XV



Hugo Weasley e Lorcan Scamander se encaravam sem reação. Uma parte do Weasley queria ir até a irmã e perguntar a ela o que tinha acontecido, porém, a outra desejava ira até a casa dos Potter e consolar Lilian, de maneira que seus olhos não desgrudavam da lareira em que ele viu a prima desaparecer a alguns segundos atrás.


– O que você acha que aconteceu? – O Weasley questionou com a voz baixa. Lorcan o encarou com um sarcasmo que não era do seu feitio.


– Elas brigaram, idiota. – Ele respondeu azedo. – Você não vai ver como sua irmã está?


Hugo suspirou e passou as mãos pelos cabelos.


– Eu vou ver o que houve com ela. – Ele decidiu por fim, caminhando em direção as escadas e sendo seguido por Lorcan.


Os soluços de Rose Weasley poderiam ser escutados do corredor, mas ela não estava se importando. Tudo o que ela queria era que aquela dor, aquele sentimento de culpa, passasse. E chorar todas as lágrimas que pudesse talvez fossem uma boa idéia.


– O que você escondeu de mim Rose? – A voz da prima ecoou em seu subconsciente.


– Que Hugo terminou com Lysander por não saber se gostava dela ou de você.


A Weasley julgou nunca ser capaz de esquecer o olhar que Potter lhe lançou depois daquela revelação. A figura tranqüila e abestalhada de Lilian se transformou. Ela ficou furiosa, querendo de todas as maneiras compreender o que a Weasley tinha feito. E quando Rose disse que ouviu a conversa de Hugo e Lysander no dia em que terminaram, ela explodiu.


– Você sabia que eu o amava! Você não podia ter feito isso comigo, Rose! – Lilian bradou encarando a prima com uma fúria que não era característica dela. – Isso foi baixo, foi desumano! Você devia ter me contado!


A Weasley tentou se explicar apesar das lágrimas que escorriam livremente pelo seu rosto, mas mesmo assim a prima a encarava de forma impassível. Aquilo era imperdoável, e Rose sabia bem disso.


– Eu sei Lil’s, mas eu não queria que você se machucasse. Hugo ainda é uma criança e...


– Uma criança?! – Potter interrompeu as palavras entrecortadas da prima. – O problema é esse Rose. Você e sua mãe ainda acham que o Hugo é um bebê! E ele não é! É por isso que você não me contou não é?


– Lil’s, por favor, não seja absurda. Eu só queria proteger você. – A Weasley tentou mais uma vez.


– Me proteger?! Você não me protegeu, Rose. – Ela disse se movimentando em direção a saída do quarto. – Você só complicou a minha vida. E estragou tudo!


Em seguida, a Potter girou a maçaneta da porta e a abriu. Weasley permanecia petrificada no mesmo lugar, sem acreditar no que estava acontecendo. Antes de sair, a Potter lançou um único olhar na direção da prima, daquela que ela acreditava ser o seu porto seguro. Um olhar cheio de tristeza, mas acima de tudo, cheio de decepção.


– Eu pensei que nós fossemos amigas.


E aquela frase permanecia martelando em sua cabeça, mesmo agora, deitada em sua cama encarando o teto, incapaz de conter as lágrimas.


Ela tinha bagunçado a sua vida: tinha um pai que adorava empurrar o afilhado estranho para cima dela, um falso namorado que ela havia beijado e não sabia o que sentia por ele e, como se não bastasse, tinha brigado com Lilian. Ela sabia que deveria ter contado a prima, mas ela não queria que Potter se machucasse caso Hugo escolhesse Lysander. Ela não tinha muitas pessoas com quem contar e não queria perder a melhor amiga. Mas tinha perdido.


– Isso é pra você aprender a parar de se preocupar com os outros, idiota. – Ela se repreendeu em voz alta tentando controlar as lágrimas. – Queria evitar que Lilian sofresse e agora adivinha só? Quem está sofrendo sou eu.


Um barulho na porta chamou a sua atenção, mas ela sabia que deveriam ser Hugo e Lorcan querendo saber o que tinha acontecido. E ela não queria falar com nenhum dos dois.


– Rose! Abre a porta, por favor! – Ela ouviu a voz do irmão e ele parecia preocupado. Prendeu um soluço na garganta e permaneceu em silencio. Ela ouvia a maçaneta girando, mas ela tinha trancado a porta.


– Luz da manhã abra essa porta. – Ela sentiu vontade vomitar ao ouvir a voz de Lorcan. – Me deixe ver como você está!


Eles permaneceram falando, de modo que ela se pronunciou pela primeira vez.


– Vão embora os dois! Eu quero ficar sozinha! – Ela gritou de dentro do quarto.


Ela contemplou o silencio por alguns minutos antes de ouvir a voz de Hugo, mais uma vez.


– Vimos Lilian sair daqui as pressas e você está chorando. Pode ao menos nos dizer o que aconteceu?


Rose suspirou pesadamente tentando raciocinar. E então disse a única coisa que poderia dizer naquele momento.


– Talvez seja bom você ir atrás dela, Hugo.


Ela não esperava se redimir com Lilian e Hugo com aquele conselho, apenas esperava se sentir melhor.


– Não vou deixar você sozinha. – Hugo respondeu do outro lado da porta, mas Weasley detectou um sinal de dúvida em sua voz. Ela sabia que o irmão gostaria de ver a prima. Ao mesmo tempo, ouviu um protesto de Lorcan.


– Ela não vai ficar sozinha! Eu vou ficar com você minha rosa. – Lorcan disse e ela sabia que Hugo deveria ter revirado os olhos.


– Dá no mesmo, ela não suporta você. – Ouviu a voz de Hugo ao fundo e esboçou um sorriso que lhe fez sentir dor em todos os músculos da face.


– Eu vou ficar bem Hugo. – Rose respondeu antes que eles iniciassem uma discussão. – Lorcan ficará comigo, não se preocupe.


Em seguida, ela não ouviu mais a voz do irmão, apenas os seus tropeços na escada, denunciando que ele estava indo atrás de Lilian. Talvez, eles se acertassem e com o tempo Potter pudesse perdoá-la, afinal, elas eram primas, melhores amigas desde pequenas, não é? Não demoraria muito e elas estariam de bem novamente.


Ao menos era disso que Rose Weasley tentava se convencer.


– Rosinha, que tal abrir a porta pra mim? – Ela ouviu a voz melosa de Lorcan do outro lado da porta e revirou os olhos. Ele ainda estava ali.


– Não.


– Por favor, deixe-me te consolar minha rosa, não a quero com as pétalas caídas.


Rose Weasley acumulou toda a raiva que tinha e se viu gritando.


– Dê o fora daqui Lorcan, antes que eu ignore a lei que proíbe menores de usarem magia e azare você!


– Mas Rose, eu...


– FORA! – Ela gritou. – Eu preciso ficar sozinha.


Ela sabia que havia sido rude de sua parte tratar o Scamander daquela maneira, mas ela não queria companhia. Queria a solidão e, quem sabe dormir um pouco. É, dormir talvez fosse uma boa opção.


Logo depois, ela estava deitada embaixo das cobertas tentando fechar os olhos e adormecer. Ela sabia que não demoraria muito para os pais chegarem do trabalho e invadirem seu quarto lhe fazendo uma enxurrada de perguntas. Mas enquanto isso não acontecia, ela preferia descansar.


Tentou se desconectar da discussão com Lilian. Antes não tivesse o feito, porque a última coisa que ela viu antes de adormecer foi o rosto pálido enfeitado com o sorriso irônico de um garoto. Scorpius Malfoy.


**


– Hey, hey, hey! Aonde você pensa que vai? – James Sirius Potter questionou enquanto puxava Hugo, que havia acabado de sair da lareira da casa dos pais, pela gola da camisa, o impedindo de subir as escadas que levavam aos quartos.


O Weasley encarou o primo um pouco atordoado e tentou se soltar, mas James apertou seus dedos contra a camisa do garoto ainda mais, deixando claro que não o soltaria até ter a sua resposta.


– Preciso ver a Lil’s. – Hugo respondeu, mas ao contrário do que ele esperava, James não o soltou.


– Por algum acaso, não foi você que a fez chorar, foi? – Ele questionou com a voz levemente irritada, o que fez com que o Weasley arregalasse os olhos.


Ele tentou falar, mas a voz não saia e James não aprecia disposto a soltá-lo. E de fato não o teria feito, se Gina Potter não tivesse vindo da cozinha limpando as mãos em um pano para ver o que estava acontecendo.


– James Sirius Potter, solte seu primo agora mesmo! – Ela disse raivosa e com as mãos na cintura. Hugo poderia jurar que o primo tinha se encolhido todo.


– Mas mãe, ele...


– Eu disse AGORA, Sirius. – Sem alternativa, James o soltou. A mãe só o chamava pelo segundo nome quando estava verdadeiramente falando sério.


Assim que sentiu o pescoço livre, o Weasley passou as mãos pelo mesmo na tentativa de relaxar os músculos. Ainda estava atordoado com o questionamento do primo, que o encarava incisivamente, mostrando que ele ainda queria uma resposta.


– Eu não fiz nada James, eu juro. – Ele se explicou, notando pela primeira vez desde que entrara na sala que Albus Potter e seu tio também estavam lá. Cretinos, James estava quase o enforcando e eles não fizeram nada. – Eu estava na casa da Lysander, e quando Lorcan e eu chegamos em casa, Lilian estava descendo as escadas com Rose gritando por ela. Acho que elas brigaram.


– Rose e Lilian brigaram? – Albus questionou incrédulo e com os olhos arregalados. – O fim do mundo com certeza deve estar próximo.


– Não faça piadas Albus, sua irmã está despedaçada lá em cima. – Harry Potter o advertiu, mas o Potter do meio deu de ombros.


– Harry e eu tínhamos recém chegado em casa quando ela apareceu na lareira aos prantos e se trancou no quarto. – Gina explicou pausadamente com a expressão mais aliviada por saber que o problema da filha não era tão grande quanto ela imaginava. – Nós tentamos falar com ela, mas ela não deixou ninguém entrar no quarto. Então James e Abbie chegaram para o jantar e...


– E minha doce namorada exigiu sua entrada no quarto de Lilian. – James interrompeu a mãe, ignorando o olhar que a mesma lhe lançava, aparentemente orgulhoso de Abigail Jones, que havia praticamente invadido o quarto de Lilian assim que chegou. – Abbie está conversando com ela agora.


Hugo Weasley murchou onde estava e se sentou no sofá. Não importaria quanto tempo levasse, ele esperaria para ver como Lilian estava.


– Hugo, você disse que Lorcan estava com você não é? – Albus Potter perguntou, quebrando o silencio e fazendo com que todos o olhassem de forma confusa.


– Sim, eu disse. – Hugo respondeu. – Rose ficou chorando no quarto e ele ficou do lado de fora lhe fazendo companhia. Mas duvido que ela o deixe entrar. – Ele respondeu sorrindo de forma quase maliciosa.


Albus sacou a varinha imediatamente fazendo com que todos o encarassem sem entender absolutamente nada.


– O que você vai fazer? – James perguntou aquilo que todos gostariam de perguntar.


– Digamos que eu tenho um amigo que não vai gostar nada de saber que a namorada está sozinha em casa com o seu arqui-rival.


– Scorpius e Lorcan não são arqui-rivais. – Gina observou com o cenho franzido.


– É claro que são, Gina! – Harry Potter se pronunciou arqueando as sobrancelhas de forma divertida. – Ou você não notou a forma possessiva com que Malfoy segurou a cintura da nossa sobrinha quando Lorcan apareceu para o Natal?


Albus sabia que a prima e o amigo fingiam um romance, mas ele também sabia que ambos tinham alguma coisa a mais que aquilo. Então por que não dar um empurrãozinho no destino?


**


Scorpius Malfoy tinha acabado de receber um patrono de Albus Potter e, naquele momento, encontrava-se andando pelo quarto sob os olhos atentos de Anthony Zabine de um lado para outro. Então quer dizer que a Weasley estava mal e o sangue-suga Scamander já estava lá para consolá-la? Não podia negar que aquele informação o deixou irritado.


– Sabe, eu acho que você deveria parar de andar um pouco Scorpius. – Zabine observou, fazendo com que o Malfoy o encarasse de forma raivosa. Ele simplesmente ergueu as mãos em sinal de rendição, não discutiria com Scorpius naquele estado.


– Você ouviu o que eu ouvi? – Malfoy questionou ao Zabine que apenas balançou a cabeça afirmativamente. – Eu achei que Scamander tinha desistido, mas pelo visto não!


– Cara, sem querer me meter, mas já me metendo, por que está tão irritado?


Scorpius Malfoy lhe lançou um olhar frio e respondeu de forma irônica.


– Talvez seja porque o cara que é a fim da minha garota está consolando a Weasley como se ela fosse a garota dele! – Malfoy respondeu sem pensar e sem medir as palavras. Apenas percebeu o que tinha dito quando Zabine o encarou com a sobrancelha erguida em sinal de desconfiança.


– Sua garota? – Anthony Zabine perguntou sem conseguir segurar o riso, fazendo Malfoy avermelhar. – Olha só pra você cara, está corado! O que aconteceu com você hein? Se apaixonou pela Weasley? – Ele perguntou de forma sarcástica deixando Scorpius visivelmente nervoso.


– Não seja ridículo, é óbvio que não estou apaixonado por ela. – O Malfoy murmurou.


– Oh. É claro que não. – A voz de Anthony destilou ironia. – Então porque é mesmo que você está todo irritado por o Lorcan estar com ela? E por que disse que ela é a sua garota? – Ele questionou enquanto fitava o melhor amigo.


Scorpius Malfoy desviou o olhar do amigo. Ele não estava apaixonado pela Weasley, mas então por que é que ele estava daquele jeito? Lorcan Scamander poderia estar com ela, fazendo o que quisesse, e ele não deveria se importar. O problema é que se importava, e muito. Não admitia Scamander próximo a Rose Weasley, e ele sequer sabia a razão.


– Não importa se nosso namoro é falso, ela está comigo. – Malfoy resmungou de forma possessiva. – E enquanto ela estiver comigo, eu não vou dividi-la com outro cara, muito menos com o Scamander. Já parou para pensar aonde vai parar minha reputação caso ela seja vista aos beijos com outro? Eu vou ser coroado como o corno do ano, mesmo que tecnicamente eu não seja!


Aquela desculpa poderia ter convencido qualquer pessoa, menos Anthony Zabine que já sabia a resposta de todas as suas perguntas. E mesmo que Scorpius Malfoy continuasse negando, seu melhor amigo já tinha certeza de que a Weasley tinha mexido com ele de uma maneira que garota nenhuma nunca tinha feito.


– Tudo bem, você continua mentindo e eu vou continuar fingindo que acredito. – Anthony disse enquanto brincava distraidamente com o braço da poltrona em que estava sentado.


– O que você quer que eu faça Zabine? – o Malfoy questionou irritado.


– Poderia começar assumindo que está com ciúmes. – Ele respondeu zombeteiro, fazendo com que Scorpius o olhasse indignado. Não, ele não estava com ciúmes da Weasley. Ou será que estava?


– Não seja absurdo. – Ele resmungou.


– Eu não estou sendo, e você pode continuar negando, porque eu não vou acreditar em você. – Anthony Zabine soltou um suspiro cansado e notando o silêncio do amigo prosseguiu. – Aproveite o que você tem nas mãos. Pelo que Albus contou, Potter e Weasley brigaram. E acredite, eu queria poder consolar Lilian.


– Não sei o que você está tentando dizer. – Scorpius tentou desviar o assunto, encarando seus sapatos como se fossem algo muito importantes.


– Estou dizendo que você é o namorado da Weasley, um namorado falso, mas mesmo assim ela gosta de você. E está na sua cara mal disfarçada que também está gostando dela. – Anthony explicou enquanto se levantava e coloca as mãos sobre os ombros do amigo. – E outra coisa, eu aposto que os pais da Weasley esperam que você vá. Afinal, que espécie de namorado seria se não fosse ver como ela está?


Scorpius Malfoy precisou de alguns instantes para digerir o que o Zabine havia falado. Sinceramente, ele não conseguia acreditar que a Weasley pudesse realmente gostar dele, afinal, se gostasse, não teria agido daquela maneira logo depois que ele a beijou. E quanto a ele, bem, Malfoy nunca se viu capaz de se amarrar a garota alguma. Ele nunca gostou de passar muito tempo ao lado delas, não se importava com o que elas pensavam ou o que elas estavam sentindo. Ele apenas curtia o momento, e quando tinha a oportunidade, caia fora antes de as coisas ficarem sérias demais.


Mas com a Weasley tudo estava acontecendo de forma diferente e indo por caminho de sentimentos e sensações que ele desconhecia. Ele não gostava que outros garotos – vulgo: Lorcan Scamander – estivessem muito próximos dela, não se sentia bem quando a via cabisbaixa como a viu logo depois do almoço de mais cedo e, sobretudo, se preocupava com ela. Muito mais do que ele realmente deveria.


Aquilo só poderia significar uma única coisa, mas ele não admitira aquilo nem para si mesmo. Não podia se prender a ninguém, afinal, não era do seu feitio ter uma única garota. Mas então por que diabos Rose Weasley o fazia se sentir estranho? Ele não entendia e, sinceramente, pelo rumo que as coisas tomavam, ele esperava continuar não entendendo.


– Talvez você tenha razão, Anthony. – Malfoy comentou, mas antes que Zabine pudesse comemorar, ele completou. – Os pais dela esperam que eu apareça. Se eu não for, pode prejudicar o plano.


– Que plano, cara? – Zabine questionou em meio as risadas. – Eu vi o jeito que ela te olha, vocês estão caidinhos um pelo outro.


Malfoy precisou de todo o seu autocontrole para não corar, porém, se viu incapaz de controlar a língua.


– Se ela gostasse de mim, não teria me empurrado depois de corresponder o meu beijo!


É desnecessário dizer que Scorpius Malfoy se arrependeu do que falou assim que encarou a expressão surpresa do melhor amigo.


– Você a beijou? – Zabine questionou incrédulo. – Você a beijou de verdade, com língua e tudo?


Malfoy atirou nele um rolo de pergaminho devido à raiva e o desconforto que sentia.


– Sim, eu a beijei. E não eu não vou te contar como foi. – Scorpius respondeu visivelmente constrangido. – Qual é, Anthony! Parece uma garota falando assim!


– Foi só uma pergunta, não precisa ficar irritadinho. – O Zabine debochou. – Mas então, como ela reagiu?


– Primeiro ela correspondeu o beijo, e depois ela me empurrou e me encheu de tapas. – Malfoy respondeu franzindo a sobrancelha. – Me chamou de abusivo e mais um monte de baboseiras que eu não lembro. Ela não deve estar querendo ver a minha cara.


Anthony deu de ombros sem entender.


– E daí?


– E daí? E daí que eu não vou aparecer lá para ela me enxotar de novo!


E dessa vez Anthony Zabine gargalhou. Ele pensou que nunca viveria para ver o melhor amigo inseguro como ele estava. Então era isso, ele tinha beijado a Weasley e estava se inferiorizando por ela o ter rejeitado logo depois? Anthony poderia esperar qualquer reação vinda de Scorpius, menos aquela.


– Você está com medo de uma garota? – Zabine perguntou entre as risadas. – É sério que você está com medo de ela te mandar embora outra vez?


– Não é bem assim. – Malfoy resmungou sentindo a face aquecer de novo.


– Okay, quem é você e o que fez com o meu amigo Scorpius-eu-pego-todas-e-não-me-importo-Malfoy?


Cansado de ser motivo de chacota para Anthony, Scorpius Malfoy marchou até o armário, apanhou um casaco e uma boina e os vestiu em seguida. Faria o Zabine engolir suas palavras, afinal, ele não tinha medo de Rose Weasley. Logo depois, andou até o criado-mudo e pegou a varinha, guardando-a no bolso interno do pesado sobretudo.


O Zabine acompanhou todos os movimentos de Scorpius com um sorriso discreto no rosto e em silêncio. Quando notou que ele estava pronto, perguntou apenas para encenar.


– Aonde vai Malfoy?


– Visitar minha namorada.


E então o Anthony Zabine viu Scorpius Malfoy e seu sorriso irônico e presunçoso desaparecerem de suas vistas.


Com aquela conversa e uma ajudinha do destino, Anthony esperava que a história do melhor amigo terminasse de uma forma diferente da sua. Lilian Potter deveria estar sofrendo, mas naquela altura do campeonato, ele tinha certeza de que Hugo Weasley já estava acalmando aquela que poderia ser a sua garota. E se ele não estivesse com ela, bem, Weasley mereceria uma surra.


Incomodado com aqueles pensamentos, ele balançou a cabeça e começou a caminhar para fora do quarto. Tinha certeza de que seu pai deveria estar com Draco e Astoria Malfoy na sala de visitas e com um pouco de sorte, ele poderia se interar do assunto. Ele precisava esquecer Lilian Potter.


E a esqueceria, mesmo que demorassem mil anos para que isso acontecesse.


**


Scorpius Malfoy estava há mais pouco mais de dez minutos em frente a casa da Weasley criando coragem para tocar a campainha. Não podia se acovardar daquela maneira, ele sabia, mas mesmo assim ele rezava baixinho para que ela não o recebesse à tapas.


Respirou fundo uma, duas, três vezes. E então ergueu a mão, tocando a campainha. Ensaiou seu melhor sorriso quando ouviu passos se aproximarem da porta e, estranhamente, começou a suar frio. Porém, toda a expectativa dentro de si pareceu morrer quando a porta se abriu. Não era Rose Weasley quem o recebia, era sua mãe.


– Scorpius, querido, que bom que veio! – Hermione o saudou com um abraço que deixou Malfoy ainda mais desconfortável.


Quando se afastaram, Scorpius tentou continuar sorrindo, afinal, aquela mulher havia sido amável com ele de uma maneira que ele nunca esperaria.


– Obrigada Sra. Weasley. – Ele cumprimentou respeitosamente enquanto adentrava na sala junto com a mulher – Albus me mandou um patrono avisando sobre Rose ter brigado com Lilian e não estar muito bem.


– Querido, não precisa de toda essa formalidade. Me chame de Hermione, tudo bem? Todas as vezes que me chamam se Sra. Weasley acabo me lembrando de minha sogra. – Ela disse simpática, fazendo com que Scorpius se sentisse um pouco mais confortável. – Mas venha, vamos até a sala. Ronald e Lorcan estão lá.


Malfoy sentiu o estômago revirar apenas por ouvir o nome daquela sangue-suga. Procurou ficar calmo, afinal, ele era o namorado de Rose e Lorcan não podia fazer nada para mudar isso.


– Quem era Hermione? – ele ouviu a voz do “sogro” enquanto se aproximava da sala. Já podia enxergar parte do homem relaxado em sua poltrona.


– Veja, Ron. Scorpius está aqui. – Ela disse enquanto o puxava para sala. – Talvez ele consiga convencer Rose a sair daquele quarto, ou, no mínimo, comer alguma coisa.


Ronald Weasley se levantou com um comentário áspero na ponta da língua, mas se calou ao ver o olhar nada amigável da esposa sobre si. O mesmo não pode ser dito de Lorcan. A figura alta e desengonçada do garoto estava parada ao lado do padrinho e, apesar de ele estar com uma corrente um tanto quanto duvidosa pendurada no pescoço, estava vestido de forma quase normal daquela vez, conforme Scorpius rapidamente avaliou.


– Duvido que ele consiga alguma coisa, madrinha. Se nem eu ou o padrinho conseguimos fazê-la abrir aquela porta, porque o Malfoy conseguiria? – Lorcan não viu, mas Hermione ficou extremamente aborrecida por ter sido contestada de forma tão rude.


– Eu posso ao menos tentar? – Scorpius perguntou enquanto fuzilava Scamander com os olhos. – Eu sou o namorado dela, pode ser que eu consiga alguma coisa.


Lorcan Scamander e Ronald Weasley o encararam de forma avaliativa. Hermione lhe entregou um prato com o que parecia ser o jantar da garota e sorriu ternamente na direção dele. Em seguida, ela confirmou que ele poderia subir e tentar falar com Rose o quanto quisesse.


– Segunda porta a direita, querido.


Scorpius Malfoy subiu as escadas lutando para equilibrar o prato que carregava devido ao nervosismo. E ele sequer sabia o porque. Não precisou de muito esforço para encontrar o quarto da garota, visto que a porta era cor de rosa e continha uma placa com letras cursivas escrevendo o nome da menina.


Ele fitou a placa por incontáveis minutos, tentando achar uma maneira de fazer a Weasley abrir a porta. Havia se tornado uma questão de honra conversar com ela, visto que Lorcan Scamander tentou ridicularizá-lo na frente de outras duas pessoas. Controlou a respiração e instantes depois bateu na porta.


Não ouviu nada, nem um único ruído.


Então bateu de novo, e outra vez. Até que ouviu um barulho estranho dentro do quarto. Então a voz chorosa e amarrotada pelo sono de Rose Weasley ecoou claramente.


– Vá embora, já disse que não quero ver ninguém!


Ela estava destruída, sua voz denunciava isso. E nunca, em hipótese alguma, Scorpius gostaria de ter ouvido a voz mandona da Weasley transformada naquilo. Irritado, e talvez desesperado, bateu na porta outra vez. E dessa vez o silencio lhe respondeu que ela não falaria mais nada.


Dentro do quarto, Rose estava de pijama, jogada na cama e com a televisão trouxa que ganhara da mãe ligada em um canal qualquer. Não importava se era seu pai ou Lorcan enchendo sua paciência, nada a faria abrir aquela porta. Ela precisava ficar sozinha, por que não entendiam?


Porém uma voz rouca e provocativamente grossa ecoou do lado de fora a fazendo arrepiar. Não havia dúvidas de que era o Malfoy, mesmo que ela não soubesse o que ele fazia ali.


– Eu não vou embora daqui até que você abra essa porta. Estou com o seu jantar nas mãos. –


Rose Weasley ignorou a vontade abrir a porta e deixá-lo passar. Apenas sentou-se na cama tentando encontrar uma maneira de mandá-lo embora, mesmo que seu coração implorasse para que ela abrisse a maldita porta e o abraçasse.


– Não estou com fome. – Ela respondeu tentando ser firma, mas sua voz soou falha.


– Não perguntei se você está com fome, estou dizendo que estou com o seu jantar e que é pra você abrir essa porta! – Scorpius bradou do outro lado.


– Você não manda em mim, Malfoy! – Ela gritou e mesmo que estivesse aborrecida por ele ousar falar com ela daquela maneira, uma parte dela estava feliz por ele estar ali e parecer preocupado com ela. – Vá embora! – Ela disse, antes que caísse em tentação e cedesse.


– Eu já disse que não vou. – Malfoy disse, começando a ficar impaciente. – Eu vou te dar cinco segundos para abrir essa porta, do contrário, eu vou arrombar.


Rose Weasley arregalou os olhos. Não, ele não seria capaz de fazer aquilo. Ou seria?


– Está blefando! – Ela gritou.


– Pague pra ver! – Ele falou e começou a forçar a fechadura enquanto começava a contar. – Cinco, quatro...


Ela continuava paralisada, e quando a contagem estava quase no final, percebeu que ele estava realmente falando sério. Do outro lado da porta, Scorpius já estava com a varinha em punho, pronto para arrebentar a maldita por se assim fosse necessário. Porém, o feitiço ficou preso na garganta quando ouvi a voz dela.


– Está bem! – Ela gritou e ficou aliviada. Naquela altura, ela já estava de pé, próxima a porta. Conseguia claramente ouvir a respiração pesada de Scorpius do outro lado.


– Estou esperando Rose, abra. – Ela o ouviu falar e suspirou.


– Eu vou abrir. Mas você vai me entregar o jantar e sair, okay? Eu quero ficar sozinha. – Ela disse mesmo que não fosse verdade.


– Por que você tem que ser tão mimada, Weasley? – Eles não gritavam mais, tinham ciência de que apenas a porta os separavam, se não fosse por ela, provavelmente seus corpos estariam colados.


– Eu não sou mimada, Malfoy, apenas estou chateada e quero um tempo do mundo. Isso é crime? – Ela questionou.


Scorpius soltou o ar tentando pensar em um jeito de fazê-la o deixar entrar. Ele nem sabia o porque, mas precisava se certificar de que tudo ficaria bem com ela.


– Não, não é. Mas eu estou preocupado com você. – Ele admitiu encostando a testa na porta. Do outro lado, Rose Weasley encarava a madeira incrédula com a declaração.


Scorpius Malfoy estava preocupado com ela? Bem, aquilo era uma novidade, e ela não sabia se acreditava ou não, afinal, eles estavam fingindo um relacionamento que não existia. Poderia ser tudo encenação, ela sabia. Mas uma parte dela queria acreditar que aquilo era verdade, que ele se importava com ela. Suspirou. Até que ponto Scorpius Malfoy fingia perto dela?


– Eu estou bem. – Ela respondeu tentando segurar as lágrimas. – Eu vou abrir a porcaria da porta, você vai me entregar à comida e dar o fora. Combinado?


Sem outra alternativa, Scorpius simplesmente concordou.


– Tudo bem.


– Estou confiando em você. – Ela disse antes de ele ouvir o barulho da fechadura abrindo e observar a maçaneta girando.


Rose Weasley abriu um pequeno espaço e Scorpius Malfoy arfou ao vê-la. Ela estava com os olhos vermelhos e parecia frágil. Tão digna de proteção. Ele entregou o jantar a garota e tentou entrar, mas ela tinha sido mais rápida e fechado a porta.


Droga.


Ele permaneceu encarando a porta por alguns segundos, não conseguindo tirar a imagem de Rose da cabeça. Aquela garota estava lhe deixando louco. Ele não sabia mais o que fazer.


– Você já pode ir embora. – Ele ouviu a voz dela atrás da porta e sorriu.


– Como sabe que ainda estou aqui? – Ele questionou sem conseguir desprender o sorriso.


– Estou vendo sua sombra por baixo da porta. – Ela respondeu do outro lado. – É sério, Scorpius, você pode ir. Eu vou ficar bem.


– Você não quer que eu vá embora.


– Eu quero sim. – Ela respondeu tentando controlar o choro.


Scorpius Malfoy tinha voltado a encostar a testa na porta, se sentindo incapaz de deixá-la ali.


– Então me mande embora. Anda! Quero que me expulse daqui!


Ela não podia abrir a porta, porque se abrisse, ela sabia que não se controlaria e se jogaria nos braços dele sem se importar com acordo algum. Ela estragaria tudo – não apenas o plano, como também o resto da sua vida. Ela não podia admitir que Scorpius Malfoy mexia com ela. Seria suicídio. E foi por isso que ela fez o que ele mandou.


– Suma daqui Malfoy! Eu não quero mais você aqui, não entendeu? Quero ficar sozinha, quero que vá embora!


Aquelas palavras atingiram Malfoy de uma forma que o deixou estático. Tudo bem, era ela que não o queria. Ele havia feito o que podia, tinha tentado, então tudo o que lhe restava era girar nos calcanhares e voltar para casa. E foi o que ele fez.


Quanto a Rose Weasley, assim que ouviu os passos do Malfoy se afastando, desabou, não segurando mais as lágrimas que agora escorriam livremente pelo rosto.


Do lado de fora, Malfoy estava quase nas escadas quando ouviu o choro baixo vindo da garota. Encarou a porta mais uma vez, e então estreitou os olhos.


– Você não manda em mim Rose Weasley! – Ele gritou antes de sumir do corredor e aparatar no quarto da garota, que agora o olhava surpresa.


A Weasley estava abaixada próximo a cama quando ouviu um barulho vindo de dentro do próprio quarto. Levantou os olhos e se surpreendeu ao ver Scorpius Malfoy ali dentro, olhando para ela de forma terna.


– Você não abriu a porta. – Ele deu de ombros enquanto se explicava para ela. – Então eu tive que encontrar uma maneira de entrar.


Rose Weasley queria xingá-lo de todas as coisas possíveis e talvez o encher de socos. Mas ela não se sentiria melhor se fizesse isso. Então ela fez a única coisa que poderia fazer naquele momento e correu cambaleando na direção dele, se jogando em seus braços.


– Vai ficar tudo bem. – Ele disse enquanto a recebia em seus braços, a prendendo com força contra o seu corpo. Não havia lugar melhor para eles estarem. Para nenhum dos dois.Por mais clichê que possa soar, eles eram como as peças de um quebra-cabeça, completamente diferente separadas, mas que quando se juntavam, se completavam. Quando estavam juntos, eles eram um só.


E foi com ela ali, em seus braços, que Scorpius Malfoy percebeu que sua vida nunca mais seria a mesma. De repente, os medos e as dúvidas não importavam mais para ele. Tudo o que ele precisava estava ali, entre seus braços.


E, ao menos naquele momento, não se importando com acordos absurdos ou qualquer outra coisa, Rose Weasley foi a garota que Scorpius Malfoy gostaria poder chamar de sua pelo resto da vida.

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