Um dia de compras para recorda

Um dia de compras para recorda



Capítulo V – Um dia de compras para recordar



Atravessaram o shopping de uma ponta à outra, pois os restaurantes ficavam no outro extremo do mesmo. De vez em quando, paravam para ver alguma montra (gicaram meia hora a contemplar a montra da livraria Books for all occasions , a pedido de Hermione. Com muito esforço, Harry conseguiu, finalmente, afastá-la dos livros), até que chegaram aos restaurantes. Haviam refeições para todos os gostos. Depois de muita discussão sobre o restaurante onde iriam comer, da qual Hermione ganhou, foram almoçar pizza. Enquanto Harry foi pedir o almoço (tarefa do perdedor) Hermione foi à procura de uma mesa livre para que os dois pudessem comer.

Estava Harry à espera de ser atendido, quando avistou ao longe uma rapariga de cabelos pretos, presos num rabo-de-cavalo, rodeada por mais outras seis raparigas, todas a rir. Harry reconheceu logo a rapariga do rabo-de-cavalo: era Cho Chang. E as outras todas deveriam ser as suas colegas de Hogwarts, pois identificou a detestável Marietta Edgecombe, infelizmente recuperada das borbulhas causadas pelo brilhante feitiço de Hermione. Por causa dela, Umbridge, a horrenda professora de Defesa Contra a Magia Negra do seu ano passado, tinha descoberto as aulas secretas da mesma disciplina, e tinha acabado com o ED. Para sua grande infelicidade, Cho tinha-o visto e caminhava a largas passadas ao seu encontro, seguida pelas suas “fãs”. Tal era a sua ansiedade de chegar a Harry que nem reparou em Hermione. Harry olhou para a amiga: estava com um livro aberto em cima da mesa, mas no entanto não o lia. Preferia estar a observar Cho e, provavelmente, a reacção de Harry. Também não parecia muito feliz com o repentino aparecimento da rapariga.



- Olá Harry! – cumprimentou Cho, ao que parecia, a transbordar de satisfação. As suas irritantes amigas começaram aos risinhos irritantes. Tudo nelas era irritante. – O que é que andas a fazer por estes lados? Não vives aqui pois não?



- Olá. Não, não vivo aqui. Vim com a Hermione às compras. – respondeu Harry friamente apontando para Hermione, que fingia agora estar concentrada no livro. – Ela convidou-me para passar uns tempos em sua casa.



O sorriso de Cho desapareceu inesperadamente. Estava com cara de quem tinha levado um estalo (literalmente). As suas colegas irritantes pararam com os risinhos ridículos e observaram a cena avidamente.



- Pois, estou a ver… estás a passar férias em casa da Granger. E o que é que fazem? Estudam? Lêem? – perguntou Cho ironicamente. Pelo canto do olho, Harry viu que Hermione tinha abandonado o livro e dirigia-se para ali.



- Acho que o que fazemos em MINHA casa não te diz respeito, pois não Chang? – disse Hermione, pondo-se ao lado de Harry. Cho ficou vermelha de raiva. Os olhos de Hermione chamejavam. Após uns segundos, em que as duas ficaram a olhar uma para a outra com olhares nada amigáveis, Cho virou costas e, com o enxame de raparigas que tinham recomeçado com os risinhos, foi-se embora.



Harry ficou estupefacto a olhar para Hermione. Normalmente era ela que dizia para evitar as intrigas e agir calma e civilizadamente, mas parecia que até os melhores se descontrolavam. Só a tinha visto assim depois de dar um valente estalo a Malfoy.



- O que é que ela… - começou Harry.



- Estava aqui a fazer? Ela também mora em Birmingham. – esclareceu Hermione, ainda afogueada. - Ela é uma estúpida. D’antes ainda me cumprimentava… com um sorriso amarelo, mas cumprimentava. Quando voltei para casa, depois da escola, e fui à biblioteca municipal, encontrei-a e cumprimentei-a amavelmente. Sabes o que é que ela fez? Olhou para mim de baixo a cima e disse:

“ Muito sinceramente, não sei o que é que o Harry vê em ti. Quem é que gostaria de namorar com um dicionário ambulante de cabelos espetados? ”. Fiquei mesmo furiosa. Quase comecei aos gritos em plena biblioteca.



- Hermione, – disse Harry lentamente – a Cho está com ciúmes… Outra vez.



- Pois, isso já eu percebi. Mas tu não lhe disseste nada? Algo como: “ Não tens vergonha de te meteres na vida dos outros? ”. E, já agora, porque é que ela está com ciúmes? – perguntou Hermione.



- Não sei se já te disse, mas tu eras sempre a causa das nossas discussões. Quando aquela Marietta ficou com a cara cheia de borbulhas, ela veio ter comigo desculpá-la e dizer-me que devias ter avisado o grupo por teres enfeitiçado a lista. Eu defendi-te e ela ficou furiosa. Mas deixa estar, eu agora um dia destes falo com ela – tranquilizou-a Harry.



Hermione voltou para a mesa, enquanto Harry continuava à espera de ser atendido. Após uns 15 minutos, foi ter com Hermione, carregado com dois tabuleiros e fazendo um excepcional malabarismo para não os deixar cair.



- Estava a ver que nunca mais chegavas! – exclamou Hermione, olhando para o seu tabuleiro morta de fome.



- Se me tivesses ido ajudar eu tinha vindo mais rápido. – replicou Harry.



- Não, não. Não sabes que são sempre os “cavalheiros” a carregar as coisas das “damas”?



- E desde quando é que tu és uma “dama”? – perguntou Harry fingindo-se zangado.



- Oh, cala-te e come!



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


Depois de terem almoçado, Hermione insistiu para que fossem primeiro tratar do calçado. Visitaram cerca de 8 sapatarias, na esperança de encontrarem uns sapatos confortáveis. Acabaram por experimentar metade dos sapatos de uma loja, ou seja, metade dos sapatos de rapaz e metade dos sapatos de rapariga. Já Harry tinha os seus deslumbrantes (palavra de Hermione) ténis brancos calçados e pagos, a amiga ainda estava a experimentar. Experimentou botas, ténis, chinelos, sandálias... Harry aconselhou-a a escolher os ténis. Ficavam-lhe muito bem e, além do mais, eram confortáveis. Hermione seguiu o conselho de Harry e resolveu levar um par dos tais ténis e um par de sandálias. A seguir foram à procura de uma loja de roupa masculina. Depois de ter entrado na loja “Always Clothes” e ter experimentado todas as roupas que Hermione lhe tinha escolhido, optou por dois pares de calças de ganga, quatro camisas, três t-shirts e dois calções.

Por sua vez, Hermione comprou na loja feminina dois vestidos, três saias, uma de ganga e as outras de tecido colorido, um top amarelo e dois pares de jeans. Depois de saírem da última loja, decidiram fazer uma pausa, indo à gelataria mais próxima.



- Então, o que é que estás a achar deste dia? – perguntou Hermione ao amigo, a passar-lhe o gelado de morango e caramelo.



- Estou a gostar. Quer dizer, é muito cansativo, principalmente porque sou cavalheiro e tenho que transportar as compras da dama. Mas tudo bem. – respondeu Harry, fazendo com que a amiga ruborizasse um pouco.



- Agora temos de ir comprar uns calções de banho para ti e um biquini para mim.



E lá foram os dois, em busca do estabelecimento que tivesse os seus fatos de banho. Decidiram-se por ir a uma loja de desporto.



- Em que posso ajuda-los? – perguntou o empregado a ambos.



- Estamos à procura de roupa para banho para nós. – respondeu logo Hermione.



- Deseja ver fatos de banho ou biquinis? – perguntou o empregado à rapariga.



- Os dois.



O empregado guiou-os para uma secção só de fatos de banho para raparigas. Hermione escolheu três biquinis e um fato de banho e foi experimenta-los à cabine de provas. Harry também foi experimentar, mas no seu caso foram os calções de banho. Escolheu uns verdes e outros azuis-escuros. Após uma breve olhada nos espelhos, concluiu que os calções verdes ficavam-lhe, sem sombra de dúvida, melhor. Vestiu-se e ficou à espera de Hermione.

Passados 10 minutos, a amiga saiu da cabine de provas.



- Estava a ver que não! O que é que estavas a fazer lá dentro? – perguntou Harry inquieto.



- A escolher entre o fato de banho e o biquini azul. – respondeu Hermione mostrando-lhe o fato de banho e o biquini.



- Qual foi o que escolheste? – perguntou Harry, a imaginar em qual Hermione ficava melhor.



- O biquini. Acho que me fica melhor, porque não é tão justo como o fato de banho. Quer dizer, o biquini também é justo, mas não é tanto. Percebes?



- Percebo. – respondeu Harry distraído. Percebia tanto de biquinis como de aspiradores desmontados. Estava agora a arrumar os calções de banho azuis-escuros numa prateleira, de onde os tinha tirado.



Depois de saírem da loja, saíram do centro comercial e foram apanhar o autocarro para casa de Hermione. Quando chegaram, viram que os pais dela ainda não tinham chegado. Harry ajudou a amiga a carregar as suas compras até ao seu quarto e a seguir subiu para o quarto de hóspedes a fim de arrumar as suas novas roupas no roupeiro. Passado um momento, Hermione pediu licença para entrar e sentou-se no cadeirão, a ver Harry a arrumar as suas novas roupas.



- Tenho estado para te perguntar isto há muito tempo Harry: Tens praticado Oclumancia ( Oclumencia ) ?



- Claro que tenho! Desde aquele sonho… do Sirius. – respondeu-lhe Harry tristemente. Lembrar-se do padrinho ainda lhe era doloroso, apesar de sentir uma enorme vontade de desabafar com alguém. Nunca tinha falado da morte de Sirius com ninguém. Lembrou-se vagamente que depois da morte do padrinho, Hermione mostrava-se sempre disposta a falar dele.



- Harry, estás bem? – perguntou receosa a rapariga, pois o amigo tinha parado imprevistamente de arrumar as roupas e a sua expressão revelava tristeza, raiva, ódio e até angústia.



- Não. – responde Harry.



- O que é que tens? – pergunta Hermione, levantando-se.



- Eu não aguento mais. – disse Harry num sussurro.



- O quê?



- Eu não aguento mais. – repetiu Harry, desta vez num tom de voz mais audível.



- O que é que não aguentas mais? – perguntou carinhosamente Hermione.



- Tudo. Porque é que eu sou o Harry Potter? Já reparas-te? Os meus pais morreram quando era bebé a tentarem protegerem-me, o Cedric (Cedrico) Diggory morreu, o Sirius morreu. Tudo por minha causa. Quem é que falta morrer mais? Às vezes penso que o melhor era eu já ter morrido. Mas depois lembro-me da porcaria daquela profecia. – despejou Harry a sua frustração.



- Qual profecia? – perguntou Hermione com os olhos brilhantes.



- A… Aquela que se partiu no Departamento dos Mistérios. O Dumbledore sabia o seu conteúdo e disse-me. – respondeu Harry, dando-se conta que já tinha falado demais. Nem queria imaginar a reacção de Hermione.



- E…?!



- E … E a profecia diz, resumidamente, que eu sou o único que pode matar o Voldemort e que se ele me matar as trevas tomarão o mundo, sem ninguém as conseguir deter. E porquê? Porque só o exemplar Harry Potter as pode deter. Mas se o exemplar Harry Potter morrer, o mundo pode dar-se como acabado.



Hermione fitou Harry, notando-se claramente que fazia força para as lágrimas não saírem.



- Tu só podes estar a brincar… - disse, muito devagar.



- Não Hermione. Eu sou o único que pode matar o Voldemort. Nem o Dumbledore o pode matar.



Hermione já não conseguiu controlar as lágrimas. Começaram a sair dos seus olhos a uma velocidade alucinante. Uma dor muito, muito grande atingiu-a no peito. A ideia de perder um dos melhores amigos era-lhe completamente fictícia, mas ali estava Harry a dizer que se não conseguisse matar Voldemort, quase de certeza que morria nas mãos do temível feiticeiro das trevas.



- E porque é que não me contaste mais cedo? – perguntou Hermione, agora com rios de lágrimas silenciosas a escorrer pelas bochechas.



- Porque não te queria preocupar. Nem a ti nem ao Ron.



- Mas tu não vais morrer. Não podes morrer. – disse Hermione, tentando-se convencer. Harry abraçou-a.



- Vamos ser realistas: quais são as probabilidades de um rapazinho de 16 anos contra o maior bruxo das trevas? Nenhumas! Eu sobrevivi ao Voldemort por uma unha negra! Foi pura sorte! Porque é que não posso ser um vulgar adolescente cuja preocupação são borbulhas? Que só fala de Quiditch e está-se nas tintas para os problemas do mundo? – Harry sentiu Hermione tremer. Arrependeu-se novamente de lhe ter contado.



- Tu não sobreviveste ao Voldemort por sorte. Tu és muito poderoso Harry.



- Oh, é claro que sou. Se me comparares a ti… - respondeu Harry sarcasticamente.



- É claro que és! Não podes deitar-te abaixo dessa maneira. Tu não tiveste culpa nenhuma das mortes passadas! – replicou Hermione quase a gritar.



- Ai isso é que tive. Se te tivesse dado ouvidos, nunca teríamos ido àquele Departamento dos Mistérios, e a esta altura o Sirius ainda estava vivo. - disse Harry, igualmente furioso. – Todas as pessoas importantes para mim morrem, e porquê? Porque são amigas do Harry Potter e como o Voldemort quer acabar com o Harry Potter, pode começar pelos seus amigos, que infelizes, não têm culpa nenhuma. Faça o que eu fizer, são sempre elas a sofrer e não eu.



- Escuta: lá por seres o Harry Potter não quer dizer que não tenhas de ter amigos e pessoas que se preocupem contigo. Uma das coisas de que mais me orgulho foi ter-te conhecido. – disse sensatamente Hermione, a olhar para os seus olhos. Agora estavam muito próximos… Harry secou as lágrimas de Hermione suavemente com a ponta dos dedos e foi-se aproximando devagarinho. Hermione imitou-o. No instante seguinte, um barulho de uma porta a ser fechada ecoou pela casa. Os pais de Hermione tinham voltado. Hermione ficou envergonhada, mas não tanto como Harry. Afastaram-se ambos bruscamente.

Harry não percebia o que se estava a passar. Hermione sempre fora a sua melhor amiga, podendo ser confundida facilmente como sua irmã. O que o rapaz não fazia ideia é que as mesmas confusões existiam igualmente na amiga.







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