Ficará Entre Nós



Capítulo Trinta e Dois – Ficará Entre Nós

Foi com um alívio imenso que eu senti o tato da grama úmida no meu rosto, quando tudo parou de girar e quando o efeito da Chave de Portal terminou. Pouco me importava onde nós estávamos; eu já era capaz de sentir o ar enchendo os meus pulmões com mais força só de saber que estava longe de Voldemort! Ao mesmo tempo, dei-me conta do quanto estava suada e do quanto estava trêmula, e do medo que tinha sentido; sem dúvida alguma, eu era outra pessoa agora.

Ouvi gemidos do meu lado, todos os outros se mexendo e reclamando de dor; Black aparentemente caíra de cara em um formigueiro, e enquanto Frank tentava ajudá-lo a se livrar das formigas que invadiam as partes mais estranhas da sua cabeça, Alice riu fracamente e eu girei sobre as costas, me sentando logo em seguida.

E puxa, ali estava Hogwarts, com todas as suas torres, suas luzes e com suas corujas voando de torre em torre, carregando mensagens e caçando. Ali estava a Floresta Proibida, ali estava o lago e a árvore sobre cujas raízes Tiago estivera sentado no primeiro dia que contei a vocês, quando ele e seus amigos mexeram com Snape e eu interferi. Tudo estava tão perfeitamente em seu lugar, que nem parecia que eu tinha acabado de escapar da morte mais dolorosa que se poderia pensar.

Ergui os olhos e vi uma mão estendida bem diante de mim.

-Vai ficar aí pra sempre? – perguntou Tiago, com um sorriso satisfeito.

Sentindo-me a pessoa mais feliz do mundo, sorri de volta. E quantas pessoas não achariam estranho ver Lílian Evans sorrindo para Tiago Potter, mesmo depois de tudo aquilo? Talvez por isso Alice tenha parado subitamente de rir. Já eu, tendo aqueles olhos castanhos difusos, tão brilhantes focados em mim, peguei a mão de Tiago e ele me puxou de pé.

Um logo em frente ao outro, nos olhamos por um instante. Ele estava também com uma aparência cansada, uma aparência exaurida de certa forma, mas o sorriso escondia tudo aquilo muito bem. Entre todas as outras sensações boas que se misturavam em mim, uma se destacou então... Aquela que me deixava arrepiada toda a vez que Tiago me tocava, ou, principalmente, quando passava uma mão pelo meu rosto...

Fui ficando vermelha, soube disso pelo calor que encheu meu rosto; foi quando ele sorriu mais largamente ainda, e se inclinou devagar na minha direção. E nós nos beijamos.

Senti uma outra vez o sabor daqueles lábios e a força com que ele me puxou pra si, e a vontade que manifestava em cada gesto, a maneira como parecia querer ficar tão perto de mim quanto conseguisse, como se também se agarrasse àquele momento, e me fizesse também perceber que agora estava tudo maravilhoso, que ele cumprira suas promessas silenciosas e que ele, assim como dissera bem nas fuças do próprio Voldemort... me amava...

Então aquele beijo terminou e Tiago me abraçou com força, eliminando qualquer distância que houvesse entre nós dois. Não sei mais como descrever aquilo. Eu me senti simplesmente protegida naqueles braços. Era engraçado. Como se eu fosse capaz de voltar lá e derrubar Voldemort com um sopro, se ele ainda me abraçasse daquele jeito. Talvez por isso, ou por tudo isso, a coisa mais óbvia do mundo a ser feita me pareceu ser exatamente o que eu fiz, aproximando os lábios do ouvido dele e sussurrando, numa confissão:

-Eu também te amo...

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Ouvi barulho de passos e de gente pigarreando à nossa volta, poucos instantes depois de Tiago ter estremecido e me dado um impetuoso beijo no pescoço.

-Será que vocês poderiam se lembrar um pouquinho de que não estão sozinhos? – disse a voz levemente irritada de Black.

Com um sorriso fino, soltei-me de Tiago, imediatamente sentindo falta dos braços dele, para ver, chocada, quem eram as duas pessoas que atravessavam o gramado, na nossa direção, com as varinhas acesas.

Um deles era Dumbledore.

O outro, Mark.

Opa...

Será que eu não conseguiria pensar em um momento mais inapropriado para pular no pescoço de Tiago? Mark não parecia nada feliz; tinha uma expressão triste, os ombros curvados, mas... Não parecia surpreso.

Minha atenção foi desviada para Dumbledore, que olhou para mim e para Black, parecendo sinceramente aliviado.

-Sirius, Lílian – ele disse, depois de um suspiro. – Como é bom ver que estão bem.

-Eu também fiquei muito feliz em sobreviver, pode ter certeza – replicou Black, ansiosamente. – Mas eu queria saber como aconteceu tudo. O que passou pela sua cabeça vazia de ir para a Mansão Black sem um bruxo adulto, Pontas??

Tiago deu de ombros e Dumbledore interferiu.

-Na verdade, a idéia foi minha – disse ele, e eu segurei um riso quando Black se encolheu. – Não deveria ter mandado Tiago e seus amigos, mas devido a uma insistência muito teimosa – ele olhou de esguelha para Alice – acabei concordando.

-Nós simplesmente pegamos Pó de Flu e fomos para a mansão! – contou Alice, rindo, com as mãos na cintura. – Até que nos saímos muito bem no começo, quero dizer, o Tiago derrubou aquela nojenta da Narcisa e Frank petrificou um elfo que tentou entrar no nosso caminho... Depois uma velha meio maluca começou a gritar e eu tentei enfeitiçá-la, quando chegou um monte de gente do nada e nos desarmou...

Ri baixinho, sem me conter diante de tanta maluquice debaixo das fuças de Voldemort, e Black suspirou:

-Bem... A nojenta da Narcisa é realmente nojenta, o elfo deve ser o idiota do Monstro e a mulher maluca... Só pode ser a minha querida mãe. Um exemplo de dama da sociedade, com toda a certeza.

-De qualquer forma – continuou Dumbledore, com um olhar de relance para Mark, que fitava a grama, - Eu enviei por tabela também dois vampiros, íntimos dos nossos ideais, que aparentemente conseguiram alguma posição estratégica na câmara onde o próprio Voldemort estava situado. Eles têm uma certa intimidade com escuridão, vocês sabem, e estes dois em questão são excelentes arrombadores.

Então eu entendi: só podia ser aquilo!

-Aquele flash branco! – exclamei. – Não foi nenhum sinal anormal! Eu apenas reagi à presença de vampiros! Aquela luz branca...

-Foi um sinal de grande poder mágico – completou Dumbledore, com os olhos cintilantes. – Você sabe, Lílian, como é difícil um bruxo desenvolver essa defesa natural. Só vamos esperar que os meus agentes não tenham saído muito feridos. Estou esperando um relatório a qualquer momento, assim que chegarem; da última vez que tive contato, estavam vestidos como Comensais. – fez uma pausa alegre. – Creio que isso os tenha favorecido em algum momento.

-Aqueles vampiros não eram o tipo capaz de tomar formas alheias, era? – perguntou Frank.

O diretor assentiu.

Todos soltamos suspiros de alívio. Apenas pensei que tínhamos enfeitiçado dois inocentes a mais. Mas, no momento seguinte, o velho tomou uma expressão séria.

-Agora, eu sinto mesmo ter que dizer isso. – falou ele. – Mas voltando para casa, estará colocando sua família em perigo, Lílian.

Baixei a cabeça.

-Ela pode ir pra minha casa! – exclamou Tiago, subitamente feliz, com o motivo adicional de me ver enrubescer.

-Ah, não fale besteiras – cortou Alice. – Lily, você vai pra minha casa. Vamos ser todos perseguidos mesmo...

-Com certeza – apoiou Black. – Eu ofereceria minha casa, Evans, mas você sabe... Eles não são tão simpáticos, entende? Além do mais, Pontas, pode ir parando. Eu tenho planos apenas de segurar vela no sétimo ano, obrigado.

Risos. Vi que Mark continuava quieto.

-Bem – disse Dumbledore, concluindo. – Agora que estão todos bem, acho que farão melhor voltando para a cama. Poderão conversar no trem amanhã.

Começamos todos a caminhar pelos gramados, em direção ao castelo, sentindo um peso de medo nos abandonando a cada passo; Mark ali estava, cabisbaixo, às vezes lançando olhares para Tiago, desanimado. E eu me dei conta de que tinha a obrigação de falar com ele.

Deixei-me recuar até ficar ao lado dele.

-Mark...

-Ei – ele interrompeu. – Pode deixar. Está tudo bem. No fundo eu sabia que você gostava do Potter, com todos aqueles boatos do Baile de Natal. Só fui muito idiota.

Suspirei, tentando pensar em algo razoável pra dizer.

-Desculpe – sussurrei – Eu devia ter falado com você antes...

-Não importa agora – ele disse. – Potter já foi bastante razoável, me chamando quando descobriu o que tinha acontecido com você.

-Ele...?

-Ele chamou o Longbottom e a Alice, claro, mas ele fez questão de me avisar. Eu fiquei com Dumbledore, pois achei que o Potter era melhor pra fazer aquilo.

E porque teve medo também, eu soube, mas não podia culpá-lo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*


Dormi pouquíssimo aquela noite. Também, depois de tudo aquilo, meu nível de atenção estava ligado no máximo; todos nós ficamos ainda mais uma hora na sala comunal da Grifinória depois, esperando o sono chegar. Black foi o primeiro a subir, porque estava de saco cheio de ficar sentado entre dois casais e faria melhor tomando o seu rumo e descansar para recomeçar sua lista de conquistas, quem sabe já no Expresso de Hogwarts.

Foi uma hora incrível; Alice e Frank ficaram comigo e com Tiago, ficamos suspirando, lembrando de detalhes do que acontecera, fiquei sabendo de detalhes sórdidos, como quando Tiago tivera que jogar Frank de cima da cama, ou como tiveram que mandar um sapo de mentira carregando um bilhete para Alice no dormitório feminino; ela acordou com o grito de uma das nossas colegas de quarto, que tinha insônia e um verdadeiro pânico de sapos.

Tenho que confessar que fiquei um pouco nervosa, no dia seguinte, quando tomamos o rumo para as carruagens que nos levaram à plataforma do trem; acho que cheguei a ver Bellatrix ou Narcisa, que já tinham voltado de seu rápido passeio para casa por alguma maneira secreta, mas elas mantiveram uma grande distância de mim. Coisa essa que não me deixou mais tranqüila; bem eu sabia que não tinha acabado. Elas com certeza apenas haviam pegado mais raiva de mim, mas por enquanto não tinham nenhum plano de morte lenta pra mim. Por enquanto, nem sabiam para onde eu ia. A carta de Dumbledore já devia estar chegando em casa àquela altura, na qual ele avisava que eu não poderia ir para lá neste verão; acho que ele ia trazer meus pais para a casa de Alice algum dia, pois eu sinceramente detestaria passar o resto da vida longe dos meus pais por significar perigo de morte para eles.

Alice e eu nos fechamos numa cabine; não havíamos encontrado Tiago e Frank ainda naquele dia, por isso estávamos um pouco nervosas. Só quando falamos com Remo e ele nos disse que os dois e Black quase não tinham acordado é que relaxamos.

Finalmente, a porta da nossa cabine se abriu e eles entraram; levantei-me imediatamente e deixei que Tiago me abraçasse.

-Nossa, pra quê tudo isso?

-Medo – confessei, com a cara apertada contra o peito dele, e me sentindo extremamente feliz por não haver nada de errado em demonstrar o que eu sentia. A sensação de que tudo que eu sentia era certo.

-Ah, como você é bobinha – ele falou, só por falar, roçando o meu ouvido e passando a mão pelo meu cabelo. – Eles não vão se meter tão cedo com Tiago Potter outra vez.

Então eu me voltei, olhei bem naqueles olhos aveludados dele... E sorri. Tiago sorriu também e me beijou, com o mesmo ímpeto da última madrugada.

Depois que nos separamos, ele olhou bem fundo nos meus olhos.

-Lílian... – ele começou. – Você se importa se fizermos um trato?

Olhei-o com cara de interrogação, e ele sorriu lentamente.

-Os outros não vão precisar saber que já estamos juntos... Assim você não perde a sua moral como odiadora de Marotos tão cedo, e eu não passo por um babaca que fica correndo atrás de você... – deu então aquele sorriso travesso que eu já conhecia.

-Hum... – fiz, fingindo fechar a cara. Tiago me olhou preocupado e eu sorri. – Está bem... Ficará entre nós, então.

Tão logo eu disse isso, ouvimos os passos de dois segundanistas enchendo o corredor e passando bem diante da nossa porta, sem nos notar:

-E você andou reparando no Potter ultimamente? Eu não sei o que fizeram com ele, mas ele mudou da água pro vinho...

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