Problemas Resolvidos



Capítulo X – Problemas resolvidos




Entretanto, Harry estava deitado em sua cama a pensar no que tinha acontecido. Não tinha reparado que Ron estava no quarto, tal fora o estado de distracção em que se encontrava. Ron nem sequer ousou perguntar o que tinha acontecido ao amigo, pois já sabia que o fizesse, habilitava-se a uma das grandes dozes de discussão dele. Depois de algum tempo em silêncio, resolveu falar com Harry, mas viu que ele tinha acabado por adormecer.



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*



Hermione finalmente desceu as escadas. Quando estava prestes a abrir a porta do seu quarto, Ginny abriu-a e aborreceu-a de perguntas:



- O que é que tiveste a fazer lá em cima? O Harry já desceu há muito tempo…



- O Harry? Qual Harry? – perguntou Hermione, apercebendo-se, tarde de mais, que tinha feito asneira. Porque é te tinha dito aquilo? Realmente, estava muito confusa… Até para se lembrar do nome do melhor amigo, que inclusivamente a tinha beijado momentos atrás. Agora era Ginny que lhe olhava como se nunca a tivesse visto.



- Qual Harry?! Mas tu estás doente?! Hello… !!! Aquele rapaz que tem uma cicatriz, que por mero acaso é o teu melhor amigo, hum, há seis anos… JÁ TE LEMBRAS?!



- Claro que sei quem ele é! – exclamou Hermione, tentando consertar o erro, antes que Ginny lhe perguntasse o que tinha acontecido. Talvez se tivesse esquecido…



- O que é que aconteceu? – inquiriu a ruiva, infelizmente, concretizando o pesadelo de Hermione.



- Ah, não aconteceu nada. Só nos queriam perguntar se estava tudo bem, se tínhamos sido seguidos por alguém, e esse género de coisas. – mentiu Hermione, rezando para que Ginny acabasse com o interrogatório. Na verdade não tinha mentido. Só tinha ocultado a verdade. Era diferente. E também o suficiente para aliviar o sentimento de culpa que agora a atacava. – Agora, se não te importasses, gostava de descansar um pouco. – declarou, não querendo demonstrar demasiada ansiedade ou rudeza. Entrou no quarto, descalçou-se e atirou-se para cima da sua cama. Em segundos adormeceu, esquecendo-se de que estava cheia de fome.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*



Quando Harry acordou, olhou pela a janela e viu que já se tinha feito noite. Também reparou que estava sozinho no quarto, ou seja, provavelmente já estariam todos a jantar. Quando pensava em ir à cozinha, a porta abriu-se e de lá saiu Mrs. Weasley, com um tabuleiro com comida em cima.



- Então, Harry, já acordaste? Trouxe-te o jantar. Fazes-me um favor, querido? Levas o jantar para a Hermione? Ela ainda está a dormir no quarto. Aproveitas e fazes-lhe companhia. Acho que ela ficou um pouco abalada por saber aquilo do Quem-Nós-Sabemos.



- Está bem. – respondeu Harry, endireitando os óculos, e pensando como é que iria encarar Hermione.



- Então eu deixo aqui o tabuleiro – disse Mrs. Weasley pousando-o em cima da cama de Ron e saindo.



Depois de Mrs. Weasley ter saído, Harry pegou no dito tabuleiro e saiu do seu quarto.

Quando chegou ao pé da amiga, verificou com contentamento que ela ainda se encontrava a dormir. Pretendia deixar o tabuleiro em cima da secretária ou talvez na mesa-de-cabeceira, o mais rápido que conseguisse. Hermione estava deitada de frente para a porta, com os cabelos encaracolados espalhados pela sua almofada. Ao olhar para ela, Harry esqueceu-se totalmente das suas intenções de deixar a comida e ir embora para o seu quarto: procurou minuciosa e desnecessariamente o lugar mais apropriado para colocar o tabuleiro, sempre a olhar para a amiga. Finalmente, acabou por deixa-lo em cima da cama de Ginny. Ficou mais um pouco a olhar para Hermione até se dar conta: HERMIONE ERA SUA AMIGA. AMIGA. Só isso. Sentimentos confusos tomavam conta da sua cabeça, dando origem a uma enxaqueca que o fez voltar (ainda que relutante) ao quarto. Acabou por jantar, na companhia de Hedwig e Pigwidgeon, que entretanto já estavam acomodadas numa gaiola.



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*



Bem, ela PARECIA estar a dormir. Mas não estava. Mantinha os olhos bem fechados, apesar de estar bastante acordada. E porquê? Porque tinha ouvido alguém entrar no seu quarto. E esse alguém não era, nem mais nem menos quem naquele momento não estava com muita vontade de ver: Harry Potter, o seu suposto melhor amigo, mas que a tinha beijado de livre e espontânea vontade há umas horas. Era compreensível que Hermione tivesse fingido estar adormecida, não era? Uma pequena parte da sua mente dizia-lhe que não. Que não era nada compreensível fingir de adormecida ao melhor amigo, que estava apenas preocupado com ela. Que era preferível manter-se acordada para esclarecer o que tinha acontecido. Mas a outra (grande) parte dizia-lhe para ficar quieta e, se calhar, ele ia-se embora. E foi a grande parte que Hermione seguiu. Na verdade era a sua incerteza e insegurança a falar, mas Hermione não se importou. Tinha todo o direito de se sentir insegura e com incertezas, e se isso implicava adiar uma conversa desconfortável, TUDO BEM.

Estava Hermione a acabar de comer a sobremesa, quando Ginny entrou, trazendo consigo Ron.



- Então, já acordaste? – perguntou a amiga, tentando estabelecer uma conversa normal.



- Nota-se muito? – perguntou Hermione, sarcástica. Ginny respondeu-lhe com um olhar frio.



- O Harry não está aqui? – perguntou Ron, fazendo com que Hermione ruborizasse um pouco e provocando também um engasgar à amiga. – Pensava que tinha vindo jantar contigo.



- Ahh… Ele já acabou. – aldrabou Hermione, consciente do olhar calculista de Ginny poisado em si, recriminando-a. Quer dizer, era muitíssimo fácil mentir a Ron, mas Ginny era muito diferente do irmão, e recusava-se a acreditar em pessoas no estado em que Hermione se encontrava (coradas, engasgadas e hesitantes). – Então foi para… para o quarto.



- E deixou-te aqui sozinha? – Ron achou muito estranha a atitude de Harry.



- Ele ia… Ia ver se as corujas estavam bem. Isso mesmo. – Hermione ofendeu-se interiormente por estar a mentir tão bem. Mas não o suficientemente bem para Ginny acreditar nela. – Eu vou ter com ele. Venho já. – Hermione deixou Ron atarantado e Ginny incrédula e saiu do quarto, encostando-se à porta, mas do lado do corredor. Estava totalmente maluca. Totalmente. O que é que ela ia fazer agora? Não tinha opção se não ir ter com Harry, claro. Os seus pés, como se tivessem a ser comandados por uma força invisível, caminhavam rápido para o quarto do amigo. Quando chegou à porta do quarto dele, Hermione ficou subitamente alarmada: o que é que ia-lhe dizer? E se ele não estivesse lá? E se ele estivesse a dormir? E se ele não quisesse falar com ela? Dúzias de “E se…” tomavam conta dela agora, desde os mais absurdos aos menos estúpidos, desde desculpas até temas de conversa. Foi poupada a ter de bater na porta, pois ela abriu-se como por magia. Mas não era magia, era Harry.

Hermione, assustou-se de tal maneira que deu um salto para trás. Ainda não estava preparada para uma conversa.



- Precisamos de falar. – anunciou Harry, carrancudo. A sua dor de cabeça não tinha melhorado muito, e consequentemente a sua disposição estava horrível. – Entra. – disse, abrindo a porta para a amiga entrar.



Hermione sentou-se na cama de Ron, a olhar desconfiada para um saco de gelo na mesa-de-cabeceira. Harry sentou-se em frente dela, na cama dele, que estava ligeiramente desarrumada por ter estado a dormir.



- Dói-me a cabeça. – informou o amigo, antecipando qualquer pergunta de Hermione relativamente ao saco de gelo. – Mas suponho que não vieste aqui para falar da minha dor de cabeça, pois não? – disse Harry ansiosamente. Hermione limitou-se a abanar a cabeça, ruborizando um pouco.



Ficaram em silêncio, até que Harry resolveu continuar a falar. Hermione parecia muda.



- Sobre o que se passou há pouco… - começou o rapaz. - …aquilo foi mesmo só um impulso. Acho melhor…



- Esquecer-mos. – acabou Hermione, torcendo os dedos.



Ficaram novamente calados, até que Ginny e Ron entraram abruptamente, com grande alarido.



- Então, já falaram? – perguntou Ron, aos dois amigos estupefactos.



Hermione deixou Harry responder, até porque as suas capacidades de “ocultar a verdade” estavam a zero.



- Já. – respondeu Harry, um pouco inseguro. Não sabia o que é que Hermione tinha contado a Ron e Ginny, e o que Ron entendia por “falar”.



Entretanto Ginny beliscava Hermione com toda a força no braço, mas discretamente. Hermione reagiu da forma mais civilizada quando nos beliscam: gritou (o que fez Harry levar as mãos há cabeça).



- Estás doida? – gritou Hermione, com os olhos molhados. Aquilo doera-lhe!



- Ups…! – disse Ginny, como se aquilo aliviasse a dor de Hermione. Ron olhava para as duas com o tipo de olhar “raparigas, quem as entende?”. Harry foi o único que pareceu reagir (apesar da sua enxaqueca, que piorara devido ao grito estridente da amiga): pegou no saco com o gelo e colocou-o cuidadosamente na ferida.



- Obrigada. – agradeceu Hermione, olhando no entanto na direcção de Ginny, que tentava esconder risos.



- Está na hora de se irem deitar! – exclamou Mrs. Weasley, ao ter entrado no quarto. – Vá lá, amanhã temos de ir comprar as coisas a Diagon-al.



- Boa noite. – disse Ginny, escapulindo-se do quarto, a fazer todos os esforços para não rir, deixando os outros todos, menos Hermione cujo olhar era de antipatia, a olharem espantados.



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*



A manhã amanhecera escura e chuvosa. Hermione tinha acordado com os barulhos tenebrosos da trovoada. Hermione desde criança que tinha medo das trovoadas. Conseguia detectar trovoadas à distância, como se fosse um cheiro nauseabundo e forte. Naquela manhã tinha-se tapado até ao pescoço e observava a chuva a descer pela janela. De certeza que não iria até Diagon-al. Nem que começasse a chover vacas verdes ela iria. Por voltas das nove horas, Hermione levantou-se e vestiu-se. Não iria acordar Ginny; ainda estava chateada com o que tinha acontecido no dia anterior. Desceu para a cozinha e reparou que os amigos já lá estavam. Harry parecia muito melhor do que na noite passada. Quanto a Ron, parecia ainda adormecido. Mrs. Weasley estava a servir o pequeno-almoço.



- Bom dia! – cantarolou Mrs. Weasley à recém-chegada.



- Bom dia. – respondeu Hermione, mal-humorada. Dias de chuva… Não, obrigada. – Mrs. Weasley, receio não poder ir consigo, aliás convosco, comprar os materiais escolares.



- Óptimo. Podes ficar com o Harry. – respondeu a mãe de Ron, não perguntando os motivos de Hermione para ficar em casa.



- Porque é que eu não posso ir? – perguntou Harry, céptico.



- Porque, meu menino, um psicopata assassino mais os seus seguidores querem-te matar. – explicou Mrs. Weasley, dando-lhe levemente com a colher de pau na cabeça. Harry cruzou os braços e assumiu uma expressão nada feliz.



- Mas,… - Ron ainda tentou argumentar, mas também foi calado pela colher de pau da mãe.



- Nós compramos as vossas coisas. – assegurou Molly, servindo Hermione.

Depois de comerem, Hermione e Harry despediram-se dos amigos (que foram para Diagon-al via lareira) e foram jogar xadrez.







Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.