"Preciso que você esqueça"



Cap. 20 – “Preciso que você esqueça”

O resto da semana passou rápida e tranqüilamente.
Rony comemorava o fato de não ter mais que agüentar Snape em sua dupla de poções, cada dia mais insuportável. A única coisa que salvava a aula (e como salvava) para Harry era o fato de que era um dos únicos momentos em que ele e Hermione ficavam sem Rony por perto, ainda que fosse meio difícil conversar na aula de Severo. O volume de deveres havia aumentado exaustivamente, mas com a ajuda de Hermione, Harry e Rony estavam conseguindo se virar. A monitoria não exigia tanto de Harry quanto este pensara, pelo menos por enquanto. Desceu para tomar café no sábado, logo depois seguiria para o campo de quadribol, os testes haviam sido marcados para hoje. Encontrou Rony e Hermione à sua espera.
- E então, você acha que eu consigo? – perguntava Rony pela bilionésima vez aquela semana.
- Claro que consegue mas primeiro você tem que se acalmar! – respondeu já irritado.
- E você Mi? Acha que eu consigo mesmo? – perguntou o ruivo desta vez para a garota.
- Lógico que sim Ron, disse tentando tranqüiliza-lo. Agora se acalma e vamos logo pro campo! – O trio seguiu do salão principal para a área externa do castelo, onde encontraram Hagrid, visivelmente chateado com eles.
- Hagrid! – chamou Harry. Hagrid fingiu não ouvir, restando ao trio ir a sua direção.
- Ah... são vocês
- Sim, somos nós. Você tá chateado com a gente, não está? – perguntou Hermione apreensiva.
- Por que estaria? Talvez porque tenham desistido da minha aula? – perguntou o gigante.
- Hagrid, nós não queríamos isso! – ela começou a explicar. – Nosso horário está realmente apertado. Tem muitos deveres, eu e o Harry somos monitores e ele ainda por cima é o capitão da equipe de quadribol. Ron joga no time também e nós temos pouquíssimo tempo até pra nós mesmos! A gente precisava desistir de uma matéria, senão uma hora a gente enlouqueceria!
- Então não foi por vocês não gostarem da minha aula? Acharem ela ruim? – perguntou mais feliz.
- Lógico que não! A sua aula era ótima Hagrid, de verdade! – disse Harry, sentindo-se mal por mentir para o amigo.
- Uma das melhores – disse Rony completando. Hagrid sorriu – Mas vocês vão me visitar quando puderem não vão? Ai eu aproveito e levo vocês até Grope. Ele fez tantos progressos! – disse orgulhoso. Os três concordaram meio relutantes e se despediram do amigo, precisavam chegar logo ao campo.

Seguiram pelos jardins e chegaram, antes dos outros, assim como Harry planejara. Hermione seguiu para as arquibancadas, observando os dois voarem nesse tempo livre. Aos poucos os candidatos chegaram. Gina, Simas, Dino, uns dois ou três alunos do sétimo ano e alguns alunos de turmas mais jovens. Começaram com os testes para artilheiro. Gina decididamente foi a melhor, embora Simas tenha surpreendido, juntamente com Rachel, uma aluna do sétimo ano. Partiram então para o teste de goleiro. Só dois haviam se candidatado: Rony e, para a surpresa de Harry, Colin. Ele tinha talento, isso era verdade, mas depois de acalmar-se, Rony demonstrou ser bem melhor. Só faltavam os batedores, que após muitos testes foram escolhidos: Dino e Adam, também do sétimo ano. Com a equipe formada, Harry começou a planejar algumas estratégias com o time. O primeiro jogo seria em dezembro, com o time da Corvinal. Passaram quase a manhã toda lá e só pararam na hora do almoço. Depois de marcarem o primeiro treino, Harry e Rony se juntaram a Hermione.
- E então? O que achou da equipe? – perguntou Harry quando se aproximaram. Hermione não podia entender muito de quadribol, mas decididamente saberia dizer se o time era bom ou não.
- Ah... achei ótima! – respondeu honestamente. – Achava que Dino como batedor não ia dar muito certo, mas me surpreendi. Rony, você foi ótimo! – elogiou.
- Brigado. – respondeu ele com o rosto da cor de seus cabelos. O resto do dia foi bem tranqüilo. Fizeram os deveres à margem do lago, na árvore em que costumavam ficar sempre. Harry e Hermione já haviam terminado as tarefas, mas aguardavam Rony que por ficar brincando, não estava nem na metade direito. Os dois se afastaram pra margem do lago para poder conversar e não atrapalhar o amigo.

- O que o Krum queria com você que até agora não deu tempo de você me explicar? – perguntou curioso
- Você nem acreditaria se eu dissesse. – disse séria
- Tenta!
- Ele queria... que eu me afastasse de você.
- QUE?
- Eh... ele veio com uma conversa de que ficar do seu lado era perigoso, que eu corria risco e não sei o que, que estava preocupado comigo.
- E você não levou a sério isso, levou? – perguntou. – quer dizer, você realmente corre perigo do meu lado mas você sabe que eu jamais deixaria algo te acontecer!
- É sobre isso que eu estou precisando conversar com você. Essa conversa com o Victor me fez pensar muito e... – ela parou por momento, divertindo-se com a situação – eu decidi que é melhor a gente se afastar.
- Mione, você não pode fazer isso! Não com a gente, depois do que a gente passou juntos... – ele abaixou a cabeça, triste – mas se é isso que você quer... eu vou respeitar. – ele já ia se levantando quando ela segurou sua mão impedindo, com um sorriso brotando nos lábios.
- Acho que você não entendeu... quer dizer, nem me deu a chance de terminar – disse divertida – quando eu disse “a gente”, eu tava me referindo ao Victor e eu! Quero dizer... ele é um ótimo amigo, mas pelo que eu conversei com ele ontem parece que ele não quer ser apenas um amigo. Pra não o iludir, prefiro me afastar. Mas eu não acredito que você achou que eu realmente ia fazer isso com você! – disse rindo.
Foi como se tivessem tirado o maior peso das costas de Harry. Por um único segundo, ele pensara que Hermione o abandonaria e percebeu que a simples possibilidade disso acontecer já era o suficiente para deixa-lo completamente maluco.
- Eu... sei lá! Afinal ele não falou nenhuma mentira! E você parecia falar tão sério... Quer me matar do coração é srta. Granger?
- Não, essa idéia nem passou por minha cabeça... – disse ela sorrindo pra ele, com aquele sorriso que o encantava.
- Juro que se você me olhar assim de novo e sorrir dessa forma eu não me responsabilizo por meus atos!
- E quais seriam esses “atos”? – provocou ela. Ele já ia abrindo a boca pra responder quando ouviram a voz de Rony:
- Mione! Quais são os efeitos do feitiço desilusório quando usado em demasia? – perguntou lendo o questionário à sua frente. – E qual é a definição certa de Feitiço Desilusório? – Hermione riu e foi para o lado do amigo ajuda-lo. Harry só era capaz de pensar em como Rony sempre atrapalhava a conversa dos dois quando eles conseguiam ficar sozinhos. Ele gostava de Rony e tinha nele um irmão mas pensava se ele simplesmente não podia sumir por algum tempo. Perdido em seus pensamentos, ele só “acordou” pra vida quando se lembrou do passeio de Hogsmeade. O que ele ia fazer pra Hermione? Afinal além de merecer uma comemoração a altura, ele sentia que devia retribuir todo o esforço dela no dia em que fez aniversário, o melhor dia da sua vida. Queria ter alguém pra ajuda-lo... mas quem? Ninguém podia saber dele e de Hermione. O jeito era se virar sozinho.

***********


Gina caminhava calmamente pelos corredores da escola, distraída. Precisava de um tempo pra clarear seus pensamentos, a briga com Dino foi bastante “intensa”. Estava se sentindo sufocada, será que ele não percebia isso? Absorta em seus pensamentos, nem notou quando um loiro de olhos acinzentados se aproximou dela.
- Ei Weasley! – disse com um sorriso
- Ah... é você. – observou desgostosa.
- Sim, sou eu. Algum problema com minha presença?
- Todos possíveis. – respondeu.
- Não sei por que está tão arredia. Não te fiz nada, fiz? E alem do mais, devo dizer que você está sendo realmente mal educada. – comentou, parecendo se divertir com o que acontecia.
- Fala logo o que você quer Malfoy – pediu sem paciência.
- Só queria conversar... posso? Ah, e não me chama de Malfoy não... Draco, por favor. – Gina ergueu suas sobrancelhas para o sonserino. Podia dizer que o que estava acontecendo era estranho, mas a palavra mais adequada para o momento era “inacreditável”. – não entendo o porque dessa sua desconfiança. – completou ele.
- Não entende? Talvez por que você seja simplesmente Draco Malfoy, um sonserino idiota que até hoje não me deu um único motivo para eu pensar o contrário.
- E se eu te dissesse que eu mudei Gina? – perguntou com a boca encostada no ouvido da garota.
- Eu diria que não acredito. – disse antes de sair feito um furacão, enojada pela proximidade do garoto.

***********


- Mione... Por que você tá assim ein?
- Assim como Rony? – os dois estavam na sala comunal, sozinhos. Harry tinha ido conversar com Lupin
- Distante... Quero dizer, com o Harry você tá a mesma coisa, na verdade vocês estão até mais próximos, mas percebi que você se afasta cada dia mais de mim.
- Deve ser impressão sua Ron – disse tranqüilamente. Odiava ter que mentir pra Rony daquela forma, mas era necessário.
- Sinto sua falta... – disse sincero, olhando nos olhos dela.
- Minha falta? Não sei porque. Eu não to aqui com você?
- Mas é como se você quisesse estar em outro lugar. Mione, porque você tá fazendo isso comigo?
- Isso o que?
- Fingindo que eu não te disse que te amo! – gritou. Hermione o olhou triste.
- Porque eu preciso que você esqueça disso.
- Já é meio tarde pra isso – disse ao acabar com a distância entre os dois e beija-la a força. Ela inicialmente ficou estática, incapaz de qualquer reação. O que ele pensava que estava a fazer? Tentou se soltar mas Rony não a largava. Até que reuniu forças suficientes pra empurra-lo longe e dizer:
- Nunca mais encoste em mim! – disse enojada.
- O que aconteceu aqui? – perguntava Harry, que estava parado do lado do retrato, tentando não demonstrar o quanto estava furioso e a sua vontade de partir pra cima de Rony.
- Pergunte pro seu amiguinho. – disse Hermione antes de virar-se e sair correndo para o dormitório feminino.
- Ronald... que foi isso? – ele não foi capaz de conter o tom de raiva em sua voz.
- Eu... eu não me controlei Harry. A gente tava conversando... eu perguntei pra ela o motivo dela fingir que eu não disse que a amava, ela respondeu dizendo que era porque precisava que eu esquecesse disso. Eu não agüentei, não sei o que me deu, quando percebi já estava beijando ela a força. – disse envergonhado.
- O que você tem na cabeça? Por Merlin! Ficou louco de vez foi?
- Eu só... só queria sentir o gosto dela nem que fosse por uma vez – desabafou o ruivo – achei que talvez quando eu a beijasse ela perceberia que me ama mas a única coisa que eu fiz foi fazer com que ela me odiasse. – “sentir o gosto dela?”, pensava Harry, os punhos fechados para não fazer nenhuma besteira. Queria botar tudo pra fora, mas não podia estragar a amizade entre os três dessa forma. Por fim, disse a Rony:
- Realmente... você pode ter certeza que ela não vai querer te ver por muito tempo – disse sinceramente.
- É, eu sei... mas Harry, conversa com ela pra mim? Você a conhece melhor do que ninguém, talvez ela te escute.
- Eu vou tentar Rony. O que você fez foi muito errado... vou tentar se você me prometer que nunca mais vai fazer uma coisa do tipo, forçar Hermione a fazer algo que ela não quer.
- Prometo! – disse o amigo, subindo as escadas e deixando Harry sozinho a contemplar a escuridão e o silêncio na sala. Queria poder conversar com Hermione, mas não tinha como subir as escadas do dormitório feminino. Perdido em seus pensamentos, acabou adormecendo, sendo acordado por uma certa garota com os olhos chorosos.

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