Capítulo XVI



Capítulo
dezesseis


 





 


Estava tão
nervosa... ofegava bruscamente, sentindo todo o peito subir e descer, conforme
suas pernas curtas precipitavam-se para o andar da ala hospitalar; ela estivera
na festa e, então, vira-a rolando a escada. A professora McGonagall irrompera
rispidamente da multidão de alunos e fizera com que Gina flutuasse a alguns
centímetros do chão e começasse a subir pelas escadas, em direção à ala
hospitalar.


Naquele momento, seu
coração oscilara dentro de si, e começara a bater aceleradamente, quase
perfurando suas costelas e a garota esgueirara-se entre os alunos, colidindo
contra alguns e levando diversos empurrões.


As pessoas
costumavam não gostar dela por ela manter uma aparência estranha e diferente
dos demais; mas que culpa ela tinha?


Catherine era seu
nome; cabelos negros e desgrenhados emoldurando um rosto alvo e cheio de rugas
que transpareciam toda a tristeza que ela já passara em sua vida.


E naquele momento em
que ela vira Gina caindo pela escada, toda a sua visão enegrecera... e ela
lembrara de sua mãe... quando, há alguns anos atrás, ela estava em seu quarto
de segundo andar, brincando com uma boneca e, desviara os olhos para a janela.
Ali, entre os caixilhos, ela pôde ver a silhueta negra de sua mãe, trajando um
casaco longo e cheio de pedras.


Na época, ela não
entendera muito bem o que estava acontecendo e, apenas grudou-se à superfície
do vidro, o frio perpassando por sua pele... e lá estava a mãe, caminhando
lentamente pelo estreito cais do porto que havia em frente a casa deles... a água
azul opalescente, movimentava-se agilmente, com o vento soprando sobre ela. O
sol resplandecia belamente, como se espiasse seu próprio reflexo com um sorriso
estampado no rosto.


E então - o coração
de Catherine saltou - a mãe pulou na água; o lago quebrou onde ela caíra, e
pequenas bolhas salpicando a superfície cheia de ranhuras da água...


Catherine prendeu a
repiração, sentindo o rosto comprimir dolorosamente contra a janela, na
espectativa... sua mãe voltaria... sabia que voltaria...


Um minuto... ela
estaria nadando lá dentro, apenas se divertindo. E iria sentir falta de ar e,
com certeza iria voltar à superfície. Dois minutos... Catherine precipitou-se
andar abaixo, tropeçando em alguns degraus da escada e correndo pelo gramado
esverdeado, sentindo o vento bater em seu rosto como pequenas e dolorosas
agulhas. Podia até sentir o cheiro do sangue salpicando sua pele... correu...
chegou ao soalho de madeira que oscilou sob seu peso.


- Mãe - ela gritou,
a voz rasgando sua garganta. -, volte aqui... Não. - Ela jogou-se no lago,
sentindo a água fria invadindo-lhe todo o corpo. Mergulhou profundamente,
agitando os pés como longas nadadeiras, a esperança enchendo-lhe o peito. Iria
conseguir salvá-la. Precisava conseguir...


Mas não
conseguiu... sua visão tornara-se turva à escuridão conforme ia para mais
fundo e a respiração explodiu dentro de si.


Voltou para cima,
aportando no cais e segurando a madeira solta do soalho entre os dedos cerrados,
com raiva de si mesma. Não impedira que a mãe morresse. Ela deixara que a mãe
se suicidasse... era tudo sua culpa... tudo.


E agora, era Gina
que estava em suas mãos... não podia falhar novamente... não com Gina.


Seus olhos
encheram-se de lágrimas, precipitando-se o máximo que podia pelos corredores.
Conseguiu chegar à porta da ala hospitalar. Aprumou-se desnecessariamente, os
cabelos negros mais desgrenhados do que nunca e, empurrou levemente as portas
duplas da ala hospitalar, tentando causar o menor ruído possível. Bateu a
porta ao passar e, então, virou-se esperançosamente para as camas, correndo os
olhos por todo o cômodo; seu coração acelerou. Lá estava ela,
os braços ao lado do corpo, os olhos fechados, como se viajasse em um
profundo sonho.


- Gina - murmurou
Catherine, silenciosamente. -, há quanto tempo... querendo poder me aproximar
de você e... - Ela caminhou metade da ala hospitalar e puxou uma cadeira para
perto da cama de Gina, encarapitando-se na ponta da cadeira, ansiosa. -, está
bem? Não... abra os olhos, Gina... O que há com você?


Mas Virgínia não
acordou, mantendo-se de olhos cerrados; provavelmente, Madame Ponfrey dera-a
algum tipo de sonífero, para que a garota dormisse. Tudo bem... não tinha
importância. Contanto que ela estivesse bem, Catherine despreocupava-se.


Com os dedos lívidos,
a garota segurou uma das mãos de Gina, sentindo a calidez excessiva perpassando
para sua própria pele; febre, possivelmente.


Os cabelos ruivos
flamejantes pousavam ao lado de seu rosto alvo, que descansava belamente em uma
expressão tranqüila e dormente.


Catherine acariciou
levemente a garota a sua frente, sentindo todo o seu corpo tremer em uma vontade
incrivelmente forte de levantar-se e tocar-lhe os lábios com os seus. Em um
impulso, ela curvou-se para frente, fechando os olhos e aspirando ar para beijá-la...
finalmente... depois de tanto tempo...


- O que está
acontecendo...? - brandiu uma voz feminina alta; as portas duplas quase voaram
dos caixilhos e uma garota de cabelos castanhos e cheios irrompeu bravamente,
pisando forte no chão de pedra e adiantando-se para separar Catherine de Gina.
- Quem é você?


- Meu... meu nome é
Catherine Solitude - gaguejou a garota, timidamente. - sou amiga de... da srta.Weasley.


- Sou amiga da srta.
Weasley também - disse Hermione, rispidamente. -, e nunca a vi junto a ela...


- Ah...
provavelmente você não me conhece... eu... vim ver como ela estava... mas...
acho que já vou... e...


- Tudo bem, se
quiser ficar - disse Hermione, alteando a voz. -, acredito que quanto mais
pessoas para ajudá-la melhor... ai meu Deus... tenho medo do que possa
acontecer.


Ela quase saltou
para o lado da cama de Gina, segurando uma das mãos dela, lágrimas salpicando
de seus olhos.


- Como deve saber
ela está... grávida. - informou a
garota, tristemente. -, ou estava, não sei... ai... espero que fique tudo bem.


- Vai ficar -
murmurou Catherine, aproximando-se das duas e segurando a mão livre de Gina. -,
tenha fé...


 


*-*


 


- Haykito, que
diabos está fazendo? - berrou Andrew, ofegando, enquanto corria irritado atrás
de Haykito, mancando sob o peso do corpo inconsciente de Harry.


- Ele está bêbado,
Andrew - disse Haykito, sem fôlego. -, precisa de cuidados, não percebe.


- Pois precisa ser
você a dar esses cuidados? Por que não o leva à ala hospitalar e manda Madame
Pomfrey cuidar dele?


- Andrew, por
favor... sem ciúmes bobos... - murmurou Haykito, dobrando no corredor e subindo
um lance de escadas. - Por que não me ajuda? E verá que eu não vou aproveitar
isso para agarrá-lo... eu te amo, Andrew. Não percebe?


Um silêncio
prolongou-se e, então, Andrew precipitou-se pela escada, apoiando Harry em seus
ombros e segurando-o com força, aliviando um pouco o peso sobre Haykito. Sorriu
para ele e, então, os dois, foram capengando pelo corredor, em direção ao
dormitório masculino da Corvinal.



 




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