais sombrio ao local. Harry gostou, diferente de Hermione, que ficou totalmente fascinada.

Perto da meia noite Kris arrumou a mesa e eles jantaram, enquanto, depois de alguns minutos, Harry fazia a contagem regressiva até meia noite, e gritaram logo em seguida “Feliz Natal”.

- Gostou da noite? - Hermione perguntou quando já entravam no quarto.

- Adorei - ele sorriu. - Só de ficar ao seu lado no Natal já faz a minha noite ficar perfeita.

Ela sorriu, envergonhada, enquanto depositava um beijo suave nos lábios dele.

Hermione entrou no banheiro, alguns segundos depois, sozinha - depois de um Harry muito insistente pedir para tomar banho com ela.

Ele ficou esperando do lado de fora, por longos dez minutos.

Ela saiu com uma camisola de seda branca - não transparente - que ia até acima do joelho, descalça, enquanto enxugava o rosto com uma toalha pequena. Harry teve uma ligeira dificuldade de retirar o olhar sobre ela.

- Pode ir tomar seu banho, Harry - Hermione comentou corando, enquanto fazia o garoto despertar de seus devaneios, e jogou a toalha para ele.

- Ah, tudo bem - ele gaguejou um pouco, enquanto segurava a toalha que havia caído em suas mãos.

Hermione riu, enquanto se dirigia até seu malão e pegava um livro para ler.

Encarou o curativo quando se ajeitou na cama, o livro fechando apoiado nas pernas cruzadas. Precisava da poção que dependia de Kris para ser feita. Tantas vezes releu aquele pergaminho querendo ao menos tentar fazê-la, mas tinha que admitir que havia superado suas habilidades de fazer poção. Então, já que era o trabalho de Kris fazer aquele tipo de coisa, era melhor não arriscar em fazer por conta própria. Começou a ler, com a cabeça ainda um pouco longe. Começava a se concentrar quando a porta do banheiro foi aberta.

Harry se jogou na cama, já de pijamas, limpo e cheiroso. Balançou o cabelo molhado, jogando água para todos os lados.

- Harry! - Hermione o repreendeu virando o rosto para o lado. Ele pegou o livro da mão dela e colocou na mesinha que havia ao lado dele.

- Nós vamos dormir agora - disse quando viu que ela ia falar alguma coisa. - Temos que acordar cedo, lembra? - usou como desculpa.

- Tudo bem, tudo bem - ela revirou os olhos, se deitando na cama.

Pegou sua varinha ao lado da cama e apagou a luz do quarto com um balançar da mesma. Ajeitou-se, ficando de costas para Harry. Sentiu a cama mexer um pouco e logo depois sentiu os lábios de Harry no seu pescoço.

- Boa noite, Mi.

- Boa noite, Harry.

- Eu te amo - ele disse perto do ouvido dela, fazendo uma corrente elétrica passar por todo o corpo da garota.

Ela sorriu, fechando os olhos, murmurando algo como “Eu também”. Uma mão de Harry mexia no cabelo dela enquanto a outra puxava a garota mais para perto dele.


Estava tudo branco novamente. A floresta apareceu. Agora estava tudo escuro, não conseguia enxergar direito. Era como se estivesse lá. Pelo menos via com os olhos de alguém que estivesse lá. O lugar começou a se mover. Árvores e arbustos por todos os lados. Parecia que estava vendo através de uma câmera que se movimentava rápido pelo lugar. Tudo ficou branco novamente. Alguma coisa começou a se aproximar. Estava longe, mas à medida que se aproximava percebia-se o que era. A mesma hora: 18:00, em vermelho. A imagem de Hermione apareceu... Ela sorria ternamente. O rosto dela foi mudando, e depois ela parecia estar triste. De triste passou a ser desespero. Sumiu. Um zumbido ecoou e tudo ficou branco de novo.

Harry abriu os olhos num impulso. Agradeceu a Merlin por não ter se sentado rápido, pois viu que Hermione descansava a cabeça no seu peito. A cicatriz ardia, mas se fizesse qualquer movimento brusco acordaria Hermione. Virou a cabeça para o lado para conseguir olhar o relógio. 8:10. Esperaria mais um pouco para acordá-la. Fechou os olhos, tentando espantar a dor. Respirou fundo e relaxou. Subiu um pouco mais na cama e Hermione se mexeu. Sorriu. Percorreu o olhar por todo o corpo dela. Parecia um anjo dormindo. Nada de pesadelos, nada de preocupações naquele momento. Só percebeu algo que definitivamente não queria ter visto. A roupa de Hermione não estava devidamente no lugar, deixando suas pernas totalmente descobertas e à vista. Ele piscou algumas vezes e tentou por duas vezes não prestar atenção naquilo.

- Hei - ele sussurrou (decidido a não olhar mais para os membros inferiores da garota), e ela se encolheu um pouco mais. - Dorminhoca.

Ela sorriu, ainda de olhos fechados, e se ajeitou no corpo de Harry.

- Ta tão bom aqui - ela disse quase que inconscientemente.

- São 8:10 da manhã.

- Kris já veio aqui? - ela permanecia de olhos fechados.

- Não, mas ela deve estar esperando a gente. Tenta falar com ela via mente - Harry completou divertido.

- Eu ainda estou dormindo.

- Ah, claro, e conversando comigo - ele disse irônico.

- É meu subconsciente.

Harry revirou os olhos. Inclinou-se, com um esforço um pouco maior, e seus lábios se encontraram. A partir dali ele teve certeza que ela não estava dormindo, já que entreabriu a boca para que Harry aprofundasse mais o beijo.

Ela abriu a porta devagar, esperando que eles estivessem dormindo. Só foi colocar a cabeça para dentro do quarto e ela viu a cena. Certamente, dormindo seria a ultima coisa que fariam naquilo momento. Kris fechou a porta do mesmo jeito que abriu, falando algo como “Estão ocupados no momento”, para o homem que estava ao seu lado.

Harry descolou seus lábios dos dela. Ela abriu os olhos e sorriu.

“Ah, como o amor é lindo”.

Hermione revirou os olhos ao escutar a voz sonhadora de Kris invadir sua cabeça. Esqueceu no segundo seguinte que Kris havia, quase que com certeza, aberto a porta do quarto, quando viu que Harry ainda a encarava, bem próximo ao rosto dela, de modo apaixonado. Carregava aquele sorriso perfeito na face, os olhos verdes, que brilhavam de modo incrível, e o cabelo mais bagunçado que já havia visto, e, com certeza, o mais bonito de todos.

Selou seus lábios novamente, agora por uma duração maior. Hermione se virou, já que estava praticamente deitada por cima de um Harry totalmente torto, aprofundando o beijo. Ele a girou com uma das mãos em sua cintura. O coração de ambos parecia querer sair pela boca. Lutavam contra o fato de que estavam na casa da amiga de Hermione e que ela poderia entrar - novamente - no quarto e ver aquela cena... Que não seria nada conveniente. Mas quem disse que eles se importavam?

Tirando o fato de estarem numa cama, sozinhos num quarto, numa sessão de amassos, Hermione diria que estava tudo tranqüilo e normal.

Harry escorregou a mão lentamente da cintura da garota, com a intenção de chegar na perna dela, antes que uma outra mão a parasse no meio do caminho. Ele separou os lábios dos de Hermione, o olhar preocupado e ao mesmo tempo assustado, talvez com o que Hermione faria em seguida. Ela o olhava de todas as maneiras - menos com raiva ou, sequer, irritada.

- Desculpe - ele disse num sussurro.

Ele fez menção de girar para sair de cima de dela e da cama, mas a garota o puxou levemente pela camisa, fazendo-o encará-la sem entender. Pôde jurar que viu o canto de Hermione subir levemente, num pequeno sorriso. Ergueu a sobrancelha. Ou estava ficando doido e imaginando coisas, ou Hermione estava pedindo para ele continuar aquilo.

- Feliz Natal, Harry - ela sussurrou e novamente se beijaram.

Kris entrou em casa com umas sacolas na mão, seguida daquele homem. Deixou os presentes em cima do sofá e subiu as escadas ao constatar que eles ainda não haviam descido.

Abriu a porta para ver Hermione acabar de fechar o zíper da calça e, logo em seguida, Harry colocar a cabeça para fora - a mão no cabelo despenteado -, talvez para ver quem havia entrado no quarto.

- Estão prontos?

- Sim. Harry? - Hermione perguntou, virando-se para a porta do banheiro.

- Estou tentando dar um jeito no meu cabelo - ele respondeu num tom derrotado.

A garota foi até o banheiro e puxou Harry pelo braço.

- Você não vai conseguir, então não tente - Kris riu com o tom dele.

Desceram. Kris foi à frente. Hermione ergueu a sobrancelha ao ver um homem de costas, talvez esperando por eles. Olhou para Harry e ele tinha a mesma expressão que a dela. Pararam, enquanto a mulher seguia ate ele.

- Fred? - ela chamou e o homem de virou.

Sim, Hermione o conhecia. Harry também. Ele entrelaçou sua mão na da mulher que acabava de se postar ao seu lado.

- Professor Frederick? - Harry perguntou e Hermione teve certeza, já que havia ficado em duvida quando o viu de costas.

- Srta. Granger e Harry Potter - ele sorriu. - Que surpresa... Não sabia que eram namorados - comentou, observando as mãos unidas.

Harry abaixou um pouco a cabeça, corando, e coçou a nuca, enquanto Hermione lançava um sorriso tímido a ele.

- Acho que vocês já conhecem meu noivo, Frederick.

- Sim, ele é o nosso professor de Educação Física - Harry comentou.

“Noivo?!”

- Ah, rapazes, será que poderiam nos dar licença por um segundo? - Kris perguntou já empurrando os dois, escada acima, enquanto observava Hermione que parecia processar a informação. - Esqueci que antes de sairmos preciso falar algo com a Mi, e é bom que você, Harry, pode contar ao Fred a história de você e a garota aqui.

Eles subiram resmungando alguma coisa como “Mulheres...”.

- Como assim noivo?! Você não me contou nada!

- Era surpresa - respondeu após revirar os olhos.

Hermione gritou. Um daqueles gritos finos de entusiasmo e felicidade. Pulou em cima de Kris.

- Você vai se casar! - quase gritou.

- Sim, eu vou - a mulher ficou aliviada pelo fato da garota não ter brigado com ela por só ter dado a noticia naquela hora.

- E para quando está marcado? Como ele te pediu em casamento? Onde e como será a festa?

Ela perguntou tudo de uma vez, deixando a mulher meio desnorteada.

- Hermione, calma, ok? - ergueu as mãos. - Nos casaremos apenas ano que vem - a expressão da garota não foi uma das melhores. - Porque, como eu já decidi, vou esperar Harry completar 17 anos para que vocês sejam os padrinhos.

O queixo de Hermione caiu. Piscou algumas vezes.

- Padrinhos? - ela repetiu.

- Depois eu te explico melhor, ok? Vocês precisam comprar os presentes!

- Não! - a garota a segurou quando ela fez menção de subir as escadas. - Informações principais primeiro, depois explicações mais detalhadas.

- Tudo bem - revirou os olhos. - Eu quero que a festa seja numa praia, algo bem simples. E... - ela parou por um momento - Sobre como ele me pediu em casamento, é que eu estou preocupada.

- Como assim? - Hermione cerrou os olhos em dúvidas, sentando-se no sofá atrás de si.

- Bom, nós já sabemos que vamos nos casar, é lógico, ele me perguntou para ter certeza da resposta. Mas, é que... Ele quer do jeito tradicional, sabe? Pedir ao pai a mão da filha em casamento.

- E o que você vai fazer? - a morena perguntou preocupada. - Vai falar com o--

- Não sei. Minha mãe morreu quando eu tinha a sua idade e meu pai... Bom, ele nem sabe que eu existo - deu de ombros, sorrindo tristemente.

Jogou-se na poltrona ao lado do sofá que Hermione estava.

- Acho que está mais do que na hora de você encará-lo, Kris. Ele é uma pessoa boa, vai entender.

- Não acho que vá.

- Claro que vai! Afinal, a culpa foi da sua mãe, não foi? Você não teve culpa dela ter fugido e não ter dito nada a ele... É só explicar. E acho que ele vai gostar de saber que tem uma filha - Hermione sorriu.

- Depois de 23 anos? Não sei, talvez. Fred sabe da história e acha que é uma boa chance para nos relacionarmos. Mas, eu não sei como eu vou reagir quando estiver na frente dele, cara a cara, dizendo simplesmente que ele é meu pai!

- Você vai conseguir Kris! - a garota continuava sorrindo, talvez passando forças a ela. - Você sempre consegue!

- Vamos ver, então - ela também sorriu.

Meia hora depois da conversa, estavam os quatro andando pelo Beco Diagonal, Hermione já com uma sacola na mão - um pijama decente que Harry fez questão de comprar para ela. Dirigiam-se à loja Dedos de Mel para comprar a caixa de chocolate que Harry tanto queria.

Hermione arregalou os olhos.

- Você vai comprar isso tudo? - apontou para o monte de doces que ele colocou no balcão.

Ele sorriu, confirmando com a cabeça. Entregou seis galeões ao balconista.

- E, não! Você não vai pagar nada daqui - pegou a sacola e saiu da loja. - Também comprei para você, não se preocupe.

- Eu não queria, mas como você comprou, eu não vou negar - sorriu interessada.

- Não, não. Só depois do almoço - disse tirando a sacola de perto das mãos dela.

Ela cerrou os olhos para ele, que apenas sorriu cinicamente como resposta.

Logo voltaram para a casa de Kris. Hermione logo em seguida pensaria em dar uma passada na Toca para falar com todos... E o faria apenas depois do almoço, depois de devorar aqueles deliciosos chocolates, e depois de passar mais um tempo com Harry.
____________________________________________________________

N/A: vocês me perdoam? =x
eu sei que eu demorei UM MÊS pra postar esse capítulo, mas eu não tive como postar antes!
são 21 páginas de Word!
8O, *pira*
não sabia que tinha escrito tanto. x.x

Capítulo betado! Qualquer erro, culpem o beta. ;D

tipo, domingo [dia 26] eu já tava com o capítulo feito. o problema foi que deu um curto-circuito aqui em casa depois que mainha pôs o secador na tomada, e não funcionava nenhum dos dois computadores! a maiorias das tomadas daqui de casa ficaram inutilitáveis.
tá, segunda e terça eu não consegui entrar na net [eu sou proibida de usar computador na semana ¬¬]. entrando hoje, quarta-feira, ESCONDIDA, pra postar.

e, tipo, eu tou na oitava série. época de teste agora... um saco! ¬¬
ai tem que estudar e talz... -.-
mas, enfim, ta aí. =)
ignorem QUALQUER erro, menor ou maior que seja, porque eu NÃO reli esse capítulo.
=x
vou reler amanhã... ^^'

sobre o nome da poção: *Brug vem Bridge [em português 'ponte']
Tood vem de Death [em português 'morte']
"ponte da morte"?
aí vocês interpretam como quiser. u.u

eu acho que eu sou a única que ENCHE a fic de briga de casal principal.
cara, vocês contaram quantas brigas H² existem na fic? OO
é, eu também não. ^^'
e eu sou a única que no mesmo capítulo bota uma briga e uma reconciliação. ¬¬
sim, sim, prometo que a próximo seraá... a penúltima. ^^'
terão mais duas! (Y)
acho que é. ôo, de acordo com meus rascunhos aqui, é isso mesmo. ;D

bom, não tenho a menor idéia de quando sai o capítulo 24, até porque eu nem comecei a escrever ainda. por isso que não vai ter prévia... =x
mas fiquem passando por aqui que quando eu começar a escrever o capítulo eu coloca lá no Menu da Fic. =)

aaaah, so pra avisar que a fic terão 31 capítulos, ok? =)
tava fazendo ontem, mais ou menos, quantos capítulos ela teria e o que aconteceria em cada um deles. tudo anotado. =)

aaaaah, digam tudinho o que vocês acharam do capítulo, ok?
o que aconteceu no quarto?
o que acharam de Kris/Frederick?
quem é o pai da Kris? O.O
ela vai fazer a poção pra Hermione?
e o que pode acontecer com a garota se der errado?

ah, ah.
só pra avisar que na comunidade da fic [tá no Menu] eu fico avisando as coisas, beleza? ;D

hoomi, falem aí. ;D
té próximo capítulo.

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