Castelo




Os dias vinham e iam e continuava sem notícias, não permitiam que tivesse acesso aos jornais e não lhe diziam nada sobre o que acontecia lá fora. Acordou com algo pesado deslizando sobre o seu peito.


“Nagini! Sai!” – reclamou empurrando-a para o lado.


“Está claro novamente”.


“Já disse que não precisa me acordar só pra dizer isso!” – resmungou pegando os óculos.


Não tinham nada para fazer, então se ocupavam explorando o castelo e suas passagens secundárias, a barreira da escada havia sido retirada, mas não tinha acesso ao primeiro andar, onde estaria a saída. Tinha praticamente todo o castelo para si, era grande, porém bem menor que Hogwarts.

Havia muitas salas e câmaras vazias, encontrava alguns móveis quebrados de vez em quando. Fora o acesso para uma das torres, um corredor e algumas poucas passagens secundárias, bloqueados, não encontrou nada de interessante.


Sentia a presença dos Comensais no primeiro andar, mas eles não subiam as escadas, Bellatrix e Narcisa eram as únicas pessoas que via.


– Você precisa sair todos os dias? – Harry o interceptou na sala, a caminho das escadas. – Tem tanta coisa assim pra fazer lá fora?


– Dumbledore também não tem parado, sequer, para lamentar sua perda – Voldemort comentou. – Pensei que ele fosse demonstrar um pouco de respeito à ocasião. Acredite, nem te deram um funeral ou uma homenagem. Ele não se importava com você, só queria usá-lo para achar minhas horcruxes...


Voldemort tentou chateá-lo, mas pela primeira vez, desde que chegara, sentiu-se animado. Imaginou que isso demonstrava que não acreditavam em sua morte, ao menos preferiu assim deduzir. Sabia que seus amigos não haviam acreditado, embora não soubesse se ainda tentavam se comunicar.


– O que é isso? – perguntou desconfiado pressentindo suas esperanças.


– Nada... – subiu em direção ao telhado de vidro e ficou observando a noite até bem depois de Voldemort ter partido.





– Senhora Malfoy, ainda não tem notícias de lá de fora? – perguntou quando se encontraram a sós.


– Não. Estou aguardando permissão para sair da ilha – comentou angustiada. – O período letivo termina esta semana, os alunos voltarão para casa...


– O quê? Não posso estar aqui há tanto tempo... – alarmou-se. Era muito tempo sem dar notícias, teve medo de que acreditassem em Snape. – Quando a senhora voltar, pode mandar um recado pra mim? – perguntou esperançoso.


– Todos nós nesta ilha estamos sob encantamento, ninguém pode dizer, lá fora, nada do que se passa aqui. Não vai ser fácil pra você desta vez – cochichou. – Ele se preparou pra isso... – calou-se quando Nagini se aproximou.


– Ela não entende o que diz... – Harry explicou passando a mão por sua cabeça enquanto ela se erguia ao seu lado.


– Estranha essa afinidade de vocês com esse... réptil – disse com um estremecimento. – Essas semelhanças entre vocês...?


– Nós somos muito diferentes! – disse chateando-se. – “Vamos Nagini” – chamou enquanto se dirigia às escadas.


Desceu às pressas quando sentiu a presença deles, todos os dias aguardava seu regresso ansioso por novidades. Encontrou-os em um dos patamares, Voldemort estava acompanhado por Bellatrix e um Comensal. Era a primeira vez que via um deles no castelo, Bellatrix lhe passou uma valise, era alto, cabelos cor de areia, uma expressão séria e um olhar cansado que parou por breves instantes em sua direção antes de partir.


– Alguma novidade? – Harry perguntou vendo-o ir embora.


– Ainda não se cansou de me fazer essa pergunta? Sabe que não vou responder...


– Quem era esse? – insistiu.


– Por que não vai brincar com a sua nova amiguinha? – Bellatrix sugeriu.


Harry ignorou sua provocação e olhou para baixo e ao redor, Nagini não estava mais por ali.


– Todos os cômodos deste lugar possuem passagens secundárias... – Harry se dirigiu a Voldemort – Por que Salazar teve o cuidado de interligar todo o castelo com ambos os tipos de passagens? É óbvio que ele gostava de serpentes, mas se dar a esse trabalho... Você já pensou na hipótese de Salazar ter sido um animago? Uma cobra?


– Salazar Slytherin era um animago! Você saberia disso se tivesse estudado a respeito da história dos fundadores de Hogwarts, tenho tudo na minha biblioteca... – repreendeu-o – Ele era uma serpente marinha.


– Ah... prefiro quando você me diz... – olhou para baixo, pensativo. – Você já encontrou o túmulo dele?


– Ainda não – respondeu a contragosto.


– Isso torna as coisas mais difíceis, não é? Se ele não se separava do cetro, com certeza o levou para o túmulo. Mas se era uma serpente marinha... É isso que os trouxas estão fazendo em alto mar? Usando algum tipo de tecnologia pra procurar no fundo do oceano?


Voldemort levou um dedo aos lábios encarando-o. O verde do anel dos Gaunt se destacava na palidez de sua pele. Bellatrix ficou aguardando em silêncio reparando a ambos.


– Venha comigo – Voldemort começou a subir. – Se quiser nos acompanhar, Bella...


Bellatrix sorriu encantada e os seguiu. Subiram alguns lances e percorreram um dos andares até chegar ao corredor bloqueado.


– É um desperdício este lugar tão grande e vazio – Harry comentou enquanto o seguia.


– Só enquanto não há alunos... – Voldemort desbloqueou a passagem e entraram, se parecia com todos os demais corredores daquele castelo.


– Alunos? E quem vai querer vir estudar aqui? – achou a ideia absurda. – Sonserinos?


– Ora, garoto... – Bellatrix começou a repreendê-lo.


– Ele está certo, Bella. – Voldemort a interrompeu enquanto desfazia um feitiço de ocultação revelando uma passagem. – Somente as mentes mais privilegiadas, mas sim, inicialmente poucos se interessarão. Inicialmente...


Desceram por um caminho estreito até um corredor escuro. Harry pegou um archote na parede, não havia luz elétrica ali. Voldemort e Bellatrix tinham as varinhas acesas, mas ele não possuía uma. Levou alguns segundos se concentrando e soprou a tocha, sentiu algo gelado subindo até sua boca enquanto dissipava o calor necessário para acendê-la.


– O que pensa que está fazendo? – Voldemort parou e se virou para ele.

– Eu...


– Está usando sua energia vital, não vê que isso te enfraquece? – repreendeu-o apagando a tocha em sua mão. – Deve usar a energia do ambiente e não a sua – Colocou a mão sobre a tocha. – Sinta o ambiente e tire dele o que precisa...


Harry ficou em silêncio atento àquela sensação, sentindo-o manipular a energia à sua volta transformando-a. A temperatura caiu um pouquinho, e a tocha voltou a se acender.


– Eu não sabia... obrigado.


– Você irá aprender coisas realmente interessantes, assim que estiver pronto.


– Pronto? – estranhou – Pronto pra quê?


– Não vamos discutir isso agora, o que eu tenho a mostrar é muito mais importante.


Passaram pelo arco entrando no aposento. Harry parou admirado olhando tudo ao redor. Bellatrix se afastou satisfeita, parecia familiarizada com o local e gostar de estar ali.


– Você achou a propriedade de Salazar e o tesouro da sua família, sozinho...


– É, eu também me acho notável...


Harry afastou-se embaraçado. Seguiu pelo corredor de objetos valiosos e moedas de ouro, nunca tinha visto tal quantidade reunida.


– É por isso que seu pessoal tem ido a Gringotes? Pra trocar seu ouro por dinheiro?


– Você é mesmo um jovem muito esperto – Voldemort observou. – Se fosse mais dedicado...


Harry ignorou seu comentário e passou os olhos ao redor enquanto Voldemort apreciava o entusiasmo de Bellatrix. Um objeto em especial chamou-lhe a atenção.


Pegou a coroa observando cada detalhe. Era bonita, mas sem nada em especial, entusiasmou-se com a possibilidade de ser a que Dumbledore procurava. Colocou-a sobre a cabeça esperando sentir algo diferente, alguma força especial, mas não sentiu nada.


Perguntou-se se a magia não teria acabado com o tempo, também não tinha sentido nada na trombeta de Helga. Voldemort olhou em sua direção, virou-se para ele reparando sua própria imagem, não estava diferente também, a retirou.


– Não consigo sentir nenhuma magia nisso, há alguma? – Harry perguntou a ele.


– Por que teria? É só uma coroa antiga, de origem persa, com certeza... – avaliou.


– Às vezes eu consigo sentir...


– Feitiços defensivos e de proteção, apenas – esclareceu prontamente.


– Ah... – Harry devolveu a coroa à pilha, não era ela.


– Pode ficar com ela se quiser... – Voldemort ofereceu estranhando seu desinteresse. – Mas não será rei. Contente-se com o título de príncipe.


– Não sabia que tinha senso de humor... Lorde... – afastou-se verificando os demais objetos.


Bellatrix tinha sua atenção voltada para um colar delicado que continha como pingente um único diamante em forma de uma lágrima.


– Vai ficar muito bem em você – Harry comentou esperançoso que ela finalmente tirasse do pescoço o seu cordão. – Sem comparação com este outro...


– Sei, você consegue enxergar muito bem daí – disse olhando em sua direção. – Não vou devolver o cordão, melhor sorte na próxima tentativa... – desdenhou.


– Não há joia que não fique bem em você – Voldemort comentou. – Fique com esta – ofereceu tirando-a de suas mãos e a prendeu em seu pescoço.


Harry olhou para ambos. Voldemort se afastou a seguir. Seus sentimentos eram confusos, Harry parou de prestar atenção neles e voltou a observar o lugar.


– Se o tesouro está aqui... o que o cetro abre? Ele é o acesso para alguma coisa, não?


– É o que pretendo descobrir...


Harry examinou as paredes procurando alguma fechadura ou fenda, não encontrou nada. Todas as paredes pareciam bem sólidas.


– Vamos – Voldemort decidiu.


Bellatrix foi a primeira a sair, satisfeita com seu novo adorno. Ambos deixaram a sala frustrados.


Voldemort voltou em uma tarde mais irritado do que o de costume, Harry sabia que as coisas não estavam indo bem lá fora, embora não conseguisse fazer com que falasse a respeito. Permaneceu em seu local preferido, deitado sob o sol, observando o mar.


A voz familiar chegou aos seus ouvidos algumas horas depois pondo-o em alerta. Arrastou-se até a murada e olhou para baixo. Nagini apareceu ao seu lado, também interessada no movimento, depois se afastou.


Bellatrix apareceu na biblioteca e anunciou sua presença, logo encaminhou-se para lá. Harry pôde então, ter uma visão melhor do seu estado. Era difícil reconhecê-lo, antes tão altivo e esnobe, naquela figura magra e pálida, seus cabelos louros, agora bem curtos.


Narcisa, ao lado, se agarrava ao seu braço enquanto Voldemort o olhava com raiva e indignação.


– Milorde...


– Como se atreve a aparecer sem ser convidado, Lúcio?


– Por favor, mestre... Estou aqui para implorar seu perdão...


– Meu perdão...? – desdenhou. – O que eu tenho para perdoar? Sua existência não me interessa mais, você não me é útil... – declarou com desprezo.


– Mas eu posso ser, me dê uma oportunidade de voltar a servi-lo, juro ser o mais dedicado...


– Claro que será! – cortou-o enfurecido.


Puxou a varinha do bolso das vestes. Um breve estremecimento percorreu o casal.


Nagini apareceu sondando o ar ansiosa, Bellatrix observava preocupada. Voldemort esboçou um sorriso sarcástico.


– Ou talvez você possa – concordou. – Gosta do mar, Lúcio? – perguntou gentilmente.


– Não! Por favor! – Narcisa suplicou se agarrando ao marido, o rosto se banhando em lágrimas. O Sr. Malfoy olhou dela para Voldemort sem entender.


– Ele pode ser útil... – Harry comentou enquanto descia. Pousou ao lado de Voldemort ignorando seu olhar de desagrado. Concentrou-se em sufocar a fúria que estava sentindo e acalmá-lo enquanto se dirigia ao Sr. Malfoy.


– O senhor tem muitos contatos com pessoas ligadas a artes e antiguidades, não é mesmo? – perguntou ao atônito Lúcio. Como ele não respondeu prosseguiu. – Incluindo colecionadores particulares, imagino...


– Sim... – Narcisa balbuciou pelo marido.


“Peça que ele procure o cetro” – Harry sibilou para Voldemort – “Você não sabe onde está, não precisará perder tempo procurando lá fora. Ele tem conhecimento em artes e objetos antigos, será mais fácil para ele... e isso te dará mais tempo pra se dedicar ao nosso assunto”.


Voldemort ficou olhando-o nos olhos pensativo enquanto se decidia, depois voltou-se para o casal.


– Vou permitir que procure um objeto para mim – Voldemort se dirigiu a Lúcio – um objeto antigo, de valor inestimável...


– O cetro de Salazar Slytherin... – Harry completou.


– Uma len... – Lúcio começou a murmurar mas Harry lhe lançou um olhar de advertência.


– Você vai trazê-lo se quiser realmente ser digno de voltar. Faça o impossível, vasculhe o mundo, se necessário for. – Voldemort ressaltou.


– Claro Milorde, eu o encontrarei para o senhor, mas... e os aurores...


– Mude de identidade se quiser, não irei ajudá-lo nisso, se o Ministério o pegar de novo, continuará por sua própria conta.


– Talvez seja necessário oferecer-lhe ajuda – Harry interviu. – Da esposa, pelo menos, ela o ajudará a se organizar – sugeriu.


Voldemort ouviu em silêncio, esboçando uma careta.


– Há uma corporação cuidando dos seus negócios, Lúcio, é melhor que ela continue representando-o – Voldemort o avisou. – Narcisa irá colocá-lo a par de tudo...


“Seja menos... sentimental da próxima vez. Mantenha o foco apenas no objetivo” – Voldemort sibilou enquanto se retirava voltando para o seu escritório.


– Obrigada, obrigada... – Narcisa sussurrou para ele enquanto Bellatrix se apressava em conduzi-los para longe.


Continuou parado no mesmo lugar, pensando. Voldemort se ocupou novamente com o mapa, há dias andava traçando estratégias que envolviam vários pontos do Reino Unido e adjacências, só que não conseguiu decifrar o que era. Subiu voltando ao seu recanto, Nagini aproximou-se algum tempo depois.


“Faz tempo que não trazem algo pra mim” – reclamou.


“Trazem? O quê?”


“Às vezes me entregam alguém”


“Alguém” – assustou-se – “Uma pessoa?”


“Preciso de mais do que ratos”


Harry a encarou por alguns instantes franzindo a testa, afinal, ela era um animal carnívoro, mas não acreditou que pudesse ser a responsável pelos desaparecimentos dos trouxas.


“Mas não gosto de comida inerte, prefiro caçar”




Harry passou a dedicar seus dias ociosos vasculhando os livros da biblioteca, sentiu falta do Lord, era grande a variedade de livros e a procura demorada. Estava querendo saber o que pudesse sobre escudos e bloqueios mágicos, mas encontrava tanta coisa interessante que se distraía facilmente.


Nagini estava repousando ao seu lado, o metal se retorcia assumindo formas indistintas. Tinha catado algumas peças de metal que tinha encontrado espalhadas e mais algumas durante suas refeições, a maioria, taças e talheres.


Ninguém parecia se importar com o que fazia, desde que se mantivesse ocupado, e ele estava se ocupando em praticar coisas úteis que pudessem ajudá-lo a sair dali, mas estava achando bem mais difícil sem sua varinha, exigia muito mais concentração e esforço.


– Que coisa mais... estranha... – Bellatrix comentou quando entrou e viu a peça que estava manipulando ainda com um formato indefinido. – O que é isso?


– Não sei.... o que você gostaria? – Harry se virou para ela reparando em seu cordão, que ela ainda usava.


– Vai fazer algo para mim...? Oh! – ela segurou o cordão antes que caísse no chão, o examinou até localizar o elo solto da corrente. – Você fez isso? Se tentar me roubar o cordão novamente eu vou...


– O quê? Deixa eu adivinhar... Vai me deixar preso sem poder voltar pra casa e ver meus amigos? Ou vai me torturar até a insanidade? – a desafiou.


– Não me tente, garoto... – disse Bellatrix, puxando a varinha.


– Você não tem permissão... – pronunciou lenta e despreocupadamente cada palavra, mas concentrou-se em fortalecer seu escudo.


Ela o avaliou por alguns instantes depois desviou a varinha. Harry olhou boquiaberto o lugar vazio onde estivera sua quase futura obra de arte, fechou a boca prendendo as palavras de protesto que pensou em proferir e aguardou em silêncio até que ela se retirasse.


“Estava mesmo ficando ruim” – comentou com Nagini. Levantou-se e pegou outro livro.




– Anda praticando magia? – Voldemort perguntou quando entrou na biblioteca mais tarde.


Harry estava sentado no tapete com algumas pilhas de livro à sua volta. Nagini dormia enrolada a um canto.


– Estou fazendo o que você sugeriu, estudando... – o encarou preocupado – O que foi?


– Espero encontrá-los todos em seu devidos lugares. – disse reparando os títulos.


– Tudo bem – Harry concordou.


– Preciso descansar, acredito que a minha presença esta noite não o irá incomodar. Estarei no meu quarto.


– Ah... – levantou-se entusiasmado. – Também estou cansado – mentiu. Estava ansioso para ver o que tinha atrás da porta que estava sempre protegida.


Fez os livros voltarem aos seus devidos lugares enquanto Voldemort saía, logo o seguiu. Chegou ao topo das escadas decepcionado, parou na porta do quarto e passou os olhos pelo seu interior. Era apenas um quarto, idêntico ao que ocupava. Os móveis eram simples, mesas de cabeceira, armário, uma cama grande, nada de especial.


– O que esperava? – Voldemort lhe perguntou. – Criptas, corpos decapitados...?


– Talvez... – Harry reparou em sua varinha sobre uma das mesas de cabeceira.


Voldemort seguiu seu olhar. – Obrigado por devolvê-la. – pediu com sinceridade.


– Não vou te devolver.


– Obrigado por me devolver da última vez – esclareceu. – Quando a perdi ano passado... no ataque ao trem. – acrescentou sem conseguir se fazer entender.


– Não sei do que está falando.


– Não foi você? – estranhou. Perguntou-se quem mais poderia ter-lhe enviado. Não conseguiu achar um motivo para que os Antigos lhe enviassem a varinha e depois tentassem capturá-lo e matá-lo. – As pessoas desaparecidas, o que você....?


– Não acredite em tudo o que lê, você principalmente, já deveria saber disso.


– Quer que eu acredite que você não está envolvido...


– Algumas... requisições foram feitas, claro. Algumas mortes foram necessárias, mas pelo menos vinte porcento delas eu desconheço.


– Como assim?


– Acha que sou o causador de todos os males do mundo? A maioria com certeza acha, logo, que hora melhor para se livrar de seus desafetos? Quando se tem a quem culpar, uma atitude perfeitamente natural, que até eu adotaria e já adotei algumas vezes... – Voldemort encarou sua expressão intrigada. – O que você acha que seria publicado se os lobisomens aparecessem mortos, isto é, se você não tivesse se metido nesse assunto? Sobre  quem recairia a culpa?


– E você permite isso?! Não faz nada?


– O que são algumas mortes a mais? No que isso me afeta? – Voldemort achou divertida sua indignação. – A sua percepção das coisas é equivocada, a existência não se limita a isso, bem ou mal, certo ou errado, a essas pequenas definições.


– Iria mesmo deixar que os lobisomens morressem? Por quê?


– Responda-me você. Qual o motivo desse meu comportamento tão incompreensível? Distraia-se procurando uma resposta – sugeriu indicando a porta.


Harry lançou um último olhar saudoso em direção à sua varinha e saiu. Assim que a porta foi novamente lacrada a imagem do quarto ao lado desapareceu de sua mente. Entrou em seu quarto e se jogou na cama.




Acordou sentindo a presença de Voldemort, estranhou que já estivesse de volta, agora que Narcisa não estava, não mais encontrava a bandeja em seu quarto pelas manhãs, aprontou-se para descer. Encontrou-o sentado à mesa da sala, o café da manhã estava servido, mas ele apenas observava a pequena caixa que tinha em mãos.


– O que aconteceu? – perguntou Harry quando se aproximou.


Voldemort o observou em silêncio enquanto ele sentava ao seu lado esperando uma resposta.


– Pegue – colocou a caixa à sua frente. – Considere seu presente de aniversário.


– O quê?! Não é meu... aniversário? – perguntou chocado.


– Imagino que esteja acostumado a receber presentes...


Harry ficou por alguns instantes contemplando a caixa.


– Eu tenho que voltar pra casa. Não pode me deixar aqui pra sempre! Não estou te ajudando em nada!


– Voltar para onde? Para a “Prisão de Hogwarts” ou para a do Ministério? Você não tem para onde ir... a não ser que te agrade a ideia de ficar submisso a ordens ministeriais... mas não pense que os Antigos irão aceitar que o Ministério tenha controle sobre você e seus conhecimentos.


Harry ficou em silêncio, estava muito longe da liberdade que tinha planejado para aquela data.


– Não quer me ajudar a solucionar o nosso problema? – Voldemort perguntou tentando assumir um ar naturalmente descontraído. Harry suspirou lentamente, passou a mão pela nuca.


– Como?


– Com um pouco mais de paciência. – Voldemort olhou para caixa em suas mãos. Harry a abriu.


– É um... uróboro? – estudou atentamente o objeto no qual uma serpente abocanhava o próprio rabo dando-lhe o formato circular.


– Sim, um bracelete, eu mesmo o fiz – estendeu a mão em sua direção. – Permita-me.


Ambos se encararam por instantes, Voldemort estava sério e compenetrado, Harry, inquieto e preocupado. Ofereceu a ele o bracelete, Voldemort agarrou seu pulso e o tirou de sua mão.


– Espera! – Harry protestou. – O que isso vai fazer?


– Vai te dar mais liberdade – explicou enquanto o colocava – Vai poder sair quando quiser, mas só poderá fazê-lo durante o dia...


– Vai me deixar sair? Sair da ilha? – ficou olhando Voldemort apertá-lo em seu pulso direito, ajustando-o.


– Se você conseguir...


Harry o achou muito confiante. Recolheu o braço reparando o ornamento estranho, cor de marfim, não sentiu nada de diferente, mas ainda não estava tranquilo.


– Você mesmo o fez, pra me dar de presente? – perguntou desconfiado.


– Não... Só estava esperando que se recuperasse totalmente...Faz tempo que o fiz, meses depois de ter conseguido o material. Você esteve lá comigo – começou a se servir.


– Não... não me lembro... onde? – perguntou curioso.


– O cemitério dos Antigos...


Harry olhou dele para o bracelete, foi se sentindo enojado enquanto compreendia.


– Isso... são os restos mortais de alguém?!


– De alguns... acrescentei também mais alguns ingredientes mágicos... – Harry tentou desesperadamente retirá-lo. – Não vai conseguir. – Voldemort avisou tranquilamente enquanto comia.


– Isso é uma brincadeira? Porque não está sendo engraçado!


– Isto irá impedi-lo de fazer magia, de qualquer espécie...


– Mas você já está com a minha varinha! – protestou.


– O que não fará diferença se conseguir controlar seus poderes, varinhas são apenas um canal, não a origem da magia... Logo irá perceber que é impossível fugir, apesar de ser sua especialidade...


Harry olhou incrédulo para o bracelete em seu pulso, em vão tentou invocar a taça que estava sobre a mesa. Levantou-se quando sentiu o calor lhe subir à face.


– Não há muitos animais selvagens nesta ilha mas os lobisomens caçam aqui durante a lua-cheia... Fique longe do oceano, providenciei para que nada entre ou saia desta ilha por mar. – acrescentou observando-o partir apressado. Impressionou-se com a intensidade de sua revolta e decepção. Voltou ao seu café da manhã.


Harry se afastou enfurecido e desfez a conexão. Vasculhou as salas vazias mas não encontrou nada que pudesse ser realmente útil. Tentou retirar o bracelete forçando-o com um pedaço de madeira mas não conseguiu nada além de deixar seu pulso marcado e dolorido.


Jogou-se contra a parede e se deixou escorregar até o chão, fechou os olhos e respirou fundo para se acalmar, tinha chegado a se sentir confiante de que em breve conseguiria anular o bloqueio do castelo e sair, mas agora... Pensou em Sirius e Raven, tinha perdido o casamento, gostaria de ter assistido.


Levantou-se e tentou se impulsionar até a janela, como suspeitava também não conseguiu. Atirou contra a parede os poucos móveis quebrados que estavam por ali, num acesso de fúria, depois saiu.


Passou o dia inteiro o mais longe possível da torre oeste. Nagini apareceu em determinado momento mas se recusou a lhe dar atenção, aguardou até que a noite caísse completamente para ter certeza de que não o encontraria ao regressar.


– Ainda revoltado? – Bellatrix perguntou quando ele entrou na sala.


Seguiu em silêncio em direção ao corredor.


– Venha comer alguma coisa, você não se alimentou hoje – ela o chamou indicando a mesa posta. – Espera! – insistiu quando ele não mostrou interesse, tencionando continuar seu caminho. Aproximou-se e devolveu-lhe o cordão. – Creio que a magia dele já acabou, faz tempo que não acontece nada, não tenho por que continuar com ele...


Harry recebeu com tristeza o cordão, sem poder fazer magia ele seria inútil.


– Você não tem do que reclamar, eu nunca vi o Lorde das Trevas ser tão paciente com alguém – Bellatrix comentou. – Acho que a sua presença o deixa mais... – hesitou procurando a palavra.


– Humano? – sugeriu.


– Tolerante...


– Então é bom que ele arranje uma terapia porque não pretendo ficar por muito tempo.


– Hum... divirta-se tentando – ela ergueu seu queixo e beijou-lhe os lábios rapidamente – Feliz aniversário – desejou enquanto ele saía.


Assim que entrou no quarto abriu o pingente mas as mensagens estavam sobrepostas, era impossível ler. Considerou aquele o pior aniversário que já tivera.


 

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