Descobertas



Descobertas


 


      O sol nem havia aparecido ainda, e o céu ainda estava escuro. Uma casa abandonada, no meio de uma floresta, onde apenas os animais tinham acesso, estava calma, como o céu naquela madrugada.


      Um barulho de um chicote batendo se fez no ar, e um homem começou a andar devagar em direção à casa. Ele tirou uma varinha do bolso direito, e coçou seus cabelos grisalhos. Deu um suspiro e agitou a varinha. O ar em volta da casa se mexeu um pouco, em forma de onda. O feitiço de proteção estava desfeito.


      O homem deu passos em direção à casa, e com um giro na varinha, a porta se abriu sem fazer nenhum ruído. Ele entrou com passos pesados e confiantes.


      A casa estava uma bagunça, mas uma bagunça comum: roupas espalhadas em todo lugar, embalagens de comida jogadas no chão e sobre a mesa. Uma televisão estava com a tela chiando em chuviscos cinzas.


       O homem começou a andar dentro da casa sem pisar nas sujeiras e roupas espalhadas. Atravessou um corredor, e passou direto por onde devia ser a cozinha. Chegou de frente à um quarto e num movimento, explodiu a porta com um enorme estrondo. Para sua surpresa não havia ninguém no quarto, apenas uma cama bagunçada igual ao resto da casa. Ele pôs a mão sobre o lençol e pode sentir que ainda estava quente.


       Um lampejo se fez, e por puro reflexo, um Feitiço Escudo o protegeu de ser atingido nas costas. Ele sorriu confiante. Uma garota com cabelos desgrenhados, olhos inchados de sono e ainda de pijama estava com uma varinha apontada para a seu peito.


        - Bom dia! – disse o homem aparentando calma.


        - Não tem nada de bom nesse dia! Quem é você e o que você quer? – ela estava irritada, e segurava firma a varinha.


        - Meu nome é Brian Oliver, e eu sou um dos Inomináveis do Ministério da Magia. Não quero duelar com você. – e ele abaixou a varinha.


        - O que um dos Inomináveis quer comigo?


        - Abaixe a varinha, por favor. – disse ele mais calmo ainda.


        - Eu não vou abaixar merda nenhuma! – gritou ela. – O que você quer aqui? Fale antes que eu te mate!


        Ele deu um sorriso maléfico, e ela se assustou com tamanha confiança.


        - Você não vai me matar. – ele começou a rodear devagar o quarto. – Por que você não mata, Natalie.


        - Como você sabe meu nome?


        - Sabe, antes de ser um dos inomináveis, eu era um auror. Estou acostumado com ameaças de pessoas assustadas.


        - O que você quer aqui? – ela estava tremendo de nervosismo.


        - Eu vou te levar de volta para onde você não devia ter saído. Para perto de seu mestre.


        - NUNCA! Avada Kedavra!- e um lampejo verde se fez em direção ao homem, que se esquivou num simples passo para o lado. A garota saiu correndo em direção à floresta.


        - Isso torna as coisas mais interessantes aqui. – e ele saiu correndo em direção à floresta também, à tempo de vê-la atravessando no meio das árvores altas. – Bombarda!


        Uma árvores explodiu, e cascas quentes voaram perto da garota, arranhando-a no braço. Ela continuou correndo, ele se converteu em fumaça, e em segundos apareceu em sua frente. Ela deu um grito agudo, e apontou a varinha:


         - Estupefaça!- Ele defendeu o lampejo, e ela lançou mais dois Feitiços Estuporantes, sem resultados.


         Ela correu de novo, se escondendo atrás de uma árvore, fora da visão de Oliver.


         - Conhecendo sua família como conheço, posso dizer que você é péssima em duelos. Mas é uma boa fujona. Por isso você se escondeu?


        Ela começou a raciocinar uma rota de fuga dali. Sabia que se conseguisse passar o campo mágico anti-aparatação, ela estaria salva e longe daquele homem. Ela respirou fundo e se preparou pra correr, e no segundo em que ia dar o primeiro passo, a árvore nas suas costas explodiu, deixando todos os destroços em impacto com sua pele. Ela foi atirada à dois metros e bateu as costelas num raiz alta que estava fora do chão.


       Ela deu um gemido de dor, mas se ergueu, e viu Oliver se aproximando a passos lentos dela. Ela mirou e conjurou:


       - Avada Kedavra! – outro passo para o lado, e ele desviou com sorriso no rosto.


       Ela começou a correr, e ele lançou dois Feitiços Estuporantes, mas os feitiços de defesa dela a protegeram, e ela correu rápido, com todo fôlego que possuía. Podia sentir o campo mágico se acabando à distancia. De repente ela ouviu um estralo de um chicote e caiu, apenas sentindo a ardência que a chicotada conjurada fez em suas costelas. Sentiu uma corrente pesada e grossa se grudar em seu pé, e em um instante ela foi puxada, ralando sua pele no chão.


       Oliver estava olhando pra ela com um enorme sorriso no rosto, se sentindo satisfeito com o que estava fazendo. Natalie sangrava na boca e sentia suas costelas arderem, juntamente com a pele extremamente vermelha na região do impacto.


        - Agora você vai me mostrar que sabe ser um ótima garota e eu vou te levar embora pra casa. – disse ele como se estivesse conversando com uma criança.


        Ela deu um gemido de dor, e se sentou no chão. Sua varinha ainda estava em sua mão. Oliver olhou para uma árvore em um segundo e sentiu uma densa fumaça negra invadir seus olhos, e ouvir em meios aos seus gritos de protestos os passos de Natalie correndo.


        Ela aproveitou a fumaça no rosto dele e começou a subir numa árvore, usando um feitiço para dar-lhe impulso. Ela chegou numa altura incrível, num grosso galho. Pôde ver o campo mágico sendo desfeito à alguns passos, ela ergueu a perna direita pro salto, e pulou.


        Ela sentiu um forte aperto no pescoço, e sentiu também seu corpo ser puxado pra trás. mesmo no ar, ela viu uma grossa corrente enrolada em seu pescoço, estrangulando-a. E num segundo ela sentiu a gravidade levando seu corpo em direção oposta de onde ela queria chegar. Um aperto mais forte se fez, ela ofegou e seu corpo se chocou com um baque seco e surdo no chão. Poeira e folhas se levantaram.


       Sua boca sangrava, suas costas doíam e com certeza tinha quebrado alguns ossos. Não conseguia se mexer. A corrente tinha largado seu pescoço, mas ela ainda sentia o frio do metal e o aperto em seu pescoço.


       Oliver se aproximou dela e se agachou, ficando com o rosto perto de seu ouvido.


       - Você não foi uma boa menina, sabia?


       Ela apenas cuspiu sangue em seu ouvido. E foi retribuída com um chute no estômago que a deixou sem ar. Ela ofegou e se recuperou.


       - Ele... Vai... Saber... Disso!- disse ela, ainda tentando guardar ar dentro dos seus pulmões.


       - Ele me deu permissão pra muito mais. Você só precisa chegar viva. O resto é permitido.


       Ela conjurou as grossas correntes em torno de seu corpo, impossibilitando-a de se mexer, agarrou-a pelos cabelos e ergueu-a num puxão, ficando com alguns fios pretos em sua mão, ignorando o grito agudo de dor dela.


       Ele olhou pra ela com um cara debochada, e ela pôde perceber que um olho dele estava inchado, pelo contato direto com a fumaça. Ela achou hilário, mas não riu naquele momento. Oliver segurou sua boca, forçando os lábios pra frente, empunhou a varinha e mirou dentro de sua boca.


        - E isso foi pela fumaça! Crucio!- um grito de dor tão agudo se fez que até mesmo os pássaros saíram de seus ninhos, assustados, com tamanha agonia que ela estava sentindo naquele momento.


 


        O dia amanheceu radiante na rua Brompton Road, e logo cedo, todos já estavam de pé. Puff estava estudando o livro do Príncipe Mestiço, e testando as receitas de poções que estavam escritas nele, cheias de anotações feitas à tinta. Victor estava encarregado de treinar Cristina e Amanda no seu próprio modo de duelo, e que para sua surpresa, elas estavam indo muito bem para tão pouco tempo de treinamento.


        Teddy Lupin estava juntando objetos junto de Denis, se preparando para a missão com sua antiga professora Sora.


        - Onde vou me encontrar com ela?


        - No Beco Diagonal. Ela tem uma casa perto de um bar lá.


        - Não é arriscado?


        - Tudo que fazemos é arriscado. – respondeu Lupin. – Daqui à alguns dias terei que viajar em uma missão de reconhecimento para Potter.


        O garoto estranhou aquilo.


         - Missão de reconhecimento? Pra onde?


         - Pra Floresta do Deão. Parece que tem criaturas mágicas indo pra lá.


         - Mas ela é uma floresta trouxa. Eles não podem ir pra lá. – respondeu ele preocupado.


         - Não se depender do Ministro. Ele tem um plano de expandir o espaço mágico, então resolveu pegar regiões trouxas também.


         - Mas a magia está em todo lugar! Ele não tem necessidade de expandir os territórios mágicos.


         - Pense comigo Denis. Ele é um Ministro visionário. E todos sabemos que apenas os bruxos podem se misturar um pouco com os trouxas. As outras criaturas mágicas não podem sair das florestas, e McEffron pôs na cabeça delas, que elas precisam de mais espaço.


         - Que tipo de criaturas estão indo pra lá?


         - Os mais revoltados de todos. Gigantes. – ele estava preocupado.


         - O que acontece se eles saírem da Floresta da Morte?


          - É um caminho um pouco longo até chegar na Floresta do Deão. Com certeza eles serão vistos.


          - Se eles são criaturas mágicas, eles podem expandir o campo mágico natural deles até a Floresta do Deão, e ficarem invisíveis de novo.


          - Mas gigantes não tem essa tendência de expansão mágica tão rápida. E além do mais, trouxas transitam livremente pela floresta. Gigantes não dividem territórios.


          - Vai ser um carnificina, se eles alcançarem os trouxas na floresta. Muitos bruxos têm parentes trouxas. O Ministério será obrigado a interferir.


          - Quando foi que o Ministério conteve uma Revolta Gigante? Nunca! Eles só conseguiam fazê-los migrar para regiões não habitáveis. E nestes últimos sessenta anos, os trouxas construíram em lugares mágicos também. Os locais naturalmente mágicos estão sendo tomados. A falta de espaço está sendo um problema real.


          - E o que você pretende fazer lá? Lutar contra eles?


          - Vou tentar evacuar a floresta. Fazer com que os trouxas saiam de lá, e depois vou tentar convencer os gigantes à seguirem para as montanhas do norte.


          - Você vai precisar de ajuda. – disse ele sério. – Leve Victor ou Puff com você.


          - Não. Eles precisam treinar as duas garotas. Isso é crucial.


          - Porque elas tem de ser protegidas? Não entendo onde elas entram nesta história.


         - McEffron sabe que Potter não quer ajudá-lo. Tê-las como reféns vai ajudá-lo a por Potter fora do jogo.


         Ele concordou com a cabeça, e nesse instante uma coruja preta entrou pela janela, e jogou no colo de Lupin uma edição do Profeta Diário.


         - Quais as novidades? – perguntou Denis.


         - Leia você mesmo. – Lupin lhe entregou o jornal.


         “Uma punição para os que merecem ser punidos”


“Ontem, dia 23, o Ministro da Magia, James McEffron Jr. inaugurou mais uma das suas grandes obras de reorganização dos territórios mágicos. Mas dessa vez ele fez algo pensando nos infratores de leis que resolveram aparecer para aterrorizar a paz dos nosso queridos habitantes bruxos. Ele inaugurou o Coliseu de Azkaban, que será uma espécie de prisão baseada nos coliseus romanos de antigamente.


       A estratégia é praticamente a mesma. Criminosos serão atirados no campo de batalha do Coliseu, e criaturas mágicas serão jogadas junto com ele para o punirem. Os criminosos estarão munidos de varinhas, mas não poderão quebrar os feitiços de defesa postos pelo Ministério. As punições serão planejadas de acordo com o crime, e serão vendidos ingressos para assistirem as batalhas.


        O Ministro admite que a medida é um pouco brutal, mas afirma também que, se um bruxo não vive na sociedade pelas regras, ele deve temer as novas regras e passar a segui-las.”


        - O medo pela obediência. – reclamou Denis. – Igual a Voldemort.


        - Mas Voldemort não escondia de ninguém que era mal. McEffron tem a imagem de um herói diante dos bruxos.


       Os garotos ficaram o resto do dia treinando e pesquisando sobre a fabricação de varinhas, mas o livro possuía ingredientes que eles nunca tinham ouvido falar, e coisas que faziam partes da receita impossíveis de fazer, como retirar a energia vital do tronco mágico, e inserir outra energia vital.


       A noite, Denis se despediu e todos e caminhou até o meio da rua movimentada. Andou até o metrô e foi pra dentro do banheiro. Imaginou a entrada do bar ao lado da casa de Sora e desaparatou.


       Uma chicotada se fez no ar, e ele apareceu ma frente do bar. Duas pessoas passavam ao lado mas não perceberam nada. Ele pôs o capuz preto na cabeça, apertou a alça do mochila contra o seu corpo e foi e direção à casa ao lado.


       Ele estendeu a mão para bater na porta, mas no mesmo segundo, ela se abriu sozinha, e uma mulher baixa, gorducha e de cabelos loiros despenteados estava olhando pra ele.


        - Não vai entrar moleque?


        Ele se espantou, mas entrou dentro do casebre dela, que era uma espécie de quitinete por fora, muito pequeno mesmo, mas era enorme na parte de dentro. E tinha um balcão de bar onde era a sala.


        Ela esperou que ele fechasse a porta, e foi pra cima dele com tudo, e lhe deu um abraço de quebrar as costelas, que o deixou sem ar.


        - Sora... Calma.


        - Estava com saudade de você também, já que mencionou. – disse ela se afastando alguns passos dele.


        Ele ergueu uma sobrancelha e abriu a boca pra falar, mas ela o interrompeu:


        - Você está muito magro, garoto! Não tem comido, não? Lupin está deixando vocês com fome?


        - Não, não...


        - Espero que os outros tenham engordado mais que você, garoto. Como vão os outros?


        - Vão bem...


        - Ainda bem que estão bem. – interrompeu ela novamente. – E Lupin? Se casou?


        - Não...


        - Ele não quer saber de se casar de jeito nenhum. Já está ficando muito velho pra isso.


        - Ele já está velho pra isso. Ele tem quase sessenta anos.


        - O que não quer dizer nada! Bruxos com sessenta anos têm cara de trinta, homens tem a mentalidade de treze desde que fazem treze.


        - Você é sempre tão inspiradora.


        - E você continua sendo o mesmo garoto raquítico! Espero que tenha aprendido a fazer as missões de buscas antes dos outros.


        - Isso eu aprendi. Muito bem, por sinal.


        Ela abriu a boca de novo para interrompê-lo, mas dessa vez ele foi mais rápido:


        - Calma Sora! Não estou aqui pra falar sobre o passado ou para matar a saudade dos seus tempos de professora. Lupin deve ter-lhe dito que eu quero saber sobre um médico em especial, e como você é a diretora do Saint Mungus...


        - Sim, ele falou. – ela não estava triste com as palavras ríspidas dele. – Sobre quem você quer saber?


        - Quero saber sobre a ligação de Isaac Foster com a Pedra Filosofal. – disse ele sério.


        - Muito bem, aqui vai. Isaac Foster foi o melhor direto de Saint Mungus, antes de mim é claro. – se gabou ela. –Ele era um gênio da medicina. Foi o único a descobrir uma cura pra loucura causada por feitiços na mente. Criou diversas receitas com dictamo, e propriedades mágicas curativas em criaturas mágicas.


        - E sobre a Pedra? O que você sabe?


        - Só lendas, como sempre. Nunca se houve como provar que ela realmente existiu, e Foster nunca foi do tipo de falar muito, se é que você me entende.


        - Mas então ele tem uma ligação com a Pedra?    


        - Muitos médicos têm. Mas com certeza a dele é a mais forte.


        - Porque?


        - Porque ele era o melhor amigo de Nicolau Flamel.


           


             

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