A noite no jardim



Capítulo IV – A noite no jardim




Foram os dois para casa sem trocarem palavras nem olhares. Mas o que tinha acontecido? Ao que parecia, também Hermione tinha ficado apreensiva com o sucedido nos baloiços. Harry lembrou-se de repente que o mais provável era a amiga namorar com Viktor Krum. Uma estranha sensação invadiu-o: a garganta ficou seca, um estranho nó tinha-se enrolado nela e uma súbita raiva por o jogador de Quiditch da Bulgária revelou-se. Só tinha sentido aquela sensação… quando Cho namorava com Cedric. Oh, sim, era das piores. Eram os típicos ciúmes que o tinham perseguido durante muito tempo. Parou a sua caminhada. Hermione também parou, ficou uns metros à sua frente, a contempla-lo, com o seu olhar firme e profundo, com o cabelo aos caracóis a ondular, sob a brisa nocturna que agora se fazia sentir... A amiga abriu-se num largo sorriso. “Realmente Hermione mudou.”, pensou Harry.



- Parece que gostaste mesmo dos baloiços.



- Podes crer. A seguir ao jantar tens que me mostrar o resto do jardim. – disse Harry, tentando arranjar uma desculpa por ter parado inesperadamente. Hermione não pareceu muito convencida mas concordou.



- Está bem. Mas agora vamos jantar. Estou esfomeada! – respondeu-lhe Hermione, pegando-lhe logo de seguida pela mão e puxando-o rapidamente para a porta de onde saíram.



Depois de terem entrado em casa, Harry e Hermione encaminharam-se para a sala de jantar, a fim de comerem a refeição preparada por Mrs. Granger. Quando estavam a terminar a sopa, Mrs. Granger perguntou a ambos:



- Então meninos, qual vai ser o programa para amanhã?



- Eu e o Harry temos que voltar a Privet Drive. – respondeu prontamente Hermione.



- Para quê? – perguntou Mr. Granger curioso.



- É que recebemos umas autorizações de Hogwarts para o encarregado de educação assinar. – explicou Hermione ao pai – E como o encarregado de educação do Harry é o seu tio, temos que voltar a Privet Drive para ele assinar o documento. Apanhamos o autocarro (ônibus) para o palácio e daí seguimos para o Botão de Transporte. Devemos demorar uma hora, coisa assim.



- Quando voltarem de Privet Drive vão comer qualquer coisa a qualquer lado. Podiam ir ao shopping almoçar e depois passavam lá a tarde. Como tu tens coisas para comprar, aproveitavas. E tu também Harry, porque pelo que vi, os teus tios nunca te compraram uma peça de roupa. Suponho que a que tens foi do teu primo? – perguntou a mãe de Hermione a Harry. A semelhança entre a mãe e a filha era impressionante.



- Foi. Eles nunca se deram ao trabalho de me comprarem qualquer coisa. – disse Harry, não muito à vontade.



- Então está combinado. Quero-vos em casa antes das 18horas. É que nós – apontou para ela própria e para Mr. Granger – vamos estar fora o dia todo. Temos umas 3 reuniões e muitas consultas.



Depois de Hermione e Harry terem terminado as suas respectivas refeições, foram ver o resto do jardim. Estava uma noite calma e serena, sem ruído e com uma ligeira brisa quente.



- O que é que falta mostrar-te? A piscina! – exclamou subitamente a amiga. Ficou à frente da piscina, mesmo à beirinha, e começou a enumerar as qualidades da mesma, com se estivesse a fazer um anúncio publicitário. – Com 4 metros de comprimento e 2 de largura, esta é a piscina mais…Ups! – de repente, Hermione escorregou. Sendo Harry quem estava mais perto, ainda tentou agarrá-la, mas acaba por escorregar também devido ao piso húmido e os dois caem na piscina com um molhado splash! Ficaram a olhar um para o outro. Imediatamente em que os olhares se cruzaram, os dois começaram a rir às gargalhadas.



- Não, o melhor foi quando eu tentei ajudar-te. – disse Harry, ainda perdido de riso com Hermione, quando estava a ajudá-la a sair da piscina. Quando a amiga recebeu a mão de Harry para a ajudar, em vez de subir, puxou-o novamente para dentro da piscina. Harry, surpreso, caiu outra vez. Hermione parecia prestes a rebentar de tanto rir.



- Teve muita graça, não teve? – perguntou Harry, após ter regressado à superfície. Atirou uma considerável quantidade de água à amiga.



Após uma pequena guerra de água, da qual saiu vencedor Harry, os dois saíram da piscina. Os óculos de Harry estavam, obviamente, molhados e ofuscavam-lhe a visão. Tentou limpá-los à camisola, mas estando esta molhada, não obteve quaisquer resultados.



- Espera aí que eu vou buscar umas toalhas. – anunciou Hermione, indo sorrateiramente para dentro de casa e trazendo logo de seguida duas toalhas brancas, uma para cada um.



- Obrigado. – agradeceu Harry, limpando logo os óculos. Depois de os colocar no rosto, reparou que Hermione estava a olhar para ele. – O que é que foi?



- Sabias que o cabelo despenteado te fica a matar? – elogiou ela, pois o cabelo de Harry estava totalmente desalinhado.



- Não tanto com o teu cabelo encaracolado te fica a ti. – respondeu Harry, olhando para Hermione intensamente.



Hermione corou violentamente. Nunca nenhum rapaz lhe tinha dito aquilo.



Sem os dois repararem, o ambiente tinha-se tornado romântico. Hermione sentiu um calafrio, como nunca tinha sentido, nem mesmo com Viktor. Viu que Harry fixava-a com os seus olhos verdes, uns olhos lindos, tapados por uma fina camada de vidro, os seus óculos.



Era quase uma da madrugada e Harry e Hermione ainda estavam no jardim, deitados na relva, a contemplar o céu estrelado e escuro… Naquele momento, uma estrela-cadente passou sobre as suas cabeças.



- Olha Harry, uma estrela-cadente! Pede um desejo. – disse Hermione a Harry.



Ambos fecharam os olhos. Harry nem queria acreditar que estava com ali, deitado na relva fofa, com Hermione ao seu lado. Longe de Privet Drive. Sem um primo estúpido para aturar. Apressou-se a pedir o seu desejo. Após a estrela ter desaparecido no céu negro levemente ponteado por pequenos pontos luminosos, Harry ficou a pensar no que Hermione teria desejado. Mal ele sabia que a rapariga também tentava descobrir o seu desejo.



- O que é que pediste? – perguntou Harry.



- É segredo. – respondeu Hermione, deixando um tom misterioso no ar. – Acho que também não me vais contar o teu desejo.



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


Hermione acordou ainda um pouco confusa. Viu que o sol já tinha nascido. Deviam ser umas sete horas. Tinha passado a noite no jardim. Com Harry. Não tinha sido um sonho. Olhou para o lado: Harry dormia silenciosamente, com uma expressão calma. Devia ser das poucas vezes que Harry estava tão calmo. Hermione passou a mão suavemente pela sua face. Não o quis acordar. Levantou-se ainda com a roupa do dia anterior, coberta pela toalha branca, que se tornara verde devido à relva.
Foi preparar o pequeno-almoço. Quando chegou à cozinha, encontrou um bilhete escrevinhado à pressa pela mãe:



“ Hermione:

Eu e o pai tivemos que sair mais cedo. No frigorífico, encontrarás tudo o que precisas para não morreres à fome. Em cima da mesa, está um envelope que tem o dinheiro para irem às compras. Diz ao Harry para não se preocupar e para aceitar isto como uma prenda de boas-vindas.

Comportem-se!

Mãe”




Hermione ficou aliviada. Não gostava nada de descobrir qual seria reacção dos pais ao descobrirem que dormiu ao relento, e ainda por cima, com um rapaz. Seguiu o conselho da mãe: abriu a porta do frigorífico e começou a tirar os ingredientes para preparar o pequeno-almoço para ela e para Harry.



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*


Harry acordou com o miado de Crookshanks. Os óculos tinham-lhe caído da cara. Pô-los logo. Encontrava-se no jardim… sozinho. Onde estava a Hermione? Lembrava-se de que na noite anterior Hermione se tinha deixado dormir e ele, tinha ficado a admirá-la. Levantou-se, passou a mão pelos cabelos para os sacudir da relva, fez uma festa a Crookshanks e entrou dentro de casa. Assim que entrou, começou a ouvir barulho na sala de jantar. Espreitou pela porta entreaberta. Hermione estava a pôr a mesa, ainda com a roupa do dia anterior. Estava indecisa em colocar pratos azuis ou brancos. Viu que Harry estava a olhar para ela e disse-lhe na brincadeira:



- Bom dia dorminhoco! Já viste as horas que são? O famoso Harry Potter a dormir até às dez da manhã?



- O que é que tem? Aliás, porque é que não tiveste a decência de me acordar? – perguntou Harry ainda sonolento.



- Primeiro: já devíamos estar em Privet Drive. E depois não te quis acordar. E mesmo que tentasse, creio que não resultaria. Estavas a dormir que nem uma pedra. – justifica-se Hermione, apesar de estar a mentir.



- Ah. E o que é que tu vieste fazer? – perguntou Harry.



- Eu vim fazer o pequeno-almoço. A propósito, ajuda-me a por a mesa. Azul ou branco? – perguntou, referindo-se aos pratos.



A seguir ao pequeno-almoço, os dois subiram para os seus quartos e foram-se vestir. Depois de se ter vestido, Harry desceu o alçapão a as escadas e bateu à porta do quarto de Hermione.



- Podes entrar. – disse a amiga. Estava muito bonita, com uma mini-saia de ganga e um top de alças fininhas cor-de-rosa.



Harry entrou, pela segunda vez, no quarto de dela. Hermione estava a passar pelos lábios um gloss.



- Agora pintas-te? – inquiriu, distraído.



- Só nas férias. No tempo de aulas não tenho tempo. – explicou Hermione, tapando o gloss. - Harry, tens de deixar-me dar um jeito nesse cabelo.



- Porquê? Está despenteado? – perguntou Harry



- Não, esse é o problema. TEM de estar despenteado. Fica melhor. – disse Hermione, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Pegou num frasco com gel, sentou Harry numa cadeira ( ele estava mais alto que ela ) e espalhou o gel pelo cabelo seu cabelo. – Pronto. Assim está bem melhor.



Harry levantou-se da cadeira e olhou para o espelho da cómoda de Hermione e ficou surpreendido. Tinha um penteado igual àquele que tinha quando acordava. Resumindo e concluindo: tinha o cabelo num desalinho total.



Passados uns 15 minutos, nos quais Harry fartara-se de dizer a Hermione para se despachar, saíram de casa. Apanharam o autocarro até ao palácio de Birmingham e aí utilizaram o Botão de Transporte. Era uma normal pedra da calçada, que andava perdida por aqueles lados. Um bruxo vigilante informou-os da localização exacta da pedra e foram para Privet Drive. Ambos sentiram a sensação de serem puxados pelo umbigo. Quando chegaram a Privet Drive, estava outro bruxo a recolher o Botão de Transporte utilizado. Foram os dois à procura da casa dos Dursleys. Quando Harry reconheceu a vivenda nº 4, apressou Hermione. Não gostava nada de ter de rever os tios antes do próximo Verão. Bateu à porta e o rosto ossudo da tia Petúnia espreitou pela janela. Fez uma cara de quem comeu e não gostou e foi abrir a porta.



- O que é que fazes aqui rapaz? Julguei que ficavas em casa da tua… colega até ao fim das férias.



- Esse era o plano, mas recebi uma carta de Hogwarts e preciso que o meu encarregado de educação, o tio Vernon ou a tia, assine um documento. – Harry tirou do bolso das calças a autorização para o teste de materialização e uma caneta. Tinha pensado em tudo. Quanto menos tempo estivesse em Privet Drive, melhor.



- Dá cá isso. Eu assino – disse a tia, arrancando-lhe a caneta da mão e assinando rapidamente a autorização, sem sequer a ler – Agora vai-te embora. Até ao próximo verão. – despediu-se, dando-lhe com a porta na cara.



- Vamos? – perguntou Hermione.



- Vamos. – concordou Harry, ainda ligeiramente perplexo com a reacção da tia. “Não faz mal”, pensou, “pelo menos posso fazer o teste”.



Depois de chegarem novamente a Birmingham, Hermione conduziu Harry para um táxi e foram, finalmente, para o centro comercial. Quando lá chegaram, a amiga não parecia muito entusiasmada.



- O que é que tens? – perguntou-lhe Harry.



- Não gosto muito de ir às compras. – respondeu-lhe Hermione.



- Pensava que todas as raparigas gostavam de ir às compras. – surpreendeu-se Harry.



- É verdade. Todas as raparigas menos eu. Prefiro mil vezes ficar em casa em vez de comprar roupa. É sempre a minha mãe que a compra. Não tenho paciência nenhuma para andar de loja em loja a experimentar trapos. Mas pronto… Vamos já almoçar?



- Por mim… Queres ir já almoçar? – perguntou Harry.



- Tu queres? – perguntou em resposta a amiga.



- Eu só quero se tu quiseres. – explicou Harry, a ficar impaciente.



- E eu só quero se tu quiseres que eu queira. – Hermione sorriu. – Anda almoçar.







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