Aurora



Eles precisam ficar para trás. Estão cansados, tensos e eles tem que continuar suas vidas. Além disso, não é como se adultos como eles soubessem toda a versatilidade de planos e estratagemas que os jovens espertos são capazes de criar. Sophie diz que achou Anna, mas e se esse rastro for uma armadilha fatal?


 


Lugh: Me pergunto onde aquele desprezível Uthart está se escondendo... Não devíamos acabar com ele primeiro?


Charles: O Imperador que queremos matar é quem ensinou aquelas magias negras para ele... Além disso, tecnicamente, Uthart é inútil para aquele monstro... Sophie... Quando eu invadi a mente de Uthart... você viu o que eu vi?


Sophie: Sim... Ele disse que um dos garotos da família Ereshkigal iria causar a decadência de ambos... E na verdade, Uthart já decaiu. É por isso que queríamos vocês do nosso lado... Se isso for uma profecia... Vocês podem realizá-la.


Thomas: Sim, claro, claro...  Mas, só uma perguntinha: Onde nós estamos?!


Sophie: Groelândia. Eu achei que seria óbvio que se Anna soubesse que nós iríamos atrás dela antes de ir até o Imperador, ela encontraria um lugar com condições propícias para sua batalha. Isso seria Rússia, algum dos países nórdicos, ou Alaska e Canadá. Ela não escolheria algum lugar do Pólo Sul por que isso tornaria nossa chegada até lá mais difícil, já que o ponto mais próximo onde chegaríamos era Macchu Picchu...


Charles: A Europa é o pólo do Ministério da Magia, então tentar assassinar um grupo de bruxos lá era muito arriscado. Anna é francesa, então ela nunca iria aos Estados Unidos por ódio aos americanos... E ela sabe que eu conheço muito bem o território russo, já que eu vivi lá por pelo menos seis anos... Com isso sobra Groelândia e Canadá... Mas uma ilha seria perfeita. Ela só precisaria nos matar, jogar nossos corpos nas águas internacionais e se nos achassem algum dia, pensariam que fomos vítimas de algum naufrágio. Em terra continental, seria mais difícil.


Lugh: Hm, bem interessante sua linha de pensamento... E com sua sensação, Sophie, eu diria que vocês acertaram em cheio... Eu posso sentir uma leve dor de cabeça, o que significa que o perigo não está longe.


Thomas: É, é, temos que caçá-la, mas não podemos deixar isso para amanhã? Afinal, estamos no meio da noite, não é? Acho que devíamos dormir antes de começar essa procura...


Felizmente para nós, estávamos perto de uma vila. A pousada não parecia ser muito barata, mas depois de um certo “negócio” com o dono da pousada, conseguimos estadia para quatro por um preço razoável. Tivemos uma boa noite de sono, apesar de estar bem frio lá. Acordamos, mas eu olhei para a janela e ainda estava de noite! Falei com o dono da pousada, mas ele falou que isso era normal, que não demoraria para o Sol nascer e que nessa época, a Aurora Boreal era ainda mais ativa.


Charles: A Aurora Boreal... Já que estamos aqui, deveríamos vê-la, não?


Lugh: Charles... Você não está se esquecendo do que viemos fazer aqui, não é?


Charles: Ora, claro que não... Mas há lendas de que a Aurora Boreal pode dizer coisas para os suficientemente sensíveis para escutá-la... E eu quero tentar escutá-la, entendeu?


Thomas: O cara da pousada também falou que no topo da colina que fica a Oeste dessa vila é um lugar bom para se observar...


Sophie: Ele disse mais alguma coisa?


Thomas: Hm... Ele me perguntou o que nosso grupinho estranho fazia aqui.


Lugh: É mesmo?! E o que você disse?


Thomas: A verdade. Que procurávamos uma mulher de cabelos longos que sempre carrega cantis de água. Ele me disse que ele viu alguém desse jeito por aqui ontem mesmo.


Sophie: Talvez ela tenha pagado o homem. Talvez tudo seja uma armadilha...


Charles: Não sei. Talvez seja. Mas é a única pista que temos. Peercebem? E mesmo se for uma armadilha, temos nossa equipe. Podemos fazer dar certo.


Thomas: Confio em você então, Charlie.


Charles: Obrigado. Eu não falharei. Não posso deixar.


Subimos a colina, rapidamente. Nada de Aurora Boreal, mas nada de Anna também. Apenas o leve cair da neve e um ruído estranhamente silencioso. Eu me sentia tenso, mas não conseguia explicar porque isso acontecia... Lugh mexeu-se, sentindo uma dor de cabeça e nós sabíamos o que isso significava. Algo estava errado... e isso seria ou muito bom, ou muito ruim...


Sophie: Varinhas.


Nós automaticamente as colocamos em nossas mãos. A leve queda de neve começou a fortalecer-se, até se tornar uma nevasca bem intensa. Só podia ser Anna, em uma tentativa de nos separar.


Thomas: Segurem-se! Juntos!


Eu ouvi Thomas, mas um som doce e extremamente atrativo me impediu de agir. Instintivamente olhei para cima, mas ao invés de ver a névoa que cercava por todos os outros lados, vi o céu e a Aurora Boreal... Ela se movia, fluida e o som doce acompanhava o movimento... Eu estava hipnotizado. Ouvia tudo o que ocorria ao meu redor, mas de modo abafado.


Thomas: É ela!


Anna: Ora, você é novo aqui, garoto! Quer realmente duelar comigo?


Lugh: Charles! Acorde!


Tentei me mover, mas não conseguia! Eu estava começando a perceber uma certa linguagem na canção da Aurora! Não podia desistir agora, depois de tudo!


Anna: ESTUPEFAÇA!


Lugh: Sophie!


Sophie tinha sido estuporada. E eu não fazia nada.


Anna: Vocês me parecem familiares, garotos! São parentes daquele inútil, Nergal, não é?


Thomas: Expelliarmus!


Ouvi o som de algo voando. Assumi que era a varinha de Anna. Ela riu.


Anna: Eu não preciso dela para nocauteá-los! Agora, garotos, vocês saberão por que eu sou chamada General da Água!


Ouvi a nevasca aumentando. Pensei que naquele instante a conexão se quebraria, mas eu parei de ouvir, porque Aurora passara a cantar...


Três você vai procurar...


Um na terra de gelar...


Tá, isso eu já sabia e já tinha feito...


Outro no vulcão impuro...


E o último no cemitério duro...


Gale e Alexis. Claro.


Mas só dois vai alcançar...


O último outro irá achar...


O quê? Ela me conta a missão só pra falar: ah, só pra constar, você não vai conseguir.


Um pela própria arma irá perecer...


Outro irá do nada morrer...


Aquelas palavras eram duras demais... Um deles ia morrer?! Então minha promessa tinha sido falha? Eu ia deixá-los na mão... ou o morto seria eu?


O objetivo final você deve exterminar...


O monstro que não devia vivo estar...


Mas para fazê-lo o descanso conhecer...


Um grande sacrifício você deverá fazer...


Eu gostava cada vez menos disso, mas tudo que eu podia fazer era escutar... e torcer para que aquela voz mágica estivesse errada...


O fim é o que esperamos...


Com esse aviso, te deixamos...


A voz ficava cada vez mais baixa, até desaparecer... O barulho da nevasca também desaparecera. Quando tudo acabou, percebi que Sophie estava desacordada e que Lugh e Thomas tinham acabado de ser congelados.


Anna: Eu poderia matar vocês dois... Mas Charles será o primeiro a ter as honras...


Ela criou várias lanças de gelo e me cercou com elas antes que eu pudesse reagir. A mulher sorria, louca pelo gosto da vitória... Bem, eu não iria dá-lo. Não sem fazer tudo o que pudesse antes, mas a situação parecia meio impossível...


Anna: Quais são suas últimas palavras, Charles?


Charles: Sol.


Tirei meu medalhão de dentro da minha blusa e refleti a luz do nascer do sol nos olhos de Anna. Ela cambaleou e caiu na neve, com raiva. Antes que ela se levantasse, peguei minha varinha e bradava, repetidamente:


Charles: Incendio! Incendio!


As lanças dela derretiam. Como eu pretendia... Porém, sem que eu visse, ela criou outra delas e lançou em mim, acertando minha mão esquerda. A dor não era leve, mas me limitei a rir, como se aquilo não fosse nada. Silenciosamente, apontei para os dois garotos congelados e disse, o mais baixo possível:


Charles: Incendio. – Ei, Anna! Quer me matar? Então vai ter que me encontrar primeiro!


Aparatei, sem nenhuma noção de qual seria meu destino. Apenas precisava afastar aquela vaca dos outros para que meu plano tivesse alguma chance de funcionar... Acabei quase indo parar dentro da água gelada, me vendo encima de um bloco de gelo. Era o mar? Coloquei minha mão na água sem nem pensar e depois a tirei, deixando uma única gota cair em meus lábios... Não, era água doce. Um lago. Ouvi um riso, o último riso que eu queria escutar.


Anna: Isso facilita muito as coisas para mim, Charlie! Obrigada! Hahahahaha!


Charles: Ora, de nada... É um cenário tão perfeitamente irônico para o seu fim!


Ela estava com a varinha de volta. TENSO.


Anna: Avada Kedavra!


Ah, o Avada. Tão previsível... mas isso não o tornava menos eficaz. No instante que eu tinha, instintivamente pulei na água, só para depois pensar no grande erro que isso foi. Eu estava no território dela agora. Ele pulou dentro d’água. Ótimo. Além do frio de matar, eu ainda tinha que lidar com uma doida aquática!


Anna: O que foi, garoto? Não sabe nadar?


Percebi que eu estava recebendo oxigênio. Então minha irmã tinha acordado. Só tinha um plano para executar.


Charles: Glacius!


Congelei a perna de Anna. Ela tentou me congelar também, mas antes que pudesse, eu agarrei a perna dela e calmamente comecei a me concentrar para nos colocar no fundo... Ela me batia e tentava me chutar, mas a resistência dela era cada vez menor... Ora, quem diria, a General da Água fora afogada! Me concentrei para subir de novo, mas não daria tempo, porque Sophie não conseguia mais respirar o suficiente para nós dois! Com as últimas forças do meu corpo quase sem ar e que definitivamente estaria com hipotermia, coloquei minha varinha apontando para o fundo e disse:


Charles: Ascendio!


Saí do lago voando e não conseguia ver meus arredores, porque assim que eu resspirei pela primeira vez, perdi a consciência... Quando eu acordei, estava em uma cama confortável, dentro de uma casa de madeira. Minha varinha tinha sido colocada na escrivaninha ao meu lado e uma garota veio falar comigo...


?????: Eu sei que vocês bruxos podem fazer muitas coisas estranhas, mas nunca pensei que eu veria um de vocês cair do céu!


Charles: Hã? Quem é você?


Nadia: Sou Nadia. E você meio que caiu encima de mim depois de sair voando do meio do lago... Você não sabia que era perigoso cair naquela água! Quer dizer, quando eu te vi, você estava azul de frio!


Ouvimos algumas batidas. A menina foi atender a porta, o que me deu alguns segundos para pensar. A profecia da Aurora dizia as três localizações, mas também dizia que apenas duas delas eram acessíveis para nós... Não queria simplesmente ficar cara a cara com a morte tão cedo se pudesse evitar, e tinha contas para acertar com Gale. Era simples então. O próximo passo era o vulcão impuro... mas qual ele seria?

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