XVI



Assim que a figura de Abigail Jones surgiu no alto das escadas, Hugo se levantou e andou até ela como um raio. Discretamente, Abbie sorriu para o garoto. Com toda a certeza, Lilian iria gostar de conversar com ele.


– Como ela está? – Hugo questionou afobado. – Ela está chorando? Está magoada? O que aconteceu?


James e Albus reviraram os olhos diante dos questionamentos de Hugo, ao mesmo tempo em que Harry Potter parecia interessado nas respostas de Abbie e Gina estava dividida entre prestar atenção no que a nora iria dizer ou chorar de emoção por suas suspeitas a cerca de Lilian e Hugo estarem se confirmando.


– Calma aí, uma pergunta de cada vez, sim? – Abigail resmungou enquanto olhava de forma curiosa para Hugo, que sentiu as bochechas queimarem. – Ela já está bem, garanhão, e conseguiu parar de chorar. Quanto ao que aconteceu, acho que ela vai preferir te contar pessoalmente.


Hugo ficou em silêncio, encarando seus pés e tentando decidir se seria uma boa idéia ou não subir ao quarto e tentar falar com a prima.


– Eu posso subir? – Ele questionou incerto para Abigail que revirou os olhos.


– Está esperando o que? Um convite do primeiro ministro? – Ela questionou sarcástica.


Em seguida, Hugo subiu as escadas em disparada, tropeçando em um ou outro degrau. Abigail esperou ele sumir nas escadas antes de se virar para a sogra e perguntar.


– Eles são todos assim? – Ela questionou e ao ver a dúvida nos olhos de Gina, prosseguiu. – Digo, os homens dessa família são todos lerdos para chegar em uma garota?


Gina Potter gargalhou diante da pergunta da nora e dos olhares tipicamente masculinos, de quem não conseguia acompanhar o raciocínio, que os homens da família lançavam para elas.


– Oh, você não faz idéia do quanto! – Ela respondeu. – Foram necessários dois anos depois da guerra para que o Potter Pai tivesse coragem de me pedir em casamento. – Ela respondeu enquanto observava Harry avermelhar. – Com James está sendo a mesma coisa?


– James precisou de quase oito anos para perceber que o frio na barriga que ele sentia sempre que me via não era fome.


As duas mulheres gargalhavam e Albus olhou debochado para o irmão.


– Esse é um dos motivos de eu não ter uma namorada. – Ele disse, fazendo James revirar os olhos enquanto a namorada e a mãe contavam histórias engraçadas uma para outra.


– Hey! Papai e eu ainda estamos aqui! – Ele resmungou mal-humorado quando sua mãe começou a contar para Abigail sobre a cueca de patinho que ele tinha. – E quanto a você, não pense que eu não vi uns olhares da Dominique pra cima de você.


– Dominique e eu somos um caso parte. – Ele respondeu sem perder a pose. – Gostamos de nos divertir juntos, mas isso não significa que funcionaríamos como um casal.


James Potter sorriu irônico para o irmão do meio.


– Você pode enganar qualquer um, Albus. Mas não se esqueça que eu conheço você desde que nasceu.


Albus Potter abriu a boca para protestar, porém todas as suas palavras perderam o som quando ele viu seu pai esticar a cabeça para perto deles e sussurrar em um tom que não era muito comum de se ver em Harry Potter.


– Desculpe interromper a conversa de comadres de vocês, mas a mãe de vocês e a sua namorada – ele disse apontando acusatoriamente para James – estão se derretendo uma para outra enquanto dizem que Lilian e Hugo são um casal! O que sabem sobre isso?


James, discreto como sempre, arregalou os olhos e gritou na direção da mãe e da namorada.


– COMO ASSIM LILIAN E HUGO SÃO UM CASAL?


Abigail Jones e Gina Potter reviraram os olhos ao mesmo tempo quando notaram que os homens presentes naquela sala as encaravam efusivamente, como se esperassem uma resposta.


Além de lerdos, pensou Gina, havia outra coisa que todos os homens daquela família tinham em comum: crises doentias de ciúmes.


**


Lilian Luna Potter estava jogada sobre a cama enquanto tentava escolher algum dos filmes de sua coleção para assistir. A conversa com Abigail foi exaustiva e longa, mas de uma forma ou de outra, ela se via menos furiosa com Rose na medida em que o tempo passava – não que ela quisesse que a raiva passasse.


A sua consciência lhe dizia que Rose não tivera a intenção de magoá-la, que ela tinha escondido aquela informação dela porque se importava com ela e porque não a queria sofrendo pelos cantos caso as coisas não dessem certo. Mas mesmo assim Lilian se sentia ferida e incapacitada momentaneamente de ter uma conversa civilizada com a Weasley.


Não importava o motivo, Rose havia escondido coisas dela. A amizade delas era transparente e não havia espaço para mentiras ou segredos. O que a Weasley tinha feito, ainda martelava na cabeça dela, porque acima de qualquer coisa, Potter via na prima uma confidente. E doeu saber que Rose não confiou nela o suficiente para lhe contar sobre o Hugo e Lysander. E nem a deixou ter suas próprias experiências.


Tudo bem, ela podia quebrar a cara. Hugo era bastante instável, dando a entender que gostava dela em alguns momentos, porém, algumas horas depois, parecia preferir a companhia de Lysander a sua. Mas mesmo assim, Lilian gostaria de ter feito suas próprias escolhas.


Agora, tudo estava confuso demais em sua mente. Não sabia se Hugo gostava dela e, como se não bastasse, Anthony Zabine havia entrado em sua vida para terminar de deixá-la ainda mais perdida.


Remexeu na caixa de DVD’s tentando encontrar alguma coisa neutra, que não a lembrasse nem de Rose, nem de Hugo e, muito menos, que não a fizesse lembrar-se da discussão que tivera mais cedo com Anthony. Bufou irritada e pela primeira vez na vida, sentiu raiva por só ter comédias românticas.


Estava a ponto de jogar os filmes contra a parede quando ouviu alguém bater na porta. Encarou a sua coleção e suspirou, tentando se acalmar.


– Quem é? – Ela questionou.


A pessoa do outro lado da porta demorou alguns segundos para responder, mas quando ela reconheceu a voz de Hugo, sentiu o coração falhar uma batida.


– Sou eu Lil’s. Queria saber como você está.


Ela se ajeitou melhor na cama e encarou a porta branca do quarto, um tanto surpresa, afinal, não esperava que Hugo estivesse ali àquela hora. Estalou os dedos da própria mão em sinal de nervosismo e, em seguida, soltou o ar dos pulmões ao mesmo tempo em que falava.


– Pode entrar, está aberta.


Então ela ouviu o ranger da porta e, vagarosamente, ela a viu se abrindo. Logo depois, a figura de Hugo Weasley surgiu, entrando de forma desconcertada no quarto da prima. Ele tinha as mãos nos bolsos da calça cáqui que vestia, gesto que Lilian sabia perfeitamente bem que significava insegurança. Quando seus olhos se cruzaram, ele sorriu para ela de um jeito tímido, e Lilian devolveu o sorriso de forma um pouco mais aberta, o que lhe devolveu a segurança.


– Aí, o que você está fazendo? – Ele perguntou enquanto se aproximava da cama em que ela sentava e fazia uma careta diante da caixa de filmes que estava ao seu lado. – Por que só tem casais estilo comercial de margarina nas capas desses seus filmes? – Ele questionou enquanto pegava alguns filmes para olhar. Inevitavelmente, Lilian riu.


– São comédias românticas, Hugo. – Lilian explicou enquanto ele se sentava ao seu lado. – Eu estava tentando escolher algum para assistir, mas de uma forma estranha, não quero ver nenhum casal se beijando e nem melhores amigas felizes. – Ela respondeu sorrindo de forma tímida.


Hugo a encarou por alguns segundos e então suspirou. Ele precisava entender o que estava acontecendo com Lilian.


– O que aconteceu com vocês duas? – Ele perguntou e notou que Lilian abaixou a cabeça. – Eu perguntei a Rose o que tinha acontecido, mas ela me disse que eu deveria ver você.


– Você me chamaria de louca se eu te contasse o motivo. – Ela respondeu sentindo o rosto ficar vermelho, afinal, se ela contasse o que havia acontecido, ela teria que confessar ao Weasley que gostava dele bem mais do que deveria.


– Por que você não tenta Lil’s. – Hugo incentivou. – Eu realmente preciso entender o que está acontecendo.


Quando Potter sentiu os olhos dele cravados em si, ela desviou o olhar do dele. Uma parte dela queria esconder aqueles sentimentos até que ela mesma pudesse entendê-los, porém, outra parte dela, uma menos racional, lhe dizia que ela deveria tentar conversar com Hugo. Quem sabe aquela não seria a sua chance? A chance que ela tinha esperado desde que se descobrira apaixonada pelo Weasley?


A insegurança começava a dominar todo o seu corpo, quando, por fim, ela resolveu que Hugo tinha o direito de saber. Ela tinha brigado com Rose justamente porque a prima não tinha lhe deixado tomar suas próprias decisões. Nada mais certo do que agora que ela tinha a oportunidade, colocar as cartas na mesa e iniciar a batalha de verdades que ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela precisaria travar.


– Está bem, mas eu preciso que você me prometa uma coisa antes que eu comece a lhe contar tudo. – Ela condicionou e se atreveu a olhar dentro das íris azuladas do Weasley, que emanavam um misto de curiosidade e apreensão.


– O que é? – Ele perguntou, sua voz saindo mais rouca do que planejava e arrepiando até o último fio de cabelo da Potter.


Ela fechou os olhos em busca de coragem e depois voltou a abri-los. Weasley ainda esperava com expectativa.


– Prometa que não vai se afastar de mim quando souber de tudo. – Ela desabafou. – Prometa que o que eu vou dizer não vai colocar em risco a nossa amizade.


Hugo não precisou pensar na resposta, pois as palavras praticamente saltaram de sua boca:


– Eu enlouqueceria se me afastasse de você Lil’s. – Ele respondeu e percebendo que ela ainda estava em silêncio, completou. – Nada vai mudar Lilian, isso é uma promessa.


E então, embora se sentisse ligeiramente sufocada, ela confiou na promessa dele. E despejou sobre Hugo Weasley muito mais do que apenas os últimos acontecimentos da semana.


**


– Por Merlin, Hermione, eles estão dormindo juntos! – Ronald Weasley esganiçou-se enquanto encarava a esposa de forma acusatória.


Hermione, que conhecia muito bem o marido, não se deu ao trabalho de encará-lo. Permaneceu com os olhos grudados no pergaminho que redigia.


– Não seja ridículo, Ron. Eles devem estar apenas conversando. – Ela respondeu de maneira tranqüila.


– Eles não estão conversando Hermione, eu vi! – Ele bradou agitado e, imediatamente, ela virou-se para ele e o fuzilou com os olhos.


– Por algum acaso, você não foi espionar a nossa filha, foi? – Hermione questionou enquanto estreitava os olhos na direção de Ronald e Lorcan, que ela nem tinha notado sua presença, se encolhia atrás dele.


– Quer saber? – Ronald questionou balançando as mãos – Eu estava, aparatei no quarto dela porque não confio no Malfoy. E adivinha? Eu os vi dormindo juntos!


Hermione Weasley imediatamente se levantou e enfrentou o marido, que imediatamente encolheu, quase arrependido de ter contato àquilo a esposa.


– Você e o seu ciúme idiota aparataram no quarto da minha filha, Ronald? – Ela indagou frisando bem o minha da frase. – Me responda uma coisa, Ron, por que você invadiu a privacidade da menina dessa maneira, hein? Você merece dormir no sofá até o ano novo!


Ronald estava com dificuldades de encontrar as palavras, mas, obviamente, ele tinha um protetor. E Lorcan Scamander, não temendo o perigo, se atreveu a confrontar a madrinha.


– Mas madrinha, se o padrinho não tivesse entrado no quarto da Rose, ele não teria visto o que viu! – Ele disse e Hermione virou-se para ele dando-lhe atenção. – Eu estava junto com o padrinho. E o Malfoy estava realmente dormindo com Rose na cama dela! Eu tive que aparatar com o padrinho de volta para a sala porque ele seria capaz de matar o Malfoy. E com toda a razão.


Hermione absorveu a informação por cinco segundos. E então explodiu:


– Você compactuou com isso Lorcan?! – Ela perguntou irritada. – Eu vou proibir você o seu padrinho de se verem se continuarem agindo dessa maneira!


– Mas madrinha, eu...


– Você nada! – Ela bradou irritada. – Vocês já pararam pra pensar que eles poderiam estar só dormindo? – Hermione questionou irônica e ao ver o marido com a expressão desconcertada, completou. – É claro que não, porque você, Ronald Weasley, sempre pensa o pior!


Em seguida, ela enrolou os pergaminhos e os mandou para o escritório com um feitiço. Ronald e Lorcan ainda a encaravam com medo quando ela começou a andar em direção as escadas.


– Andem logo, vou provar a você o quanto estão sendo ridículos. – Ela disse impaciente enquanto subia as escadas.


Weasley e Scamander se encaram e, vencidos pelo medo, seguiram Hermione mantendo cinco passos de distância segura longe dela. Quando chegaram à porta do quarto de Rose Weasley, Hermione sacou a varinha e apontou para a fechadura, a destrancando. Ronald a olhou descrente.


– Por que você não fez isso antes do Malfoy chegar?


Ela o fuzilou com os olhos.


– Porque ao contrário de vocês dois, eu sabia que Rose precisava ficar algum tempo sozinha. E eu conheço o significado da palavra privacidade. – Ela respondeu amarga enquanto girava a maçaneta e tentava abrir a porta de forma silenciosa.


– Preciso lembrar que quem está invadindo o quarto dela agora é você? – Ronald teve a infeliz idéia de fazer uma piada estúpida.


Hermione Weasley sorriu para ele de forma irônica.


– Estou fazendo isso apenas para me sentir menos culpada por colocar você pra dormir no sofá pelos próximos vinte anos. – Ela respondeu e ao ver o emaranhado de cobertas, olhou para o marido de forma desafiadora ao notar que Scorpius deitou-se na cama ao lado de Rose calçado de sapatos. – Acha mesmo que se eles tivessem feito alguma coisa, Scorpius não teria se dado ao trabalho de tirar os sapatos? – Ela sussurrou.


Ronald Weasley fez uma careta de insatisfação ao notar aquele pequeno detalhe. Mas Lorcan ainda não estava convencido.


– De repente eles estavam tentando alguma técnica diferente madrinha. – Ele opinou, mas se calou quando Hermione o fuzilou com os olhos.


– Está bem, Hermione, você está certa. Eu exagerei de novo. – O Weasley murmurou insatisfeito e a mulher sorriu de forma convencida.


– Eu sempre estou certa, Ronald. – Ela disse enquanto puxava o marido pela camisa em direção a porta. – Agora vamos descer, vou mandar um patrono aos Malfoy avisando que Scorpius dormirá aqui.


– Ele vai dormir aqui? – Ronald e Lorcan perguntaram em uníssono.


– Não comessem, por favor.


Enquanto os três desceram as escadas, nada dentro do quarto da Weasley se alterou, exceto pelo fato de que ela, ainda dormindo, se aconchegou um pouco melhor nos braços do Malfoy, que tinha a respiração lenta e sorria inconscientemente. Ambos tinham uma sensação nova no peito. A sensação de que estavam exatamente aonde deveriam estar.


**


Hugo encarava a prima descrente por tudo o que ela havia acabado de contar e um pouco tonto devido à quantidade de informação que fora jogada sobre ele de qualquer maneira. Quando estava nervosa, Lilian não conseguia falar devagar, de modo que todas as coisas que ela disse foram jogadas em seu colo como uma bomba, sem o mínimo de preparo.


Então, mesmo que indiretamente, a culpa pela briga entre a irmã e a prima era dele? Elas tinham brigado porque Rose tinha o ouvido terminando com Lysander e não tinha contado àquilo a Lilian? Era isso? Céus, ele não sabia se agradecia a irmã por ela não ter exposto suas dúvidas a prima, ou se a esfolava viva por não ter contado a ele que Lilian também gostava dele.


E então a informação mais importante de todo aquele diálogo finalmente fez sentido para o Weasley depois de alguns instantes.


Lilian gostava dele.


– Hugo, você vai dizer alguma coisa? – Ele ouviu a voz da prima e a encarou pela primeira vez. Lilian parecia aflita e ameaçava chorar novamente. – Oh, droga. Eu não deveria ter te contado, olha só a sua cara!


Hugo Weasley, motivado por uma coragem que ele não sabia de onde tinha surgido, levantou-se e andou até a prima que estava de pé e escorada na parede, aparentemente, tentando esconder o rosto com as mãos.


– Seja sincera comigo Lilian. – A voz de Hugo soou bem mais confiante do que ele esperava. – Você gosta de mim? Gosta de mim de um jeito diferente?


Completamente vermelha pela vergonha, Potter não teve coragem de encará-lo. Porém, Hugo queria uma resposta, queria que ela respondesse olhando nos seus olhos. Sendo assim, com o polegar, suavemente ele ergueu o queixo da menina, obrigando-a a olhá-lo. E então Lilian soube que precisava dizer alguma coisa.


Mas dizer o que? Ela se questionava. Ela gostava de Hugo, e há poucas horas atrás, poderia dizer que o amava. Mas a discussão com Anthony a deixou confusa e duvidosa quanto à seus próprios sentimentos e convicções. Mas mesmo assim, com todos aqueles medos e duvidas pairando sobre a sua cabeça, quando encarou os olhos azuis e suplicantes de Hugo, ela não soube dizer algo diferente.


– Eu gosto.


Ela tentou abaixar o rosto, mas Hugo não deixou, pelo contrário, o segurou com um pouco mais de firmeza. E ela soube que ele queria falar também.


– Você acharia muito louco se eu te dissesse que também gosto de você?


E então Lilian Potter arregalou os olhos sem saber o que dizer. Ela esperava por aquele momento há muito tempo, mas de uma forma insana, ela não conseguia reagir. Não conseguia sequer respirar direito.


Quanto a Hugo Weasley, movido pela coragem que caracterizava a sua casa em Hogwarts, aproximou-se um pouco mais de Lilian e a enlaçou pela cintura. Os olhos de Lilian permaneciam abertos em espanto, mas mesmo assim ela não parecia querer repelir o que estava prestes a acontecer.


E de fato, ela não queria. Porque simplesmente não apresentou resistência alguma quando Hugo Weasley finalmente a beijou.


Ficaram envolvidos pelo momento e imersos em seus próprios pensamentos por um bom tempo, e talvez tivessem ficado mais se não tivessem sido interrompidos.


Ambos se afastaram ao ouvirem uma batida na porta do quarto da menina. Eles se encararam por longos segundos, até que relutantemente Hugo soltou a cintura da prima, permitindo que ela falasse a quem quer que estivesse do outro lado.


– Pode entrar! – Ela falou, embora sua voz tivesse saído entrecortada.


Então, a porta do quarto de Lilian abriu e por ela, Abigail Jones colocou a cabeça para dentro do recinto, suspirando aliviada ao ver que nada demais acontecia. Mas Potter sabia que ela desconfiava de algo, porque Jones não conseguia tirar o sorriso sarcástico do rosto.


– Desculpe se eu interrompi alguma coisa, mas sua mãe acabou de mandar um patrono. – Ela disse enquanto apontava para Hugo. – Ao que tudo indica, seu tio está tendo um ataque porque Scorpius está dormindo com Rose.


Lilian achou aquilo estranho, afinal, ela era uma das pessoas que conhecia a verdadeira história sobre Rose Weasley e Scorpius Malfoy. Será que eles estavam finalmente cedendo, ou aquilo era mais um dos joguinhos dos dois pra convencerem o mundo de que se gostavam? Lilian balançou a cabeça afastando aqueles pensamentos logo depois, afinal, aquele problema não era mais da sua conta.


O Weasley acabou resmungando alguma coisa e, ao perceber que Abbie não daria aos dois mais alguns minutos de privacidade, se aproximou de Lilian e sussurrou em seu ouvido.


– Eu venho ver você amanhã. – E ao ver Lilian arregalar os olhos outra vez, completou. – Podemos assistir alguma coisa, ou ir ao Beco. Sem compromisso, vamos ver o que vai acontecer, okay?


Potter se sentiu estranhamente mais aliviada, portanto, apenas concordou.


– Espero você.


Em seguida, Hugo se aproximou e beijou-lhe o canto dos lábios, fazendo com Lilian Potter adquirisse um tom vermelho semelhante a um tomate. Abigail apenas observava a cena, prendendo o riso. Porém, ao ouvir um barulho suspeito vindo da escada, resolveu intervir. Aquele não era um momento oportuno para ataques super-protetores de irmãos mais velhos ou pai ciumento.


– Okay, acabou o horário de visita, meus jovens! – Ela disse sem segurar o riso daquela vez. – Amanhã vocês conversam.


Hugo suspirou e se despediu de Lilian. Em seguida, deu um beijo no rosto de Abigail em sinal de agradecimento, para só depois sair do quarto e andar em direção as escadas. Abbie o esperou sumir antes de fazer um sinal débil com o polegar e falar animada para Lilian.


– Finalmente vocês saíram do zero a zero!


Potter sentiu as bochechas queimarem e andou em direção aos filmes, já mais disposta a assistir um romance qualquer.


– Não sei do que você está falando, Abbie. – Ela murmurou enquanto mexia na caixa na tentativa de disfarçar.


– Não quer confessar , tudo bem. – Abigail respondeu enquanto se afastava para sair do quarto de vez. – Mas não subestime minha inteligência quando eu estou vendo seus lábios inchados!


Em seguida, Potter ouviu o barulho da porta se fechando e o som da risada de Abbie que se afastava no corredor. Voltou seus olhos para a caixa de filmes e acabou escolhendo para assistir, aleatoriamente, “A Nova Cinderela”.


Em seguida, levou seus dedos até os lábios, os tocando de forma inconsciente. Não seria hipócrita ao ponto de dizer que não tinha gostado de ser beijada por Hugo, mas ela havia fantasiado tanto com aquele beijo, que no final ele pareceu sem graça. Foi como se estivesse faltando alguma coisa.


**


Na manhã seguinte, Rose Weasley acordou apoiada em algo macio. Abraçou melhor o travesseiro, enquanto sentia o cheiro de hortelã impregnar de nariz e os braços dele a segurarem um pouco mais forte.


Espere um pouco aí, ela pensou, desde quando travesseiros têm braços?


E então, Rose Weasley finalmente abriu os olhos, dando de cara com o rosto de Scorpius Malfoy praticamente colado no seu. E então ela se lembrou da noite anterior, quando ele havia invadido seu quarto e a consolado. Inclusive, quando ela disse que não conseguiria dormir, ele se ofereceu para ficar com ela até que conseguisse pegar no sono. Weasley se lembrava de ter relutado por alguns instantes, mas ele parecia tão empenhado em ficar, que ela não pode recusar.


Ela só não esperava que ele fosse pegar no sono também e acabasse passando a noite com ela.


Delicadamente, ela puxou o braço que estava preso debaixo do corpo dele e virou-se de barriga pra cima, mesmo que seu rosto continuasse encarando Malfoy adormecido. Ele havia sido tão gentil com ela, havia se preocupado e, de um jeito estranho, ela gostava daquele lado que ela estava conhecendo de Scorpius Malfoy.


Mas aquilo soava errado para ela. As coisas estavam saindo de controle por eles não conseguirem controlar suas próprias reações quando estavam juntos. O beijo que tinha acontecido na tarde anterior era a prova viva de algo de diferente estava acontecendo com os dois. Algo que ela tinha medo de admitir o que era.


– Bom dia. – Ela se assustou quando encarou Scorpius Malfoy a encarando de forma preguiçosa. – Acho que acabei dormindo, me desculpe. – Ele murmurou enquanto se sentava na cama e passava as mãos pelos cabelos loiros, que estavam totalmente bagunçados.


– Tudo bem. – Rose conseguiu responder. – Como você dormiu?


Scorpius Malfoy encarou a Weasley avaliativamente.


– Dormi bem, por incrível que pareça, você quase não se mexe quando está dormindo. – Scorpius respondeu e sorriu ao ver Rose corar.


Eles se encararam demoradamente, até que a Weasley desviou o olhar.


– Obrigada por ontem. – A Weasley precisou tomar algumas lufadas de ar para continuar. – Você não tinha obrigação nenhuma de vir aqui, ainda mais depois do que aconteceu. Mas mesmo assim você veio. – Ela disse se referindo ao beijo que tinham trocado e a sua reação.


– Realmente, eu não tinha obrigação alguma de vir. – Scorpius disse enquanto a encarava de costas para ele. – Mas Albus me disse que Lorcan estava aqui, e eu não gosto de ver você com ele.


Ele ouviu a Weasley bufar, e mesmo que fosse esquisito, ele podia jurar que ela estava revirando os olhos.


– Lorcan é um idiota, não se preocupe com ele. – Ela resmungou enquanto se levantava da cama e tentava inutilmente desamassar a roupa com que tinha dormido. – Você precisa se preocupar com o meu pai, porque eu tenho certeza de que ele sabe que você dormiu aqui.


Scorpius engoliu em seco e tentou disfarçar o nervosismo.


– Tenho certeza de que sua mãe vai me defender.


Foi a vez de Rose Weasley revirar os olhos.


– Minha mãe te ama. – Rose resmungou enquanto observava Scorpius se aproximar dela com um sorriso zombeteiro. – Sinceramente, não sei o que ela vê em você. – Desdenha.


Scorpius ri suavemente, e quando está a poucos centímetros dela, coloca uma mexa do cabelo dela para trás da orelha.


– Você também me ama, Weasley, só não admite. – Ele diz sorrindo de forma irônica e fazendo com que a Weasley, involuntariamente arfe.


Ela se afasta dele visivelmente nervosa e murmura mais alto do que gostaria.


– Por que você está fazendo isso?


Malfoy tentando entender o que ela está pensando.


– Isso o quê? – Ele questiona intrigado.


– Você está sendo gentil comigo! – Ela desabafa e começa andar pelo quarto de forma nervosa. – Você me beijou ontem e mesmo depois de eu te encher de socos e mandar você sumir, você aparece aqui, me consola e passa a noite comigo!


Scorpius Malfoy a encarou atordoado porque simplesmente ele não sabia responder aquela pergunta.


– Eu vou ser sincero com você, okay? – Malfoy respondeu enquanto andava até Rose – Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu me preocupo com você, eu sinto ciúmes de você e eu não gosto quando Lorcan Scamander se aproxima de você. Mas ao mesmo tempo, eu não sei o que tudo isso significa. E se isso confunde você, pode imaginar como eu estou me sentindo!


Eles ficaram em silêncio por alguns instantes apenas se encarando e tentando decifrar o que o outro poderia estar pensando ou sentindo. Rose Weasley não conseguia formular uma palavra coerente, porque o simples fato de ter Malfoy por perto lhe despertava instintos e vontades que ela nem sabia que existiam.


– Você acha que tem alguma coisa diferente acontecendo com nós dois? – Ela perguntou, mas não obteve resposta alguma. Malfoy apenas se aproximou dela, quase colando seus corpos.


Ela sabia perfeitamente o que estava acontecendo, seu coração estava lhe dando todas as respostas, mas mesmo assim ela ainda se sentia confusa e tentada a ignorar tudo aquilo que estava acontecendo. Isso porque Scorpius Malfoy ainda era a mesma pessoa, e ela ainda não tinha certeza se poderia, um dia confiar nele.


Malfoy, por sua vez, estava um pouco mais adiantado que a Weasley naquela situação, isso porque, ele já estava aceitando a sua atual condição, mesmo que ainda não se sentisse preparado para admitir em voz alta aquilo que sentia. E agora que estava ali, tão próximo dela novamente, ele não poderia desejar algo que não fosse um outro beijo, dessa vez com um desfecho final diferente.


– Eu não quero assustar você, mas eu acho que o acordo já era. – Ele rosnou enquanto a enlaçava pela cintura de forma um pouco mais firme do que da primeira vez.


– O que quer dizer com isso?


– Estou querendo dizer que eu espero que você não me esmurre dessa vez.


E então, mais uma vez, Rose Weasley teve o prazer de sentir os lábios de Malfoy cobrirem os seus, dessa vez, sem interromper o contato.


O beijo que trocaram foi urgente e cheio de sensações que eles ainda não haviam provado. Estavam tão eufóricos, que Malfoy simplesmente ergueu a Weasley e a prensou contra a parede na tentativa de aliviar um pouco da tensão de todo aquele emaranhado de emoções que tomava conta dele naquele momento.


Afastaram-se alguns segundos depois, cansados e sedentos por ar. A Weasley, que tinha o rosto vermelho devido a vergonha e ao calor que aquele momento tinha lhe causado, não tinha coragem de olhar dentro dos olhos do Malfoy, de modo que quando ele a desprendeu da parede, ela abaixou a cabeça.


Ele precisou de alguns segundos para perguntar:


– O que houve? Eu exagerei, foi isso?


– Não foi nada, eu até gostei. – Ela disse e ficou ainda mais vermelha ao perceber o que tinha acabado de admitir. Scorpius sorriu triunfante na direção dela e voltava a se aproximar, mas ela o impediu espalmando a mão direita suavemente contra o peito dele. – Isso está errado, Scorpius. Não podemos fazer isso.


– Por que não? – Ele perguntou intrigado.


– Nós estamos nos deixando envolver, não vai acabar bem! – Ela respondeu enquanto escondia o rosto com as mãos. – Céus, Lilian e Albus tinham razão quando me disseram que essa história poderia acabar mal.


Ela fez tentou se afastar dele, mas Malfoy a segurou pelo pulso e a puxou de volta para ele.


– Não tem nada de errado nisso Rose. – Ele disse a obrigando a olhá-lo dentro dos olhos. – Você não gosta de ficar comigo? Não gosta de me beijar?


A Weasley abaixou os olhos um pouco envergonhada.


– Eu... Eu acho que sim. – Ela fez uma pausa e fechou os olhos controlando as lágrimas. – Apenas acho que tudo está acontecendo rápido demais. E quem me garante que você não vai fingir que nada aconteceu quando essa semana terminar?


– Está duvidando de mim, é isso? – Ele questionou, sentindo-se quase magoado.


– Não é duvidando, Scorpius, mas veja bem, você é Scorpius Malfoy. – Ela disse o olhava aflita. – Você tem todas as garotas que quer quando quer. Até pouco tempo atrás, eu era a única que não tinha caído nas suas graças. Quem me garante que eu não vou ser um tipo de troféu pra você exibir por aí quando tudo isso acabar?


– Eu nunca pensei em usar você! – Ele urrou, mesmo sabendo que era mentira, porque no começo do acordo ele tinha pensado, sim, em fazer da Weasley mais uma em sua lista. Mas ele estava sendo sincero quando dizia que, naquele momento, ele não a usaria para aquele tipo de coisa. – Eu não sei exatamente o que eu sinto por você, mas mesmo assim eu não seria capaz de magoá-la.


Rose Weasley acabou soltando um riso nervoso e nasalado.


– Eu realmente queria acreditar em você. – A Weasley lhe disse. – Mas você precisa entender que a sua coleção de ex-namoradas e a sua reputação não me deixam fazer isso. Me desculpe.


Ele abriu a boca para tentar encontrar alguma coisa ao seu favor, um único detalhe que pudesse reverter o jogo e fazê-la entender o seu lado da situação. Mas quando ele viu o sorriso triste que a Weasley lhe lançava, ele soube que aquela era a última palavra dela.


– Está tudo bem. – Scorpius respondeu enquanto pegava o casaco de cima da poltrona da menina. – Não posso forçar você a acreditar, porque você tem razão. As circunstâncias não estão ao meu favor.


– Scorpius, por favor...


– Você precisa de tempo para assimilar o que está acontecendo, e eu também. – Ele disse enquanto a segurava pela cintura novamente. – Mas nós temos que manter o acordo, temos que continuar fingindo, você sabe.


– Scorpius...


– Apenas vamos deixar as coisas acontecerem, okay? – Falou enquanto lhe beijava a testa de forma terna. – Você está certa por desconfiar de mim, mas eu me sinto diferente quando estou perto de você. E eu vou provar isso até o final do nosso acordo.


Em seguida, ele se afastou dela pedindo para que Rose pedisse desculpas a Hermione pela sua falta de jeito e por não descer para o café. Logo depois, tudo o que restou de Scorpius no quarto de Rose Weasley foi o perfume de hortelã.


Eles poderiam continuar negando o quanto quisessem, mas o destino já tinha se encarregado deles. Ou ninguém notou que, quase magicamente, eles passaram a se chamar pelo primeiro nome? Há um fato inegável nessa história toda: Rose Weasley e Scorpius Malfoy não poderão fugir por muito tempo um do outro.

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