Capítulo XI



Capítulo onze


 


- O que aconteceu lá
com o Harry? - Andrew precipitou-se pelo corredor, empurrando rudemente os
estudantes que conversavam animados, obstruindo o caminho; o mais rápido que
suas pernas curtas puderam, ele conseguiu aproximar-se de Haykito, segurando seu
braço direito e pulando para fora do vagão.


Haykito encarou-o
alguns instantes e, depois, voltou os olhos para o gramado, procurando agora
passar pelos estudantes que já moviam-se para as carruagens.


- Foi bem - ele
disse, calmamente. -, mas... por que pergunta?


- Porque me preocupo
com você - respondeu Andrew, alteando a voz. -, o que vocês... hum... fizeram?


Haykito livrou-se de
um livro que voava e desviou, repentinamente o olhar, pousando-o em uma garota
alta de cabelos lisos negros, cascateando aos lados; ela arfava, transparecendo
irritação e já começava a puxar outro livro para jogá-lo, quando uma amiga
segurou seus pulsos, e murmurou algo ao seu ouvido que pareceu acalmá-la.


Desviando sua atenção
da garota, Haykito foi passando por alguns estudantes até conseguir achar uma
carruagem vazia que era estranhamente presa à quadrúpedes que pareciam
agouros, os ossos da costela marcados firmemente sob a pele. Esgueirou-se para
dentro da carruagem e, antes que pudesse inclinar-se para a porta, trancando-a,
Andrew entrou, puxou precariamente seu malão, apoiando-o na perna e, fechou a
porta ao passar.


Encarou-o por alguns
segundos, parecendo preocupado e, então, recomeçou:


- Vai me falar o que
fizeram ou não? - perguntou, irritado.


Haykito fitou-o
longamente, crispando os lábios; ele era tão lindo, os cabelos
loiros-prateados refulgindo à luz dourada que incindia do teto da carruagem; os
olhos azuis faiscando como se estivesse olhando algo que lhe interessava muito;
a pele alva lisa, convidando dedos a deslizar sobre ela com calma... mas... ele
amava Harry e tinha plena certeza disso. Algo dentro de si dizia que deveria
recusar todas as tentativas de Andrew a se aproximar dele... mas... parte de si
convidava-o a sentar-se perto do outro e dar-lhe as mãos... beijá-lo.


Subitamente, pousou
o olhar no gramado esverdeado do lado de fora, grandes retalhos
verde-esmeraldinos parecendo uma pintura pelos caixilhos largos e um pouco embaçados
da janela.


- Bem... nós nos
beijamos - disse ele, como se não fosse algo de grande importância. - e... ele
tirou minha camisa...


- E...? - perguntou
Andrew, a voz irritada.


- E o que? -
replicou Haykito, virando-se para ele, abalado. - Eu amo o Harry, tá legal?
Mesmo... - Ele se calou. Iria dizer "mesmo que sinta atração por você"
mas refletiu repentinamente que não devia prosseguir aquela frase; balançou a
cabeça negativamente e continuou: - mas então Hermione apareceu no
compartimento e pegou a gente... quer dizer... quase pegou... mas ela sacou o
que a gente estava fazendo, obviamente.


- Hermione? -
perguntou Andrew, o tom da voz baixando ao quase inaudível; estava
estranhamente pálido, os olhos azuis cristalizados parecendo ligeiramente sem
vida. - Mas. Vocês vão namorar ou coisa do tipo?


- Ele tem namorada -
respondeu Haykito, distraidamente.


- Ah. Então você
vai ser o amante? - interpôs Andrew, um sorriso maroto brincando nos seus lábios.


- Não... exatamente
- replicou Haykito, pausado. - mas eu diria que talvez. Bem... Harry me parece
vago... não tem muita certeza se me ama. Nem sei se ama para dizer a verdade ou
se tudo que ele quer é sexo apenas - Ele balançou a cabeça brandamente e
sentiu que uma lágrima começava a formar-se em seus olhos; deixou que ela
salpicasse de leve, mas, rapidamente, enxugou-a na manga das vestes e descansou
a cabeça no banco de espaldar alto da carruagem.


Estava uma noite
fria e serena, uma brisa gélida espiralando pelo ar; o céu mantinha um azul
marinho salpicado de pontinhos dourados que brilhavam.


Haykito sentiu um
toque cálido nas mãos e, quando abriu os olhos, notando que fechara-os,
cansado, viu que Andrew sentara-se ao seu lado e dera-lhe as mãos; mantinha um
sorriso sereno estampado no rosto e os olhos olhavam-no interessados.


- Eu
te amo - sussurrou ele, com a voz aveludada. - e... - interrompeu, antes que
Haykito fizesse alguma objeção. - saberei esperar o tempo que for preciso.


Haykito sentiu os
olhos molharem novamente e, em um impulso, apenas jogou-se nos braços do outro,
sentindo a calidez dos corpos perpassarem um ao outro. Sentiu-se seguro,
protegido... quente no meio de um frio infindável.


As pálpebras
pesando, ele apenas deixou-se cochilar, flutuando em meio a um céu dourado de mãos
dadas à alguém sem rosto... tudo estava sereno e calmo...


Sentiu seu rosto ser
erguido levemente e, então, alguém tocou-lhe os lábios que, imediatamente,
umedeceram; algo entrou em sua boca, explorando-a...


- Ah...
Andrew
- murmurou Haykito, os dedos nodosos fechando-se nas vestes do outro
enquanto sentia um beijo cálido invadir-lhe. - Ah...



Seus suspiros foram
silenciando lentamente até que ele secou a última lágrima na manga e
desvencilhou-se, afastando bruscamente e estacando do lado oposto ao garoto.


- O que... o que
pensa que está fazendo? - exclamou, fingindo estar irritado.


- Desculpe eu... hum
- Andrew ganhara uma cor mais saudável depois do beijo e, agora, um rubor
escaldante coloriu as maçãs de seu rosto.


- Vai... tudo bem -
replicou Haykito, abaixando os olhos e, então, deixando-se sentar
confortavelmente, as costas apoiadas ao espaldar largo. -, eu também deixei você...
hum... me beijar...


- Ah, Haykito. Me
desculpe - disse Andrew, corando drasticamente. -, é sério.


- Tudo bem... -
murmurou o outro, calmamente. E fechou os olhos novamente, jogando a cabeça
para trás e pestanejando, vendo a claridade fraca que era projetada pelo
candeeiro preso ao teto invadir-lhe as pálpebras. Fora um beijo tão...
confortante. Não aquela coisa fatal e sexual como fora o de Harry; igualmente
perfeito, porém, confortante.


Era estranho
imaginar que em um tempo tão rápido, conseguira pensar em um outro garoto que
não fosse Harry; porém, atualmente, não sabia ao certo em que pensar.


Não podia se
apaixonar por Andrew. Não podia de
maneira alguma!
, repetiu para si mesmo, com rispidez.


Seu cérebro,
repentinamente, pareceu encher-se de diversos pensamentos triviais e irritantes
e ele balançou a cabeça como se fosse possível afastá-los como um cachorro
faz após tomar banho.


A carruagem avançava
tremendo pelo gramado e então ocorreu-lhe uma dúvida de repente.


- O que são aquelas
coisas lá fora?


- Quê? - exclamou
Andrew, com ar incrédulo.


- Aqueles bichos
- Ele contraiu o rosto em uma expressão de curiosidade e nojo ao mesmo tempo. -
guiando as carruagens...


- Ãh - suspirou
Andrew, aprumando-se teatralmente no sofá defronte ao de Haykito e, então,
deslizando os dedos pálidos pelo cabelo dourado com calma; depois e um longo
silêncio, ele começou com a voz doce e serena: - São testrálios; não fazem
mal algum, só tem uma aparência estranha... para os que o vêem, lógico.


- Como assim? Para
os que o vêem? - perguntou Haykito, aproximando-se levemente inclinado para
frente, curioso.


- Bem... só
conseguem ver os testrálios aqueles que viram a morte de perto ou entenderam
ela... bem... resumindo é isso. Mas... quem você viu morrer?


- Ah - Ele sentiu as
lágrimas marejarem os olhos novamente e, então, recostou-se com pesar. - Minha
mãe - As palavras soaram estranhas para ele mesmo, sentindo como se saíssem de
um estranho e não de si. - ããh... - Ele não conseguiu dizer mais nada e nem
soube o que diria. Apenas fez um gesto com a mão, jogando-a para o lado como se
estivesse insatisfeito com algo.


- Entendo... -
suspirou Andrew, calmamente. - Bem... meu avô morreu... eu era muito ligado a
ele para falar a verdade. Ele fora criado no Japão e tinha uma influência da
cultura japonesa milenar muito forte... me ensinou algumas coisas... adorava
passar os finais de semana na casa dele quando era menor e... - Sua voz ficou
abafada e ele não continuou; Haykito desceu o olhar para os seus sapatos
lustrosos como se fossem demasiados interessantes, sem coragem de encará-lo nos
olhos e ver o líquido prateado salpicando por seu rosto alvo.


- Sinto... muito...
- ele murmurou, tentando transparecer doçura.


- Acredito que sinta
mesmo... - disse Andrew, a animação parecendo voltar-lhe lentamente. -, mas já
estou... bem. Agora que... tenho... você.


As palavras caíram
desconfortavelmente para a boca do estômago de Haykito e não melhoraram quando
as carruagens estacionaram no gramado alguns metros da escadaria de mármore que
levava aos portões de carvalho escancarados.


Haykito puxou seu
malão, seguido por Andrew e tentou desvencilhar-se de mais uma legião de
estudantes apinhados como abelhas em uma colméia; pôde ver luzinhas douradas
oscilando sobre o lago negro que extendia-se à frente do castelo, mas sua atenção
voltou-se logo para a entrada principal.


Andrew continuou no
seu encalço até que uma mulher alta e magra apareceu ao aldo dele,
aparentemente como que por magia e puxou Haykito pelo braço; avançaram pelo
Salão Principal que era gradualmente ocupado pelos estudantes veteranos e, então,
se precipitaram para a porta atrás da longa mesa dos professores, que tinha a
porta entreaberta.


Uma sala pequena,
com as paredes cobertas de quadros à óleo se revelou, a claridade dourada
bruxuleando calmamente, provocando um crepitar suave conforme as chamas
queimavam; alguns ocupantes dos quadros roncaram e oscilaram abalados, passando
para outros quadros para acordar os vizinhos; os cochichos sussurraram em silvos
baixos por toda a sala e, então, a mulher que já tinha rugas espalhadas pelo
rosto, revelando uma certa idade, girou para o lado, revelando um banquinho
baixo onde um chapéu velho e surrado descansava. Era visível uma camada fina
de poeira sobre ele e os puídos cobrindo-o o que fez Haykito perguntar-se que
diabos alguém iria querer fazer com aquela velharia.


- Meu nome é
professora McGonagall, Haykito-kun - começou a senhora e, se não se importa,
gostaria que pusesse rapidamente esse chapéu na cabeça para ser selecionado
para uma casa.


Ele avançou para o
chapéu e, sentando no banquinho calmamente, pousou-o sobre a cabeleira
castanha; uns segundos de silêncio se estenderam até que, de repente, uma voz
gutural disse, brandamente:


- Corvinal!


Haykito perguntou-se
se já deveria se levantar, mas logo foi expulso pela professora McGonagall, que
ergueu o chapéu na ponta e enxotou-o da sala, seguindo-o atrás; ela sequer
sorriu para ele quando passou, apressada ao seu lado, mas apenas murmurou algo
como "Te vejo na minha aula, Kun!", deixando-o ali, sozinho.


Haykito viu Andrew
sentado à mesa da Sonserina, mas apenas encaminhou-se para a da Corvinal,
sentando-se ao lado de uma garota negra com uma beleza estonteante, o cabelo ébano
puxado profissionalmente para trás em um coque alto, sobre a cabeça; ela virou
seus olhos mel para a porta de carvalho que escancarava quando, em um rangido e
o barulho elefantino de passos, os primeiranistas vieram pressurosos por entre
as mesas, guiados pela professora McGonagall, com uma expressão irritada no
rosto.


Uma longa seleção
começou e, depois de quase uma hora, o professor Dumbledore levantou-se e abriu
os braços, como se quisesse abarcar todo o salão.


- Sejam bem
vindos... mais uma vez... - Ele correu os olhos pela escola e, então,
continuou, descontraído. -, Ah... sem essa. Vamos lá! Atacar!


E as mesas pesaram
com as diversas comidas que encheram os pratos; com um sorriso animado, Haykito
estendeu os dedos nodosos para um pedaço de frango, partindo-o e mastigando-o
rudemente. Talvez houvesse uma luz no fim do túnel. Talvez, ir para Hogwarts não
fosse tão ruim como imaginara... mesmo com problemas como Harry e Andrew... mas
será que eles deviam mesmo ser considerados problemas?



 


Nota do autor:


Depois de alguns meses volto atualizando =D pq a demora? Porque não
tenho escrito ultimamente... enfim. Beijo Beatriz :* amo

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