Lonely Walk

Capítulo 21 – Lonely Walk

-Porque está fazendo isso? – perguntou Harry ainda sem entender, mas Lupin se aproximou dele e lhe disse em uma voz baixa.
-Ela estava morrendo. Nightwalker a transformou, ela agora precisa de sangue. – disse muito triste. Ron se levantou e se postou ao lado de Harry.
-Não entendo. Se ele a transformou... – Ron engoliu em seco ao dizer aquelas palavras, mas continuou – Pelo que me lembro de suas aulas somente o sangue do vampiro transforma.
-Ele derramou a única gota que precisava para isso. Mas para que não morra durante o processo o recém transformado precisa de sangue humano. – respondeu Gina entre soluços ainda olhando Mione sugando o braço de Snape com muita fúria.
Harry sentiu os olhos arderem e suas lágrimas caíram, manchando seu rosto claro, havia perdido mais alguém amado na guerra que tinha certeza que já tinha terminado.

Abriu os olhos e os sentiu queimar, o quarto estava com uma luminosidade excessiva, tentou outra vez mais os fechou logo em seguida. “Que porcaria de luz é essa?” pensou ela tentando se sentar na cama, mas sentiu severas dores em todos os ossos, parecia que tinham sido esmagados por um caminhão. Sentiu uma mão encostar na sua e o perfume da pessoa lhe afirmou quem era, Severus estava ali, aguardando que ela acordasse. “Mas porque sinto tanta dor?” pensou ela tentando se lembrar de alguma coisa da noite passada, mas não conseguiu se lembrar de nada.
As mãos de Snape se postaram em seu rosto e ela sentiu que ele colocava algo em seus olhos, passou a mão e descobriu que era um óculos, sorriu pelo canto da boca e de leve abriu os olhos. A iluminação não estava mais tão forte mas ainda sentia um leve desconforto nos olhos, viu que eram óculos escuros e sorriu mais uma vez estranhando ter que usar eles dentro de casa. Olhou Snape ao seu lado e esse estava sentado em uma cadeira ao seu lado, com o rosto sério e os braços cruzados na frente do corpo.
-Olá, estranho. – disse ela em um tom calmo e sereno.
-Oi. – respondeu Snape no mesmo tom que usava na época em que ele era professor dela e não nutria nenhum sentimento por ela, ou por qualquer outra pessoa.
-O que foi? – perguntou sentindo até os músculos da boca doerem.
-Não se lembra? – perguntou sério e a olhando com aqueles óculos escuros.
-Não. – tentou se ajeitar na cama e gemeu um pouco com a dor, mas insistiu e se posicionou com as costas recostadas em um travesseiro – O que aconteceu?
-Você encontrou um membro do clã Behind. – viu ela continuar a lhe olhar sem expressar nada.
-Não entendi. Clã Behind? – perguntou ela tentando se lembrar de onde já tinha ouvido aquele nome, mas a dor não estava ajudando sua mente a trabalhar.
-Sim, o clã de Londres. – ele se levantou nervoso e começou a andar em círculos na frente da cama.
-Tem como você ser mais evasivo? – perguntou sarcástica, colocou a mão no óculos e o ia tirando quando ele parou de andar e lhe avisou:
-Não os tire, seus olhos não vão suportar a luz, mesmo com todas as janelas fechadas. – dizendo isso ele balançou a mão devagar na direção das janelas fechadas e cobertas tanto pelas cortinas quanto por um pano. Ela estranhou o pedido e recolocou os óculos e tentou entender o que ele estava falando, mas nada fazia sentido.
-Não entendi. O que é o clã Behind? E porque não posso tirar esse óculos escuros já que estou dentro de casa e as janelas estão totalmente cobertas? – perguntou já se irritando com aquela falta de informação.
-Clã Behind é o maior clã de vampiros de Londres. – ele disse de cabeça baixa essas palavras, não queria ver o rosto dela quando entendesse o que queria dizer.
Hermione sentiu o sangue gelar, se é que fosse possível fazer cm que geassem mais, desde que acordara se sentia com frio, agora havia entendido o que ele estava dizendo. “Como não percebi? A dor, a luz incomodando meus olhos, o clã Behind que tem como mestre Nightwalker... Eu o encontrei ontem, Merlin, ele me fez...” mas ela não conseguiu terminar o próprio pensamento com tamanha foi sua surpresa e medo.
-Eu sou... – ela começou mas parou no meio da frase, sentiu um enjôo forte lhe atingir e fechou os olhos inclinando a cabeça para trás, sentia o gosto de sangue na boca e isso só lhe fazia querer vomitar.
-Sim. – respondeu ele a meia pergunta dela, viu quando ela reclinou a cabeça e se sentou ao lado dela na cama, tomando sua mão fria.
Hermione abriu os olhos e lhe olhou quando ele pegou sua mão a olhando com tristeza, sentia um vazio grande em seu peito e começou a chorar. “Não, não pode ser...” mas as lembranças começaram a invadir sua mente, Nightwalker se aproximando dela na praça, o golpe que ele lhe dera, a beco onde acordou e viu o corpo daquele garoto em cima do seu lhe mordendo o colo perto do seio esquerdo, o sorriso dele quando se afastou um pouco do corpo dela e cortando o próprio pulso com o longo canino e deixando apenas uma gota cair em sua boca, ele indo embora e a deixando no chão sujo daquele beco, o pergaminho com a letra de Narcisa em um recado para Severus, tudo lhe veio na mente como um turbilhão e ela se levantou da cama em uma velocidade quase que sobre-humana colocando a mão sobre o colo perto do seio e sentiu um relevo ali, aonde estava um pequena ferida em marca de dentes pontiagudos.
Snape a olhou assustado temendo mais um acesso, qual ela teve pelo menos 20 nas últimas 3 horas, sempre batendo os braços para todos os lado e ficando cada vez mais pálida, sabia o que aquilo significava, ela estava se transformando, seu corpo estava lutando pela vida, seu coração lutando para continuar batendo, mas já era tarde demais, ele sabia como isso funcionava. Primeiro os órgãos começam a parar de funcionar um à um, por isso o transformado sentia tanta dor e se debatia tanto, depois a pele se tornava cada vez mais pálida e fria, era porque o sangue parava de fluir nas veias, depois vinha a pior parte, o coração começava a diminuir de ritmo parando lentamente, nesse momento o transformado tinha os piores dos acessos, e quando o coração parava totalmente estava tudo terminado e a fome começava, sendo o pior dos efeitos.
-Hermione? – arriscou ele ainda a olhando parada no mesmo lugar com aquele óculos escuros, uma blusa branca e uma calça de moletom. Gina tinha se oferecido para dar um banho nela porque ela estava com um cheiro insuportável e agora tinha sangue lhe manchando a face, os cabelos e o peito. Depois do banho Gina a trocou e a deitou na cama, quando ele entrou no quarto viu Gina com a cabeça encostada nas mãos da amiga e essa chorava muito, sentindo que tinha perdido mais uma amiga nessa luta ridícula.
-Foi a mando dela... – disse Hermione em uma voz rouca, igual aquela que tinha usado no dia em que sofreu o ataque, a voz que deixou Sirius preocupado.
-Se acalme. – pediu Severus ainda parado no mesmo lugar com certo receio. Tinha medo de ir até ela e acabar por fazendo algo errado e piorar a situação, mas tinha que dizer algo porque aquele ódio estava inundando o quarto em uma rapidez assustadora e vinha com mais força do que antes.
-Sinto gosto de sangue na minha boca. Não é de Nightwalker. Quem me alimentou? – perguntou ela ainda naquela voz dura e rouca fazendo Snape tremer um pouco antes de responder.
-Eu. Lhe dei meu sangue. Você estava morrendo e seus acessos iriam começar... – respondeu baixo e quase sem voz.
-Obrigada. – ela tinha invertido os papeis, ela agora era a professora fria e dura e ele o acuado e frágil aluno. Viu ela tirar o óculos e piscar várias vezes tentando se acostumar com a luz – Já sofri todas as transformações?
-Sim. – respondeu ele se levantando e indo devagar até ela. Ela lhe olhou, mas aquele não era o olhar de “sua” Hermione, era o olhar de uma outra mulher e ele sabia que o vampirismo nada tinha a ver com aquilo – Querida... – ele tentou abraça-la, mas ela se afastou para o lado e se postou do outro lado da cama.
-Não me toque. – pediu voltando a ser Mione. Sentiu o peso das pernas e caiu sentada no chão colocando as mãos no rosto sentindo os olhos queimarem mais do que no normal quando chorava. Snape andou até ela e se sentou ao lado dela, tentou passar a mão pelo ombro dela, mas ela se afastou e lhe disse por entre as mãos:
-Por favor, não me toque.
-Eu te amo, não faça isso. – disse Snape abrindo seu coração pela primeira vez daquele jeito, tentando fazer a mulher que ele amava voltar, mesmo que ela estivesse perdida fizesse muito tempo.
-Por favor, me deixe sozinha. – pediu ainda com as mãos no rosto. Severus ainda tentou encostar nela mas dessa vez ela estourou se levantando com raiva no olhar – JÁ MANDEI SAIR.
Severus se assustou e se levantou a olhando mais um pouco, mas decidiu sair, talvez deixa-la sozinha para pensar fosse melhor. Andou até a porta do quarto e a abriu, antes de sair a olhou e em uma voz baixa disse:
-Não esqueça que te amo. Não importa o que aconteça. – e fechou a porta atrás de si.
Hermione ainda olhava para a porta e sentia raiva, mas não era de Severus e sim de si mesma, estava se transformando e ele só tentava ajudar, não tinha razão para querer afasta-lo.
“Você sabe que tem, agora você é uma criatura da noite, pertence a outro mundo.” disse uma voz estranha na cabeça dela, qual ela nunca tinha ouvido antes.
“Mas ele me ama, quer ficar do meu lado mesmo que eu seja diferente.” essa voz ela conhecia bem, era a dela conversando com a outra voz que sabia que também era dela, mas era de seu novo ser.
“Me diga como vocês vão ficar juntos? Ele pode sair ao sol sem se incomodar com ele, pode se alimentar normalmente, pode construir uma família. Já você não, não pode sair ao sol com tanta calma, sabe que o sol lhe incomodará e lhe fará fazer ficar fraca e até a machucará, só pode se alimentar de sangue, e a única coisa que ele pediu você não pode dar.”
“Família.” respondeu a outra voz muito triste.
“Exato. Agora sendo imortal já não pode mais lhe dar um filho. Mas sendo imortal pode ir atrás daquela vadia que tentou lhe matar, matou seus pais e machucou seus amigos tanto amados.” essa voz pareceu mais firme.
Hermione se cansou daquela conversa e fechou os olhos tentando fazer com que se calassem, mas elas estavam certas, jamais poderia dar um filho para ele. Levantou a cabeça e com grande esforço foi até o banheiro, nem pensou em se olhar no espelho queria apenas lavar o rosto e sair daquele quarto, fumar um pouco para clarear a mente, já que aquele vicio não iria mais lhe matar poderia fumar quantos desse vontade.
Passou por sua bolsa e pegou um maço fechado, o abriu e o acendeu tragando devagar, foi até o lado da cama e pegou o óculos escuro que estava no chão e o colocou. Abriu a porta do quarto e saiu descendo as escadas, ouviu vozes vindo da sala e resolveu que era hora de enfrentar todos de frente, não ia adiantar ficar fugindo, já estava feito e nada poderia ser feito para que a situação fosse contornada.
-Mione. – Harry disse indo na direção da amiga que tinha aparecido pela porta da sala da lareira fumando e com o rosto sem expressão alguma por detrás dos óculos escuros.
Os outros também se dirigiram até ela, somente Remus e Snape ficaram no lugar onde estavam conversando, na verdade era um monologo, Remus falava e Severus escutava porque sua mente ainda estava no andar superior naquela mulher que tanto amava. Ela deu um meio sorriso para os amigos e se sentou no sofá ficando de frente para os dois mais velhos, já os mais novos se sentaram no chão e no sofá ao lado dela.
-Como está? – perguntou Gina que estava sentada no chão com a mão repousando no joelho da amiga calada.
-Até que bem. – respondeu sem expressar isso. Colocou o cigarro na boca e tragou mas quando foi soltar a fumaça sentiu algo lhe cortando os lábios. Harry que estava do seu lado direito viu sangue saindo de seu lábio inferior e perguntou:
-O que foi isso? – mas a cena piorou, Mione colocou a mão no lábio e com a língua capturou o sangue que saia do pequeno ferimento, então sentiu dois logos dentes. Abriu a boca devagar e passou o dedo indicador neles ouvindo um gemido assustado de Gina, ela exibia longos e afiados caninos.
-Já começou a se manifestar. – disse Lupin um pouco sério demais. Hermione parou o exame na própria boca para olhar para ele e logo depois fechou a boca, com medo de estar assustando seus amigos. Evitou olhar Severus porque sabia que iria começar a chorar assim que o visse com aquele olhar triste.
-Será que já consigo me transformar por inteiro? – perguntou Mione olhando para Remus, mas esse somente balançou a cabeça dizendo que não sabia.
Ela se levantou e jogou o cigarro na lareira e retirou o óculos escuro, ainda continuou de costas para todos e tentou se acalmar, passou a língua pelos dentes ainda sentindo o gosto do sangue de Severus em sua boca, se lembrou de como seria bom comer um pouco, estava começando a ficar com fome, sentiu o corpo estremecer e devagar abriu os olhos e de imediato já sentiu a mudança. Sua visão se tornou estranha, via tudo de forma diferente como se estivesse usando algum óculos com super visão, seu olfato também estava diferente, sentia todos os cheiros possíveis, desde perfumes daquelas pessoas na sala até cheiros de comida que vinham das casas ao lado. O corpo relaxou e ela virou a cabeça para os lados estralando o pescoço em um barulho alto.
Severus a olhava com medo, sabia que ela estava tentando se transformar e tinha receio de que se ela conseguisse não fosse capaz de se segurar e tentar atacar alguém. A viu se virando devagar, ela agora exibia os dentes pontiagudos em um sorriso afetado, os olhos antes castanhos agora tinham um azul claro estranho e suas pupilas tinham se transformado em fendas lembrando os olhos de um gato. Não podia negar, ela estava linda daquele jeito, mas sabia muito bem que esse era um poder do vampirismo, a pessoa esbanjava sensualidade e um desavisado caia em sua armadilha sem pensar duas vezes.
Remus bufou nervoso e fez com que todos olhassem para ele, mas Severus já sabia o que estava acontecendo, afinal Vampiros e Lobisomens se odiavam desde o começo das eras e ter dois no mesmo cômodo era algo inusitado e perigoso.
Hermione se virou na direção de Lupin e lhe lançou um sorriso ainda maior, como que o provocando, mas esse se levantou e saiu pela porta que ia para a cozinha.
-Acho que nunca me senti tão bem. – disse a vampira parada no meio da sala olhando para os amigos.
-Volte. – pediu Draco em uma voz triste.
-Voltar? – perguntou ela agora indo na direção do homem loiro, Snape segurou a varinha na intenção de desacorda-la antes que ela pudesse ferir algum deles – É melhor, não é?
Eles viram que ela fechou os olhos e fez uma careta, na certa forçando os dentes para dentro os fazendo sumir. Quando abriu os olhos outra vez eles estavam em sua cor e formato natural, os dentes também. Severus soltou a varinha na poltrona e disse em uma voz firme e dura:
-Podem nos dar licença? – pediu e os jovens lhe atenderam, deixando o casal sozinho.
-Não fale nada. – pediu ela se sentando no sofá de frente para ele.
-Não posso ficar em silêncio. Pedi sua mão em casamento e ainda quero me casar com você, não importa o que tenha acontecido. – disse firme a olhando nos olhos.
-Não posso lhe dar o que me pede.
-O que quer dizer com isso? – perguntou ele se levantando e indo até ela parando em sua frente.
-Não posso lhe dar uma família. – respondeu em um tom choroso, mas rapidamente impediu que as lágrimas caíssem.
-Claro que pode. Não seja boba. – a repreendeu como fazia na época da escola e ela riu baixo.
-O bobo aqui é você. Já não sou mais humana, não posso mais ter filhos, porque diabos ainda quer ficar comigo? – ela se levantou gritando essas palavras para ele.
-Porque te amo, não importa o que você seja. – e a puxou para um abraço e sentiu os braços dela se enrolando no seu corpo e o apertando.
-Estou com medo, Severus. Muito medo. – disse ela afundando a cabeça no peito dele e sentindo seu perfume, começou a sentir os olhos queimarem como se estivessem pegando fogo, mas sabia que eram lágrimas que escorriam dele, se assustou ao abrir os olhos e ver a camisa que ele vestia manchada com sangue. Ele a olhou e a puxou outra vez para um abraço tentando acalma-la e lhe explicou em sua voz rouca e suave:
-Já não podes mais chorar lágrimas normais, agora quando chorar deixará gotas de sangue saírem. – e a puxou para um beijo apaixonado tentando deixa-la cada vez mais calma e conseguindo.

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