XIV



Enquanto Weasley e Malfoy pareciam ter dado uma trégua nos jardins dela, o mesmo não podia ser dito de Lilian Potter e Anthony Zabine, que naquele exato momento estavam dentro da sala dos Potter. Discutindo ferrenhamente.


– Eu só me pergunto onde eu estava com a cabeça quando acreditei que você podia me ajudar! – A Potter bradou enquanto andava de um lado para outro da sala. – Hugo deve estar se agarrando com Lysander nesse exato momento, e a culpa é toda sua!


– Minha culpa? – O Zabine questionou lançando a garota um olhar de pura incredulidade. – Eu fiz o que ninguém nunca fez por você! – Ele disse se aproximando dela.


– O que você fez? Jogou o garoto que eu gosto para cima de outra? – Ela esganiçou-se. – Você não serve para cupido! Nunca deveria ter confiado em você.


Os olhos da garota estavam marejados, mas ela não sabia se era por ela ter visto Hugo passeando com Lysander Scamander por Hogsmead após o almoço de mais cedo, ou se era pelo desgaste que aquela discussão com Anthony Zabine estava lhe causando. O maldito Zabine das idéias estúpidas. Ela só podia estar enfeitiçada quando concordou que ele poderia ajudá-la a ficar com Hugo. Ela vivia assistindo filmes e seriados trouxas onde o ciúme nunca trazia a pessoa amada. Não tinha aprendido nada, era isso?


– Uma mal agradecida Potter, é isso o que você é. – O Zabine murmurou na direção dela, concentrando seus olhos nos dela e se culpando por ter tido aquela idéia idiota de juntá-la ao Weasley.


– Ora, me desculpe se não estou agradecendo por você acabar com minhas chances de ficar com o Hugo. – Ela devolveu sarcástica.


O Zabine fechou os olhos pois estava cansado de ouvi-la falando naquele imbecil do Weasley. Afinal, o que ela via de tão bom nele? Anthony não sabia, porque para ele Hugo Weasley não era nada além de alguém que não sabe o que quer. E não valoriza aquilo que tem.


– Eu fiz você ficar desejável! – O Zabine explodiu, gritando na direção dela e a impedindo de falar. – Andando com você para cima e para baixo, eu fiz o Weasley perceber que você não é só a prima dele, que você é uma garota também! – Ele disse começando a se afastar dela e andando na direção do sofá, onde apanhava seu casaco. – Eu não tenho culpa se ele é tão idiota ao ponto de não querer você!


A Potter petrificou no lugar sentindo que as lágrimas estavam finalmente escorrendo pelos seus olhos. Ela não era capaz de falar nada, nem de se mover. Não sabia exatamente o que as palavras de Anthony significavam. O Zabine, por sua vez, gostaria de não ter dito as últimas palavras e, sinceramente, ele esperava que Lilian realmente não as compreendesse.


Magoados demais um com o outro para se deixarem falar qualquer coisa, seus olhos apenas se encontraram. Encararam-se por longos segundos de forma intensa, como se tentassem compreender o que se passava um com o outro. As lágrimas escorriam livremente pelo rosto da garota, fazendo com que ele desejasse consolá-la. Mas ele não o faria. Se a abraçasse ou tentasse conversar com ela mais uma vez, tudo ficaria ainda pior.


E foi com uma dor irreconhecível no peito que Lilian Potter observou aquele garoto jogar sobre os ombros o casaco e se dirigir a porta que o levaria para a rua. E com os olhos marejados e doloridos de uma forma que ela nunca imaginou ver nele, Anthony lhe dirigiu a palavra uma última vez antes de se esgueirar para a saída.


– Eu não posso mais continuar com isso. Tente não me procurar mais Potter, vai ser melhor assim.


E então, sem que ela tivesse como discutir ou impedir qualquer ato da parte dele, o Zabine abriu a porta e, sem nem se dar ao trabalho de fechá-la, aparatou diante dos olhos marejados de Lilian.


Ela encarou o lugar onde, há segundos, o Zabine estava e fechou os olhos na tentativa de acalmar as lágrimas. Eram tantos questionamentos na cabeça da garota que ela mal conseguia raciocinar. Não demoraria muito e seus pais chegariam do trabalho e então ela precisaria dar uma explicação plausível para estar com o rosto manchado em lágrimas.


Fechou a porta silenciosamente e encarou a lareira. Apenas uma pessoa seria capaz de ajudá-la naquele momento. E essa pessoa era sua prima e melhor amiga.


**


Com toda a certeza os lábios de Rose Weasley eram os mais macios que ele já tivera a oportunidade de beijar, por mais errado que fosse admitir aquilo. Porém, o encanto das línguas em completa sincronia, das mãos e corpos apertados um contra o outro, acabou. E não foi de uma forma agradável, embora o Malfoy devesse ter desconfiado que aquela seria a reação de Rose Weasley.


Foi um impacto terrível o que ele teve com o chão assim que ela acordou do transe e o empurrou para longe dela, quebrando o beijo quase mágico que estavam trocando. O choque do corpo de Scorpius com o chão o fez gemer de dor e encarar a garota a sua frente em um misto de confusão e raiva.


– Está louca? – Ele questionou irritado enquanto se levantava da grama.


A Weasley não respondeu, apenas levou as mãos aos lábios e, em seguida, arregalou os olhos. Aquilo não poderia ter sido real, ela havia beijado Scorpius Malfoy! E o pior: estava gostando.


– Você me beijou! – Ela gritou esganiçada. – Você não podia ter feito isso, Malfoy! Não podia!


Um pouco atordoado por ver a Weasley completamente transtornada – algo da natureza dela – o Malfoy se levantou. A garota parecia estar pirando e apesar de ele saber que aquele era um jogo perigoso, não conseguiu deixar de sorrir. Ele havia beijado Rose Weasley, e até onde ele se lembrava, ela estava correspondendo.


– Não faça dramas, Weasley. – Scorpius retrucou divertido. – Foi só um beijo.


A Weasley, que estava de costas para ele tentando encontrar um motivo lógico para ter se rendido aos encantos do Malfoy, imediatamente se virou para ele, causando em Scorpius olhares arregalados devido à expressão nada amigável dela.


– Foi só um beijo?! – Ela questionou sem saber se estava irritada por ele ter dito aquela frase ou por ela tê-lo beijado. – Você enfiou essa língua nojenta dentro da minha boca! Quebrou uma clausula importante do nosso acordo!


Scorpius franziu o cenho e retrucou.


– Até poucos minutos, minha língua não aprecia nojenta pra você.


A Weasley arregalou os olhos e sentiu o rosto queimar devido à declaração dele. Após, envolvida por uma fúria que ela não conseguia controlar, se viu distribuindo tapas e socos no Malfoy, que nada fazia além de recuar. Ela gritava coisas desconexas para ele, que pouco entendia. Nada além de palavras isoladas como “doninha albina” ou “ameba sem cérebro” eram compreendidas.


Após alguns segundos – que para o Malfoy pareceram séculos – ela parou de bater nele e o encarou com os olhos marejados. E então, ele se sentiu péssimo por vê-la ali, quase se desmanchando em lágrimas. Ele tentou se aproximar e estava realmente com vontade de beijá-la de novo, afinal, ela estava frágil e digna da proteção dele. Porém ela se afastou dele e o empurrou novamente, fazendo com que o Malfoy a olhasse um pouco atordoado pela reação dela.


– Não se aproxime de mim aproveitador. – Ela sibilou raivosa. – Eu odeio você.


Sem compreender nada, ele a viu lhe dar as costas e correr na direção da casa, o deixando sozinho nos jardins como se fosse o único culpado pelo que tinha acontecido. Inconscientemente, levou os dedos gelados aos lábios, recordando aquele momento que, apesar de completamente estranho, o fez sentir coisas que nunca havia sentido antes.


Quando sentiu as malditas borboletas se agitando em seu estômago mais uma vez ele se deu conta do óbvio: Scorpius Malfoy havia beijado Rose Weasley, e o pior, havia gostado. Aquilo não poderia significar nada muito bom, certamente.


O Malfoy estava tão distraído com seus pensamentos que nem havia notado que ainda estava nos jardins da casa dela, recordando um momento que deveria ser esquecido. Apenas notou onde estava quando a voz irritada da Weasley soou ao longe, o despertando de seus devaneios:


– E dê o fora do meu jardim Malfoy! – A Weasley bradou da porta, como o Malfoy logo comprovou.


Em seguida, a porta se bateu em um estouro e ele encarou o nada por longos segundos, chutando com força uma pedra que havia no jardim.


– Essa garota ainda vai me deixar louco. – Ele sussurrou para si mesmo, proferindo um monte de palavras de baixo calão e aparatando em seguida.


**


Rose Weasley espiou o Malfoy aparatar pela fresta da pesada cortina amarela da sala e suspirou pesadamente ao vê-lo desaparecer de seu jardim. Ela não conseguia compreender o que a tinha feito se deixar levar daquela maneira. Em um momento ela estava desabafando com ele sobre um assunto que ela não costumava conversar nem com Lilian e, em outro momento, eles estavam se beijando. Ela não compreendia, não queria entender o que estava acontecendo, o porquê de ela sempre agir sem pensar quando estava com ele.


Aquilo foi errado, idiota e extremamente insano. Aquele beijo não deveria ter acontecido e ela não deveria estar sentindo como se seu coração fosse sair pela boca.


Ela levou as mãos à cabeça e começou a andar de um lado para outro, tentando colocar a cabeça de volta ao seu devido lugar. Não havia significado nada para o Malfoy, então por que deveria significar para ela?


– Foi só um beijo. – Ela sussurrou para si mesma tentando conter a confusão que estava em sua mente. – Um estúpido beijo.


Mas esse pensamento não ajudou em nada, porque ela se lembrou de algo que o Malfoy lhe disse, algo que havia machucado, mas que ela não admitiria nem em mil anos.


– Não faça dramas, Weasley. Foi só um beijo.


Só um beijo. A Weasley sentiu as lágrimas involuntárias salpicarem de seus olhos quando o seu cérebro encontrou a explicação mais óbvia para tudo aquilo: ela era só mais uma peça em um dos jogos que Scorpius Malfoy costumava jogar.


– Idiota. – Ela sibilou, não sabendo se estava xingando o Malfoy por ser alguém tão desprezível, ou se estava xingando a si mesma, por ter sido tão estúpida ao ponto de se arriscar em um acordo tão perigoso quanto aquele. Lilian tinha razão quando lhe avisou que as coisas poderiam não sair como ela havia planejado.


Era óbvio que se alguém fosse sair machucada naquela história seria ela, e não ele. O Malfoy, no final das contas, se daria bem. Ganharia 300 Galeões e ainda poderia se gabar pelo resto da vida por ter feito a Weasley sabe-tudo se apaixonar perdidamente por ele.


Rose Weasley arregalou os olhos diante do pensamento anterior. Não, não, não, definitivamente, não. Ela não estava apaixonada, nem sequer suportava o Malfoy.


– Eu só estou confusa. – Ela disse para si mesma, sorrindo de forma débil. – E completamente fora de mim!


Sentindo que estava a ponto de enlouquecer, ela andou até a lareira. Precisava conversar com alguém, e, sinceramente, não havia ninguém melhor do que a prima e melhor amiga Lilian Potter para ajudá-la a encontrar a razão novamente. E ela não se importaria com as piadas e as frases fajutas de “eu avisei que isso não daria certo” ou “eu disse que isso era loucura”, afinal, a prima tinha lhe avisado mesmo. Ela é que fora idiota o suficiente para não acreditar.


Porém, ao se preparar para entrar na lareira, a Weasley notou que a linha estava sendo utilizada e que alguém se materializaria na sua frente em poucos segundos. Ela não teve tempo para se afastar, de forma que a pessoa que surgiu em sua lareira bateu violentamente nela, fazendo com que os dois corpos caíssem no chão.


Enfurecida com quem quer que fosse que havia lhe derrubado e, ainda por cima, enchido sua roupa com cinzas, ela começou a proferir palavras baixas de forma sussurrada, porém, parou abruptamente ao ouvir soluços. Ergueu a cabeça o máximo que conseguiu e encontrou uma cabeleira ruiva que emanava um perfume semelhante com o de maçãs. E ela reconheceria aquela cabeleira e aquele cheiro enjoativamente adocicado em qualquer lugar.


E pela primeira vez naquele dia, a Weasley se preocupou com algo que não estivesse relacionado com as insanidades que ela e o Malfoy cometiam todos os dias.


Percebendo que o choro não parava, a Weasley envolveu a prima em um abraço desajeitado ali mesmo, caída no chão. Porque se Lilian Potter estava com problemas, Rose Weasley não mediria esforços para ajudá-la.


**


Completamente mal-humorado, o Malfoy optou por aparatar diretamente dentro do quarto para evitar as perguntas que Astoria Malfoy certamente faria, mas que ele não estava com a menor paciência para responder. Por mais que tentasse, o beijo que aconteceu entre ele a Weasley estava preso em sua retina, e ele se via incapaz de esquecer. Ele não conseguia negar para si mesmo que ter os lábios dela grudados nos seus havia mexido com ele de uma forma que beijo algum – e garota alguma – havia mexido.


Estava tão perdido em seus pensamentos, que se assustou quando aparatou no quarto e encontrou a figura solitária e apreensiva daquele que costumava ser o seu melhor amigo jogada em uma poltrona brincando distraidamente com uma mini-vassoura da coleção do Malfoy.


– Hey, cara. – o Malfoy disse encarando o amigo um pouco apreensivo, visto que o Zabine deixou bem claro no decorrer do almoço de mais cedo que ainda estava chateado por ele não ter compartilhado com ele o acordo firmado com a Weasley e os 300 Galeões.


Anthony Zabine levantou os olhos e o Malfoy o encarou confuso ao notar que o amigo não parecia nada bem, visto que apenas levantou uma das mãos em forma de cumprimento.


Resolvido a deixar seus problemas com a Weasley um pouco de lado, o Malfoy sentou-se na cama e encarou o Zabine de forma impassível, porque ele sabia que aquele era o único estimulo que o Zabine respondia quando estava daquela maneira.


– O que está fazendo aqui? – o Malfoy perguntou tentando esconder a felicidade de o melhor amigo tê-lo procurado, independente do motivo que o trouxe ali.


O Zabine soltou o ar que havia prendido nos pulmões e encarou o Malfoy da forma mais dura que conseguiu.


– Sabe aquele lance do acordo que você fez com a Weasley? – Ele questionou, fazendo com que o Malfoy concordasse vagamente. – Então, eu não me importo mais por você ter escondido as coisas de mim. Isso porque eu também escondi coisas de você.


O Malfoy não falou nada nos segundos que se seguiram, porque palavras não eram necessárias naquele momento. Ele não se importava com o fato de Anthony ter escondido algo dele, o que realmente deixava o Malfoy apreensivo é que esse algo deixou seu melhor amigo destruído. E ele fazia uma leve idéia do que poderia estar acontecendo.


– Quem foi a garota que fez isso com você? – o Malfoy questionou, embora o almoço de mais cedo lhe deixasse ter algumas suspeitas.


Anthony Zabine soltou mais um suspiro e se levantou, colocando a mini-vassoura de volta ao suporte da coleção. Em seguida, encarou o teto tentando conter as vergonhosas lágrimas que estavam fazendo o seu rosto se contrair.


– Potter. – Ele respondeu sem se virar, fazendo o Malfoy se levantar e andar até o melhor amigo.


– Se serve de consolo, a Weasley também é assim, completamente louca. – Ele disse batendo nos ombros do Zabine que se virou para ele abruptamente.


– Não compare o que não pode ser comparado. – Ele resmungou andando para o outro lado do quarto. – A Weasley pode ser completamente pirada, mas gosta de você. – Anthony disse, não tendo o mínimo de cuidado na escolha das palavras.


E o Malfoy sentiu como se tivesse levado um soco no estomago, as mãos soando frio e a voz querendo fugir.


– O que quer dizer com isso?


– Estou querendo dizer que a Potter não me vê da mesma forma que a Weasley vê você. – o Zabine disse sorrindo de forma sarcástica.


– Você está vendo coisas onde não existe. – o Malfoy resmungou.


– Quando você vai deixar de ser tapado, Scorpius? – o Zabine questionou erguendo uma das sobrancelhas em um breve momento de descontração.


O Malfoy, não gostando do rumo que a conversa estava tomando, retornou ao assunto principal.


– Independente disso, o que houve com você e a Potter? – Scorpius indagou sentando-se na beira da cama novamente. – Por que até onde eu me lembre você jurava que não sentia nada pela garota.


O Zabine suspirou outra vez e sentou-se novamente na poltrona onde estava segundos atrás.


– Eu já deveria sentir alguma coisa por ela antes, mas eu só fui perceber depois de uma conversa que tivemos depois daquele nosso encontro naquele bar sujo em Hogsmead.


– No Natal? – Scorpius questionou tentando se situar melhor.


– Exatamente. – Outro longo suspiro, e um sorriso esquisito de nostalgia tomaram conta do rosto do Zabine. – De uma forma estranha, depois de outra discussão corriqueira, ela me contou que gostava do irmão da Weasley.


– Hugo? – o Malfoy questionou ainda confuso.


– Por algum acaso Rose tem outro irmão? – o Zabine perguntou irritado. – Pare de me interromper, por favor.


– Okay, continue. – Disse Scorpius erguendo as mãos em sinal de rendição.


Ambos riram e depois disso, por fim, Zabine se sentiu mais relaxado e preparado para dividir com o melhor amigo aquilo que finalmente ele tinha tomado coragem de admitir para si mesmo.


**


– Espere um pouco Lilian, eu não estou entendendo nada! – A Weasley disse tentando fazer a prima falar mais devagar.


A Weasley já tinha conseguido deixar a prima um pouco mais calma, mas isso não significava que ela estava menos nervosa. Ambas estavam no quarto da mais velha, sentadas na cama enquanto Lilian tentava explicar o que havia acontecido.


– O que você não entendeu Rose? – Ela perguntou.


– Tudo! – A Weasley resmungou. – Como você e Anthony começaram a conversar, pra começo de conversa? Você me disse que vocês brigaram, mas vocês discutiram a vida toda e você nunca pareceu se importar!


– Foi diferente agora! – A Potter disse tentando segurar as lágrimas. – O Zabine estava me ajudando com o Hugo, era por isso que estávamos tão grudados nos últimos dias.


– Com o Hugo? – A Weasley perguntou ainda sem entender. – Como vocês estavam fazendo isso Lil’s?


A Potter abaixou a cabeça envergonhada.


– Você se lembra do Natal, quando paramos naquela espelunca no Beco e o Zabine aparatou comigo na Toca? – Rose Weasley teve medo do que viria a seguir, mas mesmo assim assentiu. – Então, eu meio que contei sobre Hugo.


– Como assim contou Lilian? – Rose questionou incrédula. – Você nunca teve intimidade com o Zabine!


– Nós discutimos antes. Dissemos coisas horríveis um para o outro e então, quando percebi, estava chorando.


**


– E cara, quando eu vi ela chorar, eu me senti o pior homem da face da Terra. – o Zabine disse ao Malfoy, que escutava o relato do amigo atentamente. – Então eu fiz a única coisa que eu podia fazer e a abracei.


Scorpius não escondeu a surpresa, em partes porque se lembrou do que aconteceu com ele depois que beijou a Weasley.


– E o que ela fez? – O Malfoy questionou intrigado.


– Ela não fez nada, simplesmente ficou ali, envolvida nos meus braços. – Ele respondeu com um sorriso nostálgico.


**


– Eu nunca me senti tão protegida em toda a minha vida. – Lilian disse a prima sorrindo entre as lágrimas. – E acho que foi esse abraço que me fez confiar nele e desabafar sobre o que eu sentia por Hugo.


A Weasley ficou em silêncio por alguns instantes, tentando absorver tudo o que estava sendo despejado diante dela.


– E o que aconteceu depois?


– Ele me ofereceu ajuda. – Potter respondeu de forma simples, encolhendo os ombros.


**


– Ajuda? – Scorpius questionou indignado. – Você disse a garota que você gosta que a ajudaria a ficar com outro cara, é isso? – Tornou a perguntar, pensando que seu melhor amigo havia ficado louco.


Anthony Zabine franziu a face em uma expressão desgostosa. A ajuda que ele havia oferecido a ela parecia ridícula se ele analisasse a situação agora.


– Eu sei que parece loucura, mas foi o que me pareceu certo no momento. – o Zabine respondeu encarando o amigo. – Pode parecer insano, mas tudo o que eu queria era que ela parasse de chorar.


– Funcionou?


– Você não viu o tamanho do sorriso dela quando aceitou.


**


– E você ainda diz que eu sou a louca por fazer acordos com o Malfoy. – A Weasley resmungou, fazendo com que Lilian risse da expressão ranzinza da prima.


– Nós não fizemos um acordo, Rose. Anthony simplesmente disse que me ajudaria, segundo ele, porque não suportava ver garotinhas chorarem. – Ela respondeu rindo de leve. – Não me pediu nada em troca.


– E você, com toda a certeza do mundo, aceitou. – Rose sentenciou, somando dois mais dois.


Lilian concordou e olhou para o teto tentando conter as lágrimas para voltar a falar.


– Eu concordei sem avaliar que as coisas podiam se complicar. E que a crise de ciúmes que eu queria provocar poderia não surtir efeito algum em Hugo, como de fato não teve.


**


– Hoje, depois daquele almoço esquisito do irmão dela e da namorada mandona, eu aparatei com ela na casa dos Potters. – Anthony explicou. – E então começamos a discutir, porque o Weasley foi burro demais tentando provocar uma crise na Lilian levando a Scamander para aquele almoço.


– Essa garota é um problema. – Scorpius murmurou para si mesmo, lembrando-se da conversa que tivera com a Weasley antes da catástrofe que foi o beijo que trocaram.


– Quem? Lilian? – o Zabine, que havia escutado o resmungo do Malfoy perguntou.


– Não, não. Esquece. – O Malfoy disse enquanto se esforçava para não corar por algo tão ridículo. – O que aconteceu depois? – Questionou voltando a se concentrar no que o Zabine lhe falava.


– Nós discutimos.


**


– Ele me disse que o Hugo era um idiota por não me querer e mais um monte de outras coisas. – A Potter disse enquanto a Weasley já se preparava para uma nova crise de choro que tomaria conta da prima em breve. – Eu não deixe barato, disse um monte de asneiras para ele também, foi então que ele... – Interrompeu-se por causa do soluço. – que ele me disse que ia embora e que eu não deveria mais procurá-lo.


E então, o choro irrompeu e Rose Weasley a amparou, dizendo que tudo ficaria bem, mesmo que ela não tivesse certeza disso.


– Eu não quero que ele suma da minha vida. – Lilian disse entre as lágrimas. – Ele é um idiota, fala muita bobagem, mas eu aprendi a gostar dele.


Rose acariciou os cabelos da prima, arregalando os olhos e fazendo uma pergunta involuntária:


– Você se apaixonou pelo Zabine?


Ainda chorando, Lilian levantou-se do colo da prima, onde havia se colocado assim que começou a chorar, encarando a Weasley nos olhos. Dúvida, era apenas isso que Rose Weasley enxergava nos olhos da prima.


– Eu... Eu não sei. – Ela respondeu com a voz tremula tentando controlar as lágrimas. – Eu gosto muito do Hugo, mas não sei dizer o que eu sinto pelo Anthony. – O choro veio com força outra vez, a obrigando a esconder o rosto no pescoço da prima. – Eu estou confusa, Rose. Não sei o que fazer.


E Rose Weasley não conseguiu deixar de se sentir culpada, afinal, ela ouviu tudo o que Hugo disse a Lysander quando eles acabaram o repentino namoro. Se ela tivesse contado a Lilian sobre isso, ou tivesse dito ao irmão que Lilian gostava dele, talvez as coisas não estivessem tão complicadas para a prima como estavam. Talvez Anthony Zabine não teria se aproximado dela. E provavelmente Lilian não estaria confusa.


– Me desculpe, Lil’s. – A Weasley se viu dizendo já com os olhos encobertos pelas lágrimas. – Isso é tudo culpa minha.


A ruiva Potter encarou a prima sem entender, e vendo que Rose começaria a chorar, tentou ajudar:


– Não é culpa sua, Rose. Você não fez nada.


– Eu fiz sim, Lil’s. – Ela respondeu fungando alto. – Eu escondi algo de você que não deveria ter escondido. Eu não devia ter feito isso, por favor, me desculpa.


Lilian Luna Potter ainda encarava a Weasley em expectativa. Ela não conseguia ver o que Rose poderia ter feito de tão grave para se preocupar daquela maneira.


– O que você escondeu de mim Rose? – Lilian questionou, e se soubesse o que a resposta para aquela pergunta significaria, talvez nunca tivesse perguntado nada.


– Que Hugo terminou com Lysander por não saber se gostava dela ou de você. – Ela soltou de uma só vez, fechando os olhos e esperando os gritos e as ofensas que ela merecia e escutar.


**


Scorpius Malfoy encarava o melhor amigo de forma dura, pensando em uma maneira de dizer aquilo que ele precisava ouvir. Como delicadeza nunca foi seu ponto forte, e Anthony Zabine não entendia as coisas quando ditas de forma branda, ele optou por não medir as palavras ao aconselhar o menino.


– Você pode chorar como uma garotinha e pedir colo para a sua mãe agora se quiser, mas não demonstre fraqueza na frente dela. Se você fizer isso, pode ter certeza que tudo estará perdido pra vocês.


– O que está dizendo Malfoy? – O Zabine perguntou confuso.


– Mostre a Potter que você não se importa mais. – o Malfoy disse com um meio sorriso. – Não interessa se ela vai estar com o Weasley daqui a dois dias, não deixe que ela perceba que você gosta dela. Seja homem, Zabine! Não deixe essa garotinha pisar em você!


O Zabine encarou o melhor amigo por alguns segundos. Ele poderia dizer que estava bem mais leve por compartilhar aquela situação com o Malfoy, mas isso não significava que seu peito doía menos. Mas apesar disso, ele sabia que o amigo tinha razão e que ele não deveria se mostrar fraco na frente daquela garota. Ela é quem deveria perceber o que estava perdendo. Existia uma coisa chamada orgulho masculino, e naquele momento, Anthony Zabine estava desenvolvendo muito bem aquela característica.


– Está bem, você está certo. – Ele resmungou. – Mas o que acontece se eu não conseguir esquecê-la?


Scorpius soltou o ar dos pulmões e pousou a mão sobre os ombros do melhor amigo de forma amigável.


– Eu nunca disse que você iria esquecê-la. – Scorpius disse com a voz branda. – Apenas estou dizendo que você precisa suporta isso de cabeça erguida.


**


Fazia mais ou menos meia hora que Hugo Weasley estava tentando se despedir de Lysander Scamander. Estavam na sala de estar na casa dela, e haviam passado uma tarde agradável assistindo a alguns filmes e seriados trouxas depois que voltaram do curto passeio que fizeram em Hogsmead após o almoço de James. Porém, os pais do Weasley estavam para chegar em casa, e ele não pretendia ouvir o interrogatório de sua mãe sobre onde e com quem ele estava e a importância das boas companhias.


– É sério, Lys. Eu preciso ir. – Hugo disse, se desvencilhando do abraço da loira mais uma vez.


Lysander fez um bico enorme e o Weasley sorriu com a cena. Por mais que ele soubesse que era errado estar ali, dando esperanças para aquela garota, ele não conseguiu deixar de se sentiu bem ao vê-la tão feliz e animada.


– Você não pode ficar só mais um pouco? – Ela perguntou quase implorando para que ele ficasse. – Foi tão bom passarmos a tarde juntos.


Hugo sorriu.


– Meus pais estão chegando, e você sabe o que Hermione Weasley é capaz de fazer comigo se eu não estiver em casa para o jantar. – Ele disse e se aproximou dela, beijando-lhe a bochecha de forma suave. – E eu também gostei da nossa tarde.


Nossa.Lysander se via incapaz de não sorrir sempre que ele falava essa palavra se referindo aos dois.


Ela acabou se dando por vencida, concordando logo em seguida. Mas Hugo sabia que ela perguntaria alguma coisa, por que a garota mordia o lábio inferior de forma nervosa e mexia as mãos de forma frenética.


– Você quer me dizer alguma coisa antes de eu ir Lys? – Hugo questionou, embora tivesse um pouco de medo da resposta.


O sorriso de Lysander aumentou e ela colocou uma mexa do cabelo loiro para trás da orelha, tentando achar uma forma suave de abordar aquele assunto. Porém, quando estava prestes a falar, fora brutalmente interrompida pelo irmão gêmeo que adentrava na sala apressado.


– Weasley, que surpresa vê-lo por aqui! – Lorcan disse com falsa simpatia, indo até o filho de seu padrinho.


– E aí Lorcan? – Hugo cumprimentou de forma embaraçada ao mesmo tempo em que Lysander bufava.


– Está indo para a sua casa agora? Por que se estiver, vou com você. Combinei com o padrinho que jantaria lá essa noite. – O Weasley, que não era burro nem nada parecido, percebeu que aquela não era uma pergunta, mas sim uma intimação.


Ele suspirou pesadamente enquanto observava Lorcan ir em direção a lareira.


– Eu já estava indo, sim.


Lysander encarava Hugo em uma súplica muda para que ele ficasse um pouco mais e ela pudesse lhe dizer o que gostaria. Tudo o que a Scamander queria naquele momento, era dizer a Hugo que eles podiam recomeçar, que as coisas poderiam dar certo entre eles. Mas, aparentemente, seu irmão adorava estragar seus planos.


– Eu tenho que ir Lys, outra hora você me fala o que tinha pra me dizer, tudo bem?


Sem alternativa, Lysander concordou.


– Nós vamos nos ver novamente, não é? Promete que vai aparecer de novo para outra sessão de filmes? – Ela questionou mordendo os lábios de um modo que apenas Hugo sabia que significava nervosismo e medo.


– Eu prometo, Lys. – Ele respondeu beijando levemente a testa dela e andando na direção da lareira.


Antes que as chamas verdes pudessem consumir a ele e a Lorcan Scamander, Hugo ouviu algo do garoto que o fez se sentir culpado:


– Você precisa parar de iludir a minha irmã.


Segundos depois, sem saber se o programa que tinha feito com Lysander tinha sido mesmo uma boa idéia, o Weasley se viu na sala de estar da própria casa ao lado do Lorcan, que ainda o encarava interrogativo.


– O que foi? – Hugo perguntou de forma ríspida, enquanto saia da lareira.


Lorcan o seguiu e estava pronto para dizer umas poucas e boas para o Weasley quando eles ouviram vozes exaltadas no andar de cima. Eles se entreolharam sem saber o que fazer ou o que dizer, apenas, para, em seguida, verem Lilian Luna Potter descendo as escadas da casa de dois em dois degraus sem olhar para os lados, sendo seguida por Rose Weasley que gritava por ela.


Ambas choravam, embora Rose soluçasse mais alto.


Mais rápida que um furacão, a Potter entrou na lareira e foi consumida pelas chamas verdes, deixando a Weasley completamente desolada para trás. Hugo virou-se para a irmã querendo perguntar o que havia acontecido, mas ao encará-lo, Rose Weasley correu escada acima sem esconder o choro.


Hugo observou a irmã subir as escadas com preocupação. Alguma coisa no universo não deveria estar em harmonia, porque ele não conseguiria se lembrar de uma briga entre Rose e Lilian nem que se esforçasse muito. Simplesmente porque elas nunca tinham se desentendido até aquele dia.

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