CAPÍTULO V – Procurando as Car

CAPÍTULO V – Procurando as Car



CAPÍTULO V – Procurando as Cartas


 


- Sir Harry! – Hermione exclamou incrédula.


- Srta. Granger, é um prazer vê-la de novo. – ele disse, com um brilho estranho no olhar.


Hermione deu-se conta de que sua aparência não poderia ser pior. Suada e empoeirada, envergava um de seus vestidos mais velhos, e os cabelos apresentavam-se em total desalinho. Olhou para a entrada do sótão e viu Joanna, que a observava com um sorriso malévolo. Teve vontade de esganá-la, pois só então compreendeu por que a prima se dera ao trabalho de enfrentar o calor para ir até Chesilworth. Joanna sabia o estado em que sir Harry encontraria Hermione.


- Devo dizer que estou surpresa, sir Harry. – murmurou, tentando salvar a dignidade. – Não esperava vê-lo de novo. Especialmente, aqui.


- Estava voltando da festa de lady Arrabeck, quando me ocorreu que Dunsleigh seria um excelente lugar para fazer uma parada.


- É uma grande coincidência estarmos justamente no seu caminho de casa. – Hermione comentou com ironia, pois sabia que ninguém, em sã consciência, passaria por Dunsleigh para ir da propriedade de lady Arrabeck até a Mansão Haverly.


- Não é mesmo? – Ele exibiu um sorriso inocente.


Ora, Hermione pensou, sir Harry só poderia estar ali por causa do tesouro. Sentiu-se grata por ele ter inventado uma desculpa, a fim de não revelar o verdadeiro motivo de sua visita.


- Por favor, desculpe a minha aparência. – ela disse. - É impossível limpar o sótão sem me sujar inteira.


- Não há de que se desculpar. Como sempre, a senhorita está encantadora.


Sentindo o rubor tomar conta de suas faces, Hermione desviou o olhar.


- Deixe-me apresentá-lo a meus irmãos. Este é Crispin, lorde Chesilworth. Hart, seu gêmeo, e Olívia. Crianças, este é sir Harry Potter.


Harry cumprimentou um a um e, ao beijar a mão de Olívia, declarou:


- Vejo que temos mais uma beldade na família.


A expressão no rosto da menina deixou claro que sir Harry já a conquistara. Atrás deles, ainda parada ao lado da entrada, Joanna suspirou ruidosamente, abanando-se com afetação.


- Está quente demais, aqui dentro. – protestou. – Não sei como suporta ficar aqui, Hermione. Tenho certeza de que eu desmaiaria.


- Ah, você sabe que não costumo desmaiar à toa. – Hermione retrucou. – Talvez fosse melhor você descer. O salão é bem mais fresco.


- Boa idéia. - Joanna concordou, satisfeita. - Podemos ir para casa, sir Harry. Hermione e as crianças se juntarão a nós, quando terminarem o trabalho.


- Agradeço a preocupação, srta. Moulton. – sir Harry falou, lançando-lhe um olhar rápido e desinteressado. – Creio que deve voltar para casa, se o calor a incomoda, mas vou ficar por aqui. Pelo que vejo, a srta. Granger está precisando de ajuda.


Joanna ergueu uma sobrancelha.


- Vai ajudá-la a limpar o sótão?


- Se é esse o trabalho a fazer, sim.


- Ora, mas... não posso voltar sozinha para casa.


- Seu cavalariço poderá acompanhá-la.


- Bem, é diferente... Ele não é um cavalheiro.


 Não confia em seus próprios criados? – Harry indagou surpreso.


- Sim... Não foi isso o que eu quis dizer... Eu...


- Se está com medo de voltar sozinha com Jessup – Olívia sugeriu com ar inocente – talvez seja melhor esperar lá embaixo. Terminaremos dentro de poucas horas, não é, Mione?


- Sim. Acho boa idéia, Joanna. – Hermione concordou, lutando contra o riso.


Depois de lançar um olhar fulminante para a prima, Joanna foi sentar-se sobre o baú mais próximo.


- Por onde devemos começar, srta. Granger? – sir Harry já perguntava, aparentemente esquecido da presença da outra.


- Bem, acabei de examinar este e já ia abrir o próximo. O senhor poderia começar pelo seguinte.


- Ao trabalho. – Harry declarou com bom humor e abriu o baú, levantando uma nuvem de poeira.


Hermione ajoelhou-se diante do baú ao lado. Ainda encontrava dificuldade em acreditar que sir Harry estava em Chesilworth. Por outro lado, já não se importava por estar suja e desalinhada, pois importante mesmo era a presença dele ali.


- Decidiu acreditar em mim, senhor? – perguntou em um sussurro.


- Nunca desacreditei na senhorita. Apenas achei que havia sido enganada.


- Ah, então, em vez de mentirosa, considerou-me uma tola.


Ele lhe lançou um olhar divertido.


- Seria impossível pensar algo assim sobre a senhorita.


- O que o fez mudar de idéia?


- Digamos que, por enquanto, estou disposto a me abster de julgamentos.


Na verdade, que ele jamais sequer sonharia em contar a ela, era que, embora continuasse duvidando da existência do tesouro e dos tais mapas, sir Harry ficara profundamente entediado, na mansão de lady Arrabeck, após a partida de Hermione. Passara o tempo todo lembrando-se da inteligência dela, de seu senso de humor e, mais que tudo, do corpo esbelto em seus braços.


Disse a si mesmo que já estava velho demais para sair à caça de tesouros. Além disso, não acreditava na história fantástica sobre o dote espanhol. Por outro lado, convenceu-se de que não lhe faria mal algum passar algumas horas na companhia agradável de Hermione Granger. Na verdade, nem mesmo a idéia desanimadora de ter de suportar, também, a companhia da Sra. e da Srta. Moulton, o haviam feito mudar de idéia.


- Tenho certeza de que não vai demorar a se convencer da verdade. – Hermione afirmou. – Depois de ler os diários, vai se dar conta de que são autênticos. Além disso, os baús foram armazenados em ordem e já estamos a mais ou menos cinqüenta anos da época de Margaret. Logo encontraremos os pertences do pai dela.


- Se é que ele guardou as cartas.


A possibilidade de o pai furioso haver jogado fora as cartas era algo em que Hermione nem queria pensar.


- Vamos encontrá-las. – persistiu.


Continuar a esvaziar os baús, à procura de um pacote de cartas. Sir Harry divertia-se com achados antigos, como um livro de etiqueta que o fez rir às gargalhadas.


- O que está fazendo? – Joanna inquiriu, irritada. Não compreendia a atitude de sir Harry. Quase explodira de felicidade quando o mordomo anunciara a chegada dele, pois concluíra que o desejo dele por ela era tão intenso, que ele até se esquecera do plano que ela arquitetara com a mãe.


Porém, sir Harry logo começara a perguntar por Hermione e insistira em cavalgar até Chesilworth. Fora muito cavalheiro ao assegurar Joanna de que ela não precisaria acompanhá-lo, mas ali estava uma oportunidade que mulher nenhuma, em sã consciência, deixaria passar. Agora, era incompreensível a insistência dele em permanecer ali, naquele lugar sujo e abafado, rindo com Hermione de coisas que, aos olhos de Joanna, não tinham a menor graça.


Joanna estreitou os olhos, observando a maneira como Hermione sorria para Potter. Os olhos cinzentos pareciam iluminados e ela estava quase... bonita! Mesmo desgrenhada e coberta de poeira! Tal constatação deixou Joanna apreensiva e irritada. Seria possível que Hermione acreditasse que sir Harry estivesse interessado nela?


- O que está fazendo, Hermione? – repetiu. - Por que estão examinando cada um desses baús?


- Achei que poderíamos encontrar algo interessante. – a prima respondeu em tom vago.


- Está deixando sir Harry coberto de poeira!


- Não me importo, srta. Moulton. – ele replicou de bom humor. – Estou me divertindo um bocado.


E era verdade. Apesar do calor e da sujeira, sir Harry nunca fizera nada tão divertido, antes. Era delicioso examinar o conteúdo dos baús e partilhar seu divertimento com Hermione. Além do mais, ela era, sem dúvida, a única mulher que não se importava por ser surpreendida naqueles trajes. Ignorando a própria aparência, ela conversava com ele naturalmente, divertindo-se, também.


Olhou para Joanna, cuja aparência impecável começava a sofrer os efeitos do calor. Apesar de estar vestida como uma lady e comportar-se como tal, se comparada com Hermione, parecia fútil e desinteressante.


Cada vez mais irritada, Joanna decidiu que uma atitude mais drástica se fazia necessária. Assim, pôs-se de pé.


- Não suporto mais o calor excessivo. – declarou. - Vou descer.


- Como quiser, Joanna. – Hermione falou. – Fique à vontade.


- Até logo, srta. Moulton. – sir Harry despediu-se distraído, pois sua atenção concentrava-se em um pacote de cartas que acabara de retirar do baú.


Entusiasmado com o achado, nem percebeu o olhar faiscante que Joanna lhe lançou, antes de descer a escada ruidosamente.


- Hermione... – murmurou baixinho.


Ela virou e sentiu o coração acelerar ao deparar com o pacote de cartas.


- Receio serem recentes demais. – disse, embora apanhasse os envelopes com dedos trêmulos. Porém, assim que examinou a caligrafia, suspirou. – São de Edna Granger. Já encontrei dúzias de cartas dela. Era uma filha muito dedicada, que escrevia para a mãe regularmente, depois que se casou.


Tendo visto as cartas, os gêmeos aproximaram-se, ansiosos.


- Ah, Edna de novo! – Hart protestou.


- Pensamos que vocês haviam encontrado as cartas de Margaret. – Crispin falou.


- Não. Estes baús são de períodos mais recentes. – Hermione explicou.


- Por que não deixa alguns baús de lado e começa a examinar os de períodos mais distantes? – Harry sugeriu.


- Já tentamos, mas a ordem não é perfeita. Chegamos a encontrar objetos de períodos diferentes em um mesmo baú.


- Além disso, – Olívia acrescentou com um sorriso divertido - Hermione não abre mão de seu senso de ordem.


- Estou apenas tentando impor um mínimo de ordem a este caos. – a irmã defendeu-se. – Se dependesse de vocês, em dois dias, todo o conteúdo de todos os baús, estariam espalhados pelo sótão há muito tempo.


- Provavelmente, mas já teríamos encontrado as cartas.


- Se não houvessem se esquecido de procurar entre livros e roupas.


Habituado às discussões das irmãs sobre questões de ordem, Crispin ignorou-as e dirigiu-se a sir Harry.


- Vai nos ajudar a procurar pelo dote espanhol?


Notando o brilho de esperança nos olhos do menino, Harry descobriu-se incapaz de desapontá-lo.


- Sim, desde que consigamos encontrar as cartas.


- Ainda bem! Eu tinha esperança de que o senhor acabaria se mostrando um homem de bom senso, mesmo depois de Hermione ter dito que não era.


Harry lançou um olhar irônico para Hermione.


- Foi isso o que ela disse a meu respeito?


- Crispin! – Olívia advertiu-o. – Mione não disse isso!


- Ela disse que o senhor não tinha imaginação. - Hart revelou. – Mas disse que o senhor não tinha culpa de ser um Potter.


- Srta. Granger, estou magoado. – sir Harry declarou, contendo o riso.


- Não seja ridículo! – Hermione revirou os olhos. – Eu disse isso ao senhor, em primeiro lugar. Porém, – virou-se para os gêmeos – já chega de contar tudo o que eu disse. Não é educado contar aos outros o que as pessoas falam.


- Especialmente, quando estão maldizendo alguém. – Crispin completou, também contendo o riso.


Hermione fingiu que ia agarrá-lo, mas o menino esquivou-se com agilidade. Todos riram e, então, ela sugeriu:


- Agora, é melhor vocês três voltarem ao trabalho. A menos que prefiram fazer companhia a Joanna, lá embaixo.


Rindo às gargalhadas, as crianças retomaram seus lugares. Hermione e sir Harry voltaram ao trabalho e, durante as duas horas seguintes, prosseguiram no exame minucioso dos baús. Foram interrompidos duas vezes pelo cavalariço de Joanna, que subiu para comunicar o desejo da patroa em ir embora, mas só pararam de trabalhar quando a luz que entrava pelas janelas estreitas começava a se tornar insuficiente. Então, desceram, ainda mais empoeirados.


Encontraram Joanna sentada na cozinha, tamborilando os dedos na mesa com impaciência. Sem esconder o descontentamento, ela se pôs de pé, de cenho franzido.


- Finalmente! Hermione, você não tem a menor consideração por ninguém, a não ser você mesma!


- Eu não a obriguei a ficar aqui. – Hermione argumentou. – Poderia ter voltado para casa, quando quisesse.


Joanna estreitou os olhos, como se estivesse prestes a ter um de seus ataques de raiva. Mas, então, pareceu dar-se conta de que tal comportamento não seria apropriado à ocasião. Com grande esforço, exibiu um leve sorriso para sir Harry.


- Sinto muito que tenha sido submetido a isso, sir Harry.


- Como já disse, eu me diverti um bocado.


- O senhor é muito gentil.


Com isso, Joanna aproximou-se e quase enroscou o braço no dele, mas mudou de idéia ao constatar que o paletó dele encontrava-se imundo.


- Por favor, srta. Moulton, não se aproxime de mim. – ele pediu com gentileza. – Estou sujo demais.


Então, Harry aproximou-se de Hermione e tomou-lhe o braço, conduzindo-a na direção da porta.


Lá fora, o cavalariço ajudou Joanna a montar, mas sir Harry anunciou que preferia caminhar, levando seu cavalo pelas rédeas. Joanna ficou furiosa, pois planejara ficar a sós com Potter, durante a cavalgada de volta e, no entanto, viu-se isolada do grupo, uma vez que era a única a percorrer o trajeto a cavalo. Embora Hermione e sir Harry lhe dirigissem alguns comentários corteses, seria impossível participar da conversa tediosa dos dois, sobre um livro que ela jamais ouvira falar. Seu consolo foi lembrar-se de que os homens não gostavam de mulheres intelectuais.


Quando chegaram à Mansão Moulton, foram recebidos por tia Ardis, que se adiantou, sorridente, para sir Harry. Porém, ao perceber o estado de sujeira das roupas dele, arregalou os olhos.


- Meu Deus! O que... Bem, vamos entrar. – convidou solícita, sem querer pensar no que aconteceria ao revestimento adamascado de seus sofás.


- Não, obrigado. – sir Harry falou. – Preciso retornar à hospedaria e trocar de roupa.


- Não vai nos dar o prazer de se hospedar em nossa casa? Não me diga que veio até aqui, para ficar um único dia!


- Não, sra. Moulton. Pretendo passar algum tempo em Dunsleigh, mas jamais me atreveria a chegar para uma visita, sem notificá-la com antecedência.


- Isso não é problema. A Mansão Moulton está sempre pronta a receber hóspedes. – tia Ardis mentiu.


A discussão prosseguiu, mas sir Harry venceu a disputa, recusando-se com grande gentileza a abusar da hospitalidade da sra. Moulton e, também, declinando o convite para jantar naquela noite. Só não escapou à promessa de voltar a visitá-los no dia seguinte.


Assim que ele desapareceu na distância, ela levou as mãos ao peito, com expressão de êxtase.


- Quem poderia imaginar que sir Harry Potter viria a Dunsleigh, com o único propósito de nos visitar?


- Lilah Davenport ficará roxa de ciúme, quando souber! Joanna, esse foi o melhor sinal que poderíamos ter recebido. Ele, simplesmente, não conseguiu ficar longe de você.


Olívia revirou os olhos.


- Realmente, ele demonstrou imensa dificuldade em ficar longe dela, esta tarde. – alfinetou.


Joanna finalmente perdeu a compostura.


- Sir Harry é educado demais para partir logo depois de ter chegado a um lugar! – afirmou. – Provavelmente, foi por culpa sua que ele não quis ficar para jantar, ou se hospedar em nossa casa. Deve ter ficado com medo de que você tivesse outra armadilha para forçá-lo a trabalhar em meio à sujeira e ao calor.


- Desconfio que ela tenha tido medo de outro tipo de armadilha. – Hermione replicou calmamente.


- Como se atreve!


- Querida prima, receio que você se exponha a esse tipo de comentário. Não é necessário um grande atrevimento.


Com isso, Hermione entrou em casa.


Joanna seguiu-a, furiosa.


- Por que mais ele viria até aqui, se não fosse para me ver? Espero que você não esteja alimentando ilusões de que ele tenha algum interesse por você!


- Acontece que ele veio até aqui para ver Hermione. – Crispin interferiu, irritado pelo ataque à irmã.


- Não se intrometa. – Joanna ordenou em tom de desdém. – Você não passa de um moleque, que não sabe de nada.


- Sei muito mais do que você pensa!


- Crispin. – Hermione advertiu-o, lançando-lhe um olhar que o fez calar-se imediatamente. Então, voltou a encarar a prima, impassível. – Não tenho qualquer ilusão com respeito a sir Harry. Agora, se me der licença, preciso tomar um banho.


Subiu para o quarto; deixando Joanna parada no hall, sem saber o que dizer.


Sir Harry fez a prometida visita pela manhã e tia Ardis não se deu ao trabalho de avisar Hermione de que ele havia chegado. Assim, ela só foi informada da presença dele, quando Olívia entrou no quarto com a notícia.


- Aquela mulher é uma bruxa! – a menina praguejou, corando de raiva. – Ela está tentando, deliberadamente, escondê-lo de você, pois sabe que ele não veio para ver Joanna.


Hermione respirou fundo, na tentativa de fazer o coração recuperar seu ritmo normal. Olhou-se no espelho, mas logo lembrou-se de que não importava o que vestisse, ou como penteasse os cabelos, pois Harry não estava preocupado com isso.


- Acho que tia Ardis realmente acredita que ele veio para ver Joanna. Afinal, nós sabemos o que ela pensa da habilidade da filha para atrair todos os homens do mundo!


- A maior habilidade dela é se iludir, – Olívia retrucou – mas ela não mandou avisar você de que ele está lá embaixo, só para impedir que você se divirta.


- Nossa tia é uma pessoa um tanto egoísta. – Hermione concordou. – No entanto, desta vez, acho que ela está diante de alguém muito mais habituado a conseguir o que quer. E, como sabemos que sir Harry não está exatamente apaixonado por nossa querida prima, – exibiu um sorriso malicioso - talvez seja interessante esperarmos para ver o que vai acontecer.


- Tem razão. – Olívia também riu e sentou-se na cama. – Ele é bonito, não é?


- Sir Harry?


- Ora Mione, de quem mais eu estaria falando? E não tente fingir que nem reparou naquele sorriso maravilhoso.


- Sim, ele se torna atraente, quando sorri.


- É melhor mudar o seu jeito, irmãzinha. – Olívia provocou-a. – Você ainda não é uma solteirona e sir Harry sabe disso.


- Do que está falando? – Hermione inquiriu, corando. Seria possível que sua irmã, de apenas catorze anos, houvesse percebido que havia algo mais entre ele e sir Harry, além do interesse pelo tesouro?


- Acho que ele está interessado em você. O que há de errado nisso?


- Nada, nada. Desculpe-me, Liv. Estou um pouco tensa por estarmos tão próximos de encontrar as cartas.


Ao ouvirem a batida na porta, as duas irmãs trocaram olhares triunfantes. Uma das criadas abriu a porta e anunciou:


- A sra. Moulton pede que vá até a sala, srta. Granger. – Então, pôs a perder seu ar formal, com um sorriso maroto. – Ouvi dizer que um certo cavalheiro não pára de perguntar pela senhorita.


- Obrigada, Janie. – Hermione agradeceu e seguiu a criada.


Sir Harry levantou-se quando ela entrou na sala, sem esconder o alívio.


- Srta. Granger, é muito bom saber que a senhorita está se sentindo bem.


- E por que não estaria?


- Sua tia suspeitava que a senhorita estivesse doente. – ele explicou, com um leve toque de ironia na voz.


Hermione dirigiu um sorriso meigo e inocente à tia.


- A senhora é muito atenciosa, ao se preocupar com minha saúde, tia Ardis, mas sinto-me tão bem quanto me sentia, quando tomamos juntas, o desjejum.


- Eu estava dizendo à sua tia e à sua prima, que achei a arquitetura de Chesilworth muito interessantes. - sir Harry informou-a, enquanto ela se sentava do outro lado da sala, uma vez que as outras duas mulheres haviam tomado os lugares mais próximos a ele. – Gostaria muito de fazer outra visita à propriedade.


- Se quiser, poderemos ir esta tarde. – Hermione sugeriu.


- Eu adoraria.


Joanna soltou uma de suas risadas tolas e forçadas.


- Ora sir Harry, posso assegurar que existe uma porção de lugares muito mais interessantes do que Chesilworth, para serem visitados em Dunsleigh. Como o senhor pôde ver, aquele lugar está caindo aos pedaços.


- Sim. Admiro antiguidades. – ele comentou. – Nada desperta mais o meu interesse do que coisas velhas.


- Vai achar a história de Chesilworth interessante, também. – Hermione falou. – Talvez, queira ver os livros dos quais falávamos, ontem.


- Ah, seria ótimo!


- Hermione. – Joanna voltou a interferir – Tenho certeza de que sir Harry não está interessado em seus livros velhos e tolos.


- Muito pelo contrário, srta. Moulton. Estou muito interessado. Ontem, a srta. Granger e eu conversamos sobre tais livros. De fato, partilhamos interesse semelhante por história.


O esforço que Joanna tinha de fazer para continuar sorrindo aumentava a cada instante.


- Existem passeios muito mais prazerosos, por aqui. - lembrou e, então, recitou uma lista de locais a serem visitados.


O sorriso de sir Harry não foi menos forçado.


- Realmente, srta. Moulton, está me oferecendo uma fantástica lista de opções. Eu não sabia que Dunsleigh poderia ser tão interessante para um visitante. Esta tarde, porém, já me comprometi a visitar Chesilworth, com a srta. Granger.


Percebendo que a filha estava prestes a perder o controle, tia Ardis intercedeu:


- Se é para onde o senhor deseja ir, na companhia de Joanna e Hermione, é para onde irá. Aliás, iremos todos. Afinal, o senhor não pode sair por aí, com duas moças solteiras, sem companhia adequada. – acrescentou em tom de brincadeira forçada. – Pedirei aos criados que preparem um piquenique para nós.


Dessa vez, foi sir Harry quem pareceu prestes a explodir. Hermione foi rápida:


- Que idéia maravilhosa! Não imaginei que prima Joanna quisesse se juntar a nós, em nossa exploração do sótão. É melhor trocar de roupa e vestir algo velho e surrado. Do contrário, vai arruinar o seu lindo vestido.


- Não tenho a menor intenção de explorar aquelas ruínas!


- Então, o que pretende fazer, enquanto sir Harry, eu e as crianças estivermos explorando Chesilworth?


- A srta. Granger tem razão. – Potter concordou, tendo recuperado seu charme. – Não vai querer que seus belos cabelos acabem cobertos de poeira, srta. Moulton. E, também, estragar um vestido tão elegante e sujar uma pele tão perfeita... Ah, seria um pecado!


Hermione teve de se esforçar para não rir, mas depois de mais alguns comentários açucarados, sobre como seria bom voltar para a Mansão Moulton e encontrar Joanna “linda como sempre”, mãe e filha estavam convencidas de que a excursão era mais apropriada a crianças.


- Agora, se me derem licença – sir Harry falou, levantando-se - preciso cuidar de alguns assuntos, antes de explorar Chesilworth, esta tarde.


Joanna e tia Ardis insistiram para que ele ficasse, mas como Harry não cedesse, decidiram aceitar a partida, com uma condição:


- Promete participar da festa que daremos amanhã, à noite? – Joanna pediu, fazendo beicinho.


- Festa? – sir Harry inquiriu, aflito.


- A festa que mamãe e eu estamos organizando para amanhã. Estávamos justamente comentando que foi uma grande coincidência o senhor ter vindo nos visitar, justamente quando vamos dar uma festa.


Hermione permaneceu em silêncio, embora a notícia da festa fosse uma novidade para ela.


- E claro que nossas festas não se comparam àquelas das temporadas londrinas. – tia Ardis esclareceu. – Mas, vivendo isolados no campo, também precisamos nos divertir.


- Será um jantar para alguns poucos amigos. - Joanna explicou. - O senhor virá, não?


- Claro... Será um prazer. Agora, realmente, preciso ir.


Curvou-se para beijar a mão de cada uma e, quando chegou a vez de Hermione, sussurrou:


- Dez minutos. No poço que vimos ontem.


Ela não precisou de mais que um segundo para se recuperar da surpresa.


- Até mais tarde, sir Harry. Teremos uma tarde muito produtiva, prometo.


 


 


 


 

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