Até o Fim do Ano...



Água e Vinho


Capítulo Vinte e Sete – Até o fim do ano...

Eu me senti satisfeita de um modo meio cruel quando Potter me viu junto com o Mark. Aconteceu só no dia seguinte, quando eu e a Alice estávamos tomando café da manhã e Mark veio falar comigo. Potter não estava muito distante, sentado com seus amigos.

-Oi, Lílian... – Mark murmurou meio sem jeito, enquanto Alice agia rapidamente e puxava assunto com Frank, ao lado dela. – Então... Tudo bem com você?

Nossa, fazia tempo que ninguém me perguntava isso. Até que toda aquela timidez era admirável.

-Sim, estou bem sim – respondi, sentindo olhares sobre mim. – E você?

-É, eu, erm... Eu vim até aqui perguntar se você... Se você não gostaria de dar um passeio pelos jardins depois do café... Afinal, hoje é domingo e tudo o mais, e eu não tenho nada para...

-Claro, Mark, seria ótimo – respondi sorrindo. – Seria muito legal.

E, para não deixar dúvidas nem a ele nem a mais ninguém, me aproximei rapidinho e dei um beijo na bochecha dele, até porque estava com vergonha demais de sair beijando o garoto ali, do nada... Eu também não perdi minha noção junto com outras coisas.

-Ele é uma gracinha – comentou Alice, depois que ele se afastou. – Parece mesmo encantado que você esteja com ele, sabe.

-Ele é fofo – murmurei, com um sorriso fino, contendo-me para não olhar para Potter. – Promissor.

Alice se inclinou e sussurrou, o mais baixo que pode:

-Você acha que ele consegue... cumprir esse seu plano sem pé nem cabeça?

-Sabe, estou começando a achar que se ele não conseguir... Ninguém consegue.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Eu gostava de estar com Mark, aquele passeio pelos jardins me fez muito bem. Sabe, ele tinha muito tato, sabia sobre o que falar e sobre o que não falar, e eu desconversei quando ele me perguntou se eu nunca tinha namorado, nunca tinha ficado com ninguém que gostasse, apenas disse que não. Contei como meu primeiro beijo havia sido com um trouxa que morava perto da minha casa, havia muito tempo... Isso era verdade, mas eu não via problema nenhum em falar sobre lembranças antigas. As novas eram justamente as que me incomodavam.

Depois de algum tempo, nos beijamos de novo. Ele era uma gracinha, era tudo que eu conseguia pensar sobre ele. Claro que também era muito inteligente, afinal ele pertencia à Corvinal, mas essa não era sua maior característica.

-Lílian... – ele falou hesitando, quando já estávamos caminhando bem lentamente de volta para o castelo. – Eu... Você está gostando mesmo de sair comigo?

-Ora, claro que estou – murmurei sem hesitar. No fundo, não estava mentindo. Não havia nada errado com ele. – Por quê?

-Eu... nada, esqueça.

Passou-me pela cabeça que ele pudesse já estar cogitando me pedir em namoro, o que me agradaria sem dúvida, mas eu já tinha errado grotescamente uma vez sobre intenções masculinas e não estava pronta pra arriscar outra vez. Continuamos caminhando, bem devagar, meio abraçados, até que atingimos os portões do castelo. Assim que chegamos, comecei a ouvir alguns gritos e algumas exclamações, de vozes de crianças.

Imediatamente me soltei de Mark e saquei a varinha.

-O que foi, Lílian?

Achei melhor não responder. Estava com medo de que os Comensais agora estivessem inventando de fazer suas brincadeirinhas em plena luz do dia. Mas tão logo passei pelos portões, respirei aliviada de ver que eram apenas três primeiranistas correndo, cheias de gosma amarela na cabeça, seguidos dos quatro Marotos, rindo de se acabar.

-Qual é a melhor Casa, agora? – Black gritava, segurando o riso. – A Grifinória comanda Hogwarts...!

Potter estava rindo também, logo atrás do amigo, mas ao me ver murchou como se tivesse acabado de tomar uma Poção do Sono Instantânea. Desviei o olhar dele e pus as mãos na cintura.

-Muito bem, o que está havendo aqui?

-Apenas defendendo a honra da nossa Casa, Evans – riu Black. – Imagine alguém dizer que a Lufa-Lufa é a que tem os melhores alunos!

Virei os olhos. Pettigrew estava encolhido atrás de Potter e Remo estava parado pouco afastado, disfarçando, e eu me perguntei onde ele teria escondido seu distintivo de monitor para uma brincadeira infantil como aquela.

-Isso é mesmo triste de se ver... Marmanjos como vocês importunando crianças!

-Lílian – disse Mark, chegando e observando a cena com um olhar meio divertido. – Vamos embora...

Pensei por um momento por que ele estaria dizendo aquilo, e o olhei, estranhando. Depois resolvi que era mesmo o melhor a fazer.

-Está bem – rendi-me. – Afinal, já está mais do que nada hora de deixar que esses crianções ajam como idiotas, já que é isso que querem.

Olhei na direção de Potter mais uma vez, e era nele que o meu olhar continuava quando Mark sorriu e me abraçou pela cintura, para que continuássemos o nosso caminho. Estava doendo fazer aquilo, mas era necessário...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dias depois, eu estava aninhada no sofá da sala comunal, com uma expressão abatida, abraçando uma almofada, olhando para o teto e pensando em como poderia ter sido tão relapsa e faltar ao encontro do meu novo grupo de estudo, onde, na realidade, eu era a única grifinória; mark já me apresentara aos seus colegas. Continuávamos saindo e eu estava apenas esperando que ele me pedisse em namoro.

Mas algo estava muito errado. Algo tinha me convencido a ficar ali, paradinha, encolhida no meu canto, abraçando um pedaço de enchimento. Pensei meramente em me levantar e ir procurar Alice, mas como eu não a via desde o final das aulas da tarde, supus que ela estivesse com Frank e não quisesse, de forma alguma, ser incomodada.

Continuei ali, vegetando. Alguns colegas me olhavam, estranhando. Dois chegaram a me perguntar se eu estava me sentindo mal, mas eu apenas sacudi lentamente a cabeça e eles aceitaram a resposta. Mas quando o retrato da Mulher Gorda girou para admitir Alice, sozinha, o resultado não foi exatamente o mesmo.

-Lílian! – exclamou ela, surpresa e assustada, olhando pra mim. – O que aconteceu? Por que você está chorando?

Abri bem os olhos com o que ela disse. Chorando? Eu não estava... Ergui uma mão e passei-a pelo rosto. Puxa... Ela estava certa! Eram lágrimas... Eu nem me lembrava de ter chorado! Mas por quê? Pelo mesmo motivo que me impedia a levantar dali e ser a monitora irritante de sempre? Mas que motivo era esse, afinal?

No fundo eu sabia, mas não iria confessar nem mesmo em um milhão de anos.

-Você está tão abatida! – exclamou Alice, vendo que eu não respondia. Sentou no chão de frente para o sofá e me encarou. – Ande, me diga o que aconteceu. Eu pensei que você fosse estudar com o grupo do Mark.

-Eu ia – resmunguei, com a boca contra a almofada. – Mas perdi a vontade.

-E por quê?

-Sei lá.

-Como sei lá? – Alice ergueu as sobrancelhas. – Estou esperando... Ninguém fica desse jeito de graça.

-Eu não quero falar disso – disse eu, tentando soar enérgica. – Mas onde você estava? Com o Frank?

-Sim, mas não para o que você está pensando. Quero dizer, a princípio era, mas adivinhe só o que nós encontramos no quadro de avisos!

Virei os olhos com a pouca energia que me restava.

-Acho que você se lembra de qual é a minha pior matéria...

-Ah, está bem. De qualquer forma, é uma boa notícia. Houve um monte de expulsões por toda a escola de Comensais da Morte.

Repentinamente joguei de lado a almofada com quem andara me consolando e me sentei, mas fiquei um pouco tonta com o gesto brusco.

-Como é? Malfoy também foi expulso? E Snape?

-É justamente isso que nós estranhamos. – replicou Alice, exasperada. – Nem Snape, nem Malfoy e muito menos algum dos Black foi tocado. E nós sabemos que, com a exceção do Sirius, todos eles são...

Ajustei meu distintivo de monitora compulsivamente.

-Como assim? Mas são justamente eles que têm que deixar a escola...

-Eu sei disso, Lílian. Frank ficou de ir falar com McGonagall enquanto eu vinha aqui contar pra você.

-Frank? Mas ele não devia saber de nada! Alice, como você...

-Ele não sabe que é você quem está pondo os sonserinos na mira do Dumbledore – apressou-se minha amiga a dizer. – Mas qualquer um entenderia que eles estão envolvidos nessa confusão toda. Eu achei que ele não demoraria, mas... FRANK! – exclamou ela de repente, me deixando a falar sozinha e correndo até o namorado, que acabara de chegar.

Ele esfregou o rosto e se aproximou de mim com Alice pulando e fazendo perguntas sem parar.

-Calma, calma. – disse ele. – Foi uma verdadeira decepção falar com a McGonagall. Ela disse que eles apenas puderam expulsar aqueles contra quem tinham provas de verdade...

-Mas por Merlin, como podem dizer que não têm provas contra Snape e Malfoy? – deixei escapar, e Frank me olhou com estranheza.

-O quê?

-Nada – me apressei a corrigir. – Pensei alto. Mas eu digo, se existem dois sonserinos que carregam escrito na cara em letras roxas “EU SOU COMENSAL DA MORTE”, são eles.

-Sim, mas pelo visto, não dá pra confiar no que escrevem na testa deles. – suspirou Alice.

No dia seguinte, tivemos aula de Transformações. E eu não relaxei enquanto não consegui convencer a professora a falar comigo depois da aula.

-Sim, Lílian, nós sabemos das provas contra Malfoy e Snape. – disse a professora, suspirando. – Mas o Dumbledore foi ameaçado ser destituído do cargo de diretor se expulsasse o Sr. Malfoy. E sobre o Sr. Snape... – ela fez outra pausa exasperada. – Ele não me confidenciou seus planos. Apenas disse que tem outras idéias para ele.

Bufei, exasperada. Não conseguia imaginar quê esperanças Dumbledore podia ver em Snape. Melhor dizendo, eu via, mas nunca apostaria naquela carta emotiva que ele ia mandar para a mãe.

Como se a minha cabeça já não estivesse suficientemente cheia de pensar nos problemas da direção da escola e em modos de impedir Malfoy e Snape de continuarem saindo impunes, ainda tive que encarar uma cena nada simpática, nada confortável. Na minha ronda daquela noite, juntamente de Remo, encontramos Potter agarrando outra vez aquela mesma Lílian Silvertorn. Vocês se lembram dela? Engraçado ela ser uma corvinal também, mas isso é mero detalhe.

Algo muito estranho queimou dentro de mim, algo desconfortável; minhas orelhas arderam e minhas mãos se fecharam em punhos. Deveria haver alguma explicação racional para aquilo. Mas, enquanto eu não a encontrava, deveria castigar Potter.

-Muito bem – disse eu, respirando fundo, enquanto Remo deixava escapar um sorrisinho fino. – Acho que serão trinta pontos para a Grifinória e para a Corvinal, ainda sendo muito generosa. Detenções, talvez... O que você acha, Remo?

Ele engasgou na resposta, enquanto eu fazia qualquer coisa para poder desviar o olhar da expressão satisfeita de Potter. Algo me dizia que tudo que ele queria era que eu o encontrasse com Silvertorn. A própria estava me olhando com uma cara nada simpática, lembrando-se do último incidente que me envolvera, mas permanecia pendurada no pescoço de Tiago. Quero dizer, de Potter!

-Hum... Não sei. Talvez o jeito seja levá-los para algum professor... – disse Remo, ainda hesitando.

-Ora Aluado, você não vai fazer isso com a gente, vai...? – murmurou Potter, mas apenas para manter o costume.

-Talvez ele não – eu sibilei. – Mas eu vou. Vocês podem perfeitamente se encontrar antes do horário de estar nas salas comunais.

Mas eu não quero que vocês se encontrem em horário NENHUM, entenderam?, pensei. Muito menos na minha frente, se não se importam!

-Ah, está bem, monitora suprema do universo Evans – Potter replicou, com um sorrisinho de canto de boca. Virou carinhosamente para Silvertorn e murmurou, acariciando o queixo dela: - Uma detenção a mais, uma a menos pra mim dá no mesmo... Ainda mais sendo por sua causa, Lílian.

Eu nunca pensei que pudesse sentir tanto ciúme na vida! Ele carinhoso daquele jeito com ela, dizendo que ela era importante pra ele, e ainda aquela vadia tinha o MEU nome! Ela realmente desonrava a minha espécie! A minha vontade foi realmente separá-los e fazer Potter se lembrar que era de MIM que ele gostava, era EU quem ele já tinha salvado dos Comensais da Morte e...

Ah, que droga, olhem só o que ele fez comigo!

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O tempo foi passando em Hogwarts, da mesma forma como eu acabei de mostrar a vocês. Dois dias depois daquele meu ataque interno por culpa de Tiago Potter e Lílian Silvertorn, Mark finalmente me pediu em namoro. Imediatamente empurrei um sorriso largo pra fora do meu desânimo, pulei no pescoço dele e aceitei... Agora é que eu não poderia ficar sozinha! Principalmente agora que Potter tinha recomeçado a sair com aquela... aquela...

Tudo que eu queria naquele tempo era fugir, era esquecer o quanto eu ainda gostava de Potter e o quanto meu orgulho era grande demais para fazer qualquer loucura. E Hogwarts tinha a solução perfeita pra mim: estudos.

Às vezes, do nada, Alice me via emergindo da pilha de livros de Poções, Herbologia e Transformações com um brilho louco nos olhos; era quanto eu resolvia levantar, encontrar Potter e me jogar nos braços dele, desistir daquela idéia insana. Mas logo a razão voltava, e eu me lembrava que eu nem mesmo tinha certeza se ele tinha chegado a ser tão fissurado em mim quanto fora um dia, se estava tão amoroso e tão agarrado o tempo todo com Silvertorn. Então eu me sentava de novo, pedia desculpas a Frank e Alice, e mergulhava mais uma vez nos estudos.

Só Alice tem idéia do que eu passei naquele último semestre. No começo, ela até tentou me convencer a chutar Mark e arriscar tudo por causa de Potter, pois ela dizia que não podia ser certo que eu sofresse daquele jeito só por causa de um maldito Maroto de olhos castanhos, óculos e cabelo rebelde. Depois da Páscoa eu até mesmo conseguia passar dias inteiros sem pensar nele, mas ao mesmo tempo, diminuí meus encontros com Mark, e só o via quando ele me levava para estudar com seus colegas. Mas eu parei de fazer isso quando, um dia, vi Potter trazendo Silvertorn para estudar com os seus colegas, dando a olhada mais fria pra mim que eu já tinha sentido na vida.

Dessa forma, finalmente eu estava às vésperas das provas finais do sexto ano. Nem conseguia acreditar que já haviam chegado. Realmente, o tempo tinha se arrastado até ali, pelo menos nos meros segundos que eu gastava sem estudar, mas o importante era que tudo logo terminaria, eu voltaria pra casa e quem sabe, nas férias, fechada em casa, eu poderia esquecer qualquer elo, qualquer ligação, qualquer rastro que Potter tenha deixado...

-Lílian, você está enlouquecendo – acusou Alice, naquela noite, enquanto eu me jogava no carpete, de frente para a lareira apagada, devido ao calor.

-Eu sei.

-Estou falando sério – ela disse. – Você está definhando. Há mais ou menos um mês você já sabe cada página dos livros de cor, mas mesmo assim continuou estudando como se fosse o seu...

-Meu único modo de passar o tempo – completei. – Quero que esse ano acabe o mais cedo possível.

-Eu sei disso. Você tem sorte que o Mark seja um legítimo corvinal e também esteja dormindo com livros em cima da cara, ou ele já estaria estranhando o seu comportamento.

Fiquei em silêncio. Não queria lembrar do motivo para estar tão exausta de estudar.

-Onde o Frank foi?

-Procurar o Remo pra tirar uma dúvida de Defesa Contra as Artes das Trevas – explicou Alice brevemente, sem tirar os olhos preocupados de mim. – Lílian, não tem nada que eu possa fazer pra te ajudar? Não agüento mais te ver desse jeito.

-Não – retorqui – Já está bastante ruim sendo apenas eu quem está terrivelmente infeliz aqui. Não se importe comigo. Mais cedo ou mais tarde isso vai acabar passando. Mas você quer saber, quando tudo isso passar, você vai ver como foi a escolha mais certa. Estarei mais segura com o Mark. Ele não me faz sentir usada, sabe...

-Você é quem sabe – resignou-se Alice. – Não acha que já devia ir dormir? Amanhã teremos Poções e Trato das Criaturas Mágicas. E você está com uma aparência horrível, se aceita minha sinceridade.

-Sim, aceito... – respondi, me levantando.

Bem no fundo, acho que eu queria que ela não aceitasse minha resposta, se levantasse e dissesse: “eu não vou deixar mais que você fique assim”, pra depois ir buscar Potter, explicar tudo por mim e jogá-lo nos meus braços.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

As coisas não param por aí. Acho que eu devia começar outro pedaço de história com isso, mas eu queria expressar um pouco de esperança.

Provas. Provas. Provas. Que loucura. Ao menos Alice estava certa, e eu sabia cada frase dos livros, cada nota de pé de página, o que fez com que eu me desse bem em todas as matérias. Mas que aquilo cansava, cansava. Eu não agüentava mais ver nem pena, nem pergaminho, nem muito menos enunciados como “disserte ao menos em trinta centímetros sobre a influência das Azarações Enfraquecedoras na Defesa em magia”. O pior era que nenhum deles tinha pedido menos de trinta centímetros, o que já era um grande sofrimento para escrever, mesmo tratando-se de Lílian Evans, a monitora metida e cdf. McGonagall chegou a pedir cinqüenta centímetros sobre o controle de Animagia atual do Ministério. Quem teria tanto assunto para algo tão enfadonho? Se ao menos ela tivesse ficado em sua forma de gata enquanto nós escrevíamos, talvez pudéssemos ter ficado mais inspirados.

Eu estava a caminho da biblioteca, para devolver uma pilha assustadora de livros, pouco depois das seis da tarde. Àquela altura, só faltava uma prova. História da Magia. O que significava que talvez eu acabasse aquele ano menos corcunda se devolvesse aquela Biblioteca de Alexandria que eu carregava nas costas.

Tão logo pus os pés na biblioteca, Potter estava inclinado sobre o balcão da bibliotecária.

Respirei fundo, me controlando, pus os livros no balcão (Potter abriu bem os olhos, provavelmente chocado com o número e o peso deles) e virei-me educada e friamente para ele.

-Onde está ela?

-Correndo atrás de três segundanistas que sumiram com o Poções Mui Potentes. – disse ele, em tom displicente. – Então... Erm... Você andou precisando de tudo isso para estudar para as provas?

-Eu não... Não sigo apenas o que está nos livros padrão. – respondi, endireitando as minhas vestes. Uma pergunta estava pipocando na minha cabeça, coçando para sair. Afinal, o que teria de errado com ela? – Eu... Eu soube que você está saindo firme com a Silvertorn.

-É, eu estou – ele disse, com uma expressão nula, mas cujos olhos ainda me prendiam, sem querer. – Ela é... ótima. Sempre confia em mim, sabe. Não grita comigo, nem me expulsa, nem tem dupla personalidade. Isso torna as coisas um pouco mais simples.

Fechei a cara, querendo revidar a cada mísera indireta, mas ele perguntou antes.

-E você com aquele tal de Smithers? Namorando, hein?

-É, ele também é legal – eu disse, tentando parecer tão segura que a fala saiu forçada. – Eu não tenho a sensação de estar sendo usada quando estou com ele, sabe. Ele gosta mesmo de mim.

-Que bom - ele resmungou em retorno, enquanto eu me debruçava no balcão, para desviar do olhar dele. Mesmo assim, parecia que ele estava sempre mais próximo do que devia. E muito menos próximo do que eu queria. Mas se ele estava tão bem assim com a Silvertorn, não era eu quem ficaria criando esperanças.

-Bem, Evans, então acho que tenho que te desejar boa sorte – ele falou depois de um momento de silêncio, estendendo uma mão para mim.

Eu virei o rosto para olhá-lo, e acho que deixei transparecer alguma tristeza qualquer, mas ergui-me e apertei a mão de Potter. Aquele toque me fez estremecer inteira. Era como se ele estivesse me revigorando. Ao mesmo tempo, como um vício. Ele estava bem ali na minha frente, era tudo que eu podia querer e, ao mesmo tempo... Sacudi a cabeça.

-Pra você também. – murmurei, com dificuldade.

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