Capítulo VIII



Capítulo
oito


 


           
Era desconfortável e até mesmo cômico, imaginar que segundos antes,
eles estavam de mãos dadas em pleno Caldeirão Furado; Haykito podia sentir os
minutos iminentes em que eles iriam se aproximar até suas respirações
juntarem-se e seus lábios se tocarem. Mas agora, todo aquele clima havia
dissipado com a mesma rapidez de uma lâmpada queimando e ali, à frente dele,
Harry e Gina praticamente estupravam-se matando as saudades.


           
Mas... se Harry estava prestes a declarar-se - como Haykito queria
acreditar -, ele provavelmente não sentira saudades da sua namorada, não era
verdade? Ou pelo menos, teoricamente, seria daquele jeito. Mas, pelo o que
parecia, Harry sofrera cada segundo longe da amada e, agora, queria tê-la perto
de si quase que com um certo desespero e sofreguidão.


           
- Haykito - ele começou, animado. -, essa é Gina... Ããh... Gina...
esse é Haykito.


           
A garota adiantou-se, inclinando-se e estendendo uma mão de dedos finos
e pálidos, que parecia tremer levemente de emoção e, abrindo um sorriso
sincero no rosto, balançou a mão de Haykito no ar e, depois, desvencilhou-se,
envolvendo Harry com um braço e acariciando os cabelos do garoto com o outro.


           
- Harry e eu já não nos víamos há um tempo - disse ela, sorrindo
simpaticamente. -, questão de algumas semanas, não foi Harry? - Ele acenou
afirmativamente a cabeça, deitando-a no ombro dela. - Mas agora está tudo
certo... e você? Estuda em Hogwarts? Nunca te vi por lá.


           
Haykito abriu lentamente os lábios para falar, sentindo que algo
escaldante borbulhava em seu estômago, desconfortavelmente. Seu cérebro
parecia estuporado e ele não conseguia discernir os pensamentos de maneira
correta por alguns segundos; envolvendo o copo de cerveja amanteigada a sua
frente, ele levou-o à boca e tragou rapidamente da bebida, sentindo o efeito
chegar às suas veias. Depois, tentou forçar a voz e, com dificuldade,
conseguiu responder.


           
- É meu primeiro ano em Hogwarts - disse, sentindo a garganta arranhar.
-, antes estudava em um colégio perto de casa, nunca em um internato...


           
- E está gostando? - perguntou Gina, em um tom que o irritava
extremamente.


           
- Hum... não deixa de ser uma experiência... agradável - disse ele,
rapidamente.


           
Depois, espreitou os olhos azuis e tentou não prestar atenção nas carícias
excessivas que Harry fazia na garota e até mesmo nos beijos ocasionais,
trocados depois de alguns sussurros de advertência.


           
- Aqui tem muita gente... não! Aqui não!


           
Não que adiantasse muito já que Harry parecia um animal no cio - e
Haykito sentia as lágrimas marejarem seus olhos - vendo sua presa fêmea.
Preferiu afastar os pensamentos da mente, perscrutando com atenção o
guardanapo à sua frente e alisando-o calmamente, cantarolando baixinho uma música
japonesa que sua mãe o ensinara.


           
O ritmo da música foi assentando calmamente em sua cabeça e ele podia
ouvir a voz doce de uma mulher cantando para ele, enquanto ele, criança, batia
as mãos animadamente a sua frente, rindo e contraindo o rosto em expressões
infantis que indicavam a alegria. Podia sentir o afago em seus cabelos e um
arrepio percorreu-lhe toda a espinha, desconfortável.


           
Era incrível como tinha uma certa queda por assuntos tristes a se
pensar; e mais incrível ainda como conseguira assomar os dois assuntos que mais
o entristeciam atualmente em um sonho. O sonho que tivera àquela noite.


           
Agora, algumas horas depois, analisando-o de longe, podia perceber como
fora idiota. Principalmente sendo espectador daquela cena deprimente que rodava
a sua frente. A sua vontade era de levantar-se de chofre, virar a mesa de cabeça
para baixo e atirar os objetos em direção ao casal, até que acertasse-os de
alguma maneira que caíssem no chão desmaiados. Porém, não poderia agir
daquela maneira selvagem, contendo-se a ficar apenas alisando um pedaço de
papel enquanto esperava ansiosamente que Rony e Hermione descessem para o café
da manhã e falassem que era melhor que arrumasse seu malão.


           
E assim aconteceu - embora quase meia hora depois - e Haykito sorriu para
os quatro, girando nos calcanhares e subindo o degrau de dois em dois. No
primeiro patamar, ele precipitou-se pelo corredor, sentindo que as portas
simplesmente deslizavam ao seu lado, tal a velocidade e, então, chegando ao
quarto nove, ele puxou a varinha, sussurrou Alorromora
e jogou-se na cama pesadamente.


Sentia-se
um completo idiota. Um IDIOTA! Como
deixara-se envolver por Harry com tanta rapidez? Como deixara-se apaixonar por
um adolescente mimado assim? Um adolescente que, pelo que parecia, não passava
de um tarado sedento por sexo. Talvez estivesse sendo demasiado sensacionalista,
porém, fora aquilo que o outro demonstrara no tempo em que o obrigara a aturar
as cenas românticas entre ele e Gina.


           
De repente, as palavras que a mãe dissera no sonho, vieram como ferro em
brasas queimando na pele.


           
Você é o mesmo garoto que eu conheci e eduquei? Lute por ele!



           
Lutar? Como lutar? Se o garoto parecia nem notá-lo de verdade. Agora
analisando, tudo poderia não passar da imaginação de um adolescente
apaixonado que, querendo verdadeiramente uma aproximação maior com o seu
amado, imaginou que ele tocara sua mão. Ou seria verdade? Mesmo depois daquele
show particular lá no pub?


           
Lembrando-se para que viera para o quarto, fez menção de levantar-se
mas estacou no meio do quarto, quando seus olhos pararam no portal; ao entrar,
esquecera de fechar a porta, deixando-a apenas entreaberta.


           
- Haykito? - Era Hermione; a garota tinha uma expressão preocupada
estampada no rosto e forçou um sorriso leve ao ver as lágrimas salpicadas pelo
rosto dele e os olhos inchados e pintados de escarlate depois do choro. Ela
adiantou-se para o quarto, fechando a porta atrás de si em um rangido e, cruzou
o quarto, pegando-o nos braços e abraçando-o com força.


           
- Está tudo bem - sussurrou, em seu ouvido. -, está tudo bem...
sente-se. Quer beber alguma coisa? Água com açúcar?


           
- Não - disse ele,
rapidamente, abrindo um sorriso com esforço para aparentar estar melhor. -, eu
estou bem mesmo... foi só uma recaída. De... saudades da minha mãe...


           
- Nós sabemos muito bem que isso vai além de uma recaída de saudades
da sua mãe, não é - disse ela, baixando os olhos castanhos 
e depois alisando os cabelos cheios. -, Harry... o que você está
sentindo por ele?


           
Uma fisgada no peito pulsou dolorosamente e Haykito precipitou-se em
massageá-lo, como se estivesse à beira de um ataque cardíaco; sentindo a
pressão nas veias baixar, ele sussurrou com a voz gutural.


           
- Nada... você sabe bem que não
é nada... não é?



           
- O que eu sei - murmurou Hermione. - é que você tem dado olhares
furtivos e interesseiros para Harry. Claro que são discretos - apressou-se a
dizer, quando Haykito intensificou as massagens no peito, como um velho com
problema de saúde. -, mas eu notei... e não te discrimino... eu só acho
que... Bem, para falar a verdade eu nem faço idéia do que achar. Gina é minha
amiga, pelo o que eu sei, ela sempre foi apaixonada por ele. E nos últimos
tempos ele se apaixonou por ela também... Não é querer fazer as suas esperanças
irem por água abaixo Haykito, mas eu custo acreditar que Harry pudesse se
interessar por um gar... por você agora
que ele já tem namorada
- Ela fez questão de grifar as últimas palavras
com vontade, para não exprimir nenhum tipo de preconceito. E Haykito sabia que
de fato ela tinha razão em pensar daquela maneira.


           
- Olha... eu entendo o que você quer dizer - ele falou, rápido. -, só
o que eu sei também, é que eu o amo... e o amo como eu nunca amei ninguém...
sabe... não é algo só carnal ou físico do tipo em que eu esteja super atraído
por ele. Mas simplesmente aconteceu. E agora eu estou apaixonado por ele. E esse
amor arde aqui dentro... Hermione... - Ele segurou a mão dela com força,
sentindo a pele absorver a calidez que eles passavam um para o outro.


           
- Eu te entendo - sussurrou a garota, levemente. Lágrimas brotaram de
seus olhos e ela adiantou-se em enxugá-las na manga do casaco, inspirando ar
com certa dificuldade. -, é isso também que eu sinto por Rony, como eu te
disse. E sabe... eu sinto que ele é mesmo o amor da minha vida... mas... ele não
parece ter pouco mais que dois centímetros de cérebro para compreender as
mensagens que eu mando para ele... não
são como mensagens subliminares. São indiretas na cara! Mas ele não
percebe... eu acho que no fundo, ele nem me nota além de uma amiga cê-dê-éfê
em que ele pode encontrar todas as respostas para qualquer pergunta. Mas eu o
amo. Que escolha tenho, não é?


           
Haykito movimentou levemente a cabeça, em um aceno afirmativo mal dado;
não sentia forças para movimentar-se mais que aquilo e sua vontade era
jogar-se imediatamente no colchão e dormir... dormir para nunca mais acordar.
Forçou-se a afastar aquele pensamento da cabeça, ou iria acabar entrando em
alguma depressão e não podia deixar-se levar tanto assim só por causa de
Harry.


           
- Mas vamos - continuou Hermione, levantando-se e enxugando as últimas lágrimas
que teimavam em rolar por seu rosto alvo, manchas escarlates salpicando as maçãs,
como se ela tivesse levado bofetadas nos dois lados do rosto. -, temos que
arrumar as malas. Hogwarts! Vai ser hoje. Como está? Ansioso? Nervoso?


           
- Não sei ao certo - respondeu Haykito, balançando a cabeça. -,
indiferente seria o melhor adjetivo.


           
- Ah, vamos lá - Ela sacudiu-o de leve e então ergueu com o dedo no
queixo dele, fazendo com que os dois se olhassem olho-no-olho. -, você o ama
mesmo, não é?


           
Ele mexeu os lábios, formando a palavra "Muito."
e Hermione então abraçou-o e afagou mais uma vez seus cabelos.


           
- Pois então, se esforce para conquistá-lo - disse, com a voz branda.
-, lute... e quem sabe você conseguirá.


           
- Quem sabe - repetiu Haykito,
sem vontade.


           
Ela ergueu os olhos, parecendo piedosa e então piscou para ele, cruzando
o quarto e projetando-se para o corredor do lado de fora; perscrutou-o dos pés
à cabeça uma última vez e, fechou a porta, a maçaneta dourada, parecendo uma
bola de tênis retinindo como correias.


           
Haykito pescou todo o seu material nas bolsas de compras que colocara em
seu quarto e, por fim, atochou-as no fundo do malão escancarado, ao chão; as
roupas tomaram três-quartos do espaço que restou, que foi ocupado por pequenas
tralhas que ele juntara nos dias que se hospedara no Caldeirão; logros para
brincadeiras, autocorretores de lições, penas novas, tinteiros, tintas azul,
vermelha e preta e, por fim, uma minúscula bolsa de amarrar, cheia de gomas de
mascar de diversos sabores.


Enfiando
a mão nela, ele apanhou uma de tuti-fruti e, depois, jogou-a no malão,
fechando a tampa e sentando em cima, para conseguir que tudo coubesse dentro.
Depois de algum esforço, sem que a tampa tivesse movido algum centímetro
sequer, ele puxou a varinha e murmurou um feitiço que fez um zíper imaginário
girar em torno do malão, fechando-o profissionalmente.


           
Haykito puxou-o junto à aba e olhou para o seu reflexo no espelho do armário;
um garoto alto e magro, com uma aparência doentia piscou tristemente para ele,
os olhos ainda vermelhos de tanto chorar.


           
Olhando em volta no quarto, ele certificou-se que não esquecera nada e,
então, precipitou-se para a saída, juntando todas as suas forças para
suportar mais algumas horas de cenas românticas, até poder se recolher ao
dormitório masculino, escondendo-se sob cortinas de dossel, sem que ninguém
pudesse vê-lo. Um feitiço anti-escuta impediria também que escutassem seu
choro, caso tivesse alguma recaída.


De
repente, o mundo pareceu estar em câmera lenta, conforme ele avançava pelo
corredor em passos firmes, o soalho rangendo sob seus pés e via que mais uma
batalha se aproximava. E vencê-la-ia, sem dúvida.



 Nota do
autor:


Nada muito a
comentar xD~ tenho que escrever um capítulo que não estou conseguindo e enfim.
é isso XD Beijo especial para a Kurara-chan *-* mega fofis e minha futura
melhor amiga xDDDDD


:*

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