Capítulo VI



– Será que você não consegue parar de gemer, Scorpius? – Rose perguntou, irritada, enquanto pressionava a compressa de gelo sobre o machucado dele. – Já faz mais de meia hora que você levou esse soco, se recomponha, por favor!


– Pra você é fácil falar. – Ele murmurou mal humorado, enquanto sentia o rosto queimar.


Eles estavam sentados em um dos sofás da sala de estar. Aparentemente, todos os adultos encontraram alguma atividade para fazer, deixando os adolescentes sozinhos no cômodo. Rose e Scorpius permaneciam isolados, sentados próximos a lareira, enquanto os demais pareciam estar discutindo algo muito interessante do outro lado da sala, como Rose pode notar ao olhar para lá.


– E aí, casal! – Eles ouviram a voz de Anthony e se viraram abruptamente, sentindo-se levemente desconfortáveis com o apelido. – Qual é a boa? Já ‘tá melhor desse soco, amigão? – Ele perguntou sorrindo cinicamente.


– Como se você se preocupasse muito com isso, Zabine. – Scorpius retrucou. – Parecia ocupado demais rindo com o Potter, enquanto eu apanhava.


Anthony não pode evitar a gargalhada, assim como Rose. Ela não conhecia o lado – quase- emocional de Scorpius. Normalmente, o Malfoy não costumava demonstrar sentimentos ou reações. Ele era praticamente impermeável, impossível de descobrir o que se passava em sua cabeça.


Na realidade, Scorpius Malfoy estava se sentindo traído. Ele sabia que Albus e Anthony não poderiam fazer muita coisa por ele, mas esperava – no mínimo – um pouco de solidariedade por parte dos amigos.


– Não me olhe com essa cara, Scorpius. – O Zabine pediu, imaginando o que se passava na cabeça dele. – Em situações normais, eu defenderia você. Mas estávamos em território inimigo, não pude fazer nada. – Ele completou, erguendo as mãos para cima em sinal de rendição.


– Sei que não pode. – Ele murmurou, desviando do olhar do amigo.


E foi ao desviar o olhar que Scorpius notou algo, no mínimo, estranho. Lysander Scamander estava aos beijos com Hugo Weasley na outra extremidade do cômodo.


– Hey! – Ele protestou. – Desde quando a Lysander sai com o seu irmão? – Ele perguntou à Rose.


Anthony prendeu a respiração quando notou a pele de Rose adquirir um tom mais avermelhado do que o normal.


– Aparentemente, estão namorando. – Ela respondeu de mau humor, fazendo uma careta enquanto observava Lysander se enroscar no pescoço do irmão no outro lado da sala.


Scorpius pareceu refletir um pouco. Definitivamente, Lysander queria alguma coisa de Hugo. Apesar de vulgar, qualquer um poderia perceber que a garota era demais para o irmão caçula de Rose.


– Ela está aprontando alguma coisa. – Scorpius murmurou. – Ela é muito gata para estar com o Hugo. – Ele pensou em voz alta, sem reparar que a Weasley já estava com as bochechas coradas.


Scorpius gemeu de dor, quando Rose fez mais força do que o necessário com o gelo. Ao ouvir os resmungos do Malfoy, ela apenas revirou os olhos e jogou a compressa com gelo em cima dele.


– Quer saber?! – Ela falou enquanto se levantava. – Você é irritante! – Ela bradou. – Quando terminar de babar pela Scamander, me avise. – Ela sussurrou a última parte e, completamente irritada, girou nos calcanhares e andou em direção às escadas.


– O que foi que eu fiz? – Scorpius perguntou a Anthony, visivelmente perdido na santa ignorância masculina.


– Se você, que é o namorado dela, não sabe, como é que eu vou saber? – Anthony respondeu, dando de ombros.


 


**


Scorpius Malfoy era o ser mais irritantemente idiota que ela tivera o desprazer de conhecer, fato. Tudo bem, ela concordava que Lysander Scamander tinha o rosto de uma boneca de porcelana e um corpo de dar inveja a qualquer modelo da Victoria Secret’s. Rose Weasley, inclusive, duvidava que a garota tivesse acordado um único dia, se olhado no espelho e dito algo como “Nossa! Eu odeio meu cabelo”. Ela não era hipócrita ao ponto de dizer que Lysander era ridiculamente estranha e desengonçada como o irmão. Não. Rose sabia que Lysander era bonita. E bonita até demais.


Caminhava a passos rápidos e duros. Ultrapassou a avó, as tias e a mãe, que, com um simples gesto com varinha carregavam a comida fumegante e cheirosa para a mesa da sala de jantar, e subiu as escadas.


Passeando pelos corredores do andar de cima, Rose suspirou ao notar que Lilian Luna Potter estava sentada na cama, no antigo quarto de Gina. Ela estava com a cabeça apoiada nos braços, solitária. Sem pensar muito, Rose Weasley se jogou ao lado da prima. Assim que sentiu o movimento, Lilian sorriu triste para a prima.


– E aí? – Ela perguntou sem um pingo de emoção. – O que faz aqui?


– Discuti com o Malfoy. – Ela respondeu de forma simples e óbvia. – E você? – perguntou – O que houve com você? – Rose indagou encarando a prima, tendo uma leve idéia da resposta.


Lilian sorriu de forma triste.


– Lysander Scamander. – Ela respondeu em um suspirou. – Ela houve.


Rose sorriu de forma solidária e segurou a mão da prima. Sabia que não estava sendo fácil para ela, mas Lilian iria superar, tinha certeza. Ela respirou fundo algumas vezes antes de se dar conta do óbvio: Lysander era sinônimo de problemas. Pelo menos para elas duas.


– Me desentendi com o Malfoy por causa dela. – Rose declarou. – Ele disse que meu irmão é pouco para ela. – Deu um sorriso debochado antes de continuar. – E me lembrou do quanto essa garota é odiosamente bonita.


– E você ficou completamente mordida de ciúmes, certo? – Lilian perguntou divertida.


– Errado. – Rose respondeu mal humorada. – Você sabe o quanto eu não gosto de Lysander, e ver as pessoas a tratarem como se ela fosse o último sapinho de chocolate do pacote, me deixa frustrada. – Rose afirmou e, depois, franziu a sobrancelha. – E, além do mais, porque eu teria ciúmes do Malfoy? – Ela perguntou intrigada.


– Sei lá. – Lilian deu de ombros, mas sem esconder o sorriso perverso. – Achei a encenação de vocês tão convincente. Você até cuidou do rosto inchado dele! – Lilian riu-se enquanto se lembrava.


– Fica quieta, mosntrinha. – Ela murmurou. – É tudo parte do plano.


Lilian Potter gargalhou enquanto analisava a prima. Ela não havia mentido, o fingimento deles foi muito bom, bom demais. E, de alguma maneira, Lilian parecia ser a única que percebia aonde aquela história iria parar.


– É tudo parte do plano. – Lilian imitou a voz da prima. – Fala sério, Rose! Acha que eu não vi os olhares de vocês? Ou a hora em que ele te abraçou?


Rose Weasley lançou um olhar irritado a prima. Scorpius Malfoy e ela? Juntos? Era praticamente impossível.


– Lilian, não começa. – Ela alertou. – Não queira fazer da minha vida um conto de fadas daqueles que você lê, porque eu e o Malfoy juntos de verdade não vai rolar. Esqueça. – Ela sentenciou. – Quem vive no mundo da fantasia é você, não eu. – Zoou.


A ruiva Potter gargalhou enquanto jogava a cabeça para trás. Será que era apenas ela conseguia enxergar aonde aquela maluquice iria dar?


– Acredite, eu já li muitos contos de fadas, então sei reconhecer um quando o vejo. – Lilian falou sorrindo de fora irônica para a prima.


– O que quer dizer com isso Lilian? – Rose indagou, enquanto encarava a amiga com os olhos curiosos.


– Estou querendo dizer que você deveria ter escolhido um príncipe encantado melhor. – Lilian respondeu. – Porque quando essa loucura de pseudo namoro acabar, vocês estarão perdidamente apaixonados um pelo outro.


Rose bufou indignada. Teria que conversar com sua tia para proibir Lilian Luna de assistir seriados e filmes americanos e de ler livros com alto teor de romances impossíveis. Sem ter muito o que falar – e achando aquela estória mais mirabolante do que a invenção dela sobre o namoro – Rose gargalhou.


– Vai rindo. – Lilian disse mal humorada. – Mas um dia você vai vir até mim para me contar que está apaixonada pelo Malfoy. – Lilian sorriu triunfante. – E aí quem irá rir da sua cara de “Weasley amando o Malfoy” serei eu. – Ela concluiu, empinando o nariz.


– Vai sonhando, Lilian, vai sonhando. – Rose disse em meio as risadas e se levantando. – Vamos descer. A vovó já vai servir a mesa.


Meio emburrada e contra a sua vontade, Lilian obedeceu a prima e, juntas, elas caminharam em direção as escadas rindo.


Rose poderia negar o quanto ela quisesse, mas na mente fantasiosa de Lilian Luna Potter, um romance de verdade entre os dois seria inevitável.


 


**


 


Scorpius Malfoy sentia o suor escorrer por baixo das pesadas roupas de inverno. Naquele exato momento, toda a família estava sentada à mesa. E ele, por infelicidade do destino, foi colocado de frente para Ronald Weasley, que não parava de encará-lo.


– Hey, cara. – A voz de Albus Potter se fez presente. – Não se preocupe, meu tio não irá te socar de novo. – Ele sussurrou enquanto se sentava ao lado do amigo. – E se ele tentar, eu prometo que dessa vez eu te defendo.


– Sei, Potter. – Scorpius respondeu duvidoso. – Você demonstrou isso hoje mais cedo.


– Ah! Meu tio precisava extravasar a emoção de ter você como genro, Scorpius. – Albus explicou de forma tão séria, que fez Scorpius rir involuntariamente. – E agora que ele se sente vingado, duvido que faça mais alguma coisa. – Albus comentou e se aproximou um pouco mais do ouvido do Malfoy. – Talvez rolem alguns feitiços puramente acidentais, mas nada demais. – Ele sussurrou, fazendo Scorpius engolir em seco.


– Fiquei muito mais tranqüilo agora. – O Malfoy respondeu, visivelmente inseguro. – Mas onde é que a Rose se meteu? – Ele se questionou em voz alta, irritado com o fato de estar sendo alvo dos olhares nada amigáveis de Ron Weasley.


– Estou aqui, Scorpius. – Ele ouviu a voz dela e se virou para encará-la. – estava com saudades, amor? – Ela perguntou sorrindo, enquanto se sentava ao seu lado.


Para qualquer um naquela mesa, Rose estava se mostrando a perfeita namorada apaixonada. Exceto para ele. Conhecia Rose Weasley bem demais para não saber reconhecer cada um de seus gestos de cor. E aquele sorriso, definitivamente, era um sorriso desdenhoso e levemente perverso. E com um toque de inocência que só ela sabia dar, e que poderia enganar qualquer um.


– É claro que sim. – Ele respondeu devolvendo o sorriso e, sem conter o impulso de irritá-la, dando um leve beijo na bochecha, quase no canto dos lábios.


Sorriu internamente ao notar o olhar dela, que claramente o chamava de idiota.


 


**


O jantar transcorreu de forma normal para os Weasley.


Mas Scorpius Malfoy achou tudo ligeiramente estranho. Não que não tivesse gostado, é claro, apenas não estava acostumado a comemorar datas festivas com tanta gente. As refeições da família Malfoy sempre eram solitárias e caladas, e ver todas aquelas pessoas rindo e conversando de uma forma tão espontânea e descontraída fez com que Scorpius desejasse algo que ele sempre evitava pensar: irmãos. – ou primos mais próximos, já que sua tia Dafne morava na Austrália.


E era por isso que desde muito cedo – mais precisamente, desde os sete anos – Scorpius Malfoy havia decidido que não seguiria a tradição da família. Ele não teria um único herdeiro, não queria que seu filho passasse pelas angústias de não ter um irmão, de não ter ninguém pra conversar e brincar durante as férias. Scorpius queria uma família grande e barulhenta e, por mais estranho que aquilo pudesse soar, queria que ela fosse exatamente como aquela.


–Hey, posso saber por que está sorrindo dessa forma tão idiota? – Foi tirado de seus devaneios pela voz de sua acompanhante.


– Estou só pensando em algumas coisas. – Ele respondeu, apertando de forma suave e quase imperceptível, a mão de Rose.


Rose pensou em perguntar sobre o que o rapaz pensava, mas seus olhos apenas o fitavam se forma curiosa e sua boca parecia-se incapaz de produzir qualquer som. Ela não sabia o porquê, apenas sabia que Scorpius Malfoy estava sorrindo de verdade e, independente do motivo, aquilo deveria ser uma coisa boa, pensou ela, ou será que não?


Depois do jantar – onde Scorpius não parava de pensar no quão bom a comida estava – todos se dirigiram para a sala de visitas, onde os adultos sentavam-se nas poltronas e os adolescentes pelo chão, formando um único grupo no centro do cômodo.


Enquanto os adultos conversavam amenidades, Scorpius, Rose e os outros se divertiam com as histórias de James Sirius Potter, que, naquele momento, explicava aos primos que ainda estavam em Hogwarts algumas outras –possíveis – utilidades para a Sala precisa. Como dar amassos em alguma garota durante a madrugada.


– Eu estou falando sério! – Ele disse. – Ninguém nunca vai descobrir!


– Fala sério, James! – Dominique retrucou. – É impossível. O zelador passa a noite na frente daquela entrada desde que soube onde a sala precisa estava localizada.


– Domizinha, Domizinha. – James ironizou. – Engane o zelador! – Ele afirmou o óbvio. – Nem parece que vocês são meus primos.


– Só porque você era um inconseqüente que vivia quebrando as regras e levando vadias para o seu “antro de perdição” não significa que nós também sejamos. – Rose declarou estreitando os olhos na direção do primo.


James sorriu enviesado. E Rose, de alguma maneira, soube que ele faria um comentário inapropriado que a deixaria embaraçada.


– Vai me dizer que o Scorzinho ainda não levou você pra lá? – James perguntou, fazendo Rose avermelhar e Scorpius cuspir o suco de abobora que tomava. – Ah não! Vocês não estão querendo me dizer que ainda não fizeram nada, estão? – James perguntou incrédulo.


– É claro que não! – Rose respondeu, visivelmente alterada. – Que tipo de garota você acha que eu sou? – Ela perguntou, não contendo o olhar discriminador para cima de Lysander.


– Do tipo que não sabe se divertir. – James respondeu lançando um olhar de pena para o Malfoy. – Cara, tenho pena de você. – Ele declarou. – Tipo, não rolou nada? – Ele perguntou de novo. – Nenhum uma passadinha de mão ou um amasso no armário vassouras?


–JAMES! – As garotas gritaram juntas, completamente enojadas com o rumo daquela conversa.


Scorpius gargalhou enquanto via Rose se enfurecer com os comentários nada cavalheiros de James.


– Não, não fizemos nada. – Ele respondeu.


– Você é gay? – Fred Weasley – um garoto alto, ruivo e que, aparentemente, adorava fazer piadas – perguntou parecendo bastante interessado.


Que ótimo, pensou Scorpius. Como se não bastasse colocar a sua vida em risco, ele havia conseguido colocar a sua masculinidade em jogo também.


–É claro que não. – Scorpius respondeu, sorrindo internamente. Talvez, com a declaração a seguir, ganhasse um pouco mais de credibilidade com todos. – Só o fato de estar com Rose já me deixa completamente satisfeito. Não preciso de mais nada. – Ele declarou, enquanto os olhares de admiração de Dominique, Lucy e Roxanne o perfuravam – e um de incredulidade vindo de Rose, obviamente.


– Você é louco. – James ergueu as mãos para cima dando de ombros.


Estavam tão distraídos com a conversa, que nem haviam notado que os adultos os observavam. E que Ronald Weasley tinha o rosto avermelhado.


– Será que vocês poderiam parar de falar sobre a vida sexual inexistente da minha filha? – Ele perguntou, não conseguindo se conter.


Scorpius sentiu o sangue ferver em todas as suas veias. Era agora, pensou, era agora que Ron Weasley faria dele um experimento parar teste de feitiços.


– Sr. Malfoy. – Ronald o chamou, rindo internamente ao notar o desespero aparente do garoto. – Fico feliz em saber que não bulina a minha filha pelas minhas costas. – Ele comentou, sorrindo de forma quase débil. – Continue assim garoto, e pode ser que eu resolva não torturar você.


– Claro, Sr. Weasley. – Scorpius respondeu da melhor forma que pode, mas sem obter sucesso, já que sua voz havia saído mais tensa e instável do que desejava.


Achando que ele poderia se divertir um pouco mais aquela noite, Ronald Weasley resolveu se sentar junto com os garotos, mais precisamente ao lado de Lorcan.


– E então, como andam suas notas garoto? – Ele pediu encarando Scorpius. – Sabe, Lorcan esteve me contando que conseguiu tirar nota máxima em Poções, DCAT, Herbologia e Feitiços. – Comentou orgulhoso, enquanto passava o braço sobre os ombros de Lorcan.


Scorpius Malfoy gelou. O que poderia dizer? Que estava naquela situação exatamente porque suas notas não eram exemplares? Pois é, pensou resignado, se tivesse estudado um pouco mais, seu pai teria lhe dado uma vassoura nova e, conseqüentemente, ele não estaria naquela situação.


– Não são tão boas quanto as de Rose. – Ele disse, sentindo o rosto avermelhar. – Mas estou razoável.


– Razoavelmente mal. – Ele ouviu Anthony sussurrar para Albus, que riu. Por sorte, Ronald não havia ouvido.


– Muito bem. – Ronald o avaliou. – Rose é a garota mais inteligente do seu ano, não seria prudente andar com alguém com o cérebro de um trasgo, concorda?


Scorpius engoliu em seco, tentando não se sentir ofendido com aquilo, final, não era o namorado de Rose – pelo menos não de verdade – e, conseqüentemente, não precisava agradar Ron. Mas por que ele sentia a necessidade de que o sogro gostasse dele? Orgulho, talvez? Ele se perguntou.


– Ronald, não importune o garoto. – Hermione intercedeu, ralhando com o marido.


– É Roniquinho. – A voz de mais alguém foi ouvida, fazendo com que Scorpius se virasse para encarar o homem que falara. – E, além do mais, inteligência não serve de padrão aqui. – O homem, que ele reconheceu por George Weasley comentou. – Hermione é a bruxa mais inteligente do mundo, e mesmo assim se casou com você. – Completou, fazendo com que todos rissem.


– Apenas estou testando o moleque, me deixem fazer isso, okay? – Ron pediu e fez com que Scorpius se sentisse como uma experiência de laboratório. – E o quadribol, você joga ao menos? – Ron perguntou visivelmente irônico.


– Jogo sim. – Scorpius respondeu, começando a aparentar mais confiança. – Sou artilheiro do time de Sonserina. O melhor artilheiro da história de Hogwarts, segundo Minerva. – Ele acrescentou, totalmente orgulhoso do feito.


Para Ron, foi inevitável o asco ao ouvir o nome da casa. Apesar de Albus, seu sobrinho, ser de lá, ele ainda tinha dificuldades de aceitar que a sonserina poderia formar bruxos bons algum dia.


– Hey! – O protesto de James Sirius foi ouvido. – Eu sou o melhor artilheiro da história. – Ele comentou, se fingindo de ofendido.


– Pelo visto você era, Jay Jay. – Lilian comentou enquanto dava a língua para o irmão mais velho, que devolveu o gesto em um ato de pura maturidade.


– Já que estamos falando em quadribol. – Ron começou novamente. – para que time você torce, Malfoy? – Perguntou presunçoso. – Sabe, o time para quem um homem torce, diz muito de si mesmo.


Scorpius se sentiu ligeiramente constrangido. Por mais que amasse o seu time de todo o coração, não era de muito bom tom assumir essa paixão, afinal, torcer para alguém que há séculos está em último lugar não é um feito para se gabar.


– Oh, nenhum em especial, Sr. Weasley. – Ele respondeu, avermelhando.


– Como nenhum em especial?! – Albus Potter questionou indignado. – E o seu amor incondicional pelo Chuddley Cannos? – Denunciou.


– Foi só uma fase. – Scorpius sussurrou mal humorado.


– Uma fase? – Albus repetiu a pergunta incrédulo. – Quem é que vive defendendo o time pela escola, Scorpius? – O Potter perguntou, erguendo a sobrancelha esquerda levemente.


O Malfoy, por sua vez, abaixou a cabeça, constrangido – tentando a todo o custo, não ser vítima de gozação.


– Parece que você ganhou companhia para assistir aos jogos, Ronald. – Ele ouviu a voz risonha de Harry Potter. – Não tenha vergonha, Scorpius. Seu excelentíssimo sogro é, inclusive, sócio desse time de meia tigela.


– Não é um time de meia tigela! – A voz de Ronald foi ouvida. Juntamente com a de Scorpius. O que, sem sombra de dúvidas causou uma série de risos pela sala.


Sabendo que a situação não poderia ficar mais constrangedora, Scorpius virou-se parar encarar Rose, claramente dizendo que era ora de ir embora. Entre os risos, a garota assentiu.


–Bem, foi muito bom conhecê-los – Scorpius disse enquanto se levantava. – Mas eu preciso ir. Meus pais devem estar a minha espera.


Rose se levantou junto com o namorado e depois de uma rápida despedida – com direito ao um abraço emocionado de Hermione – os dois saíram para fora, sentindo pela primeira vez naquela noite que poderiam respirar um pouco mais aliviados, afinal, tudo havia terminado bem.


Andaram em silêncio para o mais distante da casa possível. Sabiam que estavam sendo observados, e que teriam que se despedir de outra forma, e era por isso que estavam tentando evitar esse momento de toda e qualquer maneira.


– Anthony já deve estar descendo parar aparatar na minha casa. – Scorpius comentou e, notando que a Weasley não havia compreendido, completou. – Vamos ter que nos beijar. Ele não sabe de nada.


Ela ruborizou enquanto se aproximava dele. Scorpius a enlaçou pela cintura e aproximou seu corpo do dela, sentindo um tipo de sensação que ele não estava gostando de sentir. Ficar com Rose tão próxima dele o deixava intrigado. E com uma sensação estranha no estômago.


Rose se deixou ser abraçada, mas tentando evitar os espasmos que se espalhavam por seu corpo. Aquilo, com toda certeza, era a coisa mais estranha que ela já tinha sentido na vida. Ao ouvir o barulho da porta, aproximou seu rosto do de Scorpius suavemente, sentindo a respiração irregular e o hálito morno do rapaz.


– Você se lembra do nosso combinado, não é? – Rose perguntou insegura. – Não ouse colocar essa língua nojenta dentro da minha boca.


Scorpius sorriu sarcástico e, há centímetros de distância, sussurrou.


– Por que acha que eu beijaria você de verdade Weasley? – Roçou seus lábios no dela.


– Porque você é um idiota – Ela respondeu.


Scorpius sorriu irônico e, por fim, quebrou os milímetros que os separavam, pressionando seus lábios contra os dela de forma suave.


E Rose Weasley, de uma maneira completamente insana, queria que ele aprofundasse a porcaria daquele beijo, mas, ao que parecia, Scorpius estava empenhado em cumprir o que havia prometido.


– SOCOOORROOO!! – Separaram-se abruptamente ao ouvirem o grito de Anthony que, naquele momento descia em direção a eles. – Ela vai me matar! Saiam da frente!


E, só então, Rose reparou que Lilian corria atrás dele com a expressão completamente enfurecida.


–Quando eu pegar você, irei fazê-lo em picadinhos Zabine! – Lilian gritava.


– Mas que diabos você fez a ela, Zabine? – Rose perguntou irritada, quando ele parou ao seu lado.


Anthony por sua vez, sorriu de lado, visivelmente cafajeste.


– Só segui uma tradição de Natal. – Ele respondeu. – Eu a beijei.


Rose olhou para ele incrédula e, quando seu corpo conseguiu esboçar uma reação – que foi avançar alguns passos para alcançá-lo – já era tarde demais.


– Não acredito que ele aparatou. – Ela ouviu a voz de Lilian Luna. – Avise o seu amigo que isso não acabou. E que quando eu o achar, eu vou matá-lo. – Ela falou a Scorpius, girando nos calcanhares e marchando furiosa para dentro.


Rose estava prestes a seguir a prima quando foi puxada pelo pulso por Scorpius.


– O que pensa que está fazendo? – Ela sussurrou para ele.


– Só não esqueça do jantar de amanhã. – Ele sussurrou, de uma forma quase sedutora.


Scorpius se aproximou dela e, mais uma vez naquela noite, pressionou seus lábios contra os dela, mas sem invadir os limites que ela havia imposto. Quando afastou seus rostos, sorriu ao ver que Rose tinha os olhos fechados e a boca entreaberta.


– Vou cumprir com o que eu disse, Weasley. – Ele sussurrou para ela, enquanto acariciava suas bochechas coradas. – Mas você ainda irá implorar por um beijo de verdade meu. – Ele riu.


Rose abriu a boca diversas vezes, mas não conseguia formar uma resposta aceitável em seu cérebro. Quanto à Scorpius, ele nem sabia o porquê de estar provocando a garota daquela maneira, apenas sabia que era divertido. E que ele estava gostando.


Quando Rose finalmente conseguiu voltar a realidade e controlar a pulsação exagerada de seu coração, já era tarde.


Scorpius havia aparatado. Com um sorriso triunfante no rosto e sensações que ele não conseguia entender.


Rose Weasley levou os dedos aos lábios, revivendo a sensação estranha de ter a boca de Scorpius grudada na sua. Assustou-se com tal pensamento e, visivelmente perturbada, girou nos calcanhares e caminhou endurecida na direção da casa dos avós.


Aquela noite havia sido estranha demais.


E por que diabos seu coração não parava de palpitar?


Maldito acordo. Malditos 300 Galeões.


E aquele havia sido apenas o primeiro dia.

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