O sorvete de morango



 Parte um


A primeira mensagem



O sorvete de morango
 



No dia seguinte, eu sai naquele mesmo horário.


Mas resolvi que não iria subir aquela lomba enorme. Eu fui direto para o parque. Sentei de baixo da mesma árvore, e esperei que a Sophie chegasse. O parque era deserto nos dias de semana. Então ela iria reparar logo que eu sempre estava lá.


Na sexta feira eu fui também. E ela estava lá, linda e descalço. Correndo com um sorriso maroto no rosto. Hoje ela tinha levado um acessório. Um radinho de pilha, com fones de ouvido remendados com fita adesiva.


Ela corria em uma velocidade bem rápida. Me imaginei correndo com ela, mais meus músculos iam me matar por completo se eu fizesse isso.


Se passou uma semana. E todos os dias eu estava ali, observando ela. Era o segundo sábado que eu a observava, quando ela veio falar comigo. Eu estava sentado em um banquinho com um sorvete na mão, Gina tinha liberado um troquinho para mim aquele final de semana.


– Você anda me seguindo? – ela perguntou, a frente do banco.


– Tenho sim – eu disse, sincero.


Quando fui olhar para ela, o sol estava atrás dela, eu coloquei a mão para tentar impedir que os raios do sol chegassem aos meus olhos, mais ela foi mais rápida e se pôs a frente do sol.


O rosto dela era mais lindo de perto. Suas feições me lembravam Luna Lovegood, um tanto sonhadora mais nem tanto alucinada. Ela parecia mais realista do que a Luna. Eu quis fazer um agrado para a garota, e conseguir a confiança dela.


– Quer um sorvete? – perguntei.


– Desculpa perguntar, mais você não é nenhum tarado?


– Eu tenho cara de tarado?


Ela olhou para mim e sorriu. Eu nunca tinha visto mais o seu sorriso a deixava mais bonita.


 – Chocolate ou Morango?


– Morango.


Eu fui até a carrocinha que um velhinho vendia os sorvetes. Ela bem tradicional, tinha ate aquelas buzininhas irritantes na carrocinha.


– Um de morango e um de menta.


Ele me deu as duas casquinhas com as bolas de sorvete em cima. Na de Sophie, eu paguei mais caro. Pedi para ele colocar uns confetes coloridinhos em cima.


– Obrigada. – ela disse, se sentando no banco.


Eu comecei a tomar o sorvete. Mas a observei. Ela passou os lábios pela casquinha aonde tinham pingos do sorvete que ia começando a derreter,  assim o impedindo de cair e lambuzar sua mão. Ela saboreou cada gota do sorvete rosado. Depois que ela terminou de comer ela me observou.


– Você corre?


– Não. Sou do tipo vagabundo mesmo.


Ela riu com a minha expressão ao se referir a mim mesmo. Estou mentindo? Não! Eu terminei de mastigar a casquinha e a engoli.


– E você, o que faz?


– Estudo e corro. A propósito, vai ter uma competição aqui no parque amanhã à tarde. Venha me ver!


– Venho sim.


– Qual seu nome?


– Rony.


A buzina do carro preto do outro lado da rua gritou. Era um homem velho que estava na direção. Ele tinha cabelos grisalhos e tinha a aparência bem cansada.


– Vamos Sophie!


– Meu pai veio me buscar – disse ela com os olhos encantados. – Até mais Rony.


– Até mais.


Ela disse, correndo até o carro. Ela entrou no carro, colocou o sinto e me observou. Acenou para mim mais de um vez. Eu sorri para ela e acenei.


– Me vê mais uma casquinha?


Eu disse, quando cheguei até a carrocinha do sorvete. Tava com dinheiro no bolso vou aproveitar. Vai ver quando a Gina vai liberar mais um dinheiro para mim.


Eu tinha ganhado vinte dólares, só agora (com sorvetes) eu tinha gastado nove. Amanhã eu tinha que comprar mais uma casquinha para a Sophie, hehe. Chegando em casa, Hermione nem me perguntou ainda eu tinha ido, ela sabia.


– Tem alguma coisa para fazer amanhã?


– Não, por quê? – respondeu ela.


Eu estava em pé, na porta da cozinha e ela fazendo o almoço. Era Sábado e o Harry e a Gina nem trabalhavam, por isso dormiam até meio dia. Eu também dormiria se não tivesse essa carta na minha vida. Eu olhei o relógio de relance, e ele marcava dez e meia. Acho que Sophie corria mais nos finais de semana, ela deveria não ter aula e estava mais disposta.


– Quer ir em uma corrida comigo, amanhã? No parque.


Hermione largou a faca que ela cortava o tomate. Ela me olhou com um sorriso nos lábios.


– Claro Rony. Muito, muito obrigada por me convidar.


– Ai a gente podia levar uma toalha e uma cesta bonitinha. Fazer um piquenique, lá no parque tem uma arvore bem interessante.


– Sim. E eu farei seus sanduíches preferidos e o suco de maracujá que você gosta.


Hermione parecia uma criança quando ganha um doce. Ela sorria, e parecia atordoada. Não sabia o que fazia, se continuava a cortar os tomares para o almoço ou se começava os preparativos para amanhã. Eu resolvi sair da cozinha e deixar ela sozinha. Amanhã seria um grande dia.


Naquela noite a gente não jogou, cartas. Mas eu estava com a minha carta na mão. Gina e Harry tinham alugado um filme que se chamava Titanic. Eu nem estava prestando atenção. Eu estava olhando a carta, e os miados da Hermione e da Gina me agoniavam. Porque elas não choravam logo?


No dia seguinte eu acordei bem cedo. E para minha surpresa Hermione já estava de pé. Eu apenas levantei a cabeça. Ela estava na cozinha, colocando as coisas dentro da cesta.


Eu me deitei de novo. Não sabia se eu estava sonhando ou coisa assim, a Hermione louca para sair comigo, definitivamente era raro isso acontecer. Eu me levantei e abri a janela da sala.


Eu caminhei coçando a cabeça e me espreguiçando até a porta da cozinha. Quando parei na porta, Hermione estava me cuidando. Ela olhou para mim e sorriu.


– Bom dia Rony.


– Bom dia Hermione.


Ela voltou a arrumar a cesta. E eu fui logo trocar minha roupa. Tinha que estar bem bonitinho para ver a Sophie correr, e para o mais importante: ficar com a Hermione no parque. Quando eu desci do banheiro, Hermione estava com uma fita vermelha no meio daquele cabelo castanho, ela tinha um laço delicado ao lado da orelha dela.


– Vamos?


– Demorou!


Ela riu de novo. Eu abri a porta para ela. Enquanto a gente caminhava pela rua ,até o parque, ela não falou nada. Eu assoviei algumas vezes mais logo parava. Era mais ou menos oito horas e a gente chegou lá. Tinha um bocado de pessoas lá no parque.


Mas ninguém estava em baixo da minha querida arvore. Caminhei um tanto mais rápido que Hermione e encontrei a árvore. Me sentei lá em baixo dela. Hermione chegou e estendeu a toalha no chão. Eu sentei por cima dela.


Logo eu estava percebendo o que estava acontecendo. Era uma corrida até dezesseis anos. Eu estava cuidando se não via a Sophie. Hermione me ofereceu um sanduíche, e eu não sou bobo para recusar um sanduba de mortadela feito por ela.


Eu estava no terceiro ou quarto sanduíche quando eu achei a Sophie. Ela estava com a família. Eles também comiam sanduíches e bebiam algum suco. Eu estava lá, cuidando dela com meus olhos.


Ela estava amarrando os tênis. O homem que buscou ela aquele dia, o pai dela, estava lá também. E tinha um garoto pequeninho, de uns 5 anos. Só podia ser o irmão dela.


Quando o cara no microfone anunciou que ia começar a corrida eu me levantei. Hermione estava sentada lendo um livro. Eu nem me importei, porque fazia um tempão que ela não fazia isso. Sempre tão atarefada com a casa, ela merecia um tempo para ela.


Eu me levantei e fui até a cerca ver a garota correr. Só que ela estava estranha. Parecia que não ser a Sophie das manhãs com sereno e logo após com o sol de rachar.


O pai dela estava ao meu lado. Quando o homem que estava na frente das garotas que iam correr atirou para cima, a corrida começou. Tinham muitas meninas da idade dela. Mais ela sempre se destacava. Não sendo pela beleza e pelas pernas magras, mais sim por sua velocidade.


Quando estava nas primeiras voltas , o pai dela apertava a cerca. Ele tentava gritar, mais não conseguia. Ele lutava contra si próprio. Ele era um bom homem, mais parecia se importar muito com a visão que os outros pais iam ter dele se ele começasse a gritar.


– Vai Anne. Arrebenta filha! Corre!


O pai da garota que estava competindo a primeira posição com a Sophie estava ao nosso lado, e ele era vibrante. Voltei a cuidar da Sophie e ela  estava nervosa. Ela não estava correndo tanto. Ela era melhor do que isso. Ela podia mais.


A desgraçada da Anne sei lá do que, bateu com o cotovelo na barriga da Sophie, e ela caiu de boca no chão. Sophie e a garota estavam bem a frente das outras competidoras.


Sophie levantou a cabeça e sua boca estava sangrando. Ela deu um soco no chão. Sophie tinha condições de ganhar.


– Merda – disse o pai dela.


Agora que eu me liguei. Ela treinava todos os dias por causa dessa competição. Ela queria se preparar para ganhar. Sophie estava apenas alguns segundos no chão, mais parecia uma eternidade para mim. Sempre tão rápida e veloz, e agora ali, parada.


– Os tênis. Tira os tênis Sophie! – eu gritei. – Vai. Você pode!


Ela me escutou. As outras garotas estava se aproximando. Ela me encarou. E entendeu o recado. Ela tirou os tênis e jogou para o canto da pista. Seus joelhos arranhados me deram pena dela. Ela se pôs de pé e começou a correr.


Ela parecia um Guepardo novo e muito, muito veloz. Agora não era só o pai de Sophie que apertava a cerca. Eu também apertava ela. Eu estava gritando para a menina loira e delicada. Seu pai também estava gritando agora.


– Vai filha! Você pode! – ele disse.


O cara era mais baixo que eu, mais ele tinha cara de ser durão. Ele começou a gritar e ficar mais desesperado do que eu e o pai da guria malvadinha lá. Sophie estava em sua ultima volta, a alguns metros da Anne. Eu estava rezando para ela não fazer nenhuma bobagem com a guria, e ainda ser prejudicada. O juiz não viu a cotovelada que ela deu da Sophie, agora só faltava ele “ver” se ela aprontasse alguma para Anne.


E nem foi preciso. Anne torceu o pé a dois metros da linha de chegada. E Sophie chegou na linha de chegada vibrante. Ela chegou lá e a primeira coisa que ela procurou foi uma cadeira. Ao lado da cadeira tinha um isopor com água gelada. Ela abriu uma garrafinha de água e jogou nos joelhos cortados. Agora não era só sua boca e joelhos que estavam sangrando, seus pés também. Ela colocou tanta velocidade e vontade naquela corrida que seus pés cortaram.


O pai de Sophie foi correndo abraçar a filha. Ele chorou quando a abraçou. Eu sorri. Senti que minha missão estava cumprida. Quando eu fui até Sophie, eu não estava sozinho. Minha mão estava com o que eu podia dar para ela, por aquela vitória lindíssima.


– Parabéns Sophie, você conseguiu!


O sorvete de morango derretendo entre meus dedos estava melando minha mão por completo.


– Rony. Obrigada!


Eu não sabia se ela estava se referindo ao sorvete, eu ter ido lá ou pelo fato de eu ter pedido para ela tirar o tênis. Mais eu respondi:


– Você merece Sophie.


Ela pegou o sorvete da minha mão  e me abraçou. Ela voltou a se sentar, tomou o sorvete quietinha e se lambuzando toda. Ela não queria nem saber, tinha ganhado e estava feliz. Uma eterna criança.


– Rony. Você é um anjo?


– Ah sou sim, aquele do tipo que ama sorvete e adora ficar sentadinho em baixo de uma arvore vendo você correr.


Ela sorriu para mim. Aquele sorriso me deixou completo. Eu beijei sua testa.


–Até mais Sophie.


– Você volta. Sabe, para me ver correr?


– Claro que volto.


Eu sai dali. Sabia que ela precisava comemorar com a família também. Quando eu cheguei na arvore, Hermione não estava mais lá. Céus, eu me arrepiei. Ela foi embora, ou aquele cara da carta raptou ela? Eu estava com o coração acelerado e morrendo de medo de perder Hermione.

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