O Beco



Pela janela entrava o som do trânsito abaixo. Tinham resolvido ignorar a recomendação de Sirius e darem a si mesmos um descanso dos sons da mata, farfalhar de folhas e rastejar de animais. Hermione não hesitara em usar o Confundus para se livrar da curiosidade do recepcionista.


– Guarda isso, Rony – ela fez com que ele abaixasse a varinha. – Esse feitiço não foi forte o bastante para atraí-los.


– Não me importaria se viessem agora – comentou ainda revoltado.


Desfrutaram do conforto do pequeno flat, banho quente, cama macia. Acordaram mais bem dispostos, porém preocupados e desanimados.


– Como não tem? – Rony fez com que ele interrompesse sua caminhada enquanto pensava no que fariam a seguir.


– Já disse, não estou machucado – reclamou enquanto o amigo desnudava seu ombro constatando que o ferimento havia desaparecido. Afastou suas mãos e se recompôs – Você está parecendo o Sirius...


Calou-se. Lembrar do padrinho agora seria martirizar-se ainda mais, a traição dele tinha doído mais que qualquer ferimento que sofrera até então.


– Vou sair um pouco – anunciou.


Hermione tinha saído para comprar produtos de utilidade geral e reabastecer a barraca para quando ela se fizesse necessária novamente.


– Hã? Agora? Pra fazer o quê?


– Nada...


– Então pra quê se arriscar saindo?


– Estou me sentindo sufocado aqui.


– Você não vai sozinho – Rony o puxou de volta quando se dirigiu à porta. – Espere a Hermione chegar e eu vou com você.


– Não precisa se arriscar vindo comigo. Não pretendo demorar.


– Lá fora há Comensais, aurores, seguidores da Magia Antiga, …


– Não se preocupe – interrompeu-o impacientemente – Eu vou voltar.


– Da última vez que você disse isso não te vimos por meses.


– Rony...


– Já disse que não, desculpe mas eu sou o mais velho, então eu decido... na ausência da Hermione, claro.


– Alguns meses apenas!


– Só que sou mais alto e mais forte... – Rony  o empurrou para o sofá e se sentou ao seu lado.


– É verdade – concordou – Está tudo dando errado, não temos a mínima ideia do que fazer e não podemos confiar em ninguém... por que eu iria querer sair e me distrair um pouco?


– Podemos jogar – Rony ofereceu – Não é tão emocionante quanto os outros mas...


– Trouxe xadrez de bruxo? – Harry perguntou a ele.


– Não, eu nem pensei nisso... Mas eu tenho outro! – levantou-se e foi para o quarto  pegar a mochila. – Fred me deu esse jogo de cartas, da loja deles, não abri ainda mas...


Rony olhou ao redor, para a sala vazia.




Perdeu a noção de quanto tempo ficou parado olhando para a escultura de calcário branco, a cabeça de um leão que, segundo a descrição, tinha vindo do templo de Shamash. Não a estava admirando, porém. Estava repassando mentalmente cada detalhe do que tinha visto e escutado na companhia de Voldemort.


Lentamente deu prosseguimento à caminhada. As pessoas à sua volta contemplavam os artefatos com admiração. Entrou no Great Court, tão claro e iluminado. Olhou o céu da tarde, pelo teto de vidro, e lembrou do teto do Salão Principal, em Hogwarts. O Diretor tinha ficado lhe devendo aquela visita ao Museu Britânico. Veio à sua mente a lembrança do lago escuro da caverna que tinham visitado, tão diferente daquele lugar. O gelo, seu reflexo na água, o degrau rangendo sob seus pés...





– Está se sentindo bem?


– Hã? Estou... obrigado – olhou de relance para a pessoa ao seu lado, não tinha percebido que estava a tocar a cicatriz enquanto meditava.


– Você me parece familiar... – ele dissse a Harry, este lembrou-se de já ter escutado aquilo antes.


– É a primeira vez que venho aqui – comentou brevemente enquanto se afastava.


– Foi uma boa escolha – disse acompanhando-o. – O passado pode nos dar muitas respostas.


– Não as minhas, eu acho – Harry deu de ombros reparando-o e ao jarro que carregava.


Ele usava uma túnica branca que cobria parcialmente seus pés descalços, apesar das marcas em torno de seus olhos e dos curtos cabelos brancos ele parecia jovem. Harry olhou ao redor reparando que ninguém parecia se admirar com a aparência dele.


– Nem todas as perguntas podem ser respondidas – deu-lhe um sorriso cansado. – Nem todos os problemas têm solução... – indicou-lhe a passagem à esquerda e Harry o acompanhou, fascinado com a tranquilidade de seus gestos e com a sabedoria de seu olhar.


– Isso eu só saberei quando esgotar todas as possibilidades. – Harry enfiou as mãos no bolso descontraidamente, prestando atenção ao som do líquido, agitando-se no recipiente que ele carregava. Um pequeno grupo de pessoas se locomovia lentamente por ali, evitou-o.


– Quando jovens pensamos que teremos todo o tempo necessário e que tudo se resolverá, nem sempre é assim – olhou-o com pesar. – Às vezes certas escolhas são necessárias, mesmo que nos desagradem, vezes em que temos que pesar as consequências para outros ao invés de somente para nós mesmos.


– Estou me preparando para isso – Harry suspirou fundo. – Mas, talvez, eu tenha mais tempo do que esperava.


– Não, meu jovem – ajeitou o jarro nos braços e parou para encará-lo. – Na verdade, eu me arrisco a dizer que o seu tempo já está no fim. Talvez este seja o momento de deixar o passado e começar a construir um novo futuro, em um novo mundo...


– Como assim?


– Ouça aos seus amigos, eles te orientarão – sugeriu indicando-os com o olhar.


Harry se virou para ver quem se aproximava. Ela correu para ele e o agarrou num abraço apertado.


– Eu também senti sua falta – comentou surpreso, enquanto retribuía ao seu abraço.


– Raven, deixe-o um pouco – John tentou afastá-la.


– Eu já o deixei por muito tempo – Raven reclamou embalando-o em seus braços.


– A Ordem também está aqui? – separou-se dela para olhar ao redor.


– Não, não estão – John assegurou e virou-se para o homem que ainda os olhava – Obrigado por nos avisar, Mestre.


– Água para refrescar a alma? – ofereceu a eles erguendo o jarro – Vinho para anestesiar a dor? – insistiu.

 – Não, obrigada – Raven agradeceu com uma reverência.


– Quem é ele? – Harry perguntou quando o homem se afastou.


– Um homem sábio – Raven disse ternamente. – Você não parece bem – ela inclinou levemente a cabeça analisando-o.


– Eu estou sim... Como chegaram até aqui? Como me reconheceram?


– Temos muitos amigos, espalhados por todos os cantos – disse John – Pedimos que nos avisassem, caso o vissem por aí, só que não somos os únicos à sua procura – conduziu-os pelo corredor.


– Eu recebi o globo que você me mandou, imaginei que este lugar seria importante pra você – ela disse enquanto procuravam um lugar afastado, longe de ouvidos e olhos curiosos – Há certas coisas que não dá para disfarçar, querido, e eu nunca confundiria esses olhos, com nenhum outro, com ou sem óculos. – beijou-o.


Entraram por uma porta e surgiram em uma rua deserta. Harry olhou em volta estranhando o lugar, as ruas eram estreitas e sujas, os imóveis mal conservados e pixados, teve certeza de que não estavam mais em Londres. John abriu a estreita porta do prédio antigo, revelando um lugar mal iluminado pelos poucos raios de sol que conseguiam passar pelos vidros sujos e empoeirados, Raven o guiou para dentro.


– Esse lugar é estranho – Harry comentou enquanto andava pelo local de aparência abandonada, sentou sobre o que, um dia, tinha sido um balcão de bar.


– Desculpe, nada daquilo deveria ter acontecido. – Raven se aproximou enquanto ele ainda estudava o lugar.


– Não foi sua culpa – Harry segurou sua mão reparando na aliança, agora na mão esquerda. – Fico feliz que não tenha acreditado no Snape.


– Conte-nos o que aconteceu com você. Como conseguiu fugir? – John pediu.


Harry contou a eles o que tinha acontecido desde que voltara a Hogsmeade com Dumbledore.


– O que será que ele está pretendendo? – John meditou consigo mesmo.


– Harry, a gente tem que conversar sobre algo muito sério e não podemos mais adiar.


– Agora não, Raven – ele pulou do balcão e ela o abraçou não deixando que se afastasse – Não quero falar sobre Sirius...


– Não é sobre ele – ela encostou a testa na sua e beijou-lhe a fronte.


– É sobre nós.


A voz familiar o assustou. Raven o apertou mais para si, Harry tentou inutilmente se afastar.


– Raven, John, eles...


– São nossos amigos – John explicou.


Harry olhou dele para os outros dois que se aproximavam sem conseguir assimilar aquela informação.


– Somos Guardiães, Harry – Raven murmurou em seus cabelos. – John, Leon, Melwas e eu.


– Não! Claro que não é! – ressaltou enfaticamente tentando anular suas palavras.


– Você já sabe quase tudo o que está acontecendo e o porquê – disse John. – Nós nos aproximamos de você para acompanhá-lo de perto, o Conselho tinha decidido esperar até que te conhecêssemos melhor, mas alguns não concordaram.


Harry ficou olhando para ele como se a qualquer momento ele pudesse se transformar em outra pessoa, mas tinha certeza de que aquele era o John que conhecia, essa certeza o fez se sentir ainda pior.


– Você também não, Raven... – pediu a ela, sem coragem para encará-la.


– Eu quis te contar por diversas vezes, mas não consegui um bom momento – Raven o observava preocupada. – Nunca tentamos te fazer mal.


– A princípio, talvez. – Melwas comentou aproximando-se do balcão. – Mas não o conhecíamos, pensamos que fosse como ele, egocêntrico e com total desrespeito à vida alheia. Estávamos errados.


– Só que isso significa muito para centenas de pessoas, é a segurança delas que está em risco, e elas tendem a agir em prol da autopreservação, como Kariel. Naquele dia fomos até lá incumbidos de te proteger.


– Precisávamos te proteger dos outros, por isso me infiltrei em Hogwarts... – ela tentou fazer com que a olhasse, mas ele relutou a isso. – Estávamos tentando assegurar que eles se mantivessem afastados... e que você não seria uma ameaça para nós...


– E quando foi que eu me tornei uma? – afastou seus braços evitando o contato com ela.


– Não faz isso, Harry – ela pediu com os olhos marejados – Eu sei que te decepcionei, me desculpe, mas eu sempre estive do seu lado.


Harry baixou a cabeça e fechou os olhos, não conseguia associar os dois ao que sentia em relação aos Antigos.


– E Sirius – murmurou – Mentiu para ele também...


– Eu nunca menti pra vocês! – ergueu seu rosto obrigando-o a olhar em seus olhos. – Sirius foi a melhor coisa que me aconteceu, eu me aproximei dele para obter informações e omiti a verdade de vocês sim, mas isso não quer dizer que eu não os ame.


Harry virou o rosto desviando o olhar.


– Isso não é verdade – Melwas interrompeu seus pensamentos – Não tentamos te matar, foi um acidente. Derfel iria assumir o lugar de Raven quando ela casasse e se afastasse, mas se mostrou despreparado ainda, voltou para a colônia.


– Você está acessando a minha mente?


– Você não a fechou a interferências externas...


– Eu não vou mentir dizendo que não teria sido mais fácil se você tivesse morrido naquela noite. – Leon se sentou a uma das mesas.


– Ninguém te pediu isso Leon – John o censurou. – Não precisava ter se dado ao trabalho de se expressar.


– E agora? O que vai acontecer? – Harry suspirou se sentindo esgotado.


– Depende do que você pretende fazer.


Melwas pôs a mão em seu ombro e o guiou até a mesa fazendo com que ocupasse uma cadeira. Raven imediatamente sentou-se ao seu lado, os demais também tomaram assento. Melwas puxou um maço de cigarros do bolso.


– Aqui não – Leon tirou o maço de suas mãos e o guardou novamente no bolso de seu paletó.


– Desculpem, é o hábito. Diga-nos, Harry, quer continuar sua busca pelas horcruxes dele? Destruí-las?


– Estou tentando localizá-las. Por quê? – Harry passou o olhar pelo grupo, evitando olhar para Raven, ao seu lado.


– Porque será importante para o seu pessoal ter essa vantagem sobre o nosso amigo Lorde, você é o único que pode identificá-las. – disse Melwas – Quando se juntar a nós poderá localizá-las, mas não destruí-las, não poderá tentar contra nenhum membro do grupo.


– Não pretendo me juntar a vocês! Por que eu faria isso?


– Pra se manter vivo – Leon disse a ele – Os outros já sabem sobre você e não vão demorar a te localizar, assim como nós conseguimos hoje...


– Contou aos outros...? – virou-se para Raven decepcionado.


– Claro que não! – ela exclamou veemente – Nossas certezas ficaram só entre nós quatro, mas então, nosso amigo Fenrir nos fez o favor... Assim que se juntar a nós ficará a salvo dele também, ele não poderá te fazer nada.


– Quase nada – John a corrigiu – Arranjar problemas com ele é ir muito além disso, ainda tenho a marca das presas dele, na minha perna, e eu só tinha... dez anos...


– Ficaria feliz se alguém desse um jeito nele – ela comentou com irritação.


– E parece que o Lorde também – Leon comentou calmamente – Muito esperto querer usar o garoto pra fazer isso.


– Eu não poderia... eu nunca teria chance contra ele...


– Não se subestime, você pode ser capaz de muito mais – disse Melwas – E Tom sabe disso, talvez queira usá-lo contra nós – disse olhando para os demais.


– Isso é loucura, Doc... – John descartou sua idéia atirando-se contra o encosto da cadeira.


– Por que, então, ele não convocou o Conselho e preparou o ritual ele mesmo? Seria a coisa mais certa a fazer, ficou com o garoto por tanto tempo, ele sabe que isso tem de ser feito – Leon argumentou – A não ser que tivesse outros planos. Depois de Fenrir, a quem mais pediria que ele matasse?


– Eu não iria matar ninguém! – Harry exclamou chocado.


– Se está perseguindo bruxos pelo simples fato de não o aceitarem ... Por que não? – Melwas o ignorou, fazendo coro a Leon.


– Verdade ou não, não vamos deixar que essa teoria chegue aos ouvidos dos demais – John pediu – Harry está com a gente agora, se juntará a nós e ficará tudo resolvido, todos vão deixá-lo em paz.


– Eu vou conseguir um meio de me desvincular da alma de Voldemort, não serei mais um problema para vocês e até o Ministério vai acabar perdendo o interesse com o tempo.


– Meu amor, a chance de você conseguir desfazer este incidente entre vocês é quase nula. – disse Raven – Já pesquisamos e consultamos os nossos irmãos de outros países, isso nunca aconteceu antes... E mesmo assim, não é garantia de que algo irá mudar se conseguir; o que você é hoje, seus conhecimentos...


– Mas eu quero tentar! – passou rapidamente os olhos à sua volta. Levou a mão automaticamente ao peito.


– Nem pense em fazer isso – Leon o repreendeu – Seus amigos já estão muito envolvidos em tudo isso, não vai querer que se juntem a nós também, não é?


– Eu preciso responder, ou ficarão preocupados... – Harry tentou se justificar, Leon debruçou-se sobre a mesa e tirou o cordão de seu pescoço. – Como faz isso? – indagou com genuína curiosidade enquanto o observava depositá-lo à sua frente.


– Eu vou te mostrar quando estiver conosco, você não precisará ter para sempre essa visão fraca. Já que seus olhos não funcionam bem... para quê mantê-los?


Harry sentiu-se arrepiar com seu comentário.


– Ignore-o querido, ele tem um senso de humor sombrio – Raven acariciou seus cabelos – O que posso fazer para que me perdoe?


– Sirius sabe? Ele aceitou isso? – perguntou-se qual teria sido a reação dele ao descobrir, se não teria ficado abalado, recordou-se dos dois juntos e deduziu que ele poderia superar, afinal, ele também era uma vítima do Ministério.


– Ele não entenderia... Todos têm o direito de ter seus segredos. Ele também tem os segredos dele, com a Ordem – argumentou – Eu nunca o colocaria em risco.


– Você irá protegê-lo? – pediu a ela.


– Irei proteger a vocês dois, vocês são minha família agora.


– Então vamos, não há mais porque adiar isso – Leon se levantou decidido. – Queira ou não esse é o seu destino.


– Acho que ele ainda não está pronto – Raven olhou para John pedindo apoio.


– Temos que acostumá-lo à ideia – John passou a mão pela testa afastando  os  cabelos para o lado. – Com o tempo...


– Não temos tempo – Melwas levantou-se e os outros também. – Este é um caso especial.


– Vamos simplesmente obrigá-lo, ou ...


– Ou o quê, meu irmão? – Raven perguntou a Leon enfezadamente.


Harry puxou lentamente o cordão, guardou-o no bolso, Melwas pousou a mão em seu ombro.


– Não vamos começar a brigar entre nós – John pediu.


– Ou então, desperdiçar nosso curto tempo deixando que o Doc faça as apresentações. – Leon concluiu tranquilamente.


Todos viraram-se para Melwas e Harry também o olhou com curiosidade.


– É, sou médico, por isso me consideram bom com a lâmina – esclareceu a Harry, puxando-a do bolso, a lâmina prateada, que no primeiro encontro deles Harry tinha pensado ser uma varinha. Com um rápido movimento ela se alongou, com outro partiu a mesa em duas – Sou médico-legista – completou guardando-a novamente. Harry arregalou os olhos para ele.


– Eu vou junto – John se ofereceu. – Vamos te mostrar todas as facilidades que poderá ter, o porquê de termos tantos adeptos hoje, o último foi um auror, sabia? Tudo isso foi bom para quebrarmos alguns preconceitos também, ele iria ser seu professor...


– Desculpem, mas não vou viver como vocês, me escondendo ao invés de enfrentar meus problemas...


– Você não está facilitando as coisas, está nos deixando sem outra alternativa – Melwas se virou para ele e ambos se encararam por um tempo. – Venham aqui. – Melwas guiou Raven e John até o balcão. Harry começou se afastar lentamente – Vamos reavaliar isso...


– Não há mais nada a ser decidido, vou levá-lo para a colônia, ele irá gostar de lá, irá conhecer os outros e ficará protegido até que esteja preparado, depois voltará comigo para casa – Raven soou decidida. – Não vou deixar que ninguém lhe faça mal.


– Eu não estou propondo isso, só que não poderemos protegê-lo de tudo e todos para sempre, isso tem de ser feito, e o quanto antes.


– Eu sou o único que estou achando tudo isso um absurdo? – John reclamou. – Vamos mostrar tudo a ele, depois deixamos ele dizer o que pensa. – passou os olhos lentamente pelo aposento – Harry...?


– Ele saiu – Leon comunicou sentando-se novamente em sua cadeira.


– Deixou que ele saísse?! – Raven perguntou incrédula enquanto corria para a porta, John a acompanhou.


– Não adianta, ele já está longe agora, é melhor que se vá – Leon tirou os óculos escuros, expondo as pálpebras cerradas e passou a mão pelo rosto, cansado.


– É... – Melwas passou a mão pelo queixo, pensativo. – Ele é bom... conseguiu me distrair – puxou uma cadeira para perto de Leon e se sentou também – Ele amadureceu muito desde a última vez que o encontrei, gostaria de me encarregar pessoalmente de seu treinamento. – tirou o isqueiro do bolso e ficou girando-o entre os dedos.


– Vocês vão ficar sentados? – perguntou John, perplexo.


– É tudo culpa de vocês! Vocês o assustaram! – ela reclamou. – Ele não pode ficar lá fora, sozinho...


– Ele vai se sair bem, nada do que vocês dissessem ou fizessem iria fazer com que ele mudasse de ideia – disse Leon. – O garoto tem razão, estamos acovardados, preocupados apenas em nos esconder e permanecermos incógnitos, não me espanta que ele não queira se juntar a nós...


– Está falando que deveríamos recomeçar uma guerra? – Melwas olhou para ele – Depois de todos os nossos que morreram e desapareceram...


– Concordo com Leon – John se aproximou – Lembram do que Alvo Dumbledore disse?


Os quatro se olharam pensativos. Algum tempo depois deixaram o local, decididos, e desapareceram na noite.



Eles se assustaram quando entrou, estavam na sala, as mochilas em cima do sofá, esperando-o.


– Onde estava? Por que demorou tanto a responder!? – Hermione se aproximou disposta a extravasar seus momentos de angústia e preocupação mas desistiu ao ver sua expressão. – Aconteceu alguma coisa?


– Temos que seguir, não podemos mais ficar aqui.


– Sim, eu iria dizer isso – Hermione concordou. – Vi uma foto sua hoje, olhe bem para ela – pediu estendendo-lhe um jornal. Harry o tirou de suas mão e encarou a foto em silêncio.


– Ele não se parece comigo – deduziu após algum tempo – Se parece com o Bryan, mas isso não tem importância – dobrou o jornal e jogou sobre o sofá – Temos que sair de Londres.


Rony o olhou rapidamente e se sentou no sofá ignorando-o.


– Esse Andrew Shalmann está desaparecido há três anos, deve ter quinze agora, não acredito que seja coincidência, tirando os óculos e a cor do cabelo vocês são idênticos...


– Éramos, em três anos ele pode ter mudado muito... – comentou sem se importar com sua preocupação.


– Sim, pode ter crescido.


– Rony, me desculpe, eu precisava ficar sozinho... – esfregou os olhos cansados, sua cicatriz estava formigando – Não acredito que tenha algo a ver comigo, Mione, nunca ouvi falar nessa família, Shalmann, e com certeza nunca tirei essa foto.


– Mas eu não me lembro de ter visto ou escutado nada sobre este menino antes, surgindo agora, isso te põe em evidência não é? – Hermione meditou enquanto andava pela sala – É obvio que você não se arriscaria a andar entre os bruxos e a primeira coisa da qual teria que se livrar para não ser reconhecido seria os óculos. Agora é só deixar que informem seu paradeiro assim que você aparecer em público.


– Achamos que pode ter a ver com Você-Sabe-Quem, ou até mesmo com a Ordem... – Rony comentou.


– Seja quem for, está na hora de ir, não posso continuar aqui – não mencionou o ocorrido, não podia envolvê-los ainda mais, condená-los também.


– Ainda temos que começar a investigar, procurar as pessoas com quem ele se relacionou – Hermione pegou suas anotações. – E tentar descobrir o outro lugar no qual poderia ter escondido a horcrux.


– Eu acho que sei onde ele escondeu – Harry anunciou – Acho que Rony estava certo, o lugar onde cometeu o primeiro assassinato, a casa dos Riddle. Ele esteve lá no dia em que saí com Dumbledore.


– Tem certeza?


– Tenho. Ele já tinha estado lá antes, foi o local que usou para se esconder antes de recuperar o corpo... – esfregou a testa incômodamente – Mas... é provável que não tenha mais nada lá também – caminhou pelo local e olhou pela janela evitando se aproximar muito. – Vou ter de voltar à ilha, é com certeza o lugar mais seguro para elas e grande também, acredito que não conheci um terço de sua extensão...


– E teremos tempo para procurar? Ele não saberá da nossa presença assim que chegarmos?


Harry apenas olhou para ela, seus pensamentos em outro lugar.


– Eu tenho uma ideia melhor, vamos ver primeiro o que meus irmãos conseguiram com a medalha, se for necessário iremos atrás das outras, senão, resolvemos o seu problema – Rony concluiu satisfeito consigo mesmo.


– E depois...? – perguntou Hermione – Não vamos ter que destruir as outras horcruxes, de qualquer forma?


– Sim, mas poderemos entrar com uma escolta do Ministério e a Ordem pra ajudar, não teremos que fazer tudo sozinhos, não é, Harry?


Rony se virou para o amigo que ouvia calado, os olhos fixos e inexpressivos . Harry levou um dedo aos lábios enquanto meditava.


– Sim, está na hora de vermos os seus irmãos – concordou.





– Onde vocês estão agora?


– Continue andando, estamos aqui – Harry disse às suas costas, ele e Hermione encolhidos embaixo da capa.


Entraram no Caldeirão Furado e paralisaram, surpresos. O local parecia ter sido transformado num quartel general dos aurores. Harry ficou nervoso percebendo que Rony começava a corar.


– Qual o seu nome e para onde quer ir? – Um homem sustentando a insígnia do Ministério perguntou a Rony enquanto outro o vistoriava com um detector de artes das trevas.


Rony deu seu nome e motivos verdadeiros, ninguém poderia afirmar que ele ainda era um aluno de Hogwarts, e sendo maior de idade, ninguém poderia obrigá-lo a voltar à escola. A preocupação maior era se depararem com um dos membros da Ordem, só eles sabiam a verdade, o porquê de não ter voltado.


Passaram por eles e entraram no Beco, não precisaram ver muito para perceberem o clima de apreensão. Rony se encaminhou à loja de logros, entrou e foi direto ao balcão.


– Oi, tudo bem?


– Olá senhor Weasley, posso ajudar? – a atendente contratada por seus irmãos o atendeu solicitamente.


– Meus irmãos estão aqui?


– Não. Eles não estão ficando aqui na loja, estão em um novo empreendimento.


– Ah... Onde eu posso achá-los?


– Desculpe, eu não sei. Eles estão mantendo sigilo por enquanto, sei apenas que é na Romênia.


– Romênia?! Nossa... Tudo bem, obrigado Sarah – voltou para a rua e olhou em volta – E agora?


– Podemos ir à Romênia, não deve ser difícil localizá-los, e vai ser bom sair do país por um tempo.


– Preciso de uma varinha – Harry sussurrou. – Vamos primeiro ao Olivaras.


– Não sei... – Hermione pensou por instantes mas não achou argumento algum, era algo realmente necessário.


Seguiram até a loja. Quando entraram Harry saiu de debaixo da capa, a loja estava vazia. Harry tinha decidido por abandonar o disfarce já que o mesmo também poderia lhe dar problemas.


– O que vai dizer a ele? – Hermione sussurrou mostrando-se também.


– Boa tarde a todos, posso ajudá-los? – Sr. Olivaras surgiu dos fundos da loja, sorriu ao vê-los. – O que fazem fora da escola?


– Recebemos uma permissão especial para vir. – Harry informou a ele, feliz por reassumir sua identidade, presumiu que se sua morte não tinha sido divulgada, não haveria por que as pessoas não ligadas à Ordem ou ao Ministério estranharem sua presença. – Preciso de uma varinha temporária, a minha está... inacessível no momento.


– Eu me lembro dela, azevinho, 28 centímetros, você foi um cliente exigente, Harry... – perdeu alguns segundos olhando-o distraidamente – Vai ser uma busca demorada, aposto. Aguardem um momento... – dirigiu-se de volta aos fundos da loja e retornou minutos depois – Bem, acho que você me dará trabalho – Olivaras disse ao retornar – Vou deixar que experimente as mais recentes, é provável que eu tenha que fabricar uma sob medida para você – disse convidando-o a atravessar o balcão.


– Querem dar uma volta? Eu aviso quando acabar – Harry perguntou a eles.


Hermione, segurando fortemente a mão de Rony, reparava no movimento do lado de fora.


– Quer ir a algum lugar? – ela perguntou a Rony.


– Não, tudo o que eu quero está aqui. – ele afagou seus cabelos e ela beijou seu maxilar e lábios.


– Vai demorar muito? – Harry perguntou ao Sr. Olivaras enquanto seguiam para os fundos da loja.


– Só o tempo de você testar aquelas – disse indicando o cômodo – Pode ir até lá, vou buscar minhas ferramentas.


Harry entrou no cômodo enquanto ele se afastava. Era o ateliê onde ele as fabricava, o cheiro de madeira era agradável, dirigiu-se até a mesa e pegou a mais próxima. Estava testando a terceira, estranhando que nada estivesse acontecendo, quando percebeu que estavam todas inacabadas.


O aparecimento deles foi repentino, não estava preparado, estavam no andar de cima, correu para a saída e encontrou a porta lacrada por magia, a surpresa lhe custou alguns minutos até que pegasse o cordão e enviasse uma mensagem. Eles estavam descendo as escadas, que ficavam nos fundos, para que chegassem à frente da loja teriam que passar pela porta em que estava. Ouviu o som de passos do lado de fora aproximando-se rapidamente, desbloqueou a porta e a abriu para sair.


Mesmo com seu escudo, os três feitiços estuporantes que o acertaram fizeram com que fosse arremessado para trás. Eles entraram, traziam com eles o Sr Olivaras, que se encolhia, amedrontado e envergonhado, nas mãos de seu captor.


– Se reagir ou tentar fugir nós mataremos ele! – Dolohov esbravejou apontando a varinha na direção de Harry, que se levantava aturdido. – Entendeu o que eu disse?! – gritou.


– Sim... – Harry murmurou, caiu ao chão se contorcendo quando o feitiço Cruciatus o atingiu.


– Bellatrix disse para não machucá-lo – ouviu uma voz abafada enquanto recuperava o fôlego. Viu o Sr. Olivaras ser jogado a um canto, duas varinhas apontadas para ele.


Harry olhou para os Comensais da Morte à sua volta, tentando pensar rapidamente em algo que pudesse fazer, não podia deixar que o levassem de volta à ilha, daquela maneira, não tinha um plano ainda. Cordas uniram suas mãos às costas.


– Não recebo ordens dela – Dolohov disse enquanto desnudava o braço que continha a Marca Negra – Ele o quer vivo apenas.


Harry foi erguido brutalmente quando uma mão o agarrou com força pelos cabelos fazendo-o arquejar, fechou os olhos, se concentrando, quando Dolohov tocou o braço com a varinha.


– Tragam para cá a lareira, ele precisará...


Ouviram o som da porta da frente e a vitrine da loja se estilhaçando. Não demorou a chegarem aos seus ouvidos as vozes dos aurores que corriam para o local. Os cinco Comensais se entreolharam por instantes, Harry foi jogado ao chão enquanto Dolohov gritava ordens e corria para a frente da loja, tencionando barrar a entrada dos aurores.


– Nem pense em tentar alguma coisa! – o Comensal que tinha ficado gritou para ele, apontava a varinha para Olivaras mas alternava o olhar entre ambos. Ouviam feitiços zunindo pela loja danificando as prateleiras.


Harry mantinha as mãos às costas embora já as tivesse livres, teria que ser cuidadoso. Dois feitiços estuporantes voaram de um canto vazio do cômodo atingindo o Comensal, Rony correu em direção a ele, chutou-o para um canto e invocou a varinha caída.


– Vocês estão bem? – Harry se levantou e foi até eles. Hermione enfiou rapidamente a capa dentro da bolsa enquanto se aproximava de Olivaras.


– Claro que estamos! Você é que quase foi capturado...


– Vamos sair daqui – apressou-se até Hermione que tentava ajudar  o trêmulo  Olivaras a  se levantar – Voldemort está vindo!


– Não! Deixem-me! – Olivaras se desvencilhou de ambos, cambaleante. – Eu os chamei, fui eu...


– Não importa, o senhor tem que sair daqui, ele está vindo pra cá – Harry insistiu.


– Esta é minha loja, vão vocês, usem a lareira portátil – segurou o braço de Hermione enquanto seus joelhos cediam. Rony olhou nervosamente para a porta, de onde o som da batalha era incessante. – Eles sabiam que viria, deram-me a lareira para que entrassem quando eu os chamasse. Eu não pude... sinto muito... no segundo andar, vão!!


Rony puxou a Harry e Hermione em direção à porta. Feitiços da morte eram lançados em direção à rua, os aurores tentavam acertá-los enquanto buscavam lugares seguros de onde lançar seus feitiços. Harry foi o primeiro a sair, agachou-se procurando abrigo atrás de uma das estantes, varinhas estavam espalhadas por todos os cantos. Rony surgiu e passou direto por ele, lançando feitiços em direção aos Comensais, na entrada da loja, um deles acertou Yaxley.


Sentiu a cicatriz explodir em dor por ínfimos segundos, a imagem do Beco surgiu, ouviu gritos de dentro dos comércios enquanto seus Comensais seguiam em direção aos aurores concentrados na frente da loja. Harry avançou até Rony concentrando-se em ampliar seu escudo, Hermione vinha logo a seguir, puxou o amigo para que fossem logo para as escadas.


– Anda, Rony, ele está aqui, estão no Beco, conseguiram entrar! – neste instante a fachada da loja implodiu, foram todos arremessados contra a parede dos fundos juntamente com todos os móveis. Parte do teto caiu, soterrando-os.


Após seis dos aurores lançarem o Bombarda sobre a loja, livrando-se do duplo ataque, voltaram-se para os recém chegados. Os poucos visitantes e comerciantes estavam escondidos nas lojas, muitas delas com as fachadas atingidas.

Mais aurores estavam chegando para reforçar a defesa e levar as novas ordens, não fazer prisioneiros. Recomeçaram o contra-ataque com força total. Os prédios foram iluminados pela luz esverdeada, tal a quantidade de feitiços da morte que cruzou o local naquele momento.


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