A Formatura






4 de julho de 1999: chegara o tão esperado dia. Um dia que, para a grande maioria dos norte-americanos, era motivo de comemorar os 223 anos de independência do seu país. Já no outro lado do Oceano Atlântico, um pequeno grupo de bruxos britânicos celebravam uma forma de independência um tanto quanto diferente: o adeus aos estudos!


Nos dormitórios das quatro casas, o clima era de festa desde antes do sol nascer. Era uma experiência única que só acontecia uma vez na vida e merecia ser aproveitada ao máximo. Isso porque, no final do ano letivo, após a realização dos N.I.E.M.s, os alunos do sétimo ano possuíam a regalia de ficarem somente eles no castelo durante o período entre 30 de junho, dia do retorno dos demais alunos para a casa, até o dia da aguardada formatura, que acontecia sempre no primeiro domingo de julho.


Harry e Rony já haviam chegado desde o dia 28, na segunda-feira, pois foram convidados a darem palestras sobre o trabalho e a importância dos aurores para todas as turmas nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Os dois garotos ficaram ainda mais animados quando descobriram que voltariam a se hospedar por uma semana inteira no seu antigo dormitório da Grifinória.


Lamentavelmente, nem Gina, nem Luna, nem nenhum outro estudante que não fosse um formando poderia ter a chance de estar presente no evento. Esta era uma regra rígida, cumprida desde os primórdios da escola pelo simples fato de que tudo continue sendo uma completa surpresa até que chegue a devida hora de cada um se formar em Hogwarts. Os únicos que podiam participar do evento, além dos alunos, professores e alguns membros do Ministério, eram os pais e responsáveis (como era o caso da avó de Neville, por exemplo). Aquela formatura, inclusive, entraria para a história da escola, pois nunca se teve tão poucos alunos se formando em um ano. E isso tudo por causa da batalha, que acarretou a ausência de boa parte dos sonserinos, e a de tantos outros lufanos, grifinórios e corvinos, que infelizmente, foram mortos em combate.


Todas as tradições que compunham o ato de formatura consistiam em procedimentos puramente emblemáticos e representativos do começo a fim. Com o badalar das 18 horas, todos se dirigiram aos seus lugares previamente marcados. O local encontrava-se dominado por uma plateia acomodada em dezenas de cadeiras dispostas sobre a grama podada.


A cerimônia estava prestes a começar.


A dirigente Minerva McGonagall sentou-se no centro da mesa principal, situada em frente ao campo de quadribol. Ela abriu o longo roteiro escrito em um pergaminho, puxou a varinha, apontou-a para a própria garganta, disse "Sonorus!” e então, sobrepondo-se aos murmúrios que enchiam o terreno lotado, falou; sua voz reboou, ecoando em cada canto:


— É com imenso prazer e com grata satisfação que dou as boas vindas a todos hoje aqui presentes. Declaro a partir de agora iniciada a milésima quinquagésima oitava formatura dos alunos do sétimo ano da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. — anunciou ela. — Primeiramente, chamamos para compor a mesa o excelentíssimo Ministro da Magia Kingsley Shacklebolt e Joanne Rowling, a nossa discursante preeminente.


Houve silêncio, a plateia se encontrava claramente estarrecida. Mesmo todos tendo sido antecipadamente avisados sobre a vinda de Rowling, a maioria não contava que isso fosse efetivamente acontecer, ainda mais sendo em Hogwarts e com a presença do ministro...


— A seguir, convoco todo o corpo docente, composto pelos seguintes nomes:


Madame Rolanda Hooch, professora de vôo e juíza de Quadribol;


Cuthbert Binns, História da Magia;


Wilhelmina Grubbly-Plank e Rúbeo Hagrid, Trato das Criaturas Mágicas;


Horácio Slughorn, Poções;


Pomona Sprout, Herbologia;


Sibila Trelawney e Firenze, Adivinhação;


Aurora Sinistra, Astronomia;


Septima Vector, Aritmancia;


Bathsheba Babbling, Runas Antigas;


Filius Flitwick, Feitiços;


Aberforth Dumbledore, Defesa Contra as Artes das Trevas.


— Mas não são apenas os professores que controlam e mantêm Hogwarts em ordem... Por isso, para se juntar à mesa conosco, chamamos também todos os nossos funcionários, que tão bem realizam seus ofícios para com a nossa instituição:


Argo Filch, zelador;


Madame Irma Pince, bibliotecária;


Papoula Pomfrey, curandeira-chefe da ala hospitalar.


— É preciso frisar que, depois de muita insistência pedindo para que viessem, a Srta. Granger conseguiu realizar um feito inédito... Com vocês: os elfos domésticos encarregados pela limpeza e comida de nossa escola! O que seria da gente sem eles, não é mesmo? — falou a diretora, sorrindo.


A partir daí, várias criaturinhas de olhos esbugalhados começaram a aparecer por detrás do palco, seguidos de intensos aplausos. Harry e Rony, sentados ao lado da família Weasley, ficaram maravilhados ao se depararem com Winky, localizada bem no meio daquela multidão de elfos.


— Aproveitando a deixa, convoco a oradora Hermione Jean Granger, estudante com a maior média e representante da turma, para prestar o juramento e, logo em seguida, discursar em nome de todos os seus colegas de classe.


A aluna foi ovacionada por todos de pé. Ela, visivelmente envergonhada, subiu ao palanque ao lado da mesa principal. Estava magnífica. Rony nunca a havia visto tão bela desde o Baile de Inverno no quarto ano. Os cabelos alisados e brilhantes, lábios escarlates, beca preta e vermelha com detalhes dourados perfeitamente engomados, e um sorriso radiante, que transmitia alegria de um modo único que somente ela era capaz de fazer.


Tendo chegado lá encima, Madame Hooch, a juramentista, pediu para que ela e todos os formandos erguessem os seus braços direitos, enquanto repetiam pausadamente o texto que Hermione lia em voz alta:


Prometo exercer a minha profissão, fiel aos preceitos de sua ética, com firmeza e honestidade de propósitos.


Prometo, de mim, dar o melhor — a inteligência, a honra e a fé — para qualificar o ensino recebido durante todo o período letivo, elevar a criatura humana de caráter bruxo, continuar construindo a grandeza da Grã-Bretanha e buscar a união dos homens e dos povos, voltados para os ideais maiores de magia, de justiça, de paz, de amor e de liberdade.


Assim prometo.


Ao término da promessa, Hermione foi em direção ao púlpito de madeira e instaurou a dissertar:


— Boa noite a todos! — disse ela, não conseguindo disfarçar o nervosismo que sentia. — Eu tinha preparado tudo o que eu ia falar, mas como sempre eu me empolguei demais e ele acabou ficando com mais de trinta rolos de pergaminho... — todos riram. — É... pois é, quem me conhece sabe que eu sou assim mesmo. Por isso decidi discursar sem qualquer tipo de anotação...


“Bom, após não somente sete, mas sim oito longos anos de muito esforço, é com grande prazer que afirmo: nós finalmente conseguimos! E se teve um ensinamento que com certeza levarei para a minha vida toda, além de claro nunca cutucar um dragão adormecido, é o quão importante é a relação que temos com as pessoas. À vista disso, eu possuo sete agradecimentos para dizer a seguir.


“Desde quando aquela carta foi entregue na minha casa quando completei meus 11 anos de idade, eu sabia que viveria um período marcante em minha vida, mas eu nunca imaginaria que eu fosse passar por tanta coisa. É sério! Meus pais me encorajaram durante todo o meu percurso, desde o início de tudo... Por isso, mãe e pai, o meu primeiro “obrigada” pertence a vocês, pois eu não conseguiria chegar até aqui sem a ajuda e o apoio que vocês me deram.


“Cada ano que passei aqui foi especial, e houve tantos momentos inesquecíveis... alguns engraçados, outros tristes, e outros que simplesmente não conseguimos descrever, só sentindo para saber. No começo do primeiro ano, eu era “a garota excluída e sem amigos”... Até que eu conheci aqueles dois garotos ali, ó, na terceira fileira! — Harry e Rony se levantaram e acenaram para todos, rindo. — Isso mesmo, esse panacas de mãos erguidas aí. Weasley e Potter, quero que saibam que desde aquele dia das bruxas, em que vocês dois heroicamente salvaram a minha vida, eu soube que seríamos amigos eternos... Tanto é que, sempre que conjuro um Patrono Corpóreo, aquela noite de Halloween vem em minha mente, é a lembrança feliz que escolhi ser a mais forte... Por isso, o meu segundo “obrigada” pertence a vocês dois... Ah, ok, controle-se, Hermione, você ainda está no meio do seu discurso, não pode chorar... — disse ela para si mesma, ao perceber que lágrimas já escorriam sobre seu rosto.


— Continuando... no segundo ano, fui petrificada por um enorme basilisco, e se não fosse a Madame Pomfrey e a professora Sprout, eu não estaria aqui hoje discursando para vocês. Por isso, o meu terceiro “obrigada” é de vocês duas.


“No meu terceiro ano letivo, foi um dos mais turbulentos e que mais exigiu de mim nos estudos. E caso eu não tivesse recebido a ajuda de todos os professores, principalmente o auxílio da senhora, professora McGonagall, eu não sei o que seria de mim. Por isso, o meu quarto “obrigada” direciona-se a todo o corpo docente.


“E como é possível comentar sobre escola sem mencionar as tão aguardadas férias que tivemos? Muitas das vezes eu não passei o meu verão e meu natal em casa junto dos meus pais, por isso o meu quinto “obrigada” destina-se a vocês dois, Sr. E Sra. Weasley, que tão bem me acolheram quando eu ia para À Toca ou no Largo Grimmauld.


“Como todos sabem, a partir do quarto ano em diante, isto é, de 1994 até 1998, passamos por uma era negra em nosso mundo. O Torneio Tribruxo, apesar de ter sido uma farsa desde o princípio, conseguiu nos proporcionar entretenimento e diversão, em contraposição ao que estava porvir... A partir daí, nós... nós tivemos muitas perdas. Perdemos muitos entes queridos, que vão estar sempre vivos em nossa memória. Sendo assim, decidimos eleger o professor Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore como o Patrono de nossa turma. E é por essas e outras que o meu sexto “obrigada” vai, junto com os meus pêsames, a todos os alunos, todos os ex-alunos e todos os professores que foram assassinados ao longo destes últimos anos...


“Bom... é.... — Hermione tentava se recompor. — Onde eu estava... Ah, sim. Exames finais. Muito bem. Tenho que admitir que N.O.M.s e N.I.E.M.s não foram nada fáceis de se encarar, mas cá estamos! E é com grande orgulho que dou meu sétimo agradecimento à minha turma, que nunca foi tão unida quanto neste último ano que se passou. Muitíssimo obrigada a todo o corpo dicente veterano, eu vou sempre amar todos vocês! Especialmente Neville Longbottom, Simas Finnigan, Dino Thomas, Parvati e Padma Patil, Susana Bones, Ana Abbott, Ernesto Macmillan e Justino Finch-Fletchley!


“Sou eternamente grata por tudo. E, como a própria professora Trelawney uma vez me disse, meu coração que bate desesperadamente como o de uma velha solteirona vai sempre amar Hogwarts.” — Hermione riu da própria citação que fizera, e ao contrário do que alguns pensavam, a garota nunca guardou rancor da sua ex-professora de Adivinhação por causa disso. Ela terminou o discurso e todos a aplaudiram de pé incansavelmente por mais de um minuto. Harry e Rony assoviaram e urravam o mais alto que podiam.


— Agora, sem mais delongas, apresento-lhes a paraninfa escolhida por unanimidade pela nossa turma de formandos: Joanne Rowling, professora de línguas formada na Universidade de Exeter e, é claro... escritora renomada do mundo trouxa. — ainda emocionada com as calorosas consagrações, Hermione abraçou Joanne e desceu do palco, dando espaço para que ela subisse em seu lugar.


— Fico muito agradecida pela recepção, Hermione. — disse Rowling, terminando de organizar os papeis que trazia consigo em uma das mãos. — Pois bem... Diretora McGonagall, professores, Ministro da Magia, pais orgulhosos e, acima de tudo, formandos.


“Primeiramente, tenho de assumir que me sinto honrada em ter sido “A Eleita” de vocês. — Joanne riu baixinho. — Perdão, não pude resistir de fazer este trocadilho... Mas enfim, eu gostaria acima de tudo dizer “muito obrigada”. Não somente Hogwarts tem me dado um respeito imenso, mas as semanas de medo e náusea que tenho experienciado pelo simples pensamento de fazer esse discurso me fizeram perder peso. Uma situação em que todos ganham! — brincou ela. — Agora eu só preciso respirar fundo, olhar para as faixas vermelhas, azuis, amarelas e verdes e me convencer que eu estou na maior reunião de bruxos que já presenciei.


“Fazer um discurso de formatura é uma grande responsabilidade; ou pelo menos era o que eu pensava até que voltei ao passado, até a minha própria colação de grau. O discurso naquele dia foi feito pela eminente filósofa britânica Baronesa Mary Warnock. Refletir sobre o discurso dela me ajudou e muito a escrever este, porque, no final das contas, eu não consigo lembrar de uma palavra que ela tenha dito. Essa descoberta libertadora me dá o poder de continuar sem medo de ser alguém que possa, inadvertidamente, influenciá-los a abandonar carreiras promissoras em negócios, lei ou política, pelos vertiginosos prazeres de se tornar um cidadão rebelde. — a plateia riu simpaticamente. — Viu? Se em anos por vir a única coisa que vocês lembrarem for a piada do "cidadão rebelde", eu ainda estarei à frente da Baronesa Mary Warnock. Metas alcançáveis: o primeiro passo para o aperfeiçoamento pessoal.


“Na verdade, eu quebrei minha cabeça e coração para pensar no que deveria dizer hoje. Perguntei a mim mesma o que desejaria ter aprendido na minha formatura e que lições importantes eu aprendi nesses 12 anos que passaram entre aquele dia e hoje.


“Eu achei duas respostas. Neste dia maravilhoso em que nós nos reunimos para celebrar o seu sucesso acadêmico, eu decido contar-lhes um pouco sobre os benefícios do fracasso. Agora que vocês estão dando início ao que às vezes chamamos de “vida real”, eu quero destacar a importância crucial da imaginação.


“Essas escolhas podem parecer irreais e paradoxais, porém me escutem.


“Olhar para a mulher de 21 anos que era quando me formei é uma experiência desconfortável para a mulher de 33 anos que ela se tornou. Mais de uma década atrás eu estava entrando num estranho balanço entre a minha ambição e o que as pessoas mais próximas esperavam de mim.


“Estava convicta de que a única coisa que eu queria fazer, para sempre, era escrever romances. Porém, meus pais, ambos que vieram de passados de pobreza e não foram à faculdade, formaram a seguinte opinião: de que minha imaginação fértil era um truque divertido e pessoal que nunca pagaria o aluguel, ou asseguraria uma pensão. Eu sei que agora a ironia é tão grande quanto a de uma bigorna, mas…


“Eles esperavam que eu me graduasse em um curso vocacional; eu queria estudar Literatura Inglesa. Chegamos a um acordo que, olhando agora, não satisfazia a ninguém, e eu fui estudar Línguas Modernas. E eu, que mal tinha adquirido a minha liberdade adulta, decidi me livrar do Alemão e me dirigir até o corredor do curso de Clássicos.


“Por mais incrível que possa parecer, o que eu mais temia quando tinha a idade de vocês não era a pobreza, e sim o fracasso.


“Apesar da falta de motivação na faculdade, onde passava tempo demais na lanchonete escrevendo histórias e pouco tempo nas aulas, eu tinha uma habilidade de passar em provas e isso, por anos, foi a minha medição de sucesso e a dos meus amigos.


“Eu não sou estúpida ao ponto de dizer que só porque vocês são jovens e bem educados, nunca tiveram que trabalhar duro, ou o coração partido... Talento e inteligência nunca vacinaram ninguém contra os caprichos do Destino e eu não suponho, nem por um momento, que alguém aqui nunca aproveitou uma vida de privilégios alegremente serena.


“Porém, o fato de que vocês estão se formando em Hogwarts sugere que não estão familiarizados com o fracasso. Talvez o medo de fracassar os tenha dirigido tanto quanto o desejo por sucesso. Na verdade, talvez o seu conceito de fracasso não seja tão diferente da ideia de sucesso de uma pessoa comum, olhem só o quão alto vocês já subiram.


“Essencialmente, nós temos que decidir, por nós mesmos, o que define fracasso, porém, o mundo está ansioso em lhe dar os critérios, se você o deixar. Então eu acho que é justo dizer que, em qualquer medida convencional, meros sete anos passados da minha formatura, eu tinha fracassado em uma escala épica. Um casamento excepcionalmente curto implodiu, eu não tinha um emprego, mãe solteira e o mais pobre que se pode ser na Inglaterra, sem ser moradora de rua. O medo que os meus pais tinham por mim – e que eu mesma tinha – acontecera comigo e por qualquer padrão conhecido, eu era o maior fracasso que conhecia.


“Agora, não vou permanecer aqui e dizer que o fracasso é divertido. Aquele período da minha vida foi obscuro e eu não tinha a mínima ideia de que teria (como a mídia trouxa tem desde então chamado) um final de conto de fadas. Eu não tinha a mínima noção de até que ponto o túnel se entendia e, por muito tempo, qualquer luz no fim era mais esperança do que realidade.


“Então por que será que digo “os benefícios do fracasso”? Simplesmente porque fracasso significa uma redução do que era dispensável. Eu parei de fingir que algo diferente do que eu era, e comecei a dirigir toda a minha energia para terminar a única coisa que me importava. Se eu tivesse sucedido em qualquer outra coisa, talvez nunca teria achado a determinação para ter sucesso naquela área – que eu acreditava – que realmente fazia parte. Fui emancipada, porque o meu maior medo já tinha acontecido e eu tinha sobrevivido e ainda tinha a minha filha, ainda tinha minha velha máquina de datilografar e uma grande história... a história de vocês! Então o fundo do poço se tornou uma fundação estável, na qual eu reconstruí a minha vida.


“Vocês talvez nunca fracassem na mesma escala na qual eu fracassei, porém, o fracasso em algum ponto da sua vida é inevitável. Viver uma vida sem fracassar em algo é impossível, a não ser que você viva com tanto cuidado que no final das contas você não viveu nada. E, nesse caso, você fracassou por descuido.


“A derrota me deu uma segurança interior que eu nunca tive ao passar em provas. O chamado “insucesso” me ensinou coisas sobre eu mesma que eu nunca poderia ter aprendido de outra maneira. Descobri que tenho uma forte vontade própria e sou mais disciplinada do que achava que era; eu também descobri que tinha amigos que realmente valem mais do que qualquer pedra filosofal feita por Nicolau Flamel.


“O fato de que você saiu de uma situação difícil, mais forte e mais sábio, significa que está, para sempre, seguro na sua habilidade em sobreviver. Você nunca vai se conhecer, ou fortalecer os seus relacionamentos até que ambas partes tenham sido testadas por adversidades. Este conhecimento é um presente, acima de tudo, por ser doloroso de se conseguir e tem para mim mais valor do que qualquer qualificação que eu possuo.


“Se eu pudesse utilizar o Vira-Tempo de Hermione, eu diria para mim mesma aos 21 anos que a felicidade das pessoas está no saber que a vida não é só uma lista de realizações ou aquisições. Suas qualificações, o seu currículo, não são a sua vida, embora você vá encontrar pessoas da minha idade, ou mais velhas, que confundem ambos. A vida é difícil e complicada, acima de controle total de qualquer um e a humildade de saber que vontade possibilita a sobrevivência a vicissitudes.


“Você pode até pensar que eu escolhi o meu segundo tema (a importância da imaginação) por causa do papel que teve reconstruindo a minha vida, entretanto, não é somente isso. Embora vá defender o valor das estórias antes de dormir até meu último suspiro, eu aprendi a valorizar a imaginação em um sentido muito maior. Imaginação não é somente essa capacidade humana única de enxergar aquilo que não é, e por conseguinte, ser a fonte de todas as invenções e inovações. Em sua discutivelmente, mais transformadora e reveladora capacidade, imaginação é o poder que nos possibilita simpatizar com humanos, cuja a experiência nunca compartilhamos.


“Uma das maiores experiências formadoras da minha vida foi o surgimento de Harry Potter. Essa revelação veio na forma de um dos meus primeiros empregos. Embora tenha escapado para escrever histórias durante meu horário de almoço, eu pagava meu aluguel nos meus vinte e poucos anos trabalhando no departamento de pesquisa no quartel-general da Anistia Internacional em Londres.


“A Anistia mobiliza milhares de pessoas que nunca foram torturadas ou presas por suas crenças a agir em benefício daqueles que foram. O poder da empatia humana, levando à ação coletiva, salva vidas e liberta prisioneiros. Pessoas ordinárias, cujo bem-estar pessoal e segurança são assegurados, juntam-se em números gigantescos para salvar pessoas que não conhecem, nem nunca irão conhecer. Minha pequena participação nesse processo foi uma das mais humildes e inspiradoras experiências da minha vida.


“Diferentemente de qualquer outra criatura nesse planeta, os humanos podem aprender e entender sem terem presenciado efetivamente. Eles podem se imaginar na mente de outras pessoas, se colocar no lugar das mesmas.


“É claro que isso é um poder, como minha história de magia “supostamente ficcional”, que é moralmente neutra. Alguém pode usar tal habilidade para manipular, ou controlar, assim como para entender ou simpatizar.


“E muitos preferem nem exercer sua imaginação. Eles escolhem permanecer confortáveis com os laços de sua própria experiência, nunca se dando ao trabalho de imaginar como seria terem nascido diferentes do que são. Eles podem se recusar a ouvir gritos ou a ficar presos em cadeias; eles podem fechar suas mentes e corações para qualquer sofrimento que não os toquem pessoalmente; eles podem se recusar a saber.


“Uma das muitas coisas que aprendi no final daquele corredor de Clássicos pelo qual me aventurei aos 18 anos, em busca de algo que eu não pude então definir, era isso, escrito pelo autor grego Plutarco: O que nós arquivamos internamente mudará a realidade externa.


“Esta é uma constatação espantosa, ainda assim provada milhares de vezes todos os dias de nossas vidas. Expressa, em parte, nossa inescapável conexão com o mundo externo, o fato de que tocamos a vida de outras pessoas simplesmente por existir.


“Todavia, quanto mais são vocês, graduandos de Hogwarts de 1999, ao tocar a vida de outras pessoas? Sua inteligência, sua capacidade de trabalho duro, a educação que ganharam e receberam dão a vocês um status único, e responsabilidades únicas.


“Se vocês escolherem usar seu status e influência para elevarem suas vozes em benefício daqueles que não têm voz; se vocês escolherem se identificar não apenas com os poderosos, mas com os desprestigiados; se vocês retiverem a habilidade de se imaginarem na vida daqueles que não têm a sua vantagem, então não serão apenas suas orgulhosas famílias que celebrarão sua existência, mas milhares e milhões de pessoas cuja realidade vocês ajudaram a transformar para melhor. Nós não precisamos de magia para mudar o mundo, já carregamos o poder que necessitamos dentro de nós mesmos: temos o poder de imaginar um lugar melhor para se viver.


“Estou quase terminando. Tenho uma última esperança para vocês, que é algo que eu já tinha aos 21 anos. Os amigos com quem me sentei no dia da graduação são os meus amigos para a vida. Eles são os padrinhos dos meus filhos, as pessoas com quem fiquei em épocas turbulentas. Na nossa graduação, nós estávamos unidos por uma enorme afeição, por nossa experiência compartilhada de uma época que nunca voltaria, e, é claro, pelo conhecimento de que possuíamos certas evidências fotográficas que poderiam ser excepcionalmente valiosas, caso algum de nós se tornasse Primeiro Ministro.


“Então hoje eu não posso desejar a vocês nada melhor do que amizades semelhantes. E amanhã, espero que mesmo se não lembrarem de uma única palavra minha, se lembrarão daqueles de Sêneca, outro daqueles antigos romanos que conheci quando andei pelo corredor de Clássicos, me afastando de carreira promissoras, em busca de conhecimento ancião.


“Assim como é um conto, é a vida: não quão longo, mas quão bom ele é, isso é o que importa.


“Eu desejo a todos vocês ótimas vidas. E, novamente, muito obrigada."


Após as últimas palavras ditas por Rowling, ficou difícil saber quem havia recebido mais aplausos naquela noite, pois ela e Hermione foram igualmente aclamadas com seus dois dignos discursos inspiradores. E, depois de terminar de cumprimentar aqueles que vinham parabenizá-la, Joanne voltou a sentar-se na mesa para dar continuidade a formatura.


Chegara o momento de recebimento dos diplomas. Todos os formandos foram, um a um, em ordem alfabética, subindo ao palco para pegar seus respectivos certificados de conclusão e passando a corda do capelo do lado direito para o esquerdo, para identificar que estavam todos propriamente formados.


Era a hora do mais importante trajeto de toda a cerimônia, realizado somente pelos alunos recém-formados e com a exclusiva companhia de Rúbeo Hagrid. Considerado um rito de passagem crucial, os estudantes iriam, junto com o guarda-caças, seguir a tradição de deixar o castelo de forma poética e simbólica, partindo através dos mesmos botes de madeira encantados que os levaram a Hogwarts antes do início de seu primeiro ano.


Eles caminharam até desembocarem na casa dos barcos, uma espécie de cais subterrâneo, galgando por uma escada de pedra ao passarem pela enorme porta de carvalho e por um úmido gramado à sombra da escola, seguidos de várias pedras e seixos. Hermione, Neville, Simas e Dino desceram juntos uma passagem aberta na rocha, sendo os primeiros a embarcar. Como era de se esperar, os quatro se encontravam muito mais apertados do que há oito anos.


— Todos acomodados? — perguntou Hagrid, que tinha um barco só para si. — Então... VAMOS! — e a flotilha de barquinhos largou toda ao mesmo tempo, deslizando pelo lago liso como um vidro fumê. — Abaixem as cabeças! — berrou Hagrid, quando os primeiros barcos se deparavam com a saída estreita do penedo.


Os botes atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco. Foram expelidos pelo túnel escuro debaixo do castelo. Todos estavam silenciosos, os olhos fixos no grande castelo no alto. A construção se apequenava à medida que se distanciavam do rochedo em que estava situado.


O céu apresentava uma deslumbrante mistura de tons de laranja e violeta. O sol se pondo lentamente no horizonte; todos os elementos que constituíam aquele cenário pareciam se encontrar em perfeita harmonia.


— O que foi, Mione? Por que está chorando? Olha a sua volta! Repare nessa paisagem! Era para estarmos todos felizes, não acha? — indagou Neville, ao notar a expressão de infortúnio da amiga, quando já estavam perto da margem do lago.


— Mas eu estou feliz... é que... Me desculpem, dias como esse me deixam muito emotiva... É que eu não queria ir embora! Como vou ficar bem sabendo que nunca mais voltarei aqui para estudar? Que nunca mais passarei meu tempo livre na biblioteca, ou ao lado de vocês no salão comunal, ou visitando Hagrid em sua cabana, ou na margem desse lago vendo vocês alimentarem a Lula Gigante? — respondeu ela, fungando o nariz. — Esse lugar significa muito para mim... não quero abandoná-lo...


— Ora, mas isso não é um adeus permanente, sua boba. — disse Simas. — Quer dizer, claro que vou sentir falta de cometer explosões dia sim dia não nessa escola, mas assim como eu, nunca se esqueça do que o nosso Patrono sempre dizia. Aonde quer que estejamos, “Hogwarts sempre estará lá para ajudar a quem dela precisar”.

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