XXI



– Lorcan gostava de você. Isso foi uma vingança pessoal por você desprezá-lo tanto.


Essas foram as palavras de Lysander, que se aproximou sorrateiramente de Rose enquanto aqueles que não tinham conhecimento do acordo envolvendo a Weasley e o Malfoy estavam embasbacados. Rose tinha perdido toda a cor do rosto e a suave pressão que os dedos de Scorpius faziam nos seus não a acalmavam em nada.


Malfoy, por sua vez, se via perdido. Tinha arquitetado o momento perfeito para admitir a Rose que o acordo entre os dois tinha acabado e que ele a amava de verdade, porém, ninguém mais acreditaria em nada do que dissessem. Quando seu olhar cruzou com os olhos gélidos de Draco, Scorpius soube a encrenca em que havia se metido. E que se ajoelhar e jurar que as coisas entre os dois tinham mudado não resolveria nada.


O choque da descoberta ainda estava visível em todos os rostos, porém, aqueles que sabiam de tudo alternavam olhares furiosos na direção de Lysander, que começava a se afastar do grupo com um sorriso de pura satisfação no rosto. Nem mesmo Hugo conseguia acreditar na confusão que Lysander tinha armado.


Completamente fora de si, Lilian acabou cedendo ao impulso que controlava desde que Lysander havia cruzado seu caminho pela primeira vez. Sem pensar muito na conseqüência de seus atos, ela deu três longas passadas e puxou a rival pelos cabelos, que gritou enlouquecida. Logo após, Lilian sentou sobre ela e sentiu prazer ao poder amassar a cara de Lysander de tapas sem que essa pouco, ou nada, pudesse fazer.


A confusão recomeçou e, daquela vez, até o Primeiro Ministro se levantou de onde estava e marchou na direção do burburinho. Os mais velhos – incluindo os pais dos envolvidos – ainda estavam tentando digerir o que acontecia, de modo que Anthony e Albus foram os responsáveis por tentar afastar a garota que estava bastante empenhada em sua tarefa de arrancar todos os fios de cabelo da Scamander.


– Lilian! – Berrou Zabine a plenos pulmões enquanto tentava puxá-la pela cintura. – Larga ela, Lilian!


– Eu não vou largar essa vaca! – Lilian gritou de volta, porém Anthony, sendo bem mais forte que ela, conseguiu puxá-la ao mesmo tempo em que Albus puxou Lysander debaixo dela.


– Sua louca! – Berrou a Scamander. – Eu vou acabar com você! Não agüenta o fato de que perdeu Hugo para mim! Sua recalcada!


– Cale a boca vadia! Você não tem a mínima moral pra, sequer falar comigo! – Lilian gritou se debatendo nos braços do irmão. – Me solta Anthony!


Foi necessária muita força por parte dos dois garotos para segurar as duas e Dominique precisou se meter no meio para que elas parassem de tentar se acertar. Não que ela estivesse defendendo Lysander, pelo contrário, mas as coisas já estavam complicadas demais para Lilian arranjar ainda mais problemas.


Para complicar ainda mais a situação, o Primeiro Ministro se aproximou de Harry Potter e sussurrou algo em seu ouvido. Aproveitando a apreensão de Anthony, que tentava fazer alguma espécie de leitura labial, Lilian se soltou dos braços dele e partiu para cima de Lysander outra vez.


O tapa foi certeiro e bem dado, mas não se repetiu. Isso porque quem segurou a filha dessa vez foi a própria Gina Potter, coberta por uma máscara de vergonha e descrença pelo que a filha estava fazendo.


– Você vai parar com esse show e vai parar agora. – Gina sussurrou na direção da menina, que pareceu se encolher. – O que é que você tem na cabeça, Lilian?


– Mas mãe, eu...


– Não quero suas explicações. – A mãe cortou duramente. – Vamos conversar em casa, quando não estivermos lavando roupa-suja na frente de todo o mundo mágico.


Lilian se calou diante daquilo e, pouco depois, Harry se aproximou.


– É melhor irmos embora. – Gina falou ao marido, que assentiu.


– O Ministro pediu, gentilmente, que fossemos resolver nossos problemas familiares em casa. – Harry falou olhando acusatoriamente para os adolescentes envolvidos em toda a confusão daquela noite. – Espero que estejam satisfeitos.


A família Potter foi a primeira a partir e Lilian, mesmo estando bem segura pela mãe, lançou um olhar de pura mágoa a Hugo, fazendo com que ele percebesse que ela não ia esquecer o que ele fizera tão cedo.


Os Malfoy foram os próximos.


– Está esperando o que para nos acompanhar, Scorpius? – Draco perguntou duro como uma pedra.


Scorpius quis explicar o que estava acontecendo, quis fazer um discurso sobre seus sentimentos por Rose, mas, como sempre, não falou aquilo que tinha planejado.


– Pai, eu a amo.


Draco e Ronald se uniram nas risadas banhadas em ironia, enquanto Rose o olhava com o coração sobressaltado.


– Não perca seu tempo tentando nos enganar de novo Hyperion. – Foi a voz de Astoria que ecoou, mais magoada do que zangada, para a tortura de Rose e Scorpius. – Vamos resolver isso em casa. Vamos Scorpius, não me faça arrastar você pelas orelhas ou lhe dar as palmadas que deveria ter lhe dado quando criança.


Sem alternativa, Scorpius soltou-se das mãos de Rose e se afastou, não sem antes olhar para a garota que, claramente, viu seus lábios formarem a frase “mais tarde eu escrevo.” Ela sorriu por um breve momento, esperançosa para que tudo acabasse bem, porém, sentiu seu corpo todo ficar mole quando encontrou os olhos do pai e da mãe.


– Eu poderia esperar isso de qualquer pessoa, menos de você. – Hermione passou por ela, fazendo Rose sentir suas palavras atravessarem-na como navalhas afiadas.


O pai, estranhamente, não lhe disse nada. Apenas empurrou delicadamente para frente a fim de que pudessem aparatar logo e fugir dos olhares curiosos.


Hugo começava a caminhar para se juntar a eles, visto que não podia aparatar sozinho, porém as mãos delicadas de Lysander o interromperam por alguns segundos. A garota, que estava com o vestido rasgado e os cabelos desajeitados, abriu a boca para se explicar, mas ele não estava disposto a ouvi-la.


– Não tente se justificar, não foi justo da sua parte. – Hugo resmungou e Lysander o olhou com os olhos marejados.


– Você não se via capaz de contar a Potter, eu tive que agir! – Lysander tentou falar, mas voz estava embargada.


– Mostrando pra ela as correspondências que trocamos? – Questionou Hugo incrédulo. – Era eu quem deveria fazer isso e de um modo que Lilian não saísse magoada dessa história!


– Esse é o seu problema, você se preocupa mais com ela do que comigo! – Brigou Lysander, inconformada. – Eu sempre gostei de você, sempre! Mas você nunca me dava atenção porque estava ocupado demais com a Lilian! Tinha coisas pra fazer com a Lilian, tinha que falar com a Lilian. SEMPRE A LILIAN E NUNCA EU! Como acha que eu me sentia? Como acha que eu me sinto?


Hugo passou as mãos pelo cabelo completamente nervoso, sentindo a boca secar.


– Tudo bem, partindo do principio que eu acredite no que você diz. – Ele estreitou os olhos na direção dela. – O que Rose tinha a ver com essa sujeirada toda que é a nossa relação? Por que você fez aquilo?


– Sua irmã não é nenhuma santa. – Resmungou Lysander prontamente. – Sabe quantas vezes meu irmão chorava pelos cantos por causa dessa maldita? Ele realmente gosta dela, enquanto a sua querida irmã o esnoba sempre que tem a oportunidade! Lorcan precisava saber da verdade!


– Mas ela não gosta dele! Caramba Lysander, metade de Hogwarts sabe que Rose e Scorpius reprimem o que sentem há anos!


Lysander tinha mais argumentos, provavelmente iria dizer que Malfoy nunca agüentaria o fardo de um relacionamento e que Lorcan merecia ser feliz, mas se interrompeu ao ouvir a voz de Hermione, que ainda estava no local apenas esperando por Hugo.


– Hugo, por favor, vamos logo. – Ela chamou.


Ele, por sua vez, pensou em várias coisas para dizer a Lysander, porém, desistiu. Sua mente se tornou uma confusão e, embora soubesse, agora, que seu coração era dela, Hugo não queria aceitar que havia se apaixonado por alguém tão egoísta quanto Lysander. Ele havia magoado Lilian, sua prima e melhor amiga, por causa dela. Não era justo.


Ignorando os protestos e gritos dela, Hugo simplesmente se afastou em direção a mãe aparatou em casa.


Talvez, no silêncio de seu quarto, conseguisse colocar a cabeça no lugar.


**


– Estou esperando uma resposta, Scorpius. – Astoria bateu os pés impacientemente no tapete da sala. – Por que mentiu para nós dessa maneira?


Draco, por alguma razão, tinha sumido logo depois que eles aparataram em casa, mas Scorpius não escapou dos interrogatórios. Astoria Malfoy realmente gostava de Rose e estava inconformada por seu filho e aquela garota terem tido coragem de enganá-los.


– Mãe, nós não temos mais um acordo! – Scorpius tentou se explicar ganhando um olhar duvidoso da mãe. – Eu ia me acertar com ela essa noite!


Astoria encarava o filho ainda sem acreditar.


– Está querendo me convencer que você se apaixonou pela garota que, junto com você, enganou a sua família e mais um monte de gente? Scorpius, eu sou uma mulher adulta, não vou cair na sua conversa fiada! Fale a verdade!


– Eu estou falando a verdade! – Berrou Scorpius perdendo a calma. – Nós começamos errado, eu admito, mas eu estou falando sério. Eu me apaixonei por ela!


– E suponho que, por amá-la, iria devolver o dinheiro que ela lhe pagou, certo? – A voz de Draco ecoou e Scorpius se virou para ver o pai descendo as escadas com o dinheiro do adiantamento que Rose havia lhe dado.


Envergonhado, Scorpius abaixou a cabeça.


– Quanto tem aí, Draco? – Astoria questionou alarmada.


– Pergunte ao seu filho. – Ele respondeu olhando efusivamente para Scorpius, que engoliu em seco.


– Você ouviu seu pai! – Astoria elevou a voz. – É melhor você contar tudo de uma vez. E saiba que eu vou descobrir se você mentir.


Scorpius respirou fundo e, após alguns segundos, acabou cedendo e contando toda a verdade, desde o encontro em que Rose sugeriu o acordo até a noite em que trocaram correspondências. Mas seus pais não ficaram interessados no contexto romântico de sua história, porque tudo o que eles falaram depois do breve relato de Scorpius foi acerca da recompensa que Scorpius receberia.


–300 galeões, Scorpius? – Astoria bradou indignada e, ao mesmo tempo, se perguntando onde a menina tinha arranjado aquela quantia. – O que você iria fazer com esse dinheiro que não podia pedir a nós? – questionou ela chorosa.


Scorpius não se viu capaz de dar a resposta, mas Draco já a conhecia.


– Uma vassoura nova. – Ele falou. – Seu filho achou mais fácil mentir para os pais do que se empenhar na escola e garantir boas notas, para que eu voltasse a patrociná-lo.


Astoria olhou para Scorpius incrédula e, sem saber o que dizer, se retirou da sala. Draco Malfoy, inflexível e sem querer ouvir qualquer argumento que o filho pudesse ter, anunciou que mandaria uma carta para Hogwarts imediatamente avisando o diretor da casa de Sonserina – Horacio Slughorn – de que o filho estava terminantemente fora do time de quadribol. Sem a mínima possibilidade de volta.


E Scorpius Malfoy se sentiu um derrotado. Com toda a certeza, doeu nele saber que sua carreira no quadribol estava arruinada antes mesmo de começar. Mas a decepção e a mágoa que seus pais demonstraram doeram bem mais do que ele imaginou que poderia doer.


**


Na casa dos Weasley, estranhamente Ronald permanecia calado enquanto Hermione tecia um sermão memorável sobre confiança e não contar mentiras. Para a surpresa de Rose, seu pai se mostrou mais compreensivo do que a mãe, que simplesmente não conseguia admitir que a filha havia mentido de forma tão descarada para todos eles.


Em sua mente, ela sempre imaginou que se ela e Scorpius fossem descobertos algum dia – como de fato foram – a bronca ficaria por conta de Ronald Weasley. Porém, as coisas não aconteceram como ela previa, exatamente como sempre, e era Hermione quem estava comandando um sermão, que mais tarde, seria classificado pela própria Rose como “o sermão do século”.


Depois de um longo discurso sobre as atitudes impensadas da filha, Hermione afirmou que entraria em contato com Hogwarts para proibir todas as atividades extracurriculares da garota – inclusive os passeios a Hogsmead – por tempo indeterminado. Rose acatou tudo em silêncio, se permitindo chorar algumas vezes, principalmente quando a mãe afirmou que estava profundamente decepcionada com o comportamento da filha sempre tão exemplar.


– E nem pense em tentar se corresponder com aquele menino. – A mãe advertiu com a voz embargada. – A correspondência será vigiada até a sua volta para Hogwarts.


Logo após dizer tudo o que precisava ser dito, Hermione despachou a filha para o quarto, escondendo o rosto de Rose e Ron para que não a vissem chorar.


Sentindo-se o ser humano mais horrível de todos, Rose marchou para o quarto de cabeça baixa e trancou-se lá dentro. Tinha pensado em ir até o quarto do irmão para ter alguma companhia, mas Hugo tinha os problemas dele para resolver e ela, depressiva demais, achou melhor se trancar no próprio quarto. Não seria uma boa companhia para ninguém.


Rose passou todo o dia seguinte em casa.


Não teve ânimo para almoçar na casa da avó naquele ano e, como Hermione não insistiu, ela ficou em casa. Aproveitando a solidão em que se encontrava, ela até pensou em mandar uma carta para Scorpius, mas acabou não enviando nada. Conhecendo a mãe que tinha, Rose sabia que Hermione tinha arranjado um jeito de a filha não sair da linha enquanto estivesse fora.


Já passava das duas tarde quando a lareira da sala se acendeu. Ela estava sentada no sofá, fazendo um lanche e folhando um livro sem grande interesse. Acabou se surpreendendo ao ver o pai tirando as cinzas da roupa e olhando para ela com certo pesar.


Rose estranhou quando ele estendeu para ela um embrulho amarelo e sentou-se ao seu lado.


– Sua avó não acha certo que você fique sem as tortinha de abóbora dela em pleno primeiro do ano. – Ele sorriu apontando para o pacote que Rose tinha nas mãos. A garota sorriu.


– Obrigada papai, mas podia ter me entregado quando voltasse para casa com a mamãe.


A expressão culpada de Rose cortou o coração de Ron, que retirou delicadamente o pacote que Molly havia enviado para a neta, segurando suas mãos.


– As tortinhas eram uma desculpa para eu falar com você sem que sua mãe estivesse por perto. – Ele admitiu um pouco envergonhado. – Você sabe como sua mãe é, ficaria me criticando e me interrompendo o tempo todo.


– Quer falar comigo? – Rose questionou um tanto surpresa.


Ronald sorriu tímido.


– Eu precisava pedir desculpas a você, afinal, se você fez o que fez, eu tenho parte nisso.


– Pai não...


– Por favor, Rose, não diga que não sou culpado, porque sabe que eu sou. – Resmungou Ronald um tanto incomodado por ter que admitir que era um ser humano e também errava.


– Mas você só queria o meu bem. Lorcan era o garoto que você conhecia e confiava, seu afilhado preferido. Eu entendo. – Rose consolou com a voz baixa e branda.


– Mas eu não deveria ter insistido. Eu deveria ter deixado você tomar suas próprias decisões, não deveria ter me metido. – Admitiu Ron, já com as faces tomadas pela cor vermelha. – Se eu não tivesse praticamente obrigado você a ficar com Lorcan, você não teria inventado essa mentira monstruosa.


Rose sorriu para o pai, sem ter como desmentir essa última parte.


– Não importa mais, papai. Vamos esquecer isso, afinal, o meu golpe foi descoberto e se tem alguém culpada aqui, esse alguém sou eu. Eu deveria ter conversado e sido sincera tanto com você quanto com Lorcan. Mas mentir parecia ser tão mais fácil. – Rose falou sentindo as lágrimas virem aos olhos. – Agora Lorcan deve me odiar, assim como você e a mamãe. E, ainda por cima, envergonhei a família toda em um baile do Ministério e Scorpius deve estar em maus lençóis com a família também. Tudo por minha culpa.


Ronald vendo os olhos da filha se transbordarem em lágrimas, a puxou para um abraço. Ficaram imensos minutos daquele jeito, apenas se consolando. E foi naquele momento que Rose percebeu o tamanho da intimidade que tinha com o pai. No final, ela percebeu que eles tinham uma ligação muito maior do que ela pensou e que, talvez, se tivesse percebido antes, teria evitado tudo o que aconteceu.


– Lorcan não te odeia, só está um pouco chateado, mas logo vai passar. – Ele sussurrou no ouvido da filha. – E quanto ao escândalo no Ministério, não se preocupe com isso. A culpa está sendo igualmente distribuída entre todos os envolvidos. – Ele comentou ao se recordar do cansaço de Gina e Harry, que tinham conversado quase a madrugada toda com seus filhos. – E sua mãe e eu não também não odiamos você.


– Como podem não odiar depois que souberam de tudo? – Questionou Rose se afastando e tentando enxugar os olhos com a manga do casaco de lã. – Mamãe estava certa por me castigar de todas aquelas formas.


– É claro que sua mãe estava certa, afinal, o que você fez não foi nem um pouco bonito. – Advertiu Ronald, fazendo a filha baixar os olhos novamente. – Mas ódio é uma palavra forte demais. Estamos apenas surpresos e decepcionados. Você sempre foi o exemplo perfeito de boa aluna e boa filha, precisa entender que para mim e sua mãe, na condição de pais, é difícil perceber que, apesar de ser excelente em tudo o que faz, você é uma adolescente propensa a erros.


– Mamãe ainda está muito brava? – Questionou Rose um tempo depois.


Ronald franziu o rosto, sem saber como dar aquela resposta.


– Um pouco. – Ele resmungou e, ao notar o olhar da menina completou. – Mas você volta para Hogwarts amanhã. Acerte toda a prova de Runas Antigas e ela esquece logo.


E Rose Weasley sorriu diante do bom humor do pai. Assim, pensou ela, era muito mais fácil enfrentar os problemas que tinha para resolver. E, por falar em problemas, ela acabou se lembrando de outro mal resolvido.


– Papai, você acreditaria em mim se eu dissesse que Scorpius e eu estávamos realmente nos acertando?


Ronald pensou por alguns instantes, olhando intrigado para a filha, mas por fim, sorriu. Em seguida, tirou a varinha do bolso do casaco que vestia e conjurou um feitiço. Em questão de segundos, três envelopes vieram voando pela escada e pararam nas mãos de Ronald, que não hesitou em entregá-los a filha.


– O que é isso? – Ela perguntou, embora reconhecesse o brasão estampado nos envelopes.


– São pra você, ele mandou ontem à noite. – Ronald respondeu em meio a uma careta. – Hermione confiscou as corujas que ele mandou e nós acabamos lendo o que elas diziam, desculpe.


Rose sentiu a face aquecer diante da confissão do pai. Sinceramente, ela esperava que Scorpius não tivesse escrito nenhuma bobagem.


– Obrigada, eu acho. – Ela respondeu incerta. – Isso significa que você acredita no que eu disse?


– Acho que você e Scorpius não tinham como adivinhar que eu sua mãe leríamos as cartas. – Ele avaliou. – Então, com imenso desgosto, digo que acredito.


Rose sorriu e abraçou o pai com os olhos cheios de lágrimas novamente.


– Só não responda nenhuma das cartas dele, sua mãe colocou feitiços detectores por toda a parte. – Advertiu Ron ao se afastar da filha, que ainda estava emocionada. – E não se preocupe com Scorpius, tenho certeza que as coisas entre vocês vão se acertar.


Apesar de rubra, Rose acabou admitindo ao pai um de seus maiores temores.


– Tenho medo de que ele esqueça tudo, agora que está livre do acordo.


– Não seja boba, criança. – Ronald sorriu para a filha enquanto lhe tirava uma mecha de cabelo do rosto. – Leia o que ele escreveu e vai perceber que, no final das contas, ele gosta de você. – Um pouco assustado com as próprias palavras, Ron implorou a filha logo em seguida – Nunca diga a ele que eu o defendi, okay?


Rose riu do pai, mas concordou, afinal, ela também achava divertido ver Scorpius assustado com alguma coisa.


Logo depois, Ronald se levantou e, com um beijo na testa da filha se despediu, afinal, se demorasse muito, Hermione viria atrás dele e ele não queria aquilo. Quanto a Rose, o que restou a ela, no final das contas, foi se trancar no quarto e se deliciar com as palavras doces de Scorpius, que parecia realmente preocupado com ela.


Resistiu bravamente ao impulso de responder as correspondências, porém, guardou as três cartas embaixo do travesseiro antes de dormir. Afinal, aquela era a única maneira que ela encontrou de se ver perto dele naquele dia tão difícil.


**


– Hugo, eu já disse que não quero falar com você! – Sibilou Lilian Luna Potter, tentando se esquivar do primo nos jardins da casa da avó.


– Por favor, Lilian, deixa eu me explicar! – Implorou Hugo, puxando-a pelo braço a trazendo para perto de si. – Somos melhores amigos, lembra?


Lilian sorriu amargamente na direção do primo e puxou o braço com violência.


– Eu me lembro, mas você deveria ter se lembrado disso antes de me dar falsas esperanças!


Hugo Weasley passou as mãos pelo cabelo nervosamente quase arrancando os fios e, em seguida, jogou-se no chão, debaixo de uma grande árvore onde ele e Lilian costumavam brincar quando crianças.


– Eu sei que eu fui um estúpido e que eu deveria deixar de ser tão impulsivo, mas eu não consigo, ta legal? – Desabafou Hugo, deixando Lilian um pouco surpresa. – Eu realmente pensei que pudesse estar gostando de você de outro jeito e eu terminei com Lysander por esse motivo. É verdade.


– Mas não gostava. – Lilian foi impassível. – E não satisfeito com isso, me iludiu e mentiu pra mim. Traiu a minha confiança Hugo, e melhores amigos não fazem isso!


– Por favor, Lilian, eu sei que eu estou errado, que eu magoei você, mas me desculpa. – Ele implorou olhando para ela de onde estava sentado. – Eu estava confuso, devia ter pensado melhor nas coisas.


– Você é um idiota, Hugo. – Lilian resmungou raivosa. – Vivia tendo crises de ciúmes por causa de Anthony, e não se esqueça que foi você quem pediu para tentarmos!


– Eu sei de tudo isso! Eu só confundi tudo, me perdoe. – Ele falou, se levantado e se aproximando de Lilian. – Eu amo você, só não como um homem ama uma mulher.


Lilian sorriu amarga.


– Pena que você precisou me magoar para descobrir isso.


– Lilian eu...


– Escute bem o que eu vou dizer Hugo. – Ela o interrompeu. – Eu vou te desculpar unicamente porque eu não quero ser injusta. Não fui justa com Rose e não quero cometer o mesmo erro. – Ela admitiu e Hugo sorriu, porém, o sorriso do menino durou apenas até Lilian completar o que queria dizer. – Mas não pense que as coisas vão voltar a ser como eram antes. Eu perdôo você, mas isso não vai fazer de nós amigos novamente.


Hugo podia não entender, mas doeu em Lilian dizer aquelas palavras. Ela queria poder dizer a ele que também havia confundido tudo, que não deveria ter se apressado e nem gritado com ele como gritou, porém, ela estava ferida demais para dizer qualquer coisa que não fosse aquilo. Ela sabia que, talvez, eles pudessem voltar a conversar normalmente algum dia. Mas também sabia que a confiança que depositava nele nunca mais seria restaurada e que, provavelmente, os dois não seriam capazes de desenvolver a mesma intimidade de antes.


O preço de confundir a amizade com o amor era muito alto. E Hugo compreendeu isso com o passar dos anos.


**


– Quero suas notas impecáveis esse semestre. E nem pense em burlar as regras da escola ou tentar convencer Horacio a tirar você de seu castigo. – Advertiu Draco pela milionésima vez naquele dia. – Não terá tempo para o quadribol, visto que, além de pedir para lhe tirarem do time, matriculei você em aulas extras de Feitiços e Defesa Contra a Arte das Trevas. Graças a Merlin, consegui encaixar você em uma turma!


Scorpius gemeu no lugar e olhou suplicante em direção a mãe, que apenas sustentou seu olhar de forma impassível, deixando claro que não iria auxiliá-lo daquela vez. Derrotado, Scorpius ajeitou o uniforme que vestira e passou a olhar em volta.


A Estação King Cross estava lotada, mas mesmo assim ele não perdia as esperanças de ver a garota dos seus sonhos em meio a toda aquela gente. Rose não havia respondido nenhuma de suas cartas naquele final de semana e Scorpius estava visivelmente nervoso com o próximo reencontro que ele sabia que seria inevitável.


Um milhão de pensamentos passavam pela sua cabeça, mas, com toda certeza, o que mais o apavorava era aquele que lhe dizia que Rose Weasley havia desistido dele.


As pessoas em volta o olhavam curiosamente e sussurravam, mas ele não se importava. O profeta Diário daqueles dois dias não soube falar de outra coisa senão as confusões que marcaram o baile de final de ano do Ministério, de modo que ninguém conseguia falar de outro assunto.


Cerca de dez minutos depois, Albus se aproximou da família Malfoy. Astoria não pareceu se importar, mas Draco, porém, não conseguiu disfarçar a carranca.


– Não adianta procurar, ela ainda não chegou. – Potter sussurrou na direção dele.


– Ela já devia ter chegado, Rose Weasley nunca se atrasa, lembra?


**


– Isso é tudo culpa sua, Hugo! – Rose bradou irritada enquanto corria pela estação King Cross xingando o irmão que havia dormido demais, fazendo todos perderem a hora.


– Não é pra tanto Rose, nós vamos chegar a tempo! – Retrucou Hugo ofegante, que vinha logo atrás da irmã com os pais em seu encalço.


– A tempo não é o suficiente! – Resmungou Rose insatisfeita. – Eu sou a monitora-chefe! Há essa hora já devia estar dentro do trem!


Rose não notou – porque estava ocupada demais atravessando a passagem que levava à plataforma 9 ¾ - mas Hermione sorriu diante da frase da filha. Tão parecida com o pai na aparência, mas no final das contas, mesmo com os tropeços no meio do caminho, Rose havia puxado algo dela também.


O desastre do final de semana, assim como a mentira descabida de sua filha, ainda estava quente em sua mente. Mas Hermione não estava mais tão chateada quanto estivera na noite anterior.


Sua filha não era perfeita, era um ser humano. E a vida precisou provar isso a Hermione de alguma maneira.


Tudo ficaria bem.


**


A maioria dos estudantes já estava embarcada no trem quando Rose apareceu na estação. Alguns olhares se voltaram para ela, porém, ela fez questão de ignorá-los. Andou rapidamente arrastando o malão pela calçada, dando a desculpa de que só estava assim porque era monitora-chefe e estava atrasada. Grande mentira.


Ela se preocupava com seu cargo, é claro, mas o real motivo para sua pressa era a necessidade que ela sentia de encontrar Scorpius e resolver com ele todos os seus problemas. Porém, na pressa de chegar logo ao trem, acabou se chocando com alguém que vinha no sentido contrário a todo vapor também. Os dois corpos foram lançados ao chão e ela praguejou baixinho.


– Rose? – Uma voz conhecida a chamou e a garota tremeu ao ver em quem tinha esbarrado. – Se machucou?


Ela estranhou a fragilidade na voz de Lilian, mas temendo ser destratada pela prima novamente, se levantou rápido e ajeitou as vestes.


– Não, estou bem Lilian. – Ela respondeu, apanhando o malão. – Só estou atrasada, Hugo dormiu demais.


Lilian sorriu timidamente e Rose surpreendeu. Optou por devolver o sorriso, afinal, quem sabe tudo não poderia se resolver entre elas daquela vez?


– Estou atrasada também, mas porque esqueci meu livro de Poções. – Ela revirou os olhos. – Papai precisou voltar comigo para buscarmos.


O silêncio veio logo depois acompanhado do constrangimento. Duas primas, que eram quase irmãs, se viam como duas estranhas, sem nada mais para falar.


Rose, totalmente desconfortável com a situação, alegou que precisava ir. Totalmente atrapalhada, pegou o malão e o arrastou, mas foi interrompida pela mão de Lilian em seu braço.


– Rose. – Chamou a garota dos Potter. Rose virou-se para ela a fim de descobrir o que ela diria, porém surpreendeu-se com o que ouviu e com os olhos marejados da prima. – Me desculpa?


Weasley e Potter, então, sentiram grossas lágrimas escorrerem por seus rostos. E Rose não pensou duas vezes antes de largar o malão e abrir os braços, mostrando a Lilian que sim, ela a perdoava.


E então, as duas se viram abraçadas, rindo, chorando e pedindo desculpas pelas idiotices que elas fizeram naqueles dias. Acabaram descobrindo que mentiras, quando contadas para o bem uma da outra, são perdoáveis.


E ali, em meio às lágrimas e aos avisos de Hermione e Gina de que o trem iria partir, as duas primas quase irmãs voltaram a ser melhores amigas.


Tudo ficaria bem.


**


Rose Weasley e Lilian Luna Potter foram as últimas a entrarem no expresso de Hogwarts. Às gargalhadas, precisaram da ajuda dos pais para subi-las no transporte que já estava em movimento. Como há tempos não faziam, riram juntas até se acabarem.


Agora, andando pelos corredores a procura de uma cabine vazia, Rose e Lilian colocavam a conversa em dia e a Weasley descobriu que não seria a única castigada naquele semestre.


– Vou ser obrigada a ajudar Hagrid uma vez por semana! – Lilian contava indignada do castigo preparado pelo próprio pai, que fez questão de conversar pessoalmente com o guarda-caças. – Isso fora as aulas extras que mamãe me obrigou a fazer. Não vou ter tempo para respirar esse semestre!


Andando por um corredor que elas sabiam que as levariam direto para os vagões da Sonserina, as duas iam conversando. Lilian não precisou perguntar a Rose o que estava acontecendo ou o porquê de ela querer ir até as cabines da casa verde e prata porque ela já sabia a resposta. Soube o que aconteceria naquele mesmo dia em que Rose lhe contou sobre o acordo.


Afinal, Rose Weasley e Scorpius Malfoy foram feitos na medida certa um para o outro, apenas precisavam de um empurrãozinho do destino.


Tudo ficaria bem.


**


Anthony Zabine andava pelo corredor em busca da cabine em que, certamente, Scorpius e Albus estariam sentados quando cruzou com ela.


A garota Potter sorria acompanhada da quase-namorada de seu melhor amigo e ele, como o idiota que era, se viu sorrindo também. Seu ato foi tão descarado que ele avermelhou quando as duas meninas o perceberam no local.


Rose Weasley, notando que a prima ficou parada como se tivesse sido atingida por um feitiço, sorriu ao perceber que Anthony Zabine estava da mesma maneira. Discretamente, ela se afastou para continuar sua busca sozinha. Aparentemente, Lilian Luna Potter também tinha alguns assuntos pendentes.


Anthony foi o primeiro a sair de seu transe, andando alguns passos. Lilian o observou andar na sua direção apreensiva, porque não sabia o que fazer ou o que dizer.


– Tudo bem Potter? – Anthony se viu questionando e se repreendeu mentalmente por ter sido o primeiro a falar. E por não ter dito nada melhor.


As faces de Lilian coraram.


– Tudo ótimo, Anthony. – Ela respondeu, enfatizando o nome do garoto. – E com você?


Zabine se surpreendeu com o fato de ela continuar o assunto e respondeu que estava tudo bem com ele também. E então, quando o monólogo acabou, ele viu os ombros de Lilian caírem e um sorriso tímido se formar em seus lábios.


– Aproveitando que está aqui, eu queria pedir desculpas. – Lilian falou, pegando Anthony de surpresa. – Não sei exatamente o que eu fiz, mas sei que magoei você e sinto muito por isso.


Anthony Zabine precisou de alguns segundos para se recompor e poder formar uma frase coerente. A atitude dela o surpreendeu de forma positiva, como a muito não ocorria.


Porém, ele não poderia dizer que estava tudo bem, que não havia acontecido nada. E muito menos fazer de conta que não sabia do que ela estava falando. Com toda a certeza, mentir era o caminho mais fácil. Mas o caminho mais fácil, nem sempre é o correto.


– Você sabe que eu gosto de você, não sabe? – Questionou Anthony de supetão. Direto e reto.


Lilian, ao contrário do que ele esperava, não pareceu surpresa. Mas notou que os olhos dela se umedeceram rapidamente.


– Eu já desconfiava, e é por isso que eu peço desculpas.


– Você não precisa se desculpar. – Anthony acrescentou. – Eu ainda acho você irritante e chatinha, apesar de tudo.


A tentativa de Anthony para descontrair aquela conversa quase deu certo, porém, Lilian se recordou da promessa que havia feito para si mesma antes de sair de casa: procurar não machucar mais ninguém com atitudes impensadas. E foi por isso que ela resistiu ao sorriso de Anthony ou ao impulso de se jogar em seus braços.


Ela havia magoado mais gente naquela semana do que muitas pessoas o fazem uma vida toda. E não queria mais correr o risco de fazer o mesmo. Pelo menos não daquela vez.


– E você continua sendo um metido. – Lilian respondeu. – Mas mesmo assim espero que possa me perdoar. Quem sabe não podemos ser amigos?


Anthony não precisou que ela explicasse mais nada porque a palavra “amigos” no meio daquela frase disse tudo o que ele precisava saber. Zabine sorriu na direção dela, com o coração doendo pela rejeição, mas mesmo assim, feliz com a sinceridade dela.


– Não vou desculpar você porque você não me fez nada. – Decretou Anthony. – Está tudo bem.


Em seguida, entendendo o recado, Lilian se aproximou dele e lhe deu um beijo estalado na bochecha.


–Obrigada por entender.


Lilian, em seguida, afastou-se do rapaz voltando pelo corredor em direção aos vagões da Grifinória. Sabia que Rose havia ido atrás de Scorpius e não queria atrapalhar um momento que deveria ser só dos dois.


Anthony, por sua vez, observou-a partir. As coisas entre eles aconteceram de um jeito errado. E a maioria das histórias de amor que não terminam felizes é porque elas simplesmente não aconteceram no tempo certo.


Ele não sabia se conseguiria ser capaz de esperá-la, mas Lilian parecia feliz e aquilo, ao menos naquele momento, lhe bastava.


Tudo ficaria bem.


**


Scorpius Malfoy estava impaciente na cabine em que dividia com Albus. O local, que era bem arejado, lhe parecia rarefeito e seu coração, totalmente incontrolável, tamborilava contra seu peito em uma velocidade absurda. O medo de Rose Weasley não aparecer era tão real que poderia ser palpável.


– Você precisa se acalmar, cara! – Albus tentou falar com Scorpius, que parecia não ouvi-lo. – Rose deve ter se atrasado, deve ter acontecido alguma coisa.


– Aconteceu alguma coisa, sim, Potter. – Scorpius resmungou – Sua prima não vem, sua prima me enganou. Eu sou um idiota!


Albus Potter, irritado com todo aquele nervosismo que exalava do melhor amigo, se perguntou onde Anthony havia se metido e porque não estava ali o ajudando a controlar o Malfoy Apaixonado. Estava quase pegando a varinha a fim de aplicar uma lição em Scorpius, quando a porta da cabine em que estavam se abriu em um rompante.


Diante deles, Rose Weasley estava estática, com o rosto vermelho e os cabelos desalinhados.


Ao seu lado, Scorpius levantou-se de imediato, como se seus olhos não acreditassem no que viam. Notando que os dois ficariam encarando um ao outro por um longo tempo, Potter resolveu pegar a sua capa e sair do lugar, que começava a ficar melado demais. Ele estava sobrando.


– Não que vocês se importem muito, mas eu estou saindo. Esse açúcar todo vai fazer minha diabetes atacar.


Nem Rose, nem Scorpius o notaram, de modo que Albus saiu, sentindo-se estranhamente feliz por se livrar do melhor amigo depressivo. Em seguida, caminhou pelo corredor. Se tivesse um pouco de sorte, talvez encontrasse alguma garota disposta a lhe dar atenção. E se tivesse muita sorte, talvez esbarrasse acidentalmente em Dominique, já que não se falavam desde que ela lhe contara da viagem estúpida que ela queria fazer quando o ano acabasse.


Talvez, se Albus conseguisse surpreendê-la em uma cabine vazia, poderia conseguir fazê-la mudar de idéia.


É, tudo ficaria bem.


**


Rose Weasley tinha o coração completamente descompassado naquele momento. A partir do momento em que deixou Lilian com Anthony, a garota saiu correndo como uma maluca pelos corredores, abrindo todas as portas para ver se encontrava Scorpius em algum lugar.


Porém agora que finalmente tinha o encontrado, ela tinha percebido que não tinha preparado nada para dizer. E o pânico finalmente tomou conta dela.


– Você deveria entrar. – Scorpius sugeriu com a voz meio baixa. Na realidade, ele estava inseguro, mas a voz rouca dele a fez arrepiar de tal modo que logo estava fazendo o que ele lhe pedira.


Sentou-se na poltrona em frente a ele e Scorpius não se via capaz de desgrudar os olhos dela. Ele não sabia o que pensar, quanto mais o que dizer.


– Então, achei que você não vinha mais. – Malfoy comentou um tanto encabulado.


– Hugo acabou dormindo demais e atrasando todo mundo, como sempre. – Rose falou tentando se sentir mais confortável. Tarefa muito difícil, aliás, porque Scorpius simplesmente não era discreto ao olhá-la. – Sentiu saudades, Malfoy?


Isso! Pensou ela. A ironia sempre conseguia mover montanhas.


Scorpius riu, fingindo desdém.


– De você Weasley? Nunca. – Ele respondeu, entrando no jogo dela tão bem que Rose quase acreditou.


– Não? – A ruiva questionou em voz alta, o que não estava em seus planos.


Scorpius riu gostosamente enquanto ela ficava vermelha. Em seguida trocou de lugar, sentando-se ao lado dela.


– Eu estava preocupado com você. – Admitiu Scorpius logo depois de receber um tapa no braço pela brincadeira.


– Eu também estava preocupada com você. – Rose respondeu, sem se sentir envergonhada.


Depois disso, os dois embarcaram em uma conversa demorada, no começo um pouco atrapalhada, é verdade, mas que logo fluiu do mesmo jeito que tudo sempre fluía entre eles: naturalmente.


Os beijos trocados e as palavras ditas naquela cabine nunca foram esquecidas por nenhum dos dois, fazendo daquele um momento particular que teve como platéia apenas o destino intrometido, feliz por ver seus planos se realizarem. Existem coisas que não devem ser compartilhadas, que devem ficar apenas entre um casal, como um fio imaginário que os une.


E é por isso que, dessa conversa, a única coisa que você realmente precisa saber é que Scorpius devolveu os 150 galeões do adiantamento – sob os protestos de Rose que insistia que ele ficasse com o dinheiro – e que eles, finalmente, se acertaram. Porque, absolutamente nada, nem ninguém, é imune a força do destino ou a obstinação do acaso.


Foi necessário um acordo para que ambos ficassem juntos e depois disso, apenas a morte seria capaz de separá-los.


Albus, Dominique, Anthony e Lilian acabaram se juntando ao casal cerca de uma hora depois. As piadas dos dois melhores amigos fizeram Scorpius avermelhar, mas ele foi defendido ferozmente por uma ruiva carrancuda que atendia pelo nome de Rose Weasley. No final das contas, aquele grupo que antes era unido apenas por Albus, se tornou inseparável.


Albus Potter e Dominique Weasley não evoluíram para um relacionamento naquele ano, como Rose esperava. Eles continuaram se encontrando às escondidas, como sempre fizeram e, no final daquele ano, nem ele nem ninguém conseguiu impedir Dominique de aceitar a vaga que ela tinha conquistado em uma conceituada faculdade de moda em Paris.


Hugo Weasley e Lysander Scamander também precisaram de um tempo para voltar. Apenas na metade do sétimo ano foi que, finalmente, ambos esqueceram as mágoas guardadas e se perdoaram.


Ao contrário do que se possa imaginar, Lilian Luna Potter não se importou com isso, nem durante o sétimo ano quando se viu sem Rose, Dominique e os garotos. Ela e Hugo se afastaram, exatamente como ela tinha previsto, mas não doeu tanto quanto ela achou que doeria.


Lilian acabou ocupando seu tempo vago estudando e, no final do sétimo ano, escolheu se mudar para os Estados Unidos a fim de estudar cinema. Harry Potter e seus filhos super-protetores não gostaram, mas nada puderam fazer porque Lilian era tão espirituosa quanto Gina foi em sua juventude.


Todos sabiam que Lilian tinha se apaixonado cegamente por Anthony, mas temendo cometer os mesmos erros que cometeu com Hugo, ela recusou todas as investidas do garoto. Zabine, por sua vez, sem conseguir nada com Lilian, voltou aos velhos tempos de pegador, mas sem nunca ser capaz de esquecer a filha dos Potter, com quem nunca perdeu o contato, mesmo com a viagem dela.


Anthony Zabine acabou a escola e se tornou funcionário de uma loja de vassouras onde desenhou a vassoura considerada uma das mais velozes do último século.


Lorcan Scamander, como era de se esperar, se voltou para a área da ciência. Para o desespero de Lysader, ele acabou perdoando Rose e pedindo desculpas, também, por ter insistido tanto. Scorpius morreu de ciúmes quando a namorada beijou a bochecha do Scamander, mas logo foi acalmado pela ruiva que garantiu que tinha olhos apenas para ele.


Os pais – principalmente Hermione e Astoria – precisaram de alguns meses para terem certeza de que não estavam sendo enganados novamente, mas no final, acabaram cedendo. Ronald e Draco ainda competem por tudo e o tempo, definitivamente, não favoreceu a convivência dos dois.


Ainda no sétimo ano, Rose Weasley percebeu que o “Felizes Para Sempre” não é o que as pessoas dizem e que está sempre em constante construção. E que nenhuma relação é perfeita, porque as brigas existem e as discussões sempre apontam para os defeitos.


Ela acabou livre do castigo da mãe mais ou menos na metade do ano, exatamente como Ronald previu: sua média em Runas foi parabenizada e a professora se sentiu na obrigação de mandar uma correspondência para os pais de Rose a fim de congratular o pequeno prodígio.


Scorpius Malfoy acabou jogando quadribol também. Isso por que Albus Potter caiu da vassoura em um jogo contra a Corvinal – Scorpius sempre desconfiaria de que o diagnostico da fratura de Potter era falso – e Slughorn implorou para que Malfoy pudesse voltar ao time.


Draco, relutante, aceitou, intimamente apenas porque o filho deixaria de ser artilheiro e se tornaria apanhador, função que ele mesmo exerceu naquela mesma casa. Orgulhou-se do filho logo no primeiro jogo. E Scorpius descobriu que era melhor apanhador que artilheiro.


Para a satisfação de seus pais, as notas dele melhoram bastante e sem muito esforço. Astoria acreditava cegamente que Rose Weasley era parte importante disso. Como de fato era.


Orgulhoso de seu feito, o destino, enfim sossegou. Procuraria outras vidas para se intrometer a partir daquele momento porque ele sabia que Rose Weasley e Scorpius Malfoy ficariam bem.


Os gritos dela sempre seriam constantes, assim como a ironia dele e o sorriso presunçoso. As brigas existiriam e, muitas vezes, ele a deixaria falando sozinha, assim como ela sairia dizendo que nunca mais gostaria de vê-lo. Mas tudo seria da boca para fora porque eles compartilhavam de algo que muitos casais passam a vida toda procurando: companheirismo e intimidade.


Foram necessários 300 Galeões para uni-los, mas se sabe, desde os tempos de Merlin, que tudo o que tem o dedo do destino não pode ser alterado.


Independente do que acontecesse, tudo sempre ficaria bem.


Isso porque, assim como não existia o sol sem a lua ou as estrelas sem o céu, Rose Weasley e Scorpius Malfoy simplesmente não poderiam existir um sem o outro.

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