Más Lembranças



Água e Vinho





Capítulo Catorze - Más Lembranças




Voltei para a Torre da Grifinória, tentando me esquecer da eterna arrogância e ego super elevado de Potter. Estava até preocupada com Remo, que parecia sempre doente. Talvez fosse bom fazer uma pequena invasão ao dormitório masculino para ver como ele estava. Na condição de monitora, eu bem que poderia. Era só inventar que estava fazendo uma inspeção, e ninguém iria duvidar que eu suspeitasse do que Black ou Potter poderiam estar guardando n dormitório, incluindo mesmo o próprio Remo e Pettigrew, que sempre os encobriam - quando não os ajudavam pessoalmente.



Havia acabado de chegar na sala comunal e estava olhando à toa pela janela, dando uma espiada na lua cheia, quando ouvi um barulho atrás de mim. Virei-me e encontrei um livro caído no chão, que estivera bem na beira de uma mesa, que ficava bem perto do retrato da Mulher Gorda. Não precisei pensar muito pra adivinhar que havia algum aluno do primeiro ou segundo ano fugindo da Torre para passear à noite.



Saquei a varinha e apontei para o ar. Como poderia fazer o espertinho se denunciar? Se eu começasse a lançar feitiços a torto e a direito, poderia acabar quebrando alguma coisa.



De repente, ouvi um barulho de passos, mas não conseguia ver de onde vinha. Quando olhei para o chão, flagrei um pedaço do tapete mais amassado do que o resto. Ah, então havia alguém invisível por ali! Isso facilitava tudo.



Os passos se apressaram na direção do dormitório masculino, mas eu fui mais rápida:



-Estupefaça!



Mais barulho, desta vez de panos, e eu vi jogado no chão Pettigrew. Black jogou uma capa no chão, tornando-se perfeitamente visível. E não só ele. Black estava segurando Remo, que parecia muito pálido e agoniado.



-Feche essa cortina, Evans!-Black disse.



-Do que está falando?- aquela era certamente a última coisa que eu esperava ouvir.



-FECHE!



Sem saber nem por quê, dei um passo pra trás e fechei a cortina. Black soltou Remo sobre uma poltrona e apontou a varinha para Pettigrew:



-Enervate!- tão logo o outro começou a se mexer, Black se virou furioso para mim.- O que você estava tentando fazer, Evans?



-Acho que sou eu quem deve fazer as perguntas por aqui!-exclamei, me recompondo.- O que exatamente estavam tentando fazer? Iam aprontar das suas pelo castelo? Não estão vendo como o Remo está mal?



-E é exatamente por causa dele que estávamos saindo, Evans -Black disse, inquieto, enquanto Pettigrew se levantava de novo.- Mas nós não temos tempo pra explicar. Temos que sair AGORA.



-E por que eu deixaria que vocês saíssem da Torre da Grifinória no meio da noite?



-Lílian...-Remo falou com dificuldade.- Por favor... Faça o que o Sirius está pedindo...



Respirei fundo, pensando por um momento.



-Muito bem.-disse, por fim.- Se não há nada de ruim no que estão indo fazer e se é pelo bem do Remo, têm a minha permissão.



-Ufa, então...- Black ia dizendo, mas eu o interrompi.



-Só que eu terei que ir junto com vocês.



-ESTÁ MALUCA?-Black gritou, num volume que poderia ter acordado toda a Grifinória.



-Evans, você não pode!-Pettigrew gritou, para minha surpresa. Ele raramente falava quando eu estava por perto, geralmente por estar de boca cheia.



-E por que eu não posso...?



-Porque eu não quero te machucar, Lílian.-Remo disse, devagar.



Black e Pettigrew olharam para Remo, apreensivos. Eu mal identifiquei a arrogância costumeira de Black em seu rosto. Voltei-me para Remo novamente, cada vez entendo menos do que estava acontecendo.



-Do que está f...



-Hoje é lua cheia, Lily. Relaxem vocês dois, acho que já era hora dela saber. -olhou para o teto, criando coragem, e dirigiu os olhos pra mim de novo, falando então num tom conformado.- Eu sou um lobisomem, Lily. E não posso ficar dentro do castelo se quiser que reste alguém vivo no dia seguinte.



O mundo pareceu parar de girar enquanto eu tentava absorver a informação. Olhei para a cortina fechada, de repente entendo tudo. Todas as insinuações que eu nunca entendia antes.



-E... E o que eles estão indo fazer com você...?



Remo em seguida falou para os outros, e não para mim.



-Vamos levá-la mesmo. Vocês podem me manter lá dentro, ela ficará lá fora. Se ainda quiser ir, Lílian, claro.



-Isso é um absurdo, Aluado.-Black insistiu.- Você pode atacá-la se nós não conseguirmos te segurar.



-Eu vou.- decidi.



Seguiram-se mais protestos, de Black e Pettigrew, mas Remo assegurou que havia tomado a Poção Mata-Lobo e com certeza conseguiria se manter lá dentro. Embora eu não soubesse dentro de onde, segui os dois pelo buraco do retrato.



Quando saímos para os jardins, felizmente a lua havia se escondido atrás de uma nuvem. Black me alertou para que eu corresse com toda a minha força se a lua saísse antes de chegarem. Enquanto Pettigrew acendia sua varinha, assisti, chocada, enquanto Black se transformava num cachorro preto, enorme.



Era muito pra pouco tempo.



-Black, você é um animago...!-exclamei, quase sem fôlego.



-Todos somos -Pettigrew disse, segurando numa mão a varinha e com o outro braço ajudava Remo. O cachorro pulava e corria na nossa frente, nos apressando.



Chegamos perto do Salgueiro Lutador, e comecei a pensar que todo mês eles tentavam alguma espécie de suicídio coletivo, chegando tão perto daquela árvore. Isso quando eu me tornei a encarregada de segurar um Remo que parecia à beira do desmaio, e Pettigrew se transformou em um rato.



Este correu entre os galhos que se debatiam feito malucos, pisou em alguma raiz diferente, o Salgueiro parou de repente de se debater, e o cachorro entrou correndo em um buraco que eu nunca percebera antes, entre as raízes aéreas da árvore.



-Agora, Lílian... Me leve até aquele buraco e fique longe dos galhos da árvore.-Remo gaguejou, arfando.



Ainda em choque, levei-o lá. Corri até fora do alcance do salgueiro e, pouco depois, observei a lua cheia reaparecer no céu.



Ouvi um barulho monstruoso dentro daquela caverna subterrânea, que me deixou arrepiada até os ossos. Mal podia acreditar no que estava acontecendo. Remo estava se transformando num monstro... E os dois ficavam ali para lhe fazer companhia, já que lobisomens não atacam outros animais que não humanos...



Era por isso então que Potter havia tomado um grande susto quando eu lhe dissera que Remo estava doente outra vez! Ele sabia de tudo! Sabia do segredo dele, era óbvio...



Era como se de repente eu estivesse enxergando aqueles quatro - Remo, Black, Pettigrew e até mesmo Potter - de um modo como nunca tinha feito antes. Eles haviam se tornado animagos apenas para não deixar Remo sozinho? A idéia de que eles pudessem ser tão verdadeiros amigos não cabia no meu antigo conceito deles. Talvez coubesse no de Remo, mas ele era justamente quem era beneficiado pela generosidade deles. Sem falar que, puxa vida, ser animago era algo terrivelmente difícil, não era o tipo da coisa que se conseguia da noite pro dia.



Com a varinha acesa, me sentei na grama gelada. Puxa, estava ventando muito, pena que não tinha me lembrado de vestir uma capa mais pesada. Mas também, com toda aquela confusão, eu nunca teria me lembrado.



Logo eu estava tremendo de frio e já cogitava voltar para o castelo. De dentro da caverna ainda vinham alguns ruídos de pancadas e uivos que só me deixavam com mais frio ainda, mais arrepiada. E eu não tinha nada pra ficar fazendo ali. Não era nenhuma animaga pra ser útil em alguma coisa. Não devia nem ter vindo, mas sabia que ficaria eternamente desconfiada se não viesse.



Um relâmpago de luz azul acertou a grama ao meu lado. Decerto não era a coisa mais normal do mundo. Apertei a varinha na mão e me levantei, o mais rápido de pude.



Havia ali outro barulho que eu não percebera até o momento. De risadas. Entre as árvores da Floresta Proibida.



-Ora, vejam o que temos por aqui...- um vulto alto saiu detrás das árvores. Eu conhecia aquela voz arrastada. Lúcio Malfoy.- Uma sangue ruim... Nada mais oportuno, não acham?



Atrás dele vi vários outros vultos. Eram pelo menos uns dez, escondidos atrás das árvores. Dei um passo pra trás, involuntariamente. E pensar que os três que haviam vindo comigo agora estavam dentro da caverna abaixo do Salgueiro Lutador.



-Malfoy!-exclamei, o mais alto que consegui, tentando chamar a atenção de algum deles, sem muita esperança.- O que você está fazendo aqui?



-Creio que eu não deva satisfações a uma sangue ruim imunda como você.-Malfoy falou, e os outros riram às suas costas.- E não me interessa como veio parar aqui também... Mas vai ser divertido ter você por aqui, não acham?



Mais risadas, enquanto eu começava a suar frio. Diabos, eu não tinha pensado nisso. Os Comensais que se reuniam à noite na Floresta Proibida.



-Espere só até o diretor saber que você é um dos engraçadinhos que anda fazendo essas reuniões ridículos na Floresta!-continuei gritando, também para tentar extravasar o meu nervosismo. A varinha tremia na minha mão, ainda acesa.



Malfoy riu mais ainda, aumentando o medo que crescia dentro das minhas entranhas. Ele sozinho não seria nada do outro mundo de se batalhar, ainda levando em conta todas as Artes das Trevas que devia saber, mas os outros dez logo atrás dele de fato dariam conta do recado. Eu estava enrascada.



-Você me mata de rir, sangue ruim.-Malfoy continuou falando.- Dumbledore nunca vai descobrir quem nós somos. E se descobrir, não poderá fazer nada. E não será VOCÊ quem vai contar a ele, pode ter certeza. Agora... Vamos ver se eu aprendi mesmo aquele feitiço...



-Expelliarmus!-resolvi agir primeiro, mas o que fiz acabou por ser uma grande idiotice.



-Protego!-Malfoy se defendeu, com um risinho malicioso no rosto. Olhou pra mim fixamente e murmurou baixinho algumas palavras que eu infelizmente não consegui entender.



Eu comecei a flutuar no ar, exatamente como Potter costumava fazer com ele. Era como se eu estivesse pisando num quadrado de vinte centímetros apenas, e se perdesse o equilíbrio cairia num abismo.



E eu caí. Virei de pernas pra cima, e deixei minha varinha cair no chão, por estar mais preocupada em querer segurar minha saia acima dos joelhos. Estava me recusando a gritar, e dar este gostinho a Malfoy, mas agora que eu estava desarmada não tinha a menor chance de poder me defender.



Furiosa, escutava as risadas cada vez mais altas deles. Tentei me debater no ar, tentar chegar ao chão para recuperar a minha varinha. Foi quando Malfoy baixou a dele e eu caí no chão, como queria - bem, nem tanto. Estava a uns três metros do chão e a pancada foi bem dolorida, ainda que a grama amortecesse um pouquinho.



Rolei para o lado, desesperada, tentando reaver a minha varinha, quando Malfoy disse, contendo o riso:



-Muito bem, sangue ruim, não quer nos mostrar as suas pernas? Tenho outros métodos... Imperius!



Antes que eu pudesse acreditar que ele estava me lançando uma Maldição Imperdoável, uma sensação muito confortável invadiu o meu corpo. Era como se eu voasse... De uma hora pra outra eu não tinha mais nenhuma preocupação... Quando a voz bem distante de Malfoy ecoou bem no fundo da minha mente...



-Mostre suas pernas para nós...



Erguer as minhas saias? Ora, por que não...? Eu não conseguia pensar direito, era como se eu estivesse tendo um sono muito bom onde pudesse fazer qualquer coisa...



De repente, eu senti uma outra vozinha, bem baixa, falando mais de longe ainda... Eu mal podia ouvi-la... Que coisa idiota de se fazer, pra quê mostrar as suas pernas pra eles? Ainda flutuando no ar, percebi como seria idiota fazer isso...



Mas ao mesmo tempo que tentava segurar minha mão, sentia ela segurando a barra das minhas vestes... Eu não quero fazer isso, não quero...



Conforme eu me opunha às ordens, parecia que aquela sensação maravilhosa ia se transformando... Eu não queria que acabasse, minha mão rebelde continuou puxando minha roupa...



-FINITE INCANTATEM!



Voltei à realidade chocada, numa fração de segundo tomando consciência do que estava acontecendo; eu estava na orla da Floresta Proibida, sendo enfeitiçada por um grupo asqueroso de seguidores de Você-Sabe-Quem, sem a minha varinha e com um lobisomem transformado logo abaixo da árvore mais próxima. E não era só isso.



Quando retomei a consciência, não era pra mim que Malfoy os outros estavam olhando, e sim para algo atrás de mim.



-Como se atreve?!-Malfoy berrava.



-Petrificus Totalus! Impedimenta! Estupefaça! -eles foram sendo enfeitiçados um a um, até que todos estivessem imobilizados. Alguns feitiços ainda ricochetearam na direção do atacante deles, até que parou.



Eu estava em estado de choque. Como alguém podia parar tantos de uma só vez? Antes que pudesse fazer qualquer coisa, senti uma mão gelada como o vento se fechando no meu pulso, e me puxando.



Peguei a minha varinha no chão antes de me deixar puxar na direção do castelo. Corri muito, até mais da metade do caminho, sem parar de olhar pra trás, morrendo de medo de que tivesse sobrado algum para nos seguir. Por Merlin, quem era aquela pessoa que me puxava com toda aquela força...



-Lumus!-acendi a minha varinha de novo, e estaquei. A pessoa que me puxava levou um tranco e tanto pra trás, e ficou diretamente na minha frente.



Meu queixo caiu. Eu não podia acreditar no que estava vendo. A luz da lua pousou sobre o rosto dele.



-POTTER?



Ele me olhou aliviado por um segundo, sorrindo, e me puxou de novo.



-Não pare de correr até chegarmos no castelo!



Sem questionar, segui-o até o Saguão de Entrada. Puxa vida, era muita coisa pra uma noite só. Eu ia ficar maluca nesse ritmo. Parei então, e me agachei, tentando recuperar o fôlego. Potter se encostou na parede, respirando depressa como tivesse corrido de Londres até ali.



-Oh, puxa...-balbuciou ele, enquanto tentava se controlar.- Não acredito que conseguimos... Evans, o que você pensava que estava fazendo na Floresta Proibida a essa hora da noite?? Estava tentando morrer???



-Pra sua informação -retruquei, sentando no chão.- eu ajudei os outros a levarem Remo pra baixo do Salgueiro Lutador.



-Você o quê??



-Remo me contou o segredo dele, Potter.-retorqui.-E você não devia estar na enfermaria agora??



-Se estivesse, você poderia estar lá com aqueles malditos Comensais até agora. Viu como é bom às vezes desobedecer as ordens?



Olhei-o, inconformada. Ele estava se gabando numa hora como aquela??



-Eu te odeio, Potter.-resmunguei, de mau humor.- Mas obrigada.



-De nada. Eu também te amo, Evans.



-Não seja ridículo.-disse, me levantando.- Mas e a dor de cabeça daquele balaço?



-Nem queira saber. Eu saí da enfermaria pra fazer companhia lá embaixo pro Aluado, nunca imaginei que fosse esbarrar com você e todos aqueles idiotas no caminho! É como se a minha cabeça estivesse do tamanho de um balão, de tanto que lateja. Vamos voltar para a Grifinória. Espero que o Aluado não esteja precisando de mim. Você está bem?



-É... Estou -disse, por fim. Contrariada, devolvi a pergunta.- E você?



-Um caco. Preciso da minha cama. Além do mais, quando a enfermeira ver que eu fugi, vai ficar uma fera comigo. Tenho que me preparar. Vamos indo.



Como eu odeio sempre que Potter salva minha vida.





N/A- Que tal? Achei que tinha a obrigação de fazer um capítulo bom pra agradecer a todos os maravilhosos reviews que andei recebendo, e também, claro, pra inserir mais aventura nessa fic... Espero não demorar muito pra postar o próximo capítulo!

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