A Profecia



Cap. 23 – A profecia

Os planos de passarem o domingo à beira do lago, literalmente, foram por água abaixo, devido a incessante chuva que caia desde o dia anterior, típica daquela época do ano. Estavam reunidos na biblioteca, fazendo as tarefas que a profª Sprout pediu. Havia passado pouco menos de uma hora desde que chegaram ali, quando ouviram Hermione dizer, ao fechar o livro num quase estalo:
- Pronto! Acabei.
- Já? – espantou-se Rony, incrédulo. - Eu ainda não estou na metade!
- Se você parasse de olhar pra todos os cantos e se distrair com qualquer pena que cai no chão ou algo do tipo eu te garanto que terminaria mais rápido. – Olhou dessa vez para Harry, que escrevia apressadamente em seu pergaminho, parecia estar no final. Pode constatar isso quando o mesmo, assim como ela, fechou o livro e recostou-se na cadeira, tentando relaxar um pouco. Pediu a ela que corrigisse e ela o fez, entregando-lhe o pergaminho que mal tivera trabalho para corrigir, apenas alguns erros ortográficos. Esperariam Ron terminar para que pudessem fazer os outros deveres, descansando um pouco durante esse tempo.
- Acredita que eu já estou com fome? – dizia Hermione quando saíram da biblioteca para andarem um pouco.
- Lógico, você mal tomou café da manhã! Quer ir lá na cozinha pegar alguma coisa? – ofereceu.
- Não, eu agüento até o almoço – disse despreocupada. Viraram por alguns corredores e se viram indo de encontro a Draco Malfoy, que estranhamente não disse nada quando estavam lado a lado, embora ambos estivessem em direções contrárias. Entreolharam-se confusos. Malfoy devia ter pirado de vez. Voltaram para a biblioteca uns quinze minutos depois e encontraram Rony conversando animadamente com Luna. Sorte deles que estava num canto bem distante de Madame Pince, pensou Hermione. Reuniram-se aos dois e notou que Luna ficou um pouco decepcionada com o ato, embora não soubesse explicar o porque.
- Desculpa, não estamos interrompendo nada, estamos? – perguntou>
- Claro que não Mione. E antes que você pergunte, já terminei.
- E quem disse que eu ia perguntar isso? – indagou divertida, puxando para si o pergaminho que se encontrava em posse de Rony.
- Nossa Hermione, que colar mais lindo! – exclamou Luna ao notar um pingente em forma de estrela numa delicada corrente prata.
- Lindo não é? – concordou ela – Ganhei ontem de presente do Harry. – disse tentando transparecer o mais natural possível, quando na verdade lembrava do momento em que ele lhe deu o colar de presente.

Estavam recostados à frondosa árvore, observando as estrelas no céu. Ele desenhava com os dedos as mais diversas figuras no céu, enquanto Hermione o acompanhava com o olhar, maravilhada.
- Essa noite está incrivelmente linda – constatava, mais para si mesma do que pra Harry – Sempre gostei de observar as estrelas, mas confesso que há muito não o fazia.
- E porque não? – perguntou, ainda abraçado à namorada.
- Não sei... Muito provavelmente porque estava com tantas coisas na cabeça que acabei me esquecendo o quão brilhantes elas são.
- Acho então que sei um jeito de você olhar pra ao menos uma a qualquer hora do dia. – disse sorrindo.
- A qualquer hora do dia? Como?
- Desse jeito aqui. – disse colocando as mãos nos bolsos, aparentemente procurando algo. – Fecha os olhos – pediu ele pela segunda vez aquele dia, e ela o fez sem reclamar. Sentiu as mãos do moreno mexerem no seu cabelo, colocando- os de modo que seu pescoço ficasse à vista e depois um fio delicado envolta dele. Harry recolocou seu cabelo do modo que estava e disse que poderia abrir os olhos. Ela pôs a mão no pescoço e olhou para baixo, observando agora um lindo pingente em forma de estrela, que mesclava tons de prata e branco, combinando assim com o cordão prata que o sustentava.
- É muito lindo Harry! – exclamou
- Gostou mesmo? – perguntou apreensivo. – Escolhera juntamente com Giny e receava que ela não gostasse.
- Se eu gostei? Simplesmente amei! – Não precisava! Obrigada – agradeceu encostando seus lábios nos dele.
- Que bom que gostou – respondeu sincero...



- Mas Harry não tinha dado aquele livro pra você? – perguntou Rony
- E qual o problema em dar outro presente? – disse Luna, ainda observando o colar. – Boa escolha Harry – elogiou, enquanto o moreno agradecia com um sorriso ainda que encabulado. Luna se retirou alguns minutos depois, pois eles precisavam terminar as tarefas. Passaram mais um bom tempo na biblioteca, até que Rony começou a reclamar insistentemente que estava com fome, não lhes restando opção à não ser ir almoçar.

**********
- Como vai a execução do nosso plano? – perguntava Voldemort interessado, dirigindo-se à Rabicho.
- Ahh, o plano! Meu Lord, está quase tudo pronto, só mais alguns detalhes.
- Quase pronto?? Rabicho, quero isto concluído o mais breve possível! Entendeu? Mal posso esperar para assistir a dor do jovem Potter.
- Mas meu Lord, não seria prudente esperarmos mais um pouco? Quem sabe pensar em outro alvo?
- Rabicho, não seja tolo. Tenho certeza que este será o mais certeiro possível, um aviso pra aquele moleque insolente....

**********

Harry sentiu a cicatriz arder intensamente. Sentia que Voldemort estava ansioso para algo acontecer, mas não podia saber o que era. Era até coincidência demais sua cicatriz doer justamente nesse dia, pois seria nele que Harry revelaria a profecia para Rony e Hermione. Temia a reação dos dois, mas sabia que não podia esconder isso por mais tempo.
Morria de medo das coisas mudarem, do que eles iriam pensar, o que iam querer fazer. Tinha muito medo de perder a amizade de Rony, pavor de perder Hermione. Esperou chegar o anoitecer, dando-lhe tempo para terminar os afazeres e, acima de tudo, criar coragem.
Demorou um pouco mais do que planejara, tentando encontrar palavras para o momento.
- Harry, você tá bem? – perguntou Hermione, sentada a seu lado no sofá, enquanto Ron estava deitado no outro sofá ao lado.
- Estou... porque não estaria? – perguntou tentando disfarçar o nervosismo
- Isso eu gostaria de saber. Você está pensativo desde a hora que acordou.
- Não é nada – desconversou – deve ser impressão sua Mi. – Permaneceram quietos por algum tempo, até que ele não se conteve – Mione, Ron... Preciso falar com vocês.
- Pode falar cara – respondeu Ron, dando atenção ao amigo. Hermione já o observava, atenta e apreensiva.
- Aqui não, tem muita gente. Vamos lá pra sala precisa ou qualquer lugar do tipo. As paredes parecem ter ouvidos por aqui.

Andaram silenciosamente pelos corredores, embora o nervosismo de Harry fosse aparente demais para que conseguisse esconder. Rony e Hermione sentiam que a coisa era séria, mas não ousavam perguntar o que era antes de chegarem lá. Passaram pela estátua de Barnabé, no 7º andar e pouco depois estavam confortavelmente acomodados em alguns dos vários pufes e sofás que ali se encontravam, contrastando com o tom frio das paredes. Harry afundou no sofá cor de terra que se encontrava, tapando o rosto com as mãos que suavam frio. Estava pra revelar algo que talvez mudasse para sempre a amizade dos três, mas sentia que era necessário.
- Harry? – chamou Hermione delicadamente – Tem certeza que você quer falar isso agora? Parece tão nervoso...
- Mione, eu preciso contar isso logo. Só me dêem mais uns segundos, está bem? – Os amigos entreolharam-se, concordando silenciosamente. Alguns segundos passaram, mas pareciam uma eternidade para eles, até que ouviram a voz de Harry:
- Olhem... O que eu vou contar agora pra vocês talvez mude o modo como vocês me vêem, e quem sabe até nossa amizade, mas vocês merecem mais do que qualquer outra pessoa, saber da verdade. Só quero que saibam que não importa qual seja a decisão de vocês dois eu irei respeitar.
- Harry, do que você tá falando? – perguntou Rony sem entender.
- Okay... Aqui vou eu – disse num ato de coragem – Vocês se lembram daquele episódio no Departamento de Mistérios, não lembram? – eles apenas concordaram com a cabeça, deixando-o livre pra prosseguir. – Pois então. Voldemort queria aquela profecia, e isso acabou custando a vida de Sirius – disse numa voz triste, antes de continuar, apertando compulsivamente uma mão contra a outra – O que acontece é que... eu sei o que dizia a profecia.

Hermione e Rony o olharam assustados. – Mas como Harry? A profecia, se eu me lembro do que você e o Neville contaram foi destruída naquela mesma noite... – recordou-se a garota.
- Isso é verdade Mi, mas o que foi destruído, na verdade foi o registro oficial dela. A profecia foi feita há muito tempo atrás, pra ser mais exata, antes do meu nascimento.
- E o que ela dizia? – perguntou Rony, receoso.

“Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar..." - terminou, repetindo as palavras de Sibila naquela noite fria e chuvosa no Cabeça de Javali. Hermione levou as mãos à boca, chocada, lágrimas escorrendo pelos olhos. Se bem entendera... Harry era o único que podia derrotar Voldemort, e , no final, um dos dois teria que morrer?

Harry apenas sentiu quando Hermione jogou-se em cima dele, num abraço tão apertado que o deixava um pouco dormente. Precisava daquele abraço, era tão reconfortante...
Rony estava paralisado, ainda tentando compreender o que ouvira. Hermione o soltou depois de algum tempo, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. Ele decidiu prosseguir com a explicação.
- Bem... Um dos servos de Voldemort ouviu a profecia, ou melhor, parte dela e contou a ele. A única coisa que ele sabia então era que nasceria um garoto ao fim do sétimo mês, cujos pais o desafiaram três vezes. Com isso, nunca soube do real perigo. Curiosamente, essa profecia aplicava-se não só a mim, mas a Neville também, que se encaixa em todas as características.
- Exceto que não foi ele que Voldemort marcou como seu igual – completou Hermione, que tinha lágrimas silenciosas escorrendo por seu rosto. Rony prestava atenção em tudo que Harry dizia, visivelmente abalado também.
- Exato. Ou seja... Em resumo é: Eu e Voldemort iremos nos confrontar, e apenas um sairá vivo. – disse, sentindo algo ruim na garganta.
- Só não entendi o que isso poderia mudar a nossa maneira de te ver ou até mesmo nossa amizade... – pronunciou-se Ron pela primeira vez desde que chegaram.
- Como assim não entendeu? – Rony... estar perto de mim devido a esta profecia é perigoso! Voldemort fará de tudo, mas tudo mesmo pra me atingir. Já conseguiu isso com Sirius e tenho medo que agora a atenção dele se volte pra vocês, que são as únicas pessoas que ainda tenho comigo. Por isso pode mudar nossa amizade... Talvez fosse melhor vocês dois se afastarem de mim, pelo menos assim não correrão perigo...
- Você ficou maluco? – perguntou Rony, levantando-se. – Não acredito que você espera que isso aconteça! Como você mesmo disse, eu e a Mione somos as únicas pessoas que você ainda tem. Você não acha que a gente ia deixar você justo agora que você precisa mais do que nunca de nós dois?
- Escuta aqui Harry James Potter – começou Hermione – Nem pense em se afastar pra nos proteger, está me entendendo? Acho que estamos grandinhos o suficiente para tomar nossas próprias decisões... e nos afastar de você é uma coisa que nem passa pela minha cabeça e nem na de Ron. Começamos nisso juntos não foi? Então ficaremos juntos até o fim. – terminou estupefata, esperando que tivessem convencido Harry.

Harry olhou para os dois, os olhos cheios de lágrimas. Não poderia ter tido melhores amigos que eles, tinha certeza disso. Nunca duvidou da lealdade de Rony e de Hermione, mas aquele momento fez com que sua certeza aumentasse ainda mais, se é que era possível. Eram a coisa mais preciosa que tinha na vida e se esforçaria para vê-los bem e felizes, sendo capaz de sacrificar sua vida por isso. Ron se aproximou e deu um abraço, abraço de amizade verdadeira, sincera, como quem dizia: Estou com você até o fim, com os velhos e conhecidos tapas nas costas no fim. Depois Hermione pulou em seu pescoço, dando-lhe todas as forças que precisava. Demonstrava sua amizade sincera assim como Ron mas além disso, aquele abraço continha todo o amor, o medo, a certeza e a silenciosa promessa de que jamais o deixaria.

**********
Ron e Hermione jamais saberiam o quanto lhes contar aquilo o fez bem, parecia ter tirado um grande peso de suas costas. A amizade deles ficou ainda mais forte (ele ainda se perguntava como isso era possível.) Não importa o que pudesse acontecer, saberiam contornar a situação e continuar juntos. O que Harry se perguntava era se isso se aplicava também para o caso de seu namoro com Hermione e o momento que teria que contar isso ao amigo. Sentindo calafrios ao pensar nisso, decidiu tentar não se preocupar com isso. “Tudo a seu tempo” – conformava-se em pensamento.

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