Invasores na Plataforma 9¾






─ Harry, Rony! Acordem! Nós vamos nos atrasar!


─ Hermione, meu amor, você tem uma voz linda... Mas por favor, NÃO GRITE NO MEU OUVIDO NUMA MANHÃ DE SEGUNDA-FEIRA! ─ bradou Rony mal-humorado devido ao modo que fora acordado.


─ É, Mione... Só mais cinco minutos... ─ pediu Harry ainda sonolento, cobrindo o rosto com o travesseiro.


─ Falam isso porque não são vocês que têm que estar às onze da manhã em Kings Cross! Vamos... Vocês prometeram nos levar!


─ Está bem. Já vamos descer... Pelo menos espere a gente se arrumar... ─ pediu Rony com uma voz rouca.


─ Certo. Sua mãe já fez o café. Aguardo vocês lá embaixo em dez minutos! ─ avisou Hermione, se retirando do quarto.


─ Ninguém merece! Justo no meu dia de folga... Se não bastasse ter que acordar cedo todos os dias para ajudar Jorge naquela bendita loja... Eu daria tudo para poder dormir até mais tarde hoje.


─ Olhe pelo lado bom. Esse é o último ano de Hermione. ─ falou Harry. ─ Eu ainda vou ter que levar Gina de novo ano que vem...


─ Falando nisso, você sabe se Gina já contou a verdade para Hermione? ─ quis saber Rony.


─ Não. Gina me disse que só contaria quando elas estivessem dentro do trem. Por enquanto Hermione ainda acredita que Gina vai estudar no sétimo ano junto com ela...


─ Tadinha... Vai ficar sozinha na nossa turma... ─ falou Rony chatiado. ─ Acha que ainda é tarde de eu voltar atrás?


─ Ah, nem vem, Rony! Decidimos não estudar mais em Hogwarts. Nós já sofremos demais... Ou você ainda tem vontade de fazer os N.I.E.M.s?


─ Pensando melhor... Você tem razão, Harry. Seis anos naquela escola já está de bom tamanho. ─ dizia ele, ao mesmo tempo que colocava pasta na sua escova de dentes.


─ Ei, você viu aquela minha camisa cinza? Não consigo encontrá-la... ─ Harry olhou para todos os lados do cômodo, procurando por ela. ─ Aliás... Eu vou te falar uma coisa... Isso está um verdadeiro chiqueiro, Rony! ─ acrescentou Harry com uma expressão de nojo no rosto.


─ Chiqueiro que você contribuiu a criar, Sr. Potter. ─ disse Rony, dando risadas. ─ Enfim, eu a vi perto do lugar onde eu ponho todas as minhas correspondências... Deixa eu ver se... Ah! Aqui está ela! ─ exclamou ele, pegando e entregando-a para Harry.


Embaixo de onde se encontrava a camisa, havia um envelope de carta bastante amassado. O remetente estava manchado de tinta, deixando ilegível o seu nome. Rony pegou e abriu a carta de imediato. Vendo que Harry estava concentrado em terminar de amarrar os cadarços do tênis, Rony começou a ler a carta para si:
 


Queridos Rony e Harry, se estiver aí.


Espero que tudo tenha corrido bem, que Harry esteja bem e que você não tenha feito nada ilegal para tirá-lo de lá, Rony, porque isso criará problemas para o Harry também. Tenho estado realmente preocupada e, se Harry estiver bem, por favor, mande me dizer logo, mas talvez seja melhor usar outra coruja, porque acho que mais uma entrega talvez mate essa.


Estou muito ocupada, estudando, é claro...


E vamos a Londres na próxima quarta-feira comprar os livros novos. Por que não nos encontramos no Beco Diagonal?


Mande notícias do que está acontecendo, assim que puder.


Afetuosamente, Mione”.


06/08/1992


Rony então percebera o porquê daquela carta se encontrar justamente naquele lugar tão imprevisível que, curiosamente, dava a ligeira impressão de ter sido colocada há pouco tempo: Hermione provavelmente havia pego para que J.K. Rowling transpusesse e inserisse em seu segundo livro.


Mesmo tendo a lido no próprio livro semanas antes, Rony achou que lê-la do real papel em que fora escrito e reconhecer que aquilo era de sete anos atrás, causou-o um sentimento esquisito que era uma mescla horrível de nostalgia e melancolia, com uma pitada de remorso e um ingrediente principal: saudade.


Não tinha jeito. Rony precisava acabar com aquele sentimento que havia se impregnado dentro dele. Ele sabia muito bem como fazer e estava disposto a enfrentar qualquer coisa que o impedisse de realizar isso.


─ Harry, tá afim de ir a uma festa em Hogwarts hoje à noite? ─ perguntou Rony, esboçando um sorriso tão grande que chegou a ser capaz de acabar com todo o seu mau humor matutino.


Enquanto os dois terminavam de se aprontar, a Sra. Weasley, Gina e Hermione se encontravam todas sentadas ao redor da mesa da cozinha. As três mutuamente impacientes com o atraso dos garotos. A Sra. Weasley já havia perdido a voz de tanto gritar o nome de Rony, chamando-o, recebendo sempre a mesma resposta curta e direta “Já vamos descer!”.


─ São dez e quarenta e cinco. ─ informou Hermione nervosa olhando para o relógio. ─ Eu juro que se ainda tivéssemos treze anos, quando nós não podíamos aparatar, largaria os dois aí e iria embora sem eles.


─ Apoiada. ─ Gina parecia estar tão estressada quanto Hermione.


─ Chegamos! ─ exclamou Rony, terminando de descer o último degrau da escada. ─ O que foi? Demoramos muito? ─ perguntou ele ao ver as expressões nos rostos das duas.


─ O que é que vocês acham? ─ indagaram Hermione e Gina ao mesmo tempo, ambas extremamente sérias.


─ Nos desculpem... Tivemos dificuldade em achar nossas roupas naquela bagunça. ─ afirmou Rony envergonhado.


─ Pelo menos confessou que o seu quarto necessita de uma arrumação. ─ disse a Sra. Weasley. ─ É isso! Você já possui uma tarefa de casa para quando voltar de Kings Cross com o Harry. Vai organizar tudo o que precisa ser arrumado.


Hermione e Gina riram baixinho uma para a outra.


─ Que maravilha. ─ satirizou Rony.


─ Bom, já podemos ir? ─ perguntou Harry, ignorando o que ocorrera.


─ Sim, vamos depressa! Não posso perder meu último trem de ida para Hogwarts.


─ Esperem aí! Eu ainda nem tomei café, mãe!


─ Azar o seu. Ninguém mandou demorar tanto lá em cima! Agora não há mais tempo, precisamos ir.


Hermione, Gina, Harry, Rony e a Sra. Weasley deram as mãos um para o outro. Eles iriam para uma rua pouco movimentada perto da estação pois, assim como Hogwarts, na plataforma nove e três quartos não é permitido aparatar ou desaparatar.


E, quando estavam prestes a partir da Toca, ouviu-se um estrépito. Alguém havia aparatado no jardim em frente à porta. Era Kingsley Shacklebolt.


─ Ufa, cheguei bem a tempo. ─ disse ele ofegante.


─ O que o traz aqui, Ministro? ─ quis saber a Sra. Weasley preocupada.


─ Vocês... Não podem... ir. ─ Kingsley respirava com dificuldade.


─ Ora, mas por que não? ─ perguntou Gina indignada.


─ Porque trouxas invadiram a entrada da Plataforma 9 três quartos! Simplesmente não há como atravessar. Uma dúzia deles estão lá na frente já faz duas horas.


─ O quê? Impossível! ─ exclamou Hermione incrédula.


─ Alguns até berravam o seu nome, Harry... ─ falou Kingsley um pouco aflito.


─ Como é? Trouxas gritando o meu nome? Ministro, isso é sério?


─ Acha que eu brincaria com uma coisa dessas? Eles também gritavam frases do tipo “Queremos ir para Hogwarts!” e “McGonagall, cadê a nossa carta?”. Além de urrarem os nomes das quatro casas.


─ Inacreditável... ─ dizia Rony. ─ Hermione, por que mandou Joanne escrever essa data no livro? Agora todos os anos serão assim: caóticos para qualquer bruxo que quiser ir para Hogwarts.


─ Ah, francamente, agora eu sou a culpada? Rony, você sabe muito bem que uma boa história é feita com o máximo de detalhes possíveis. Ainda mais a nossa. ─ afirmou Hermione com sofreguidão. ─ Eu não ia deixar de contar a ela que sempre íamos para Hogwarts no dia 1 de setembro...


─ Quais foram as medidas tomadas para que todos embarcassem no trem? ─ perguntou Harry a Kingsley, evitando prestar atenção no tradicional desentendimento de Rony e Hermione.


─ Tivemos que implantar uma lareira na plataforma. Foi a maneira mais segura e imediata que eu encontrei. ─ respondeu ele.


─ Ótima ideia! ─ elogiou a Sra. Weasley. ─ Vou buscar o pó de flu. ─ ela se dirigiu ao console da cozinha onde estava um antigo vaso de flores, que continha o pó.


─ Foi um sacrifício informar a todos os estudantes à tempo. Se tivéssemos conhecimento de que isto aconteceria alguns dias antes, obviamente enviaríamos cartas para os estudantes, mas como não soubemos... Nós não tivemos outra alternativa. Por isso convoquei dezenas de funcionários do Ministério, inclusive Artur. E, quando me dei conta, notei que havia me esquecido de avisar a vocês, então decidi vir aqui imediatamente para poder informá-los. ─ disse Kingsley. ─ Mas agora vocês precisam se apressar, faltam dez minutos!


─ Está certo. Quem quer ir primeiro? ─ perguntou a Sra. Weasley, olhando para os quatro.


─ Eu vou. ─ disse Harry. ─ Gina, me dê um pouco da sua bagagem para que quando você for, não leve muito peso.


─ Ok. Leve esta mala maior que eu levo essas outras menores.


Harry agarrou firmemente a mala na mão esquerda, se despediu de Kingsley, apanhou uma pitada de Pó de Flu e avançou até a beira do fogo. Inspirou profundamente, lançou o pó nas chamas e entrou. Fazia muito tempo que não viajava daquela maneira. O fogo lhe lembrou uma brisa morna; ele abriu a boca e falou claramente em voz alta:


─ Plataforma 9 e três quartos!


Ele sentiu como se estivesse sendo sugado por um enorme ralo. Parecia estar girando muito rápido. O rugido em seus ouvidos era ensurdecedor. Mantinha os olhos fechados e com os cotovelos colados ao corpo, mas o rodopio das chamas verdes lhe dera enjoo... Por um momento, Harry quase deixara cair a mala de Gina de sua mão. Agora a sensação era de mãos geladas esbofeteando o seu rosto... Apertando os olhos por trás dos óculos, ele viu uma sucessão de lareiras indistintas e relances de aposentos além...


Diferente de sua primeira viagem com o pó de flu, onde fora por acidente para Borgin & Burkes eficara tonto, coberto de fuligem e com os óculos quebrados, Harry estava agora intacto e no lugar certo. Ao abrir os olhos, se deparou com a cena que tinha absoluta certeza de que nunca cansaria de apreciar: a da belíssima locomotiva escarlate que o levava diretamente para Hogwarts todos os anos.


A fumaça se dispersava sobre as cabeças das pessoas que conversavam, enquanto gatos de todas as cores trançavam por entre as pernas delas. Corujas piavam umas para as outras, descontentes, sobrepondo-se à balbúrdia e ao barulho das malas pesadas que eram arrastadas.


Aos poucos, cada um que se encontrava na Toca, chegava e se juntava a Harry para esperar os próximos que viriam até a Sra. Weasley, que fora a última dos cinco.


Gina e Hermione fizeram uma longa despedida com seus respectivos namorados, com direito a muitos beijos e a um abraço bem demorado. Quando faltavam três minutos para o trem partir, Harry e Rony ajudaram as garotas a colocarem todas as malas no último compartimento que estava vago.


─ Então é isso... Vemos vocês no natal. ─ disse Hermione pela janela, quando os garotos já se encontravam fora do trem; era perceptível que estava segurando para não chorar.


─ Não teria tanta certeza disso... ─ cochichou Rony rindo para Harry.


─ O que você quer dizer com isso? ─ perguntou Hermione, parecendo confusa.


O trem começou a andar.


─ Nada não. Boa viagem! ─ gritou Rony, acenando para as garotas que, a cada segundo, ficavam mais distantes.


O último vestígio da fumaça sumiu no ar do outono. O trem fez a curva. Harry ainda tinha a mão erguida, se despedindo.


─ Não fique assim, garotos, elas vão ficar bem... E sabem muito bem se virarem sozinhas. ─ murmurou a Sra. Weasley, após terminar a conversa com a avó de Neville.


Harry abaixou a mão distraidamente e tocou a cicatriz em forma de raio em sua testa.


─ Sei disso. Afinal, temos uma grande surpresa para elas mais tarde... ─ sussurrou Harry para Rony.


─ Exatamente. ─ afirmou ele em um tom entusiasmado.


─ Vamos embora? ─ perguntou a Sra. Weasley com pressa. ─ Preciso preparar o almoço, Carlinhos vem finalmente nos visitar!


Ao decorrer disso, Hermione e Gina terminavam de se acomodar na cabine onde escolheram ficar instaladas.


─ Caramba! Acabei de me lembrar! Será que ainda continuo sendo monitora? ─ indagou Hermione estupefata.


─ Continua sim. Se tornou monitora-chefe, junto comigo! E, a propósito, Gina, você é a nova capitã do time de Quadribol da Grifinória! ─ exclamou uma voz masculina muito familiar, vinda de fora da cabine semiaberta.


─ Neville! ─ gritaram as duas em coro, correndo para abraçá-lo.


─ Mas o que faz aqui? ─ quis saber Hermione extasiada. ─ Você já fez o sétimo ano...


─ Ué, Gina não te contou?


─ Me contou o quê?


Gina ficara imóvel com os olhos ligeiramente arregalados devido ao susto. Não esperava ter que contar para Hermione tão cedo. Passado um momento de longo e agoniante silêncio, Gina notou que os dois a encaravam esperando que ela se pronunciasse, e, percebendo que não havia outra alternativa, começou a falar com um ar deprimido:


─ Que todos os alunos que estavam em Hogwarts terão que repetir o ano que fizeram...


─ Espera aí, o que foi que disse?! ─ Hermione estava apavorada. ─ Por que você não me avisou isso antes?!


─ Me perdoe! Eu tinha medo de te magoar! Você estava tão feliz em saber que iríamos para o sétimo ano juntas, que estudaríamos juntas...


─ Mas isso não faz o menor sentido! Por que ter que repetir todo o ano letivo?


─ Isso faz todo o sentido do mundo. ─ afirmou Neville para Hermione. ─ Repare bem: ninguém teve Defesa Contra as Artes das Trevas no último ano e sim a própria Arte das Trevas. Nós não concluímos o nosso estudo desde a batalha e ainda faltavam dois meses para o fim. E isso sem falar que as notas nas disciplinas eram totalmente injustas. Os professores ficavam muito intimidados com a presença dos comensais, por isso não conseguiam lecionar e dar aulas direito. Era tudo horrível. Definitivamente foi o meu pior ano em Hogwarts...


─ Nossa... Eu não... Não fazia ideia da gravidade da situação... Imagine quantos alunos do primeiro ano vamos ter este ano. Serão somados os do ano passado e os novos que entram este ano!


─ Pois é... Mas mudando de assunto, me conta mais sobre essa tal de J.K. Rowling!


─ O QUÊ?! Como é que você soube disso?


─ Ah, fala sério, todo mundo já conhece ela! Não se fala em outra coisa no mundo bruxo. Eu só não posso crer que vocês não me contaram sobre nada disso quando fui no aniversário do Harry!


─ Espera um minuto aí. Não me diga que você já leu os livros...


─ É claro que sim! Aliás, dou mérito a essa escritora por ter descrito precisamente o mané que eu era! ─ exclamou Neville, rindo alto. ─ Foi hilário ler sobre mim!


─ Não seja tolo, Neville. Você continua um mané. ─ brincou Gina, dando gargalhadas junto com ele. ─ Ei, vocês dois não deveriam estar fazendo uma coisa muito importante agora não? ─ perguntou ela, parando de rir.


─ Meu Deus! É verdade! Neville, temos que ir para os vagões dos monitores para distribuirmos as tarefas a eles! Precisamos ir agora! Mas não pensem que este assunto morreu por aqui! ─ exclamou Hermione agitada. ─ Gina, você vai ficar bem aí sozinha?


─ Sim, é claro. Eu vou procurar Luna. Você a viu, Neville?


─ Ainda não... Vem com a gente. Talvez nós a encontremos no caminho.


─ Ok.


Eles avançaram com dificuldade pelo corredor, espiando pelas vidraças das cabines à procura de Luna. À medida que andavam, Hermione encontrava muitos rostos conhecidos, mas por estar com pressa, não parou para cumprimentá-los. Só depois de cinco vagões consecutivos, lá estava a garota: com cabelos louros até a cintura, sozinha em uma cabine, lendo sossegada o seu O Pasquim de cabeça para baixo.


─ Luna! ─ exclamaram os três juntos.


─ Não nos vemos desde a festa de aniversário do Harry... ─ disse Hermione.


─ É muito bom ver vocês. ─ falou Luna com aquele olhar saltado, demonstrando infinita surpresa. ─ Por favor, entrem.


─ Me desculpe, mas agora não dá. Eu e Neville precisamos nos juntar com o resto dos monitores, mas voltamos mais tarde. E, Gina, se formos ficar aqui, você precisa trazer nossa bagagem para cá...


─ Pode deixar. Eu peço à Luna para me ajudar.


Enquanto o trem ia deixando Londres, Gina e Luna conversavam. Agora corriam por vastos campos verdes cheios de vacas, cavalos e carneiros. Elas relembraram o sufoco que cada uma passou na última vez que estiveram em Hogwarts e revelaram estarem bastante ansiosas para verem como ficou a total reforma do grande castelo. Quando o assunto para a conversa pareceu ter morrido, as duas ficaram caladas por um tempo, contemplando os morros e as estradinhas passarem num lampejo.


Hermione e Neville retornaram à cabine de Luna quando já era perto do meio-dia, chegando bem na hora do almoço.


O clima permaneceu indefinido à medida que rumavam sempre para o norte. A chuva salpicou as janelas de má vontade, depois o sol fez uma pálida aparição e logo as nuvens o encobriram.


─ Harry e Rony vão fazer muita falta este ano... ─ disse Neville, visando quebrar o silêncio que ficara na cabine por quase uma hora inteira.


─ É... vão mesmo... ─ falava Luna, guardando a revista repentinamente.


Hermione contou para Neville sobre o que tinha achado dos novos monitores. Já Neville aproveitou para informar a ela quais dos alunos da Grifinória estariam presentes naquele ano.


Quando tudo estava quieto, escutando-se meramente o trem passando pelos trilhos, eis que Luna surpreende a todos. Inesperadamente, ela pega de sua bolsa um livro, contudo, não era um livro qualquer, era “Harry Potter e a Câmara Secreta”! E, como se não percebesse a perplexidade de Hermione, Gina e Neville, Luna abriu o livro e começou a ler, tranquilamente.


─ Ah... Luna...


─ Hum... ─ Luna, a princípio, não parecia ter ouvido Hermione chamá-la, pois ainda continuava lendo. ─ Oi, que houve? Há algo de errado? ─ perguntou ela, parando de olhar o livro para agora passar a encarar Hermione.


─ Não, é que... Você está lendo...


─ Oh, sim. Se chama Harry Potter e a não sei o que secreta. Eu super recomendo a vocês lerem, é bem legal...


─ Bem legal? É a nossa história! ─ exclamou Gina atordoada.


─ Desculpe... ─ Luna enrugou a testa interrogativamente, como se não tivesse entendido. ─ O que vocês querem dizer com isso?


─ Esse livro é sobre nós, Luna. Todos nós! É a nossa história! Você não tinha percebido isso? ─ indagou Neville indignado.


─ Hm... Faz sentido.


─ É óbvio que faz sentido, Luna! ─ Hermione estava totalmente transtornada. ─ Pelo amor de Deus! Não é possível. Só de ler o título na capa... Olha só, leia: H-A-R-R-Y P-O-T-T-E-R. Não te lembra alguém?!


─ Sim, o nosso amigo Harry Potter, estou certa? Mas eu achei que não somente o nome dele, como o de todos que me parecem familiares aqui, foram inventados por essa escritora e que, por pura coincidência, foram os de vocês...


─ E como você explica a autora ter, segundo você, ter inventado coincidentemente, a escola de Hogwarts, o Beco Diagonal, Gringotes, o Olivaras e entre tantos outros lugares?


─ Não sei. Talvez ela seja vidente, irmã da Professora Trelawney?


─ Não, Luna... Você... Ai, desisto! Tentem vocês. ─ disse Hermione em voz alta.


─ Luna, ouça bem. ─ Gina começou a falar placidamente. ─ Dumbledore enviou uma missão para Hermione. Esta missão consistia em ela ter que arranjar uma escritora trouxa para que esta pudesse escrever e publicar, em sete livros, toda a história do Harry. Deste modo, o mundo todo, não só os bruxos como também os trouxas, saberão sobre a vida dele. Isso tudo que você leu, realmente aconteceu. Inclusive, neste livro aí, você vai ver a boba que eu fui em ter sido dominada por um simples diário idiota.


─ Ah... Então quer dizer que... Aaaahhh... Interessante, muito interessante. Mas... Por que eu não apareço em nenhum deles?


─ Paciência. Você vai aparecer em breve, mas só quando estivermos no quinto livro, que será quando nós nos conhecemos. ─ explicou Hermione, recuperando a serenidade em sua voz.


─ É sério que você, Harry e Rony passaram por tudo aquilo no primeiro livro? Nossa, eu não sabia que vocês tiveram que enfrentar tanta coisa assim com apenas onze anos. Queria te parabenizar pelo esplêndido uso da lógica naquele desafio com todas aquelas poções, Hermione. Foi impressionante. Eu acabei de ler aqui que você conseguiu preparar uma poção Polissuco perfeitamente... Aos doze anos de idade! Isto é admirável. Ainda acho que se daria muitíssimo bem na Corvinal. ─ disse Luna, enquanto os outros demonstravam expressões indecifráveis. ─ Agora se não se incomodarem, continuarei lendo para descobrir o motivo de você não ter ido junto de Harry e Rony para extrair informações do Malfoy sobre quem é o Herdeiro de Salazar Slytherin... ─ falou ela, voltando a pôr o livro a cobrir toda a área do rosto.


─ Obrigada, Luna. É muito gentil da sua parte dizer isso. ─ agradeceu Hermione lisonjeada. ─ E... A causa de eu não ter ido foi... Ah, bem... Não fui muito esperta como você pensa... Só peço que não me interprete mal quando souber que usei o pelo do...


─ Eu acho melhor nos trocarmos agora. ─ disse Neville subitamente. Ele e Hermione prenderam no peito os distintivos de monitor.


O céu já ia anoitecendo e as luzes foram acesas nos carros, Hermione descansava sentada com a testa encostada na janela do trem, tentando captar um vislumbre distante de Hogwarts, mas era uma noite sem luar e a janela riscada de chuva estava suja.


Finalmente o trem começou a reduzir a velocidade e eles ouviram a estardalhaço que sempre havia quando os alunos corriam a preparar a bagagem e os animais de estimação para o desembarque. Luna enrolou O Pasquim e guardou o livro cuidadosamente na mochila. Como Neville e Hermione deviam supervisionar a movimentação, eles desapareceram da cabine, deixando Gina e Luna para cuidarem de Bichento e da exótica Mímbulus mimbletonia.


Quando Hermione pôs o pé para fora da locomotiva e pisou no chão firme da pequena plataforma, sentira o impacto do ar noturno em seu rosto ao engrossar a confusão de alunos no corredor. Inspirou profundamente o cheiro dos pinheiros que ladeavam a trilha até o lago.


─ Alunos do primeiro ano! Primeiro ano aqui! Tudo bem, Hermione?


O rosto grande e peludo de Rúbeo Hagrid sorria por cima de um mar de cabeças.


─ Um pouco mal por Harry e Rony não estarem aqui comigo, mas fora isso, estou ótima.


─ Que bom ouvir isso... ─ disse ele, sorrindo levemente para Hermione e voltando a organizar os alunos. ─ Venham comigo. Mais alguém do primeiro ano?


Aos escorregões e tropeços, eles seguiram Hagrid por um caminho de aparência íngreme e estreita.


De repente, passou pela cabeça de Hermione diversas lembranças marcantes que vivera naquele lugar tão comumente conhecido que, agora, se encontrava inteiramente reformado. Ela se deixou impelir para a estrada escura e lavada de chuva, à saída da Estação de Hogsmeade. Aguardavam-se mais ou menos cem carruagens com os testrálios (que, infelizmente, depois de tantas mortes ocorridas na batalha, quase todos os estudantes já conseguiam enxergá-los). Hermione deu uma olhada rápida e afastou-se um pouco para vigiar a chegada dos amigos.


Balançando com estrondo, as carruagens avançaram em comboio até a estrada. Eles cruzaram os altos pilares de pedra com os javalis alados, que ladeavam o portão para os terrenos da escola. Estavam na mais completa penumbra. Passou-se um curto intervalo de tempo e lá estava ele. O imenso castelo se aproximava cada vez mais: encarrapitado no alto de um penhasco, um conjunto altaneiro de torreões, muito negro, com muitas torres e torrinhas, cintilando no céu estrelado, em que resplandecia, alaranjada, aqui e ali, uma janela no alto.


As carruagens pararam, tilintando, perto da escadaria de pedra que levava às portas de carvalho, sendo Hermione a primeira a descer. E, exibindo um prazeroso e satisfeito sorriso no rosto, disse alegremente para si mesma:


─ Lar doce lar...

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