CAPÍTULO III - Frustração

CAPÍTULO III - Frustração



CAPÍTULO III - Frustração


 


Hermione exibiu um sorriso triunfante e reclinou-se no banco, esperando ansiosa pela reação dele.


Sir Harry estudou-a por um momento e, então, falou com cuidado:


- Srta. Granger, não acha um tanto... conveniente que esses diários tão antigos, escritos por uma mulher que vivia nas colônias, tenham vindo parar justamente na Inglaterra?


Ela suspirou.


- Eu já imaginava que trabalhar com um Potter fosse difícil. O senhor não tem espírito de aventura? Não tem interesse em encontrar um tesouro, escondido por gerações?


- Não tenho interesse por contos de fadas. – ele replicou. – Francamente, srta. Granger, é evidente que tudo isso não passa de um embuste. Depois de tantos anos, os diários aparecem na Inglaterra, mesmo tendo ficado nos Estados Unidos todo esse tempo. E, por acaso, caem nas mãos do sr. Simons, o livreiro predileto de seu pai. Sinto muito, mas está me pedindo demais, ao esperar que eu acredite nessa história.


Hermione contou até dez, tentando controlar a irritação. Afinal, sempre soubera que não seria fácil convencer um Potter de que seu plano era bom. Mesmo assim, acalentara a esperança de que sir Harry fosse menos enfadonho que o pai, sir Tiago, tivera fama de ser. Certamente, a entrada de sir Harry em seu quarto não fora nada enfadonha, mas estava claro que a mente dele funcionava como a de qualquer outro Potter.


- Não há embuste algum. – falou com voz macia. – O sr. Simons disse que um americano, descendente de Margaret Granger, vendeu os diários a ele. Trata-se de um comerciante que, de tempos em tempos, vem à Inglaterra a negócios. Quando decidiu vender os diários, concluiu que, como Margaret era inglesa, conseguiria um preço mais alto por eles, aqui. Imagino que os americanos não tenham muito respeito por coisas antigas.


- Certamente, eles não têm imaginação, ou espírito de aventura, para sair à caça de tesouros.


- Antes de procurar pelo sr. Simons, esse homem visitou diversos livreiros. – Hermione continuou, ignorando o comentário maldoso. – Simons só se interessou mais que os outros, porque conhecia papai e sabia que ele compraria os diários.


- Pois eu acho muito mais provável que esse Simons, ou algum camarada dele, falsificou os diários, justamente por saber do interesse de seu pai na história.


- Sir Potter! Perryman Simons é um livreiro renomado, de Londres. Meu pai foi cliente dele durante muitos anos. O sr. Simons jamais lhe venderia uma falsificação! E mesmo que houvesse feito isso, por que incluiria tantos detalhes sobre o dote, se não ganharia nada com isso?


- Não? Aposto que as informações sobre um tesouro escondido tenham facilitado a venda dos diários. E, também, aposto que ele cobrou caro.


- Foi caro, – Hermione admitiu relutante - mas eram documentos históricos de grande importância para papai. Ele os teria comprado, mesmo que não tivessem qualquer referência ao dote.


- O livreiro não poderia ter certeza disso. Srta. Granger, receio que seu pai foi vítima de um homem inescrupuloso.


- Nem quero pensar nas coisas que aconteceram em sua vida, para torná-lo tão cínico!


- Pense na noite passada e saberá de uma delas.


Hermione lembrou-se do truque arquitetado pela tia e pela prima para forçar Harry a se casar com Joanna.


- Ah...


- Simplesmente, conheço mais do mundo o que a senhorita. Creio que acredita demais na bondade das pessoas e, provavelmente, herdou essa ingenuidade de seu pai.


- Meu pai não era desconfiado como o senhor, mas não era tolo. Conhecia o sr. Simons muito bem. Não posso afirmar que Simons forjou os diários.


- Talvez ele tenha sido uma vítima, também. E possível que o verdadeiro culpado tenha sido o homem que os vendeu a ele.


- Que teria de ser impecável em seu trabalho, para enganar tanto meu pai, um amante de livros antigos, quanto o sr. Simons, um dos melhores livreiros do país. Nenhum dos dois manifestou qualquer dúvida quanto à autenticidade dos documentos. A menos, claro, que o senhor sugira que os diários tenham sido falsificados há cento e cinqüenta anos, para que um dia, um descendente da família pudesse ganhar algum dinheiro, vendendo-os a meu pai.


- Não, claro que não.


- Meu pai era um grande conhecedor de livros. Teria percebido se os diários fossem obras recentes. Haveria notado a diferença no papel, ou na tinta. Quem quer que houvesse falsificado os diários, teria trabalhado muito para que parecessem autênticos. Não é possível que tanto trabalho valesse a pena, pelo que meu pai pagou por eles. Isso, sem mencionar as horas necessárias para alguém inventar e, então, escrever tudo aquilo. É mais provável que sejam mesmo os diários de Margaret Verrere.


- Ainda assim, acho difícil acreditar que uma mulher escreveria em seu diário as instruções sobre como encontrar um tesouro. As pessoas escrevem diários para si mesmas e ela sabia onde o tesouro estava.


- Ela não escreveu as instruções. Os comentários sobre o dote encontram-se espalhados pelos vários livros e, geralmente, são indiretos. No primeiro volume, que ela começou a escrever logo após sua chegada na América, Margaret diz estar preocupada por não ter notícias do pai. Havia enviado uma carta para ele e não tivera resposta. Portanto, não sabia se ele a recebera. Mais tarde, ela conta que tal carta continha o segredo do dote. Foi por isso que ela a enviou.


- Então, é óbvio que Chesilworth recebeu a carta, seguiu as instruções e encontrou o dote. Simplesmente, não se deu ao trabalho de escrever a ela e contar-lhe a verdade. Provavelmente, continuava furioso por ela ter transformado o nome dele em sinônimo de traição.


- Sir Potter, creio que será muito difícil trabalharmos juntos, se o senhor continuar a se referir ao incidente dessa maneira. Eu esperava que um homem moderno como o senhor, fosse capaz de admitir que uma mulher tem o direito de se casar com quem lhe agrade.


- Concordo plenamente com tal direito, mas não aceito a maneira como ela lidou com a situação. Ficar noiva para, então, fugir na véspera do casamento não pode ser considerado um comportamento correto.


- Claro. É muito pior do que invadir o quarto de jovens solteiras, no meio da noite, e atacá-las. – Hermione retrucou em tom ácido.


- Eu não a ataquei! E a senhorita sabe que cometi um erro.


- Então, dê à pobre Margaret o direito de ter cometido um erro, também. O senhor não sabe o que, exatamente, a situação envolvia, ou quanto ela temia o pai e sir Edric. Eu sei. Li todos os diários, onde ela registrou o medo que a acompanhou. Margaret ainda temia que o pai a encontrasse e a forçasse a voltar para a Inglaterra. Não se esqueça de que Margaret era apenas uma moça de dezessete anos, sozinha e assustada, que fez a única coisa que lhe pareceu razoável.


Apreciando o semblante de Hermione, iluminado pelo entusiasmo que ela sentia pela antepassada, Harry descobriu-se desejoso de voltar a tocá-la, como na noite anterior. E concluiu que aquele era o lugar perfeito, bem como o momento perfeito, para um interlúdio amoroso. Exceto pelo fato da senhorita em questão estar obcecada pela caça a um tesouro duvidoso.


- Está bem. – disse, tratando de controlar os impulsos. – Partirei do pressuposto de que Bla... Margaret Granger não era má pessoa, mas apenas uma jovem confusa e assustada. E, também, aceitarei que os diários são autênticos. Como vamos encontrar o dote?


- Bem, pelo que pude compreender, Margaret escondeu o dote na propriedade dos Potter e, então, escondeu as instruções sobre como encontrá-lo na mansão da propriedade. E, também, enviou uma carta ao pai, revelando-lhe o segredo. Como não tivesse resposta, enviou mais duas cartas, temendo que ele não houvesse recebido a primeira. Temia, além disso, que ele não houvesse lido as cartas recebidas, pois era um homem muito teimoso.


- Talvez sir Edric, ou um de seus descendentes, tenha descoberto o tesouro. – sir Potter sugeriu. – A senhorita disse que ela deixou instruções na Mansão Haverly.


- Nesse caso, o senhor certamente saberia, pois as jóias fariam parte do patrimônio de sua família.


- Provavelmente, mas, por outro lado, não sei bem que tipo de homem ele era. Pode ter sido um patife que jamais admitiria ter encontrado o dote, com medo de ser obrigado a devolvê-lo aos Granger. E possível que tenha vendido as jóias e guardado o dinheiro.


- Não resta dúvida de que o senhor conhece seus parentes bem melhor do que eu. – Hermione comentou em tom de desdém. – No entanto, duvido que ele tenha conseguido encontrar alguma coisa. Segundo os diários de Margaret, as pistas que ela deixou na Mansão Haverly não seriam suficientes para levar ao tesouro.


- Mas a senhorita disse...


- Sim, eu disse que ela deixou instruções, mas está claro que nem sir Edric, nem o pai dela, seriam capazes de descobrir o esconderijo, sem ajuda um do outro. Era justamente o propósito de Margaret forçar uma aproximação entre as duas famílias. Assim, ela não se sentiria tão mal pela inimizade que havia provocado com sua fuga.


- Então, precisamos encontrar a carta que ela enviou ao pai e as instruções deixadas na Mansão Haverly, para que possamos encontrar o dote?


Harry não pôde evitar uma pontada de interesse pelo mistério, embora a história fora, provavelmente, inventada.


- Exatamente. Talvez sejam duas metades de um mapa. Não sei ao certo, mas Margaret parecia certa de que seria impossível encontrar a fortuna, sem unir as duas partes.


- Interessante. – Harry murmurou pensativo, enquanto Hermione reprimia um sorriso de satisfação. - Onde, na Mansão Haverly, ela escondeu as instruções?


- Não tenho certeza.


- Pensei que os diários deixassem isso claro.


- As referências são um tanto vagas. Aparentemente, encontram-se dentro de um livro.


- Um livro! – sir Harry repetiu, desolado. – Devem haver milhares de livros, na biblioteca. E se o volume em questão foi jogado fora, depois de tantos anos?


Hermione franziu o cenho. Tal possibilidade já lhe ocorrera.


- Imagino que ela tenha escolhido um livro valioso, que jamais seria jogado fora.


- Mesmo ao longo de duzentos anos?


- Bem, é claro que Margaret não imaginou que tanto tempo se passasse, antes que alguém tentasse encontrar as instruções.


- E isso é tudo o que a senhorita sabe? Que estão escondidas em um livro?


- Margaret não mencionou o título. – Hermione respondeu com cuidado.


Sua ancestral fora mais específica sobre o livro, mas ela não tinha certeza de que poderia contar a sir Potter exatamente o que Margaret escrevera. Afinal, ele era um Potter e nada o impediria de procurar pelo tesouro sozinho.


- Ah! - ele exclamou, parecendo perceber a desconfiança dela. – A senhorita sabe mais do que está me dizendo!


- Não pode esperar que eu lhe conte tudo, quando ainda nem concordou em me ajudar. Aliás, nem sequer admite que os diários são verdadeiros. Dou-lhe minha palavra de que serei inteiramente franca e honesta, uma vez que estejamos trabalhando juntos. Não me agradam transações duvidosas.


Embora sir Harry não acrescentasse “ao contrário de sua tia e sua prima”, ambos pensaram na mesma coisa. Ele se pôs de pé e começou a andar de um lado para o outro, considerando o plano maluco de Hermione.


- Está sugerindo que, se eu concordar, iremos à Mansão Haverly, onde procuraremos por um livro cujo título você desconhece, em um local sobre o qual você não tem certeza? E, se por algum milagre, o encontrarmos, deverei ajudá-la a encontrar o tesouro, escondido nas minhas terras e, então, entregá-lo a você?


- Só metade. – Hermione corrigiu-o. – Acho justo dividirmos o lucro.


- Minha cara srta. Granger, parece-me mais razoável que o dote passe a ser todo meu. – sir Harry argumentou com ar divertido. – Afinal, é na minha propriedade, na minha casa, que a senhorita espera encontrar, tanto as instruções, quanto o tesouro.


- Isso é absurdo! – ela declarou, levantando-se, furiosa. – Sir Edric nunca conquistou o direito ao dote, uma vez que não houve casamento algum. O tesouro pertencia a Chesilworth, por direito. – Só então, percebeu o riso que ele se esforçava para conter e deu-se conta de que sir Harry só queria provocá-la. Assim, continuou: – Além do mais, como já disse, as instruções escondidas em sua casa não são suficientes. E sou eu quem possui a outra metade da informação.


- Está falando sério? Encontrou uma das cartas enviadas ao seu antepassado?


- Bem... ainda não.


- Compreendo.


- Mas vou encontrá-la. – ela insistiu. – Eu planejava esperar para conversar com o senhor, somente depois de haver encontrado a carta. Porém, esta oportunidade surgiu e eu tinha de aproveitá-la. Não sabia se jamais teria a chance de me encontrar com o senhor novamente. Como deve ter percebido, raramente participo de eventos sociais. Porém, já estou trabalhando no meu plano. Há algumas semanas, começamos a vasculhar o sótão da Mansão Chesilworth. São muitos baús, repletos de todo tipo de coisas. No momento, estamos na época do príncipe regente, mas ainda temos muitos baús para abrir. Tenho certeza de que as cartas encontram-se guardadas em um deles.


- Verdade? Percebi que a senhorita disse: “estamos”. Por acaso, há mais alguém envolvido nessa aventura?


- Meus irmãos. Eles estão me ajudando. É por eles que desejo tanto encontrar o dote. Mesmo metade do tesouro seria o bastante para recuperar a propriedade Chesilworth e nos permitir deixar de viver pela caridade de minha tia. Crispin herdaria a mansão e, talvez, Hart receba alguma ajuda, para iniciar algum negócio lucrativo. E Olívia poderia debutar, quando chegar à idade.


- Vejo que tem grandes planos para essa fortuna, que ainda nem sequer encontrou.


Hermione fitou-o com ar de desafio.


- Vejo que o senhor não aprova. Mais uma vez, os Granger entregam-se a seus sonhos.


- Tem uma imagem errada a meu respeito, srta. Granger. Não tenho nada contra sonhos. Apenas receio que a senhorita vá ficar desapontada, quando os seus não se realizarem.


- Se isso acontecer, terei de enfrentar a decepção. Mas não acredito que vou me desapontar. Estou certa de que encontrarei as cartas.


Harry suspirou. Olhou para ela e descobriu-se desejoso de ajudá-la... Ora, aquela história era absurda!


- Srta. Granger, não acha tudo isso muito dramático? Refiro-me a amantes em fuga, famílias em guerra, tesouros escondidos, mapas...


- Sim, muito dramático. – ela concordou com entusiasmo. – Não é maravilhoso?


- Eu quis dizer – sir Harry explicou com paciência - que talvez seja dramático demais para ser verdadeiro. Essa história parece ter sido inventada.


- Mas nós dois sabemos que a maior parte é verdade. - Hermione protestou. – Margaret realmente fugiu com outro homem, na véspera do casamento. Ela tinha um dote fabuloso, que desapareceu na mesma ocasião e que nunca foi encontrado. As duas famílias passaram a se detestar desde então. As únicas novidades são os diários e a possibilidade de encontrarmos o tesouro.


- Precisamente o que exige credulidade excessiva. Srta. Granger, sei que sou um homem extremamente desconfiado, mas aprendi que as respostas mais simples são, geralmente, as corretas. Margaret Granger não escondeu o dote, nem deixou instruções para que ele fosse encontrado. Ela não escreveu diários que, por coincidência, foram parar nas mãos dos Granger, duzentos anos depois. A resposta é que ela levou o dote para a América e usou a fortuna para sua nova vida na colônia. As informações mais recentes não passam de um plano para vender alguns livros a preço altíssimo, para um homem que todos sabiam ser obcecado pelo assunto.


Harry parou de falar, ao dar-se conta de que, mais uma vez, fora grosseiro.


- Devo entender que se recusa a me ajudar. – Hermione concluiu, desanimada. Apostara todas as suas esperanças naquele homem, mas ele a decepcionara. – Peço desculpas por ter desperdiçado o seu tempo. – murmurou, antes de virar-se e começar a se afastar.


Sir Harry segurou-a pelo braço.


- Espere!


Hermione voltou a fitá-lo, lutando para conter as lágrimas.


- Srta. Granger, a única coisa que questiono é a autenticidade dos diários. A coincidência de eles estarem nas suas mãos, depois de todos esses anos, é demais para eu aceitar.


- Já expliquei ao senhor que não foi coincidência, mas sim uma progressão lógica. Será que não percebe?


- Não, não percebo. Só consigo ver uma jovem adorável, de quem um patife certamente tirou vantagem. Uma mulher que ainda chora a morte do pai, alimentando a esperança de que o sonho dele se torne realidade.


Os olhos cinzentos de Hermione faiscaram.


- Não sou uma garotinha fútil, incapaz de reconhecer más intenções. Meu pai não foi tolo, assim como eu também não sou. Os diários são autênticos, mas o senhor é frio demais para acreditar. Eu deveria saber que um Potter acharia a história romântica demais.


- Srta. Granger, juro que não a considero uma garotinha fútil. Ao contrário, considero-a uma mulher inteligente e bonita. Tenho grande admiração pela senhorita. – Ele fez uma pausa e sorriu. – Também não me falta romantismo. Na verdade, neste exato momento, os pensamentos que cruzam a minha mente são extremamente românticos.


Hermione respirou fundo, descobrindo-se incapaz de desviar o olhar daqueles olhos castanhos, que possuíam um brilho dourado espetacular. Sentiu a garganta seca e não foi capaz de pronunciar uma só palavra.


Harry deslizou a mão por seu braço, até pousá-la em suas costas e puxá-la para si.


- Sua história é a única coisa que não acho atraente na senhorita.


- Sir Potter... – ela gaguejou, ao mesmo tempo em que os joelhos ameaçavam vergar.


Ele se inclinou e beijou-a com suavidade, a princípio. Então, os lábios dele tornaram-se ousados e exigentes e Hermione sentiu o sangue ferver em suas veias. Por um longo momento, entregou-se ao prazer, sem pensar na decepção, no plano frustrado, ou em qualquer outra coisa.


- Hermione... – sir Harry murmurou, ao afastar os lábios dos dela e pousá-los em seu pescoço.


Por alguma razão, o som da voz profunda trouxe Hermione de volta à realidade. Então, ela se lembrou de onde estavam, bem como do fato de ele ter acabado de considerar a história do dote espanhol uma fraude, classificando-a como ingênua.


Com um gesto brusco, desvencilhou-se dos braços que a enlaçavam e aplicou uma forte bofetada no rosto de sir Potter. Por um momento, os olhos dele exibiram o brilho da ira, mas a impassividade reassumiu seu posto, imediatamente.


- Peço que me perdoe. – ele declarou com voz tensa.


- Eu deveria ter imaginado! – Hermione explodiu. - O senhor não tem o menor interesse em ouvir o que estou dizendo. Tudo o que quer é roubar alguns beijos, enquanto estamos aqui, em um lugar tão sossegado. Como não percebi antes? Fingiu estar interessado em minha história, apenas para ter uma desculpa de ficar a sós comigo! E claro que um homem que tem o hábito de invadir o quarto de moças solteiras só pensa em aproveitar-se das mulheres. Tem razão, sou ingênua, como disse, mas não por acreditar nos diários de Margaret Granger, e sim por não ter me dado conta de que, além de ser um Potter, o senhor não passa de um libertino!


- Espere um instante! – Harry protestou, indignado. – Foi a senhorita quem disse que precisava conversar comigo. E, também, foi sua a sugestão de que entrássemos no labirinto.


- Não acredito que, agora, vai usar isso contra mim! Eu, simplesmente, queria um lugar tranqüilo para conversar. Não tive a intenção de convidá-lo a me beijar!


- Verdade. Foram os seus lábios que fizeram o convite.


- O senhor é insultante!


- Honesto, eu diria. Se pensar melhor, vai se lembrar de que retribuiu meu beijo de boa vontade. Ao menos, até se lembrar de que deveria agir como uma moça pudica.


Harry sentia-se contrariado pelo fato de seu corpo ainda desejá-la com ardor, mesmo estando ele tão irritado com a atitude de Hermione. Nunca antes uma mulher exercera sobre ele efeito tão peculiar.


- Fui uma tola ao acreditar que um Potter poderia me ajudar. Gostaria de nunca ter falado com o senhor. Aliás, gostaria de jamais tê-lo visto!


Com isso, ela girou nos calcanhares e afastou-se.


- Espere! Não, srta. Granger...


Harry partiu no encalço dela, mas Hermione caminhava rapidamente e, além disso, já conhecia o caminho da saída do labirinto. Assim, mesmo ouvindo-o gritar seu nome, percorreu rapidamente as alamedas e, poucos minutos depois, saía para o jardim. Parou de repente, ao deparar com a tia e a prima, que a fitaram com desdém.


- Francamente Hermione, não há motivo para correr dessa maneira! – tia Ardis censurou-a. – Seus modos são, definitivamente, lamentáveis!


- Desculpe, tia Ardis. – ela replicou de maneira automática. – Bom dia.


Já ia passando pelas duas, a caminho da mansão, quando sir Potter emergiu do labirinto, praguejando:


- Diabos, srta. Granger!


Tanto Joanna, quanto tia Ardis, viraram-se de pronto, exibindo expressões dóceis e sedutoras.


- Que surpresa agradável encontrá-lo, sir Harry. – a mãe declarou com um sorriso largo.


- Um acontecimento esperado, eu diria, uma vez que estamos hospedados na mesma propriedade. – ele retrucou em tom seco.


Ao mesmo tempo em que agitava o leque com afetação, Joanna emitiu seu risinho tolo, como se ele houvesse contado uma piada muito inteligente.


- Srta. Moulton. – ele a cumprimentou. – Espero que esteja se sentindo melhor, depois do terrível pesadelo de ontem à noite.


Boquiaberta, Joanna olhou para a mãe, que também parecia não saber o que dizer. Sir Harry virou-se para Hermione, que o fitou com olhar gelado.


- Tenham um bom dia. – ele resmungou, antes de virar-se e afastar-se. Por um longo momento, Joanna e tia Ardis observaram-no, horrorizadas. Então, a filha exclamou:


- Ele sabia mamãe!


- Não diga bobagens. – a mãe ordenou, lançando um olhar significativo na direção de Hermione.


- Não tentem esconder nada de mim. – Hermione advertiu-as. – Estou a par da armadilha que prepararam para sir Harry. E é óbvio que ele também sabe de tudo.


- Você contou a ele! – Joanna acusou, indignada.


- Joanna! – tia Ardis repreendeu-a.


- Ora, mamãe, ela já sabe. Provavelmente, anda ouvindo atrás das portas.


- Isso não é necessário. – Hermione corrigiu-a. - Qualquer um que tenha ouvido o escândalo de sua mãe, diante da porta do seu quarto, ontem à noite, logo perceberia o que as duas pretendiam. E, dada a maneira ostensiva como você se atirou para cima de sir Harry, à tarde, não seria difícil adivinhar quem era a vítima.


A sra. Moulton emitiu um gemido mortificado, mas a filha adiantou-se para Hermione furiosa.


- Você está com ciúme! – gritou.


Tia Ardis teve o bom senso de segurar o punho erguido da filha com força.


- Joanna! Pare com isso! Não vou permitir que você faça uma cena, durante a festa de lady Arrabeck. A situação já não está a nosso favor. – Olhou em volta, ansiosa, temendo que outros convidados houvessem presenciado o comportamento de Joanna. Então, virou-se para Hermione e sussurrou: – Acha mesmo que todos pensam que nós... que Joanna...


Percebendo a expressão humilhada no rosto da tia, Hermione chegou a ter pena dela. Porém, perdera o interesse em continuar participando daquela festa, e sabia que se a tia não temesse o desprezo dos demais convidados, ficaria hospedada ali por muitos dias. Provavelmente, acabaria se convencendo de que sir Harry ainda estava interessado em Joanna e não mediria esforços para tê-lo como genro. Joanna era, sem sombra de dúvida, uma moça excepcionalmente bonita. Tia Ardis, porém, nem desconfiava que a futilidade da filha pudesse afastar os homens. Acreditava que todos eles ficavam fascinados diante de tamanha beleza. E, com certeza, acreditaria que, se sir Harry continuasse vendo Joanna todos os dias, acabaria se apaixonando por ela, apesar do que acontecera na noite anterior.


Por tudo isso, Hermione declarou:


- Tenho certeza de que achara, no mínimo, muito estranho o fato de a senhora estar gritando diante da porta de Joanna. E o fato de ela ter dito que “ele” ainda não estava lá, não ajudou em nada.


- Está vendo? – tia Ardis voltou-se para a filha. – Eu disse que você não deveria ter falado nada! Qualquer um pode ter ouvido.


- Receio que sir Harry tenha ouvido, também. – Hermione acrescentou. – Provavelmente, já se aproximava do quarto, quando ouviu tudo e, sabendo que “ele” só poderia se referia a ele mesmo, deve ter concluído rapidamente o que se passava.


- Eu não o convidei. – Joanna protestou em tom pouco convincente.


Hermione não se deu ao trabalho de comentar. Limitou-se a lançar à prima um olhar incrédulo.


- Não pense que só porque conseguiu passear com ele pelo labirinto, conseguiu despertar o interesse de sir Harry. – Joanna atacou com uma careta. – Ele jamais se interessaria por uma mulher que só pensa em livros.


- Tem toda razão. – Hermione replicou com voz tranqüila. – A verdade é que nos encontramos por acidente. Ele não conseguia encontrar a saída e tive de mostrar a ele.


- Você não entende nada de homens, Hermione! Eles sempre querem saber mais do que nós.


- É uma pena, pois a maioria não sabe coisa alguma.


- Garotas, por favor! – tia Ardis interrompeu-as. - Parem com isso! Precisamos pensar no que fazer. Não vou suportar ficar aqui, sabendo que todos nos olham, pensando que... que...


- Que vocês arquitetaram um plano para forçar sir Harry Potter a se casar com Joanna? – Hermione completou, sem piedade.


- Francamente Hermione, uma moça deveria ser menos direta em seus comentários.


- Desculpe, tia Ardis. Sei que a situação seria difícil demais para a senhora. Talvez, a melhor solução seja irmos embora.


- Tem razão. Voltaremos a Dunsleigh imediatamente. Em breve, ninguém mais se lembrará do incidente. – Então, ela franziu o cenho. – O que vou dizer a lady Arrabeck? Não posso ofendê-la.


- Diga que estou doente. Irei para o meu quarto, agora mesmo. À tarde, a senhora poderá dizer a lady Arrabeck que estou passando muito mal e que insisto em voltar para casa. Diga que sou uma criatura muito frágil.


- Ora, você é saudável como um touro. – Joanna apontou.


- Lady Arrabeck não sabe disso.


- Você não parece doente.


- Farei o possível, a menos que você queira bancar a inválida. - Joanna considerou a cena romântica que faria, pálida e frágil, apoiando-se na prima, com passos fracos. Talvez tivessem de pedir àquele criado atraente que vira na véspera, para carregá-la até a carruagem. Seus lábios se curvaram em um sorriso.


- Acho que será melhor assim. – decidiu. – Seria muito mais natural mamãe preocupar-se com a minha saúde. Hermione, dê-me seu braço.


Hermione conteve a irritação pela encenação dramática da prima, dizendo a si mesma que faria qualquer coisa para se ver longe do odioso Potter. Recusou-se a lembrar de como sir Harry arruinara seus planos. Nem tudo estava perdido. Voltaria para casa e retomaria a procura pelas cartas. Quando as encontrasse, pensaria em um meio de encontrar o dote espanhol sozinha.


 


 


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Silvia Cecil: isso mesmo, mais uma fic de presente para quem curte H/H, a historia é cheia de ação e aventura, sem contar claro o romance, espero que goste. A Hermione tem realmente uma personalidade muito forte que vai colocar ela em situações muito interessantes, principalmente com o Harry. Beijos.


 


Nanny Black: a historia é bem legal e o desenrolar dela vai ser muito interessante, espero que tenha gostado do novo capitulo. Abraços.


 


Lúh. C. P.: Que bom que gostou da fic, espero que os capítulos seguintes tambem estejam bons. Abraços.


 


kassia bell: que bom que gostou. Abraços.


 


 

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