"Muito Sugestivo..."



O calor era absurdo aquele dia, o suor escorria na minha nuca. Insuportável. Abri a janela na tentativa de que algum vento esquecido resolvesse entrar por ela.

Deu certo uma ou duas vezes, depois disso o vento cessou e o abafado de antes retornou ao seu trabalho que, aparentemente, era me matar sufocada.

- Andrômeda! Estou falando com você. – disse mamãe ao meu lado secamente.

Murmurei um “Sim?” e ela voltou a mostrar-me o diagrama da festa.

Olhei para Narcisa que estava na frente de mamãe, mexia distraidamente com os anéis, por vezes detendo-se no dedo anelar da mão esquerda.

Bellatrix à minha frente parecia estranhamente angustiada. Mirava a paisagem e poderia apostar que não via nada, seu pensamento estava longe.

O que mais me deixava confusa era que eu parecia ser a única a sentir-me mal com o calor.

- Os Lestrange sentarão na mesa mais próxima à nossa, juntamente com os Crabble... – e foi justamente nessa parte que voltei a olhar para os pergaminhos distendidos ao meu lado.

- Por quê? – perguntei rapidamente interrompendo-a.

Mamãe odiava ser interrompida.

- Porque os Crabble são parentes, sua avó se sentira ofendida. Já os Lestrange, bom... Bellatrix é a razão, já que você fez o favor de terminar com o outro. – respondeu rispidamente.

Bellatrix pareceu acordar quando o sobrenome de Rodolfo foi dito, sua agonia agora era bem mais aparente. Arrumou os cabelos nervosamente e cruzou as mãos, que na minha opinião servia para tentar esconder que estava tremendo. Uma fina linha de suor próxima à raiz do cabelo que ela fez questão de enxugar assim que percebeu.

- Aliás, Bellatrix, seu pai está esperando que Rodolfo faça o pedido a qualquer momento. – falou mamãe em um tom casual.

- Pedido? Rodolfo vai fazer o pedido? – Narcisa foi fuzilada pelo olhar ameaçador de Bellatrix.

- Provavelmente. – sibilou ela sem tirar os olhos da jugular de Cisa.

- Para o seu próprio bem é melhor que ele faça isso. E logo. Seu pai andou escutando alguns comentários desagradáveis na reunião dos conselheiros.

A respiração dela se tornou mais acelerada, e contraiu os lábios tanto que eles foram transformados em uma linha branca.

- Com quem Andrômeda vai dançar? – perguntou minutos depois com a voz mais relaxada.

Pronto. Era disso que ela precisava, desviar o assunto.

Olhei-a com um misto de confusão e raiva que ela não notou, ou não quis notar, o que era bem mais provável.

- Com Evan...

- Por quê? – ainda não havia desviado os olhos da minha irmã mais velha, ela sustentou firmemente.

Talvez seu olhar pedisse ajuda, ou paciência. Mas não estava inclinada a entender qualquer que fosse o motivo.

- Porque você não tem namorado. – disse Narcisa sorrindo.

- Exato. – confirmou mamãe anotando alguma coisa importante nos papeis.

- Por que não Sirius? Ou Tio Alfardo?

- Porque seu pai e eu fazemos gosto. – não havia gostado do tom na sua voz. O par de frios olhos azuis fixou-se em mim, olhos de águia de mamãe. Deteve-se por meio minuto esperando outra interrupção, que eu era inteligente o bastante para não fazer.


Abri mais a janela. Maldito fosse o calor.


§ * § * §


- Andrômeda, quero conversar com você. Agora.

Assenti com a cabeça e deixei o livro que estava lendo em cima da mesa. Narcisa olhou-me assustada, papai raramente conversava particularmente conosco.

- Sente-se. – disse quando chegamos à biblioteca.

Ele não estava com uma cara muito alegre, de quem iria dar boas notícias, lentamente fechou as mãos e inclinou-se para frente, deixando metade da face na penumbra. Seus orbes negros brilhavam, seu nariz empertigado e o queixo duro.

Indicou a mesa à sua frente com três envelopes pardos com o emblema de Hogwarts. Pousou a mão sobre o que estava no meio.

- Sabe o que é isso?

Fiz que sim com a cabeça.

- São os boletins de vocês. – continuou como que não tivesse visto meu aceno. A voz era lenta e pausada, mas não era de forma alguma tranqüilizante.

- Pensei que só chegavam ao fim das férias. – a minha boca foi bem mais rápida que meu cérebro, de maneira que não pude conter o pensamento.

Papai sempre dizia que era preciso guardar os nossos pensamentos para nós mesmos. É uma besteira verbalizá-los sem uma razão definida. Não se pode dar a vantagem de ninguém conhecer nossos pensamentos, e era por isso que ele costumava me chamar atenção.

Algumas vezes eu me deixava levar pela situação e falar sem necessidade.

“Palavras são poderosas, e só podem ser ditas quando se tem certeza do que quer. Não podem ser desperdiçadas.”

Olhou-me claramente insatisfeito enquanto eu mordia os lábios por dentro.

- E chegam, mas pude trazer o de vocês antes. Quer ver o seu?

Então papai estendeu-me o envelope do meio, ainda lacrado. Tentei não deixar transparecer o tremor leve em minhas mãos mexendo o cabelo.
Enquanto abria a carta ele acendeu um cigarro de cravo. Odiava aquele cheiro.

Estranhei. Papai não costumava fumar na nossa presença.

- Encontrou alguma coisa interessante?

Meu sangue gelou, as mãos suavam tanto que tive a sensação de que em pouco tempo o pergaminho se dissolveria.

A nota de Transfiguração, a mais baixa de toda a minha vida, e podia apostar que de muitas gerações de Blacks também.

- Eu... eu... sinceramente. – inspirei procurando ar naquele escritório. Não havia mais do que o abafado de antes e o cheiro de cravo. – Não sei como... como isso pode...

- Não te chamei aqui para escutar desculpas. Essa foi a pior nota que já vi em toda a minha vida, nem Narcisa conseguiu tal proeza. Por pouco, muito pouco, eu teria que suportar a vergonha de ter uma filha reprovada...

- Papai, eu sinto muito...

Ele olhou-me encolerizado. Tanto que senti uma pontada aguda entre os olhos. Calei-me imediatamente.

- Eu não sei o porquê. E não estou interessado em saber. Se foi por causa daquele inútil Lestrange mais novo, não me importa. Pelo menos nisso você soube dar um fim... – e nesse ponto ele parou de falar palavras articuladas, ou eu parei de entender.

Papai gritava. A saliva saltava da sua boca, e parecia querer ferir-me com elas.

Nunca havia o visto daquela maneira. Gritar não era típico, absolutamente. Ele nunca precisou gritar para se fazer entender. Isso era descontrole, e ele não era descontrolado.

O pânico atingiu-me de tal maneira que não conseguia respirar direito. Medo. Eu tremia de medo.

- Não me interessa se a sua mãe pensa que mulheres só servem como cabides de boas roupas e jóias. Filha minha não tira notas como essas... Eu não admito. Suas notas vão subir. TODAS. – voltou depois algum tempo esbravejando coisas ininteligíveis.

- Sim. – respondi de cabeça baixa.

- Estude. E se aceitar um conselho, Evan é muito bom em Transfiguração, e está hospedado aqui. Agora saia...

- Sim senhor.

E de repente meu corpo parecia pesado demais. Meus braços eram quilos de puro aço que eu não conseguia levantar.

Dobrei o papel. E antes que me levantasse da cadeira ele dirigiu-se a mim outra vez.

- Não me pergunte como, mas de alguma maneira Dumbledore acha uma boa idéia que você seja monitora. Aqui está seu distintivo... – e colocou em cima da mesa.

Peguei-o imediatamente, mas não tive tempo de analisar muito. Não conseguia ficar mais tempo na presença dele, precisava sair.


Aquela não foi a primeira vez que chorei enquanto estava em casa. Mas a primeira que eu chorei com raiva. Mais do que raiva, muito mais. Era uma fúria que eu sentia de mim mesma. E do meu pai também, era a primeira vez que sentia raiva dele, raiva e medo.

§ * § * §

Um baile de máscaras.

“Muito sugestivo” resmungou Bella.

Desci ao salão pela segunda vez, perto da meia-noite e fiquei esperando do lado de fora.

A visão que se tinha das pessoas era curiosa. Todas pareciam disformes, as cores das roupas se misturavam às luzes pálidas das velas dentro do salão.

Estranhamente não me sentia como pensava que iria me sentir. Sempre imaginei que ficaria, no mínimo, agitada. Mas não. Era uma sensação esquisita de nada. De vazio.

Mamãe andava de um lado para o outro esbravejando instruções aos elfos sobre o que quer que fosse.

Aquela noite não fazia calor, não o abafado insustentável do outro dia. Uma brisa suave distraia meus olhos fazendo as folhas secas e rotas dançarem a alguns passos de distância dos meus sapatos.

Não era o vestido que eu queria ter tido. Mamãe decidiu praticamente tudo sozinha.

Um forro pesado e um tecido diáfano em cima, para dar o efeito de leveza, alças finas “Verão, Andrômeda!”, branco “Sempre!” com alguns cristais no todo. Um espartilho tão apertado que quase não respirava direito “Para não mostrar suas saliências”.

- Venha Andrômeda, está na hora!

A musica parou.

Senti mais de 300 pares de olhos sobre mim e foi aí que senti um peso nos meus ombros. Mas era diferente, não me sentia nervosa, era só desconfortável estar sobre os holofotes. Andei a passos rápidos e maquinais.

Um par de olhos me chamou a atenção entre os demais, Sirius, e com um sorriso que cheirava confusão. Ansiedade e preocupação ao mesmo tempo, e eu sabia que essa não era uma combinação agradável.

Ele havia ficado furioso quando soube que Evan seria meu par. E por algum motivo aquilo o atingira de maneira tão perturbadora que era como se ele mesmo fosse cúmplice...

Sirius era estranho.

Era só uma valsa, afinal.

A Valsa Vienense.

O rosto de vovó era um dos que se destacavam atrás de papai, embora fora de foco, uma fina linha tingida de bordô que eram seus lábios contorceram-se satisfeitos.

Era ela que escolhia, desde que nascemos, a valsa que iríamos dançar no aniversário de quinze anos. Bellatrix era Danúbio Azul, eu Valsa Vienense e Narcisa a Valsa das Flores. Uma maneira de ditar as regras, ela e mamãe nunca se deram muito bem.

Gostava da valsa, mas não era a minha preferida.

Ao som dos primeiros acordes papai tomou a minha mão direita.

- Andrômeda, coloque um sorriso no rosto. Não quero que pensem que estou torturando minha própria filha. – sua voz soou distante e fria. Normal.

- Sim senhor. – eu sorri, ou tentei. O que para ele significava praticamente a mesma coisa naquelas circunstâncias.

1º giro. Silêncio.

- Fico satisfeito que tenha seguido meu conselho. Evan pode lhe ajudar bastante, sei que você tem capacidade de aprender qualquer coisa...

Não soava como um elogio ou um pedido de desculpas, ou qualquer coisa semelhante. Mas conhecendo meu pai, sabia que era o máximo de delicadeza que ele iria demonstrar. Sentia-se mortalmente ferido ainda.

Rodopiamos. Para frente, para trás. Girou-me pela segunda vez.

- Apesar das circunstâncias desagradáveis do dia anterior, saiba que estou emocionado pelo seu aniversário.

- Agradeço, papai.

“Estou emocionado pelo seu aniversário.”

Não fazia o menor sentido. Não estava emocionado, não como no aniversário de Bellatrix.

Ciúmes? Não, só era desnecessário mentir.

3° giro e ele parou. Exatamente no meio do salão. Era intrigante como ele conseguia fazer aquilo, imagino que contava os passos.

Ainda unidos pela minha mão direita, paramos de dançar. Olhei para ela, as safiras do meu anel cintilaram e eu sorri.

Evan demorou em desvencilhar-se da multidão. Cumprimentou meu pai com a cabeça e a valsa continuou.

“Felizmente mascarado” e reprimi um suspiro. Não queria me deter muito tempo nas suas faces altivas.

- Você não me parece muito feliz.

Quase trancei meus pés ao escutar aquela voz entediada que com a mais absoluta certeza não pertencia ao meu primo.

E então pela primeira vez encarei aquele que deveria ser meu par, e os olhos não mentiram. Os olhos esverdeados e felinos de Ted Tonks quase
fizeram meu coração parar.

- Tonks!

- Boa noite pra você também, Black.

Hiperventilação acontece quando a respiração fica mais rápida e profunda, você inspira uma quantidade de ar muito maior do que seu organismo consegue comportar. Palpitação, tontura, náusea, formigamento nos braços e pernas e confusão mental. E era exatamente assim que me sentia naquela hora.

- Black, a não ser que você queria ser cúmplice de assassinato, eu sugiro que pare de tropeçar e valse direito. Sorrindo de preferência, ou seu pai vai me matar na frente desse salão lotado. Acredite, eu zelo pela minha vida apesar de não parecer... e acho que isso sujaria a sua festa.

- Tonks, onde está meu primo?

- Seu par? Conversamos depois. Agora, pelo amor de Deus, não desmaie... – e eu não era a única a estar em completo estado de pânico.

Silêncio. Não escutava absolutamente nada, nem música, nem casais. Nada.
De alguma maneira Sirius estava metido naquilo.

- Você está... Parece uma... Uma, uma fada.

- Uma fada?

A visão daqueles minúsculos bichinhos com dentes afiados com a aparência de insetos repugnantes foi o bastante para que começasse a ranger os dentes.

- Não, não essas fadas. Outro tipo de fadas, dos trouxas... São... São coisas complemente diferente. Sabe, as fadas dos “Contos de Fadas”, não são como as fadas pequenininhas... Ah, deixe. Você não vai entender... Eu só... Só quis dizer que você está... Está bonita.

Ted Tonks estava constrangido. E isso foi suficiente para que eu começasse a rir. Nervosamente, mas ainda assim ria.

O bastante para disfarçar meu rosto corado


- Como vocês vieram parar aqui?

- Na verdade foi bem simples. Amos disse que tinha sido convidado, Ted e eu não... – disse Joey franzindo a testa.

Joey gostava de chocar, era um traço que havia notado desde que nos tornamos amigas, ela adorava ver caras de surpresa estampadas nas pessoas. E ela conseguia, na maioria das vezes era assim que as pessoas reagiam.

Milhões de milhares de perguntas surgiam a cada milésimo de segundo, mas existia um certo problema em conseguir verbalizá-las. Acontece quando o cérebro se adianta à capacidade da fala, e o resultado são interjeições incoerentes e frustrantes, porque nem o interlocutor nem o receptor conseguem se entender.

- Onde está meu primo?

- Isso não é culpa nossa, sinceramente. Vimos você parada no meio do salão e pensamos que realmente teríamos um problema se ninguém tirasse você para dançar. E seria, sua família iria perceber e...

- Josephine! Vocês... é melhor que, se alguém...

Minhas mãos suavam, geladas. E tremiam também acredito. Mas fraquejei ao escutar a voz retumbante, e ao mesmo tempo calma:

- Souber?

Tio Alfardo. Lívido, raiva ou preocupação, qualquer que fosse não era um bom sinal. Estava como poucas vezes o vira, e não era tranqüilizador. Embora tivesse sempre ares de quem toma conta de qualquer situação, seus lábios estavam contraídos, a respiração lenta, muito mais lenta que normal, o que implicava em tentar manter uma calma aparente.
Normalmente Alfardo Black transpirava calma, às vezes uma calma que irritava porque parecia vazio de emoção, mas quando ele tentava parecer calmo, falhando miseravelmente, sabia-se que era por motivo sério.

- Agradecemos a visita Srta. Collins, Sr. Diggory e...

- Tonks, senhor. Ted Tonks.

E ao proferir essas palavras, meu tio dirigiu-me um olhar tão apreensivo quanto ansioso. Apertou a mão de Ted e voltou a falar-lhes com uma voz titubeante muito pouco característica.

- Certo, Sr. Tonks... Aprecio imensamente que não tenha deixado minha sobrinha ao meio do salão. Mas acredito que não tenham pensado nas conseqüências, não é segredo que Cygnus repudia qualquer tipo de comportamento amistoso por parte dos puro-sangue com trouxas, ou o que quer que estiver relacionado a eles. Sinto muitíssimo Sr. Tonks. Garanto que não compartilho das mesmas idéias, mas sou minoria. E não sou o dono da casa, de modo que não tenho autoridade para impedir o que quer que possa acontecer.

Josephine mordeu a boca contrariada. Provavelmente não acreditava que nada pudesse acontecer. Amos, no entanto parecia genuinamente preocupado e Tonks, não seria a primeira vez que sua expressão fosse indecifrável a mim.

Tio Alfardo lançou um olhar severo como quem pede que seus pensamentos mais óbvios sejam ditos.

- Acho melhor vocês irem... irem embora.

Joey me olhou incrédula, e com uma raiva que nunca a tinha visto fazer antes. Bufou e jogou a máscara no chão enquanto Amos apertava seus ombros.

- Vou levá-los até a lareira mais próxima. Acompanhem-me... – disse Tio Alfardo com um gesto indicando o caminho. – E você, Pequena Ninfa, encontre Sirius imediatamente.

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N/a: [escondendo o rosto d vergonha]
Oi...
bom gente, vou me desculpa por nao ter atualizado antes, e dessa vez eu nao tenho um a justificativa...
travou...
=D
olha, eu sei que o cap nao ficou mto bom, até entendo se ninguem quiser comentar...
ficou uma caquinha... mim saber...
agora , se vcs quiserem fazer o natal da Tia Lara mais feliz... comentem nas outras fics dela!
/o/
serio gente... essa eu entendo, mas eu adoraria q vcs lessem as outras!
bjuus pra todas as almas caridosas que comentaram no ultimo cap!
=**

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