Selo



Ah, agora tudo ferrou. Estou praticamente sem condições para lutar, minha irmã ainda está abstraída para achar a fonte do Selo e as outras três pessoas que poderiam me ajudar continuam presas em uma caverna! E claro, os soldados continuam vindo!


 


Eu olhei para cima e percebi que eles estavam parados, nos olhando. Provavelmente decidindo quem eles atacariam primeiro, os abutres. Um deles apontou a lança para minha irmã e disse:


Soldado: Essa mocinha é bonitinha, na verdade. Acho que vou ficar com ela como troféu de guerra. Imagina o que eu faria lá em casa com ela...


Os outros riram por um instante, mas pararam ao me ver. Eu não sei como até agora, mas só sei que senti uma fúria extrema. Rapidamente rasguei minha capa e coloquei sobre minha ferida, me levantando em um pulo logo em seguida. Dois deles vieram para cima de mim, um por cada lado, mas eu automaticamente coloquei minhas mãos em contato com as deles. O fluxo de energia veio até mim, e eu o usei para acelerar a cura natural da minha perna. Depois que os dois caíram, os outros soldados hesitaram por um instante. Faltavam Nove. Eu sorri e disse:


Charles: Querem dançar, garotos?


Três correram no ato, mas não correram tanto assim. Afundei os pés deles na terra, o que fez com que batessem de cara no chão. Sobraram Seis. Quatro me cercaram, pensando que eu não poderia combater todos ao mesmo tempo. Sem pensar, fiz uma jogada de eu nunca conseguiria fazer em condições normais. Peguei a lança com corrente do guarda que escapara do meu buraco e a usei para espancar dois deles quase que ao mesmo tempo. Depois disso, usei minha bengala para golpear um deles que ainda estava de pé no estômago. O último estranhamente tinha deixado sua lança cair, mas ainda achava que poderia me estrangular. Ele chegou bem perto do meu pescoço, mas assim que seus olhos estavam no meu alcance, peguei minha varinha, apontei para o meio dos olhos dele e disse:


Charles: Wingardium Leviosa!


A fumacinha veio de novo. Ele caiu no chão, cego. Dei um simples golpe na nuca dele, no ponto certo. Agora eram só dois. Um deles, na verdade, já estava vindo sorrateiramente por trás. Teria conseguido me atacar se não tivesse pisado em cima de uma das inúmeras lanças espalhadas no chão. Apenas me virei e dei uma senhora bengalada em suas “jóias da família”. O último que sobrou foi o imbecil do comentário, claro.


Soldado: Ei, eu... eu estava brincando, sabe.


Sophie: A brincadeira acabou, queridinho.


Sophie tinha se levantado. Ela apenas deu um sorriso angelical para em seguida chutar o idiota, bem no queixo. Fiquei impressionado com o alcance do pé dela. Depois disso, ela sorriu para mim e disse:


Sophie: Vejo que aprendeu os usos da transferência de energia.


Charles: Bem, eu não poderia depender de você para sempre, não é? Afinal, por que demorou tanto?


Sophie: Porque não aparenta ser só uma central. Senti quatro delas...


Quatro? É, acho que quando voltarmos para aquela caverna, ela vai ter o desagradável cheiro de apodrecimento...


Sophie: ...mas na verdade é só uma que cria o Selo em si. As outras três o amplificam.  E a Central fica... na Torre mais alta do Palácio.


Nosso objetivo, na torre mais alta de um Castelo que era mortal para nós. Que clichê. Agora precisávamos de um plano, e tínhamos no máximo um prazo de três ou dois dias, sem contar que não dormíamos por pelo menos umas trinta horas...


Charles: Vamos sair daqui antes que algum deles acorde... especialmente – apontei para os dois últimos a serem nocauteados – aqueles ali.


Sophie: Temos que correr, na verdade!


Charles: Por quê?


Sophie: Eles estão se preparando... para jogar uma onda de Refluxo!


Eu li uma vez sobre o Refluxo. Definitivamente, uma experiência que qualquer pessoa com alguma possibilidade de sentir dor recusaria ter.


Charles: Quanto tempo até ela?


Sophie: Acho que meia hora!


Charles: Meia hora. Refluxo, lá vou eu.


Sophie ignorou o comentário e começou a correr. Eu fui atrás dela o mais rápido que podia, mancando e tropeçando enquanto sentia os tecidos se recuperarem... Passamos por várias ruas diferentes, mas elas estavam vazias. O Povo fora alertado sobre o Refluxo e correra para se proteger. Só sobraram dois inimigos públicos que tentavam impedir aquilo. Ah, não sei se senti alívio, dor ou tristeza ao ver que tínhamos chegado às enormes escadarias do Palácio. Decidi-me pela dor, porque elas eram tão íngremes e longas que eu precisei me apoiar em Sophie e na minha bengala. O que não ajuda ninguém quando o tempo é seu inimigo. Por mais estranho que isso parecesse, o Palácio também estava vazio. Passamos pela Sala do Trono enquanto subíamos, mas não havia ninguém lá.


Charles: Sophie... Quanto tempo temos?


Sophie: Menos de dez minutos...


Charles: Essas escadarias... estão me matando...


Nota mental: conseguir uma cadeira de rodas mágica depois de tudo isso.


Subimos as escadas, com muito mais rapidez do que eu pensava que podia aguentar. Devemos ter passado uns quatrocentos degraus, só naquela subida. Eu quase sorri quando chegamos no topo. Mas claro, não imaginava que iria encontrar Gale, Anna e uma enorme russa com uma armadura de bárbara nos esperando junto com o Selo.


Gale: Esta é Alexis, a VERDADEIRA General da Terra. Alexis, seus próximos cadáveres! Wahahaha!


Alexis: Há há há! Acho que vou me divertir com vocês.


Ela pegou um de nós com cada mão. Dei um soco no peito dela, mas foi como tentar socar um muro de concreto. Mas muros de concreto desabam. É só usar o golpe certo. Ela nos levava para o fim da Torre. Ia nos lançar, claro. Que fim dramático. Tínhamos poucos segundos para pensar em um plano...


Anna: Onde Nergal está? Cagando nas calças de medo, é? Não consegue fazer nada, não é, aquele cabeça de vento!


Cabeça de vento! Olhei para Sophie e ela olhou para mim. Pensamos a mesma coisa ao mesmo tempo. Sicronizadamente, pegamos nossas varinhas, colocamos no nariz da russa e bradamos:


Charles e Sophie: ESTUPEFAÇA!


A fumaça agiu perfeitamente de novo, fazendo a mulher cair, sem ar. Ela nos soltou e ficou caída, tentando recuperar o fôlego. Anna avançou para cima de mim com seus cantis prontos para o ataque, mas Sophie pulou e montou encima dela, as duas em uma batalha confusa. Apenas parei de olhar ao ouvir uma voz atrás de mim:


Gale: Eu sempre soube que seríamos nós dois, Charles. Estava ansioso para acabar com a sua raça, moleque.


Ele não lançou uma bola de fogo, como eu esperava. Pior. Ele nos cercou com fogo, não deixando nem sequer uma escapatória. E a pior parte de tudo é que eu tinha deixado meus cantis para Nergal, Alberto e Dan beberem.


Gale: Não parece tão forte sem seus aliados, não é?


Eu estremeci. Ele podia estar errado, mas por que não fazê-lo pensar que estava certo?


Charles: Gale...


Gale: Finalmente, moleque! Eu vou conseguir me livrar de você... Quatro vezes eu tentei... E cinco é meu número de sorte!


Quatro? Ué, pelas minhas contas eram só três... Que confuso! Ele apontou a varinha para mim e gritou:


Gale: Avada Kedavra!


Muita fumacinha, eu devo dizer. Mas nada de raio mortal oh-meu-deus-estou-ferrado ou coisa do tipo:


Charles: Dert, o Selo. Parece que o General Dragão não é muito brilhante, é?


Ele não pareceu se irritar. Estranho. Pelo contrário, ele deu um sorriso, como se fosse me mostrar algo que eu não esperava. Ele avançou para cima de mim quase que voando, e mal tive tempo de me esquivar... Mas como se nada tivesse acontecido, ele me agarrou pela capa e começamos a subir... Ele ia me tacar lá de cima para me nocautear ou até me matar com o impacto. Clássico. Bem, vamos sair do clássico, não?


Charles: Poxa vida, que clichê.


Gale: Você é um heroizinho imbecil que se meteu com mais do que pode lidar. Isso é ainda mais clichê, por isso esse fim é perfeito para você!


Charles: É meeesmo? Em meio minuto, você estará no chão.


Gale: Com seu cadáver!


Fiz a coisa mais irracional para tentar me salvar: chutei ele. Ele me soltou e eu usei minha capa como um pára-quedas improvisado. Mas ele riu, uma risada maligna, que penetrou nos meus ossos e jogou uma corda de fogo. Ela cortou minha capa e lá ia eu, caindo numa velocidade que me feriria gravemente. Aí ele só finalizaria o serviço.


Sophie: Charles!


Só ouvi Sophie gritar e sento que ela me passava um bando de imagens. O orbe era a fonte do Selo. Mas não vi mais nada, porque abri os olhos e percebi que Anna tinha derrubado minha irmã e estava pronta para atacá-la. Ela tirou a água do cantil e a moldou como uma lâmina, mas me concentrei e fiz com que a água ficasse disforme e caísse. Ela me olhou com ódio e percebeu que teria de me matar primeiro. Ótimo, um psicopata descendo na minha direção e outra que me esperava lá embaixo. Ah, não, desculpe. A russa se levantara e segurava Sophie. Percebi que Sophie acordara de novo, me olhou fundo nos olhos e eu sabia exatamente o que fazer


Anna: Não tente nenhuma gracinha, Charles! Ou ela vai pagar!


Tá bom! Como se nós dois não fôssemos nos ferrar, no fim das contas. Eu estava quase no chão agora. Me direcionei ao orbe e um minuto antes de virar geléia de Charles. Ao tocá-lo, percebi que escolhera justamente o momento que o Refluxo se ativaria para fazê-lo. As coisas só ficavam cada vez piores...

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